Olá pessoas!
Eu sei, eu sei. Vocês querem me matar.
E quer saber? Eu não tenho uma boa desculpa. Eu apenas não conseguia escrever com duas crianças sendo que eu mesma não tinha uma porçãozinha de criancice em mim.
Por isso demorei mais do que eu planejava.
E esse caps foi tenso... Diferente do que eu tinha planejado, eu admito, mas a própria série me obrigou a mudá-lo.
Ah, eu deixei mais três wallpapers o meu profile, mas eu sugiro que vocês apenas olhem depois de ler o capítulo. Eles contêm altas doses de spoiler.
A trilha sonora desse caps fica por conta de duas bandas: Florence and The Machine - Shake It Out e Placebo - Devil In The Details.
Não deixem de ouvir, elas dão o tom do capítulo.
E obrigada à Claire, que corrigiu todos os meus erros e à Shi, que me deu idéias maravilhosas enquanto eu escrevia e enchia sua paciência por msn. Thanks, girls!
Bojks!
Boa Leitura! ^.^
Capítulo 5 – O Diabo Está nos Detalhes
Gabriel dava um último gole em sua cerveja quando Sammy voltou da cozinha trazendo mais duas, a garrafa de whiskey americano já em posse do demônio ao seu lado. Ele e Crowley dividiam um sofá, Bobby estava sentado sobre sua poltrona e o moreno se escorava agora numa parede, relaxados enquanto as crianças brincavam sobre o tapete.
Estavam, os quatro adultos, cansados de esperar.
- Você acha mesmo que ele vem?
- E desde quando profetas se enganam? – O arcanjo abriu outra cerveja, dando um longo gole e conferindo as horas no relógio de pulso, vendo o pequeno irmão fechar os olhos com sono. – Acho que já podemos aprontar os colchonetes.
- Você vai deixá-los dormir aqui?
- Sim.
- Quanto conforto!
Trickster olhou o demônio com tanto desdém que uma criança comendo jiló ficaria com inveja. Não que ele desprezasse o ser infernal, não exatamente. Mas Crowley precisaria provar seu valor para conseguir alguma simpatia daquele irmão desconfiado e que tão bem cuidava de seu caçula.
- Não é questão de conforto, é praticidade.
- Eu concordo com Gabriel. – Bobby largou o copo sobre a escrivaninha, traçando seu caminho até o tapete e enrolando-o próximo à mesa. Sob o grosso tecido, tinha pintado no chão mais um símbolo contra demônios. Era ideal para proteger as crianças durante seu sono.
O arcanjo sorriu, aprovando a idéia implícita de Bobby. Eles mesmos poderiam se escarranchar por aquele chão e rodear o circulo mágico, mas não tiveram muito tempo logo após ajeitarem Dean e Cas para dormir... De repente, os vidros das janelas estouraram e um som ensurdecedor levou Gabriel ao chão, a voz estridente do rei infernal ecoando em seus ouvidos.
Era uma maneira eficaz de mantê-lo fora de batalha, entoando um antigo feitiço enoquiano diretamente para a alma do arcanjo.
Aturdido, ele viu Bobby puxar as duas crianças para trás de si, Sam e Crowley tentando mantê-los em um pequeno círculo enquanto o rei das encruzilhadas e o caçador barbudo exorcizavam os demônios mais próximos e Sammy espetando qualquer um que se atrevesse com a faca que possuía.
Quando conseguiu se levantar, Gabriel passou para o lado dos caçadores, distribuindo alguns toques poderosos contra os demônios que continuavam a invadir a casa. Ele cambaleou, quebrando o pulso de um dos seres que tentou lhe estaquear, mas abriu espaço para uma mulher loira, de estatura mediana, se colocar entre eles.
Castiel gritou com o susto, mas Dean conseguiu acertá-la na canela, puxando o pequeno anjo para longe daqueles monstros feios. Cas escondeu o rosto na manga de seu pequeno casaco, seus olhos cheios de lágrimas ao reconhecer a senhora de rosto horroroso do supermercado. Sem saída, o pequeno Winchester correu para o armário, tentando destrancar a porta enquanto ainda ajudava a proteger seu pequeno amigo anjo.
Apressado, Dean soltou a mão de Cas, usando todas as suas forças para puxar a maçaneta redonda e difícil de abrir. Quando conseguiu, ele se deu conta de que o anjinho não estava mais ao seu lado. Curioso, ele procurou pelo cômodo, seus olhos recaindo em seu irmão e nos três homens caídos.
Ele ainda teve tempo de ver o pequeno Cas desmaiado nos braços da mulher loira de olhos negros, o pequeno corpo inerte lhe preocupando tanto quanto seu irmão ferido.
- Sammy! Sammy!
- Dean?
- Eles estão levando o Cas!
Sam levou um precioso segundo para perceber sobre o que seu irmão lhe falava sua mente em alerta quando viu que a sala encontrava-se ainda cercada por alguns demônios. O caçador se levantou, seus olhos embaçados enquanto formulava algum pensamento coerente. Ele não sabia dizer o que havia lhe atacado, mas com certeza era forte e tinha derrubado os outros caçadores também.
O Winchester adulto demorou mais tempo ainda para perceber que nenhum dos demônios remanescentes o atacava, mas que apenas esperavam uma força maior.
Lúcifer.
- Escute bem, Winchester. Serei breve. Diga ao meu irmão que, se deseja Castiel vivo, eu o estarei esperando.
- O quê você quer em troca?
- Eu quero as armas. Vocês têm 12 horas para consegui-las.
E com aquelas palavras, Lúcifer partiu, deixando o caçador aparvalhado enquanto tentava compreender a situação. Os primeiros raios de sol surgiam no horizonte quando Bobby e Gabriel despertaram, os dois alarmados com apenas Dean dormindo nos braços de seu irmão temporariamente mais velho.
- Onde está Cas?
- Lúcifer o levou.
Gabriel caiu sentado sobre a poltrona, seus olhos cor de mel pálidos quanto seu rosto amedrontado. Estava ainda um pouco aturdido e levemente confuso, o encantamento que seu irmão usara tinha afetado sua essência de tal forma que demoraria ainda algumas horas para conseguir se recuperar.
Estava cansado, fraco, impotente e sentindo-se incrivelmente humano.
- O que são essas armas, afinal?
- Alguns objetos que, na falta de uma definição melhor, possuem o poder de Deus.
- E como as conseguimos?
- Não conseguimos. – Gabriel suspirou resignado, suas mãos se acomodando sutilmente entre seus cabelos finos e bagunçados. – Elas estão no céu, sob o domínio de Miguel.
- E vamos fazer o que? Deixar Castiel morrer nas mãos daquele... Daquele projeto mal-sucedido de anjo?
- Você tem alguma idéia melhor?
- Podemos invocá-lo. Você pode tentar algum ritual, não pode?
- Não neste estado. Eu não sou capaz de enfrentar sequer uma succubus enquanto não me recuperar.
Sam se remexeu inquieto, suas palavras morrendo na garganta quando percebera que não poderia ajudar naquela situação. O caçador viu Gabriel se curvar, seu rosto enfiado em suas mãos enquanto seu corpo terreno sutilmente tremia sua respiração saindo em pequenas golfadas de angustia.
Não tinham mais esperanças. Estavam, o três homens (visto que Crowley tinha sumindo longos momentos antes), apenas aguardando a confirmação de que o anjinho seqüestrado estava morto. Estavam, na verdade, presos demais em suas próprias conjecturas para notar a presença incógnita naquela sala.
- Você desiste muito fácil daquele que é sua responsabilidade, Gabriel.
- Quem é você? O que faz aqui?
Bobby agarrou sua espingarda, levantando-se num pulo e apontando para o estranho que invadira seu recanto. O Winchester adulto agarrou Dean, apertando o menino contra seu corpo e se afastando daquilo que eles não sabiam ser um demônio ou qualquer outra criatura camuflada.
O homem loiro, de aparência jovial, tinha esperado pacientemente que algum dos homens o notasse. Ele vira na aura de Gabriel certa culpa e preocupação, assim como a inquietude que tomava conta dos outros dois humanos naquela casa, os três atentos ao pequeno caçador que ainda ressonava nos braços do Winchester mais novo.
O desconhecido largou sua bagagem sobre o piso frio, seus olhos azuis mirando o irmão com um pouco de raiva, talvez alguma decepção. Quando soubera do incidente entre o Winchester e o pequeno Cas, o anjo decidira pessoalmente manter um olho nas crianças, especialmente preocupado com a aparição de Trickster e como isso afetaria Castiel.
- O que faz aqui, Balthazar? Qual daqueles abutres emplumados o mandou aqui para me arrastar de volta ao lar?
- Nenhum deles me mandou aqui. E cresça Gabriel, isso não é sobre você.
Balthazar ignorou o olhar carrancudo do irmão, seus olhos azuis se voltando ao senhor que ainda empunhava uma espingarda. Ele não tinha medo de armas de fogo e, embora soubesse que a pólvora machucaria severamente seu receptáculo, pensou em desarmá-lo, mas decidiu que sua diplomacia valeria mais com aqueles a quem seu irmão tanto prezava.
- Desculpe-me por invadir sua casa. Estou preocupado com meu irmão e por isso estou disposto a ajudar.
- Você é um anjo, então?
- Um velho conhecido de Castiel. – Balthazar sorriu complacente, sua aura brilhando em amor para aquele com quem dividira os campos de batalha. Seus olhos se viraram para o Winchester e, embora não tivesse nenhum apreço pela humanidade, alguma coisa em si tiniu com o cuidado do caçador para com a criança em seu colo.
- Então você possui as armas? – Samuel soltou Dean sobre o sofá, relaxando enquanto o anjo ali não fazia menção de se aproximar do pequeno caçador.
- Balthazar é o detentor de todas elas.
- E você vai nos ajudar?
- Sim.
- Por quê?
- Porque Cassie precisa de mim.
- Não, não precisa! E por favor, não o chame de "Cassie"! – Gabriel levantou-se tão rápido que se arrependeu de tê-lo feito. Sua cabeça doía e seus músculos não o sustentaram, fazendo-o cambalear. – Ele não é seu cachorrinho de estimação e nem tampouco um amigo de longa data. Se desejar ajudar, deixe as armas e vá embora. Eu não preciso de você aqui!
- Eu vim por Castiel e não por você. – Balthazar respirou fundo, sua face séria nunca se desfazendo enquanto colocava o arcanjo mimado em seu devido lugar: como o irmão inconseqüente que sempre fora. – Eu vim porque Cas me pediu, porque mesmo transmutado em uma criança, ele me chamou.
- Okay, rapazes. Estão saindo faíscas aqui e acho melhor ninguém se matar na frente de Dean. – Bobby interveio, sua racionalidade madura sempre ajudando contra aqueles cabeças-de-vento a quem se associara. Ele suspirou, pensando se teria algum momento de tranqüilidade enquanto aquelas crianças não voltassem a ser os adultos problemáticos com suas famílias comportadamente ajustadas para o bem de todos.
Como crianças, os anjos e os Winchesters eram mais trabalhosos do que todos os wendigos e demônios que já havia caçado.
- Acalmem-se. As horas estão passando e, embora vocês não percebam Cas ainda é refém de Lúcifer.
- Castiel está bem. Um pouco assustado, mas bem.
- E como você pode saber? Já abandonou a horda celestial e se juntou àquele rebelde inescrupuloso? – Gabriel estava indignado com a presença do irmão naquela sala. Tinha por Balthazar uma antipatia inata, que insistia em ameaçá-lo, fazendo-o de alguma maneira se sentir inferior ao soldado angelical.
- Gabriel! Ele está aqui para ajudar!
- Ah, não me venha com essa, Samuel! Como sabe que ele não está aqui para levar Dean até Miguel? Já pensou nisso?
Balthazar olhou do Winchester para o pequeno Dean, seus olhos azuis reprovando a atitude ciumenta do arcanjo. Estava curioso quanto ao seu diminuto irmão, sempre conhecera Castiel como o anjo maduro e polido com o qual treinara, e sua mente várias vezes se esforçava para moldar um rosto infantil para a personalidade manipulável do anjo.
Porque seu pequeno irmão sempre fora aquele que acreditou nos outros, que se deixava enganar pelos bons argumentos, e agora ele temia que em sua infantilidade, Cas estivesse sofrendo nas mãos de Lúcifer.
- Eu não me importo com Dean ou Miguel ou essa guerra. Eu estou aqui apenas por Cassie.
- E você trouxe as armas?
Balthazar sorriu para o senhor, os olhos azuis reluzindo enquanto ele facilmente explicava seu plano aos dois homens interessados e ignorando o arcanjo emburrado. Gabriel demorou ainda algum tempo a concordar com as ideias arriscadas do irmão, mas eles não tinham nada mais eficaz para resgatar Castiel além de um feitiço rastreador.
Depois de tantas discussões, um almoço contrariado e uma criança espevitada correndo pela casa e perguntando insistentemente sobre Cas, os três homens finalmente conseguiam terminar os últimos arranjos para o selo enoquiano que ligaria Lúcifer, Gabriel e Balthazar a uma única dimensão, deixando-os unidos até que Castiel estivesse em segurança na casa de Bobby.
Balthazar, ocupado em misturar óleo e uma grande quantidade de mirra em um pequeno caldeirão, traçou os círculos sob seus pés com uma fina linha de tinta prateada, os três nomes angelicais trancados entre as pontas do hexagrama. Ele ainda rabiscou algumas palavras que Sammy ou Bobby nunca teriam conhecimento, pois jamais tiveram a coragem de lhe perguntar o significado.
O anjo retirou seu casaco e jogou-o sobre uma poltrona, se desfazendo dos sapatos e cruzando para dentro do circulo mágico. Ele contornou o sigilo com a mirra, espalhou folhas secas de alecrim e sementes de mostarda que ele mesmo pulverizara por dentro da estrela e rabiscou mais três palavras enoques, unindo-as com um triângulo apontado para o sul.
Estava tão concentrado em seu árduo trabalho que não reparara em Sammy lhe espreitando, atento aos movimentos cuidadosos.
- Então você vai mantê-los presos aqui?
- Toda aquela dimensão será ajustada para caber aqui dentro. O feitiço se manterá ativo até Castiel cruzar o sigilo.
- E depois? Vocês voltam simplesmente?
Balthazar sorriu seus lábios esticados em um conhecimento mudo e preocupado. Depois que Cas cruzasse o circulo, tanto ele quanto Gabriel estavam por sua conta. Teriam menos de um minuto para localizar a casa de Bobby e cruzarem tempo e espaço até que a atingissem.
- O mais importante é trazer Cas em segurança. – O anjo posicionou-se dentro do triângulo, observando o circulo ao seu redor e ajustando alguns detalhes enquanto adicionava mais símbolos e palavras. – Depois deste primeiro momento, eu continuarei aqui, mas Gabriel estará lá. Se algo der errado, eu rompo o sigilo e nós três cairemos aqui.
- E Cas?
- Cas continuará em segurança, onde quer que esteja.
- Então é bom que estas espadas funcionem.
Sam suspirou, balançando em sua mão a espada que Balthazar tinha lhe entregado. Ao contrário da espada de Gabriel, a espada do anjo era mais longa, tinha um formato levemente triangular e era contornada por espirais de símbolos, seguindo o contorno da arma da bainha até a ponta.
- O que significam?
- É uma oração, para os campos de batalha.
- Você não brincou mesmo quando disse que era um soldado.
- Não apenas um soldado, Samuel. Eu protejo os campos de batalha.
- Você esteve em todas elas? – Sam Winchester, embora fosse ainda um caçador, era um eterno curioso, sedento pelo saber que tantas vezes tinha renunciado. Estava estampada em sua face sua curiosidade e, mais ainda, sua surpresa ao saber que aquele anjo em questão fazia parte da história, mesmo que estivesse nos bastidores de todas aquelas guerras.
- Todas não, mas na maioria... Agincourt, Austerlitz, Gallipoli, Point Du Hoc… Isso para citar as mais recentes.
Sam deixou seu queixo cair ligeiramente, pensando pela primeira vez na riqueza intelectual que aqueles seres possuíam. Estava fascinado com a teia de possibilidades que os irmãos de Cas partilhavam, alguns ainda reconhecendo algum mérito nas atitudes humanas que por tanto tempo acompanharam.
Ele contemplava silencioso o trabalho de Balthazar quando Gabriel retornou com sua face despreocupada desaparecendo assim que adentrou a sala de estar.
- Como Dean se comportou?
- Muito bem. Chuck disse que amanhã o trará de volta. Disse que vai levá-lo para conhecer alguns lugares e virá almoçar com a gente.
- Obrigado. Manter Dean em segurança significa muito para mim.
- Eu sei. E é por isso que quero Cas de volta.
Gabriel deixou sua espada sobre a mesa, seus olhos verdes perscrutando o círculo que o irmão tão bem desenhara. Ele arrastou a pesada mala de Balthazar até a borda, carregando-a pela alça enquanto pedia licença para cruzar o círculo. Ele trocou um rápido olhar com o irmão, seus olhos demorando alguns segundos mais que o necessário em cada homem daquela sala.
Não levou mais de dois minutos até que Balthazar começasse seu ritual e Gabriel desaparecesse, restando apenas os dois homens de prontidão e o anjo concentrado em cercar as barreiras daquela casa.
Balthazar mantinha os olhos fechados, seu corpo terreno ainda na casa do caçador, mas sua essência angelical rondava Gabriel de perto, atento a cada movimento do anjo caído e cada pensamento turvo que Lúcifer emitia.
- Eu estava pensando que usaria Cas como arma, tamanha demora.
- Eu trouxe o que você pediu, então solte-o.
Gabriel colocou as armas no chão, enfiando as mãos nos bolsos enquanto seus olhos procuravam atentos pelo pequeno anjo. Ele apenas teve um vislumbre de Cas quando Lúcifer caminhou, deixando mostrar o pequeno irmão que dormia encolhido no chão frio, cercado de símbolos e alguns rabiscos que, à distância, ele não conseguia identificar.
Seu coração se apertou quando viu a criança cercada por cães do inferno, todos sedentos por alguma oportunidade de atacar.
O arcanjo tentou dar alguns passos à frente, mas Lúcifer não fizera menção de se mover. Ainda estava no caminho entre Castiel e o irmão mais velho, mas nenhum dos homens viu a pequena criança de mover, apoiar as mãozinhas no chão frio e levantar, caminhando tranqüilo e ainda sonolento até a borda do selo.
O pequeno voltou seus olhos muito azuis para Gabriel, seus lábios rosados moldando um leve sorriso com o reconhecimento do irmão. Castiel levantou seus olhos para o anjo loiro, o azul encantador ainda mantendo a polidez que ele sequer sabia existir.
- Eu acei meu imão. Eu vou emboa agoa. – O pequeno anjo voltou para sua Sweetie Belle, esquecida no chão sujo e, agarrando-a pelo corpo magrinho, cruzou o selo que mantinha afastado todos os cães horrorosos que não conseguia ver.
- Até mais, pequenino.
Cas cruzou o selo, seu braço gorducho sendo puxado para o lado com força e uma mancha vermelha surgindo no local. Gabriel gritou para o pequeno anjo, insistindo para que voltasse para dentro do sigilo e suas mãos, antes comportadas em seus bolsos, traziam agora o cristal que Balthazar havia lhe entregado.
O arcanjo mirou em Lúcifer, mas na verdade esperava que a arma celestial funcionasse nos animais que tentavam dilacerar seu irmãozinho. Não demorou muito até vários cães, mesmo que invisíveis, lentamente formar pilhas e pilhas de sal no chão cimentado, desmanchando a imponência que os seres infernais davam ao anjo caído.
Gabriel, ciente de sua chance como negociador, apontou para a mala que tinha esquecido naquele chão e falou lentamente ao irmão: – É sua única oportunidade. Deixe-me levar Cas e pode ficar com todas as armas.
- Então você as conseguiu mesmo.
- Todas elas.
- Entregue-me o cristal para começar e eu tiro Castiel daquele sigilo. Em segurança.
O arcanjo arremessou a pedra, seus olhos brincalhões assumindo o brilho característico que possuíam ao ver que o artefato estava seguro nas mãos de Lúcifer. O anjo caído analisou o cristal, satisfeito em possuí-lo e, numa rara benevolência, soltou Cas do sigilo enoquiano antes de testá-la.
Se a tivesse usado, ele saberia que aquele não era o verdadeiro Cristal de Lot.
Gabriel correu para abraçar seu pequeno irmão, pegando o anjinho no colo e enxugando as lágrimas que lhe insistiam em cair. Estava absorto, conferindo e mimando o pequeno irmão em seus braços e não notou quando Lúcifer, vingativo e desleal, tentou cravar a espada em suas costelas.
O arcanjo fora atingido e, mais ainda, a ponta da espada cravou fundo nas costelas de Cas, fazendo a criança desmaiar enquanto Gabriel cambaleava.
Balthazar, concentrado em apenas manter a dimensão estável ao redor deles, o verdadeiro Cristal brincando em suas mãos, precisou intervir. Seu corpo etéreo atingiu Lúcifer numa única golfada de energia, jogando-o no chão a alguns metros de distância, mas dando tempo para que pudesse alcançar Gabriel, abraçando ele e a criança antes de alçar vôo rumo à casa de Bobby.
O arcanjo fora derrubado sobre o piso de madeira, Balthazar atingindo seu receptáculo com um estampido violento e sendo capaz apenas de segurar Cas, antes que ambos se desequilibrassem com a mudança repentina de lugar.
Balthazar se deixou sentar sobre o selo, seu corpo doendo terrivelmente enquanto analisava os ferimentos do pequeno anjo. Ele rapidamente fez um curativo em seu ombro, envolvendo-o em bons fluidos e livrando-o da dor pungente. – Bobby, Sam. Coloquem Gabriel sobre o sofá e esfreguem um pouco de mirra no ferimento, isso fará com que cicatrize.
- Só isso, quer dizer, foi uma espada, não foi?
- Não se preocupe com isso. Não foi qualquer espada e não foi para ele.
Balthazar ajeitou Cas sobre seu colo, suas mãos desfazendo rapidamente os botões da camisa diminuta. Ele passou os dedos sobre o ferimento nas costelas do anjinho, vendo que não sangrava e nem tampouco doía. Era nada mais que um buraco enegrecido, sugando cada bom sentimento que a criança ainda guardava em si.
O anjo fechou os olhos por um momento, pesaroso.
Não teria muito tempo até que todo o feitiço consumisse a pureza que restava em Cas e o pequeno anjo estivesse perdido para sempre. Tão cuidadoso quanto conseguiria ser, Balthazar apalpou com os dedos a borda do ferimento, introduzindo-os quase inteiros no corpo de seu irmãozinho.
Era doloroso e cruel, mas era a única maneira de livrar o anjinho daquela maldição, arrancando-a forçadamente de sua essência.
Bobby e Sam estavam ainda petrificados, divididos entre socorrer o arcanjo e talvez prestar alguma assistência ao pequeno que choramingava e gemia até seu corpinho relaxar, desfalecido nos braços do soldado.
- Vai ficar tudo bem agora, Cas. Eu prometo.
Castiel suspirou, ajeitando-se como podia no colo do irmão. Seu corpo gorducho foi sutilmente amparado pelo anjo loiro, os olhos azuis de Balthazar marejados ao reparar nas feições delicadas da pequena criança. Ele se levantou com dificuldade, sustentando o peso morno com o que restara de suas forças.
- É melhor deixá-los descansar. Precisam recuperar as energias.
- Há uma cama no andar de cima.
- Se não se importa, Sr. Singer, prefiro que eles durmam aqui.
- Eu a ofereci a você.
- Anjos não dormem.
- Mas vivem caindo em contradição. E nós, – Bobby apontou para o Winchester adulto, seus olhos austeros, embora estivesse tão emotivo quanto qualquer um naquela sala – Vamos colocar ordem nessa bagunça.
- Os demônios aprontam e eu que arrumo.
- Pare de choramingar!
O anjo loiro apenas riu suas feições preocupadas amenizando enquanto se dirigia ao pequeno caldeirão com mirra. Ele jogou os restos de incenso na lareira, depositando a peça de ferro sobre a escrivaninha e deixando-a por lá. Estava cansado, seu corpo doía e seu coração se apertava com as energias ruins que havia absorvido de Castiel.
Levaria ainda algumas horas para se recuperar do feitiço que roubara do irmão.
Tanto ele quanto Gabriel precisavam de um descanso, mas Balthazar estava em melhores condições, não podia se dar ao luxo de dormir enquanto nenhum dos outros anjos estivesse recuperado. Então ele apenas se deixara apoiar na varanda, observando o pôr-do-sol que lentamente se desenhava sobre os carros apagados e retorcidos do ferro velho.
- Pegue. Irá ajudar.
- Obrigado. – Balthazar sorveu um gole do liquido quente e doce que ele sem perceber começava a se afeiçoar. Era reconfortante e, além de agradável, diminuía um pouco a sensação de cansaço. – Pode perguntar o que quiser, eu não vou lhe negar uma resposta agora.
- O que deu errado lá?
- Não deu exatamente errado, Sam. – O anjo tomou mais um gole de café, satisfeito com a bebida. – Eu não esperava pelos cães, mas o que realmente me assustou foi o feitiço.
- Era para matar Cas.
- Se eu não estivesse lá, morreriam os dois. Gabriel não suportaria o encanto sozinho.
O Winchester se deixou apoiar na varanda, seus olhos castanhos contemplativos e perdidos no horizonte enquanto sua mente vagava por entre as relações complicadas de irmãos. Ele pensou em Dean e no tempo em que estiveram separados, pensando que talvez Balthazar se sentisse exatamente daquela maneira com Cas. Pensou no quanto tinham se habituado à vida familiar naquela casa e que talvez pudesse proporcionar um pouco daquele sentimento com o anjo que tanto se arriscara para salvar os irmãos.
- Você poderia ficar. Se quiser, é claro.
- Ficar aqui?
- Acho que Castiel gostaria disso.
- Gabriel irá odiá-lo.
Balthazar sorrira, seus olhos iluminados com o convite singelo e que de repente supria cada desejo seu. Ele apenas desejava passar mais tempo com o irmão, aproveitando à companhia interessante daqueles que se tornaram a família do anjo que ele jurara sempre proteger.
- Vocês não têm nada mais forte? – Balthazar sumiu num instante, deixando o Winchester perdido em uma conversa que sequer havia começado.
- Vamos. Bobby tem um ótimo estoque de whiskey.
O anjo demorou mais alguns minutos antes de acompanhar Sam para o interior da casa. De alguma forma, Balthazar sentia-se impelido a agradecer seu Pai, apreciando a oportunidade de ver Cas como a criança encantadora e pura que ele se tornara.
Porque era ali que seu coração desejava ficar, aguardando ansioso que Cas despertasse.
Okay, podem me matar, já.
Eu disse que seria tenso e acreditem, foi ainda melhor do que eu imaginei pela primeira vez. E eu sei que quase não coloquei o Dean nesse caps, mas entendam, essa fic sempre foi mais sobre o Cass do que sobre o Winchester.
Eu sou uma angel-girl, o quê posso fazer?
Se gostaram, por favor, ainda comentem, tá? Nem que seja pra reclamar de alguma coisa. XD
Bjoks!
Até o próximo!