Capítulo 1

Annabeth não estava nem um pouco feliz. Ela estava deitada em sua cama, batendo uma bolinha vermelha de borracha (que havia sobrevivido a Aqualândia) repetidas vezes no teto do quarto, enquanto o sol entrava pela janela e incomodava seus olhos. Ela já estava na qüinquagésima batida com a bolinha. Estava sozinha em casa, já que seu pai, madrasta e irmãos foram ao cinema, ver um filme que ela não assistiria nem sob ameaça de morte.

Todos diziam que a Califórnia era o melhor estado da América para se morar, mas ela não achava isso. Havia garotas esnobes, com cabelos lisos e coloridos de loiro, com o bronzeado perfeito que não eram nem um pouco legais na sua escola. Tudo bem, tinha a praia. Mas ela não podia chegar muito perto do oceano mesmo, por causa da disputa entre sua mãe e Poseidon. Ah, claro que ela já entrou no mar antes. Mas, na maioria das vezes, ela estava com Percy. E Poseidon jamais faria mal ao próprio filho. Faria?

E lá era tão quente. Ela não precisou usar casacos pesados até mais da metade do outono. Mas o clima de noite é bem parecido com o do leste: moderadamente frio. Definitivamente, morar na Virgínia era bem melhor.

Agora já foram cem batidas com a bolinha.

Aliás, a Califórnia era longe de tudo o que ela amava. E também não tinha nada que ela pudesse fazer por lá também. Graças aos deuses, ela havia ganhado o laptop de Dédalo no último verão, ou então ela teria que aprender a costurar com a avó de seus irmãos por parte de pai. Fica longe do Acampamento Meio-Sangue, longe do Olimpo, longe das ruas movimentadas de Nova York, longe de Perc-Oops.

Tudo bem. Por que negar para si mesma? Ela bem que tentou no início, mas não deu muito certo. Ela amava Percy. Isso era fato. Percy era retardado e obtuso demais para perceber ou corresponder seus sentimentos. Isso era outro fato. Mas pelo menos, Annabeth ainda não tinha dado a louca e contado para todos. Graças aos deuses, ninguém sabia. Só havia uma pessoa que Annabeth desconfiava que sabia sobre isso: Silena Beauregard, filha de Afrodite. Como Silena não tem visão de raio-X, ou algo do tipo, Annabeth desconfiava que ela soube disso por um outro alguém. E todas as suas suspeitas a levam a acreditar que este outro alguém é uma certa deusa do amor bastante fofoqueira, a mãe de Silena.

Silena andou deixando "sem querer querendo" Percy e Annabeth sozinhos durante todo o último verão. Além de ressaltar as qualidades de Percy para Annabeth até que, muito educadamente, Annabeth lhe lembrou que Silena namorava Beckendorf, o que fez Silena parar com isso e ficar bem ofendida.

Cento e setenta batidas.

O início do último verão, Annabeth até chegou a pensar em pedir uns conselhos amorosos para Silena, mas seu enorme orgulho levou a melhor. Silena não é exatamente a melhor pessoa do acampamento para se contar segredos. Provavelmente, a pessoa que ocupa este cargo é Katie Gardner, tudo o que dizem para ela nunca saiu dos jardins e plantações onde ela sempre está.

Ou seja: o verão se foi, e já estava voltando, e ela só está com as coisas mais complicadas. Como se as questões com ela mesma já não fossem suficientemente angustiantes, ainda tinha aquele pesadelo. Rachel Elizabeth Dare. Uma mortal, ruiva, e que parece ter um certo talento para roubar Percy de Annabeth. Annabeth sempre teve uma língua muito nervosa, e nunca levou desaforo para casa, então, ela simplesmente não consegue se controlar e acaba dando umas respostas meio grossas para Rachel. O que só está piorando sua imagem na frente de Percy. Ela nunca contou pra ninguém as inúmeras vezes que teve que se trancar no banheiro para ninguém vê-la chorando por causa disso.

Duzentas e quinze batidas.

O que simplesmente não entrava na cabeça dela era como Percy conseguia passar tanto tempo com aquela garota, não com ela. Annabeth estava ficando muito chateada. Com tanta gente esbanjando alegria no mundo, isso tinha que acontecer logo com ela? Ela uma vez ouviu falar que conversar com alguém sobre o que está sentindo seria algo ótimo para melhorar a chateação, a depressão, confusões, etc. Mas com quem ela poderia falar? Com a madrasta é que não seria. Matt e Bobby não entenderiam uma palavra do que ela diz e levariam tudo no mau sentido. E seu pai... Bem, a comunicação entre eles não é muito boa.

Duzentas e cinqüenta batidas.

Ah, é. Ela poderia mesmo ir a um terapeuta. Aliás, não seria nem um pouco embaraçoso falar com seu pai: "Ei, pai, será que você poderia me levar a um terapeuta? Ah, por quê? Só porque eu ando meio confusa, sabe? É que eu amo o Percy – coisa que eu não deveria fazer, já que minha mãe odeia o pai dele – mas não sei se ele também me ama. E também tem aquela mortal babaca, a Rachel Elizabeth Dare, que fica se jogando para cima dele e se acha a tal só porque consegue ver através da Névoa e enxergar todos os monstros. E também porque eu estou em crise, já que eu não queria estar nesta bosta de Califórnia. Ah, sim, eu sei que fui eu que optei por ficar aqui. E sei que eu não tenho como saber se o Percy me ama também. E também sei que seria errado mutilar a pobre da Rachel, no fundo, no fundo, ela é uma boa pessoa. O quê? Você quer saber por que pagaria mais de oitenta dólares por hora só para eu contar para uma terapeuta estúpida todos os meus segredos mais profundos que eu acabei de te contar? Ah, deixa pra lá, vou arranjar algo pra fazer. Me chame quando o jantar estiver pronto." Hmmm... Não rola. No way. De ninguna manera. κανένα τρόπο δεν.

É por isso que agora Annabeth Chase estava começando a ficar entediada, na trecentésima batida com aquela bolinha irritante, quando a bolinha escapou de sua mão e foi parar debaixo da cama. Como não tinha mais nada para fazer, resolveu se dar o trabalho de sair da cama, abaixar e enfiar a mão debaixo da cama para procurar a maldita bolinha. Quando estava tateando a procura do objeto, achou um papel meio amassado e puxou para ver o que era.

Era uma foto do Acampamento Meio-Sangue de mais ou menos três anos atrás. Todos estavam radiantes, na arena, felizes por estarem começando um novo verão com tanta gente conhecida, e ansiosos para conhecerem os novos campistas que estariam chegando nas próximas semanas. Annabeth sorriu ao ver seu rosto mais infantil, um pouco deslocado do centro da figura. Aquela foto fora tirada pouco menos de duas semanas antes de Percy cruzar pela primeira vez as fronteiras do acampamento, com o Minotauro atrás de si. Seus olhos correram pela figura e seu coração apertou-se ao ver Luke, bem no centro da foto, com um dos braços em volta de seus ombros. Naquela época tudo era tão simples... Mas é claro que na cabeça da Annabeth de doze anos, não tinha como as coisas estarem tão estressantes. Ah, se ela ao menos fizesse idéia de como as coisas ficariam, tentaria ter mudado a cabeça de Luke, e tudo seria bem mais fácil agora.

Uma brisa entrou pela janela e balançou uma mecha de seus cabelos, e de repente, Annabeth achou que seria uma ótima idéia sair um pouco de casa. Ou seja: andar de bicicleta perto da orla. Saiu apressada do quarto, pegou sua bicicleta no primeiro andar e abriu a porta para sair de casa e viu algo que fez seu coração parar.

Ela não sabia se gritava, se ficava feliz, se ficava zangada, ou se rezava para sua mãe. Porque bem na sua frente estava Luke Castellan.

OoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoO

N/A: Bem, esta é minha primeira tentativa com PJO. Escrevi mais como um desafio pessoal para passar o tempo de uma tarde de domingo. Devo continuar? Planejo talvez fazer só mais um ou dois capítulos. Não sei se dá pra perceber, mas é sobre (SPOILER ALERT) a visita que Luke faz à Annabeth entre Batalha do Labirinto e O Ultimo Olimpiano que é apenas citada no livro. Talvez o próximo capítulo demore um pouco porque eu também tenho uma outra fic pra escrever. Mas por favor, mandem reviews dizendo se eu continuo postando ou se já está bom sendo One-Shot. Beijos.