Olá!

Aqui estou eu, novamente com uma nova fic. Para modificar um pouco as coisas, esta fic é ambientada nos Estados Unidos, no início da década de 60. Este é um capítulo mais introdutório, mas no próximo a ação já começa a se desenvolver.

Espero que gostem! Qualquer dúvida ou sugestão, é só me deixar um review. E agradeço muito se deixarem suas opiniões!

Obrigada, e boa leitura!

Beijos

Priscila Black.

Cap. 1 – Mais um tedioso verão.

Santa Barbara, Califórnia. Verão de 1961.

- Ei, Lils, será que dá para acordar e me ajudar aqui?

Lily foi retirada abruptamente de seu devaneio. Sua mente vagava por antigas construções de pedra, recoberta por hera verde-escura. Era um sonho inútil, e deveras masoquista, e a garota tinha absoluta consciência do fato. Mas isso não a impedia de devanear sobre o assunto que volta e meia ocupava sua mente.

Ao voltar à realidade, Lily se deparou com a loja de seu pai, decorada em tons pastéis, e quase abarrotada de eletrodomésticos. "A melhor loja de aparelhos para o lar de toda a Costa Oeste!" era o jargão que seu pai repetia constantemente para os clientes. Logicamente Lily sabia que a frase era um imenso exagero do pai. Mas, levando em conta o tamanho de Santa Barbara, ela achava que a loja estava de bom tamanho para a pequena cidade litorânea.

Lily deixou sua posição, debruçada sobre o balcão ao lado da registradora, e foi caminhando até o pai. Ela era uma garota de 18 anos, de cabelos ruivos escuros, olhos verdes radiantes e amendoados. Sua pele estava com um bronzeado muito leve, acentuando as sardas em seus ombros. Ela era muito bonita, e um tanto exótica para uma moradora de uma cidade praiana.

Era início de suas férias de verão, e ela tinha acabado de se graduar na Santa Barbara High School. A melhor aluna de sua classe. Oradora da turma. E, sendo 1961, isso era um feito considerável. Além disso, ela foi aceita em todas as Universidades que se inscreveu. Levando em consideração que quatro pertenciam à prestigiosa Ivy League, liga de Universidades de altíssimo nível da Costa Leste dos Estados Unidos, Lily era considerada um prodígio em sua escola.

Mas nenhum desses fatos a preparou para o baque que veio logo em seguida: nenhuma de suas solicitações de crédito estudantil foi aceita. Todas voltaram com a mesma justificativa; o negócio de se pai prosperava, e isso a desqualificava para as bolsas de estudo.

E era neste assunto, mais precisamente nas paredes de pedra de Harvard, que Lily pensava quando o pai a chamou para ajudá-lo. E, escapando de seu sonho bom, e do certamente ameno clima da Costa Leste, Lily foi jogada à realidade, e ao calor infernal da Califórnia, durante o verão.

E a realidade dela, agora, era a loja de eletrodomésticos de seu pai.

Lentamente, e arrastando suas sapatilhas de lona, a garota chegou ao lado do pai. O Sr. Evans era um bom pai, sempre cuidadoso com as filhas e a esposa. Mas tinha uma visão um tanto retrógrada, na opinião de sua filha caçula. Mesmo assim, a jovem disse.

- Sim, papai?

- Me alcance aquela chave de fenda, sim, querida? – ele apontou para algo na caixa de ferramentas, que estava ao pé da escada que ele subira para consertar um dos letreiros da loja.

Lily franziu a testa. Não tinha a menor idéia do que era uma chave de fenda.

- Ahnn... Isso aqui?

A garota exibiu um alicate. O pai revirou os olhos, e apontou mais diretamente.

- Não! É aquela ali, do cabo vermelho.

Lily viu o objeto que o pai solicitava. Pegou, e entregou para ele. Mesmo assim, ele resmungou.

- Nem parece que seu melhor amigo é o maior entendido de motores da região. O que você faz quando fica enfiada na garagem dos Black com Sirius?

A garota apenas riu, e respondeu.

- Leio a Cosmopolitan. – ela respondeu, sem acrescentar que também costumava levar seus livros escolares para poder estudar sossegada. Melhor não mencionar que o barulho dos motores que Sirius remexia era infinitamente mais suportável que os constantes gritos de sua irmã mais velha, Petúnia.

Mas o pai pareceu satisfeito o suficiente com a resposta da filha, já que voltou a trabalhar no letreiro. Lily então mordeu o lábio inferior, e falou, num tom cuidadoso.

- Papai... ainda vai precisar de mim?

O Sr. Evans virou para trás, e encarou a filha.

- Por que está perguntando?

A jovem sorriu de lado, e falou.

- É que eu estou de férias, não é... será que poderia... diminuir minhas horas aqui na loja?

O Sr. Evans franziu a testa ligeiramente, mas logo sorriu para a filha.

- Quer aproveitar a praia, não é?

A garota concordou com a cabeça, e respondeu.

- Sim. – qualquer coisa para fugir daquela loja, e do tédio que ela era durante a manhã.

- Então vá. Mas fique de olho aberto com esses turistas. Você sabe como eles são, só querem saber de aventuras. – ele disse num tom preocupado – Se você namorasse um bom rapaz... isso não seria um problema.

Lily inspirou profundamente, e virou-se rapidamente para ir embora. Não podia dar a oportunidade de seu pai começar pela enésima vez o mesmo discurso. Ele repetia que ela tinha que arranjar um bom rapaz, de uma boa família, e namorar, noivar e se casar.

"Assim como sua irmã Petúnia". A frase que Lily ouvia tantas vezes que parecia cimentada em sua mente. Mas Lily não tinha nenhuma pretensão em arranjar um namorado, quanto mais se casar tão cedo. Ela queria estudar numa faculdade prestigiosa, e se formar com méritos. Queria uma longa carreira acadêmica, queria poder discutir assuntos sérios com as maiores mentes do meio científico. Ela tinha muitas aspirações de vida, e nenhuma delas combinava com sua realidade enfadonha. Morava numa cidade praiana, que só atraía turistas buscando sol e diversão no verão. Lily então saiu correndo da loja do pai. A manhã já estava no meio, e ela ainda precisava passar em casa antes de ir para a praia. Não que fosse muito longe; Santa Barbara era um ovo. Mas ela não queria ficar mofando na loja de seu pai, e nem dar a oportunidade dele reconsiderar a decisão, e fazê-la voltar para lá.

O mais rápido que foi capaz, a garota trocou sua roupa pelo comportado maiô de banho. Seu pai não gostava que ela usasse biquíni, e, como ainda era início de verão, ela não se importava com a caretice do pai. Até o meio das férias ela achava que conseguiria convencê-lo que o fato de mostrar seu umbigo na praia não iria atrair os olhares de turistas mal intencionados.

Como sua casa ficava muito próxima à praia, ela apenas colocou shorts, uma camiseta e chinelos, e foi correndo até o local. Sabia exatamente aonde ir. Quase em frente à rua que ela percorria de sua casa à praia ficava um posto de salva-vidas. E lá ela sabia que encontraria seu melhor amigo. E foi exatamente isso que aconteceu quando ela chegou.

- Oi Sirius! – Lily saudou.

Sentado numa cadeira alta, com um binóculo na mão, um rapaz moreno, alto e de cabelos mais compridos do que pais conservadores gostariam olhava atentamente para o mar. Ele largou o binóculo, e Lily viu o sorriso cativante e os olhos azuis de seu melhor amigo em todo o mundo.

- Oi Lils. – ele respondeu. – Por que demorou tanto?

A garota largou uma bolsa que carregava a tiracolo na areia, e começou a estender uma esteira ao lado da cadeira de salva-vidas do amigo. E o respondeu com uma expressão enfadonha.

- Estava na loja, ajudei o papai a abrir hoje.

- Meus pêsames. – Sirius falou, num tom de brincadeira.

Lily riu, e sentou na esteira. E perguntou.

- Alguma novidade?

Sirius suspirou profundamente. E respondeu a amiga.

- Nada. Você sabe. Santa Barbara.

- Sei. – a ruiva respondeu.

E Lily sabia. Santa Barbara quase nunca tinha novidades. Bem, ela devia ter muitas, se você fosse rico o suficiente para morar (ou alugar para o verão) numa das luxuosas casas da parte nobre da cidade. Mansões à beira mar geralmente eram ocupadas por famílias ricas de várias partes do país, ou então por figurões de Hollywood. Em algumas ocasiões, Lily e Sirius conseguiam ver alguma estrela de cinema pela cidade. Mas raramente eles passeavam nas ruas. Passavam apressados com seus carros esportivos, e se trancavam nas mansões para festas que duravam dias. Lily e Sirius certa vez conseguiram subir numa árvore, e juravam que viram Marilyn Monroe tomando um drink na beira de uma piscina.

- Nenhuma garota? – Lily insistiu, mas apenas porque estava tão entediada com a própria vida que queria pelo menos algo para conversar.

Sirius olhou em volta, e respondeu.

- Bem, você sabe como é. Elas estão por aí. Mas...

Lily franziu a testa. E perguntou.

- Sirius, é impressão minha ou você está pensando em deixar a vida de libertino de lado?

Sirius olhou para a amiga, com uma sobrancelha levantada.

- Não é assim. É que essas garotas, elas são tão...

- Tão... – Lily questionou.

Ele apenas inspirou, e falou.

- Iguais.

Lily olhou para o mar. Sabia exatamente o que o amigo queria dizer.

Ela mesma não tinha muitas amigas na cidade por conta disso. As garotas de Santa Barbara eram muito idênticas. Todas elas falavam sobre os mesmos assuntos. Usavam o mesmo tipo de roupa. Arrumavam-se da mesma forma. E todas elas tinham o mesmo objetivo: arranjar um bom marido, e virar uma perfeita esposa, mãe e dona de casa.

E esse era o maior medo de Lily.

Não que os rapazes fossem muito diferentes. Lily considerava que todos eles tinham saído da mesma forma. Sim, eles eram mais divertidos que as garotas, já que costumavam praticar esportes na praia, mas, de uma forma geral, todos buscavam a mesma coisa: se divertir enquanto eram jovens, e depois queriam uma esposa perfeita para esperá-los em casa, quando chegassem do trabalho. E Lily queria distância de rapazes daquele tipo.

Então por esse motivo, além da proximidade, ela virou a melhor amiga de Sirius Black. Os dois tinham a mesma idade, e estudaram juntos a vida toda. Mas o que aproximava a dupla era a inegável semelhança de pensamento. Eles não queriam ficar presos à Santa Barbara. Ambos queriam mais. Por mais que Sirius não buscasse um caminho acadêmico como Lily, eles sabiam que o mundo era muito mais amplo que sua pequena cidade natal.

- É. Sei o que quer dizer. – Lily respondeu.

Os dois ficaram em silêncio por algum tempo. Lily retirou a roupa, ficando só de maiô. E Sirius voltou a patrulhar o mar, observando se algum banhista não estava sendo descuidado.

Depois de vários minutos de silêncio, Lily voltou a puxar conversa.

- E o Remus, deu notícias?

Sirius olhou para a amiga, e falou.

- Não. Acho difícil ele ligar tão cedo. Você ligaria se estivesse numa viagem pela Europa, sem seus pais no seu pé?

Lily suspirou desanimada. E respondeu.

- É verdade. Acho que ficaria desaparecida por um mês, no mínimo.

Sirius riu, mas imediatamente parou ao ver a expressão no rosto de Lily.

- Você ainda está um pouco chateada por toda essa história com o Remus, não é?

Lily desviou o olhar. E lembrou-se do assunto que Sirius mencionou. Remus era amigo tanto dela quanto de Sirius. E Remus estava numa longa viagem pela Europa, presente dos pais. E, além disso, Remus tinha sido aprovado em Dartmouth, para onde iria no outono. Uma faculdade da Ivy League. O sonho dourado de Lily. O sonho que não se realizaria.

Tentando disfarçar a inveja que já estava começando a se apoderar dela, Lily respondeu.

- Não. Eu estou feliz por ele. – sim, ela estava feliz pelo amigo. Mas ficar lembrando o fato só a fazia ver ainda mais que sua vida estava bem longe de ser um sonho.

Sirius ficou olhando para a garota, mas não tocou mais no assunto. Tentou mudar o foco da conversa, puxando outro assunto.

- Que tal irmos ao cinema drive-in hoje? Acho que consigo surrupiar o carro do velho sem que ele perceba.

Lily riu da idéia de Sirius, e falou, mais animada.

- Vai deixar sua vida amorosa de lado para sair com sua melhor amiga? Você está doente, Sirius?

O rapaz riu, e sacudiu os cabelos.

- Não. Quem sabe não arrumo uma garota para dar uns beijos na fila da pipoca?

Lily gargalhou, imaginando quantas garotas Sirius tinha convencido a "dar uma voltinha" enquanto eles estavam vendo um filme no drive-in.

Mas o rapaz se espreguiçou, e falou, num tom mais baixo, quase de confidência.

- Sabe... agora falando sério. – Lily riu, como se não soubesse que Sirius certamente já dera uns beijos numa fila de pipoca – Eu estava pensando...

- Vai ver um médico, pode ser sério. – Lily falou, rindo.

O rapaz lançou um olhar gelado para a garota, que riu, mas logo completou.

- Brincadeira. Continua.

Sirius então desceu os degraus da sua cadeira de vigilância, e sentou ao lado de Lily na esteira.

- Você nunca teve a impressão que ninguém é uma surpresa?

Lily não entendeu, então franziu a testa. Sirius prosseguiu, explicando.

- Sei lá. Todas as garotas que eu conheço...

- Que não são poucas. – Lily completou.

- Tá, eu sei. Mas é que todas elas... elas não me surpreendem. São todas iguais, pensam igual. E eu estou...

- O que? – Lily falou, um tanto preocupada. Sirius não costumava ser tão sério. Principalmente falando sobre garotas.

- Cansado. De todas elas.

Lily arregalou os olhos. Seu amigo sempre fora um conquistador. Será que algo estava acontecendo com ele?

- Eu fico esperando que alguma garota chegue, e seja diferente. Seja... surpreendente. Mas nenhuma é. Talvez não exista alguém como eu imagino.

- E como você imagina? – Lily perguntou.

- Alguém... livre. Que tenha outras prioridades na vida. Que não se importe com o que as outras pessoas pensam. Que tope coisas que as outras não topam.

Lily não agüentou, e riu.

- Você quer alguém que aceite as perversões malucas da sua cabeça?

Sirius riu, mas explicou.

- Não é dessa forma. Essas coisas que eu falo são mais do tipo... sei lá, do tipo: vamos sair por aí, sem destino, ou então vamos nadar nus no mar durante a madrugada.

Lily imediatamente riu, e rebateu.

- Eu disse que eram suas perversões!

Sirius levantou uma sobrancelha, e falou.

- Ei, eu não penso só em sexo, não, sabia?

- Pode ser, mas você pensa bastante sobre o assunto.

Sirius sacudiu os ombros, vencido. Mas rebateu.

- Tá, e essa garota também tem que... bem, tem que gostar da coisa tanto quanto eu gosto!

Lily ria abertamente do amigo. Os dois ficaram rindo por alguns segundos, até Lily olhar para Sirius, e falar.

- Bem, acho que eu entendo o que quer dizer. Duvido que você ache uma garota assim aqui em Santa Barbara. Assim como eu duvido que ache um cara da forma que gostaria, também.

- Ah, Lils, você sempre teve um monte de caras atrás de você. Será que nenhum deles servia?

Lily sorriu de lado, e falou.

- Eu também sonho em encontrar alguém diferente, Sirius. Assim como você deseja essa garota que não existe. Eu também quero o Sr. Maravilhoso.

Sirius olhou para Lily, e falou, num tom levemente derrotado.

- Estamos ferrados, não é?

Lily fez uma pequena careta, e falou.

- É. Acho que estamos.


Lily foi embora da praia no horário de almoço. Sirius a acompanhou, já que seu turno como salva-vidas naquele dia tinha acabado.

Os dois caminhavam despreocupadamente, a caminho de casa. Como os dois eram vizinhos, seguiram todo o percurso juntos. Bem, oficialmente eles não eram exatamente vizinhos, mas era como se fossem. Entre a casa de Sirius e a de Lily ficava uma casa em que ninguém morava há mais de 20 anos. Lily nunca vira ninguém na casa, apesar de saber que ela tinha donos, e que eles moravam do outro lado do país. Mas quem eram eles, ou porque mantinham a casa fechada continuava sendo um mistério para a garota, durante toda sua vida. Mas, como o fato nunca mudava, ela simplesmente não pensava na bela, mas descuidada casa que a separava da casa de seu melhor amigo. A pintura descascada não escondia a beleza da arquitetura antiga da construção, nem sua velada imponência. Era a maior casa das redondezas, e a única que tinha vista para o mar, por seu terreno ser levemente mais elevado que as outras casas da rua.

Lily acenou para Sirius, despedindo-se do amigo. Ele acenou de volta, e entrou na própria casa. A casa dos Black combinava um tanto com o sobrenome da família; apesar de morarem numa cidade praiana, os Black cultivavam um estranho hábito de reclusão e uma leve aura sombria. Nada disso combinava com Sirius, mas ele não tinha muita opção, e entrou na casa de tons acinzentados.

O rapaz tentou entrar sem ser notado, mas seus esforços foram em vão. Logo que fechou a porta, sua mãe apareceu, vinda da cozinha. O ar de superioridade que tanto irritava o filho estava estampado no rosto dela, e ela imediatamente começou a reclamar.

- Entrando em casa cheio de areia? Vai emporcalhar o tapete todo!

Sirius engoliu uma vontade súbita de começar a pular em cima do tapete. Só para irritá-la ainda mais.

Mas ele sabia que qualquer argumento era inútil. Não havia maneiras de se racionalizar com sua mãe, e também ele não via muitos motivos para se tentar. Era melhor apenas ignorá-la, e seguir para seu quarto. Mas isso não a impediu de continuar sua ladainha.

- Você devia ser como seu irmão, e encontrar um emprego de verão decente. Ficar na praia o dia inteiro é coisa de desocupado!

Sirius apenas revirou os olhos enquanto subia as escadas. Logo aquela tortura teria acabado, ele só precisava ser paciente durante o verão, e tentar não perder a cabeça quando sua mãe falava esse tipo de insulto.

O rapaz logo chegou até seu quarto. Fechou a porta à suas costas, e foi direto até o banheiro. Ligou o chuveiro, tentando esquecer as frases ríspidas da mãe. Logo que a água morna desceu por seu corpo, ele já tinha deixado de lado o aborrecimento, e se concentrava num assunto muito mais animador: seu futuro.

Sirius estava aliviado em poder sair de casa, e ir estudar fora da cidade. Ele era o melhor jogador de basquete da Santa Barbara High School, e tinha conseguido uma bolsa de estudos ligada a esportes, para estudar na UCLA, a Universidade da Califórnia, em sua sede de Los Angeles. Mesmo que Los Angeles fosse perto de Santa Barbara, ele iria ficar nos alojamentos da universidade, e isso era um pensamento promissor.

Era lógico que este não era o sonho dele, mas servia, visto que se não fosse para a UCLA teria que freqüentar a Santa Barbara City College, a faculdade comunitária da cidade. Mesmo que tivesse a companhia de Lily, sua melhor amiga, o fato de ter que continuar morando na casa dos pais era um pensamento quase insuportável. Por um instante ele pensou em Lily, e ficou com pena da amiga. Alguém tão afeita ao meio acadêmico, como ela, ser condenada a freqüentar uma faculdade comunitária era algo mesmo digno de pena. Mas ela não tinha se inscrito na UCLA, e o pai da garota falou que não pagaria um curso superior para ela, então aquele era a única saída que ela tinha.

O resultado disso tudo era que, no outono, Sirius iria morar em Los Angeles, e Lily ficaria em Santa Barbara. Ele ficava triste em ter que se separar da única pessoa que o conhecia de verdade, no mundo. Mas ele tinha que ir embora. Não agüentava mais morar com os pais, senão ficaria louco. Mesmo tendo que se adaptar a um ambiente que não era o seu preferido, ele estava disposto a tentar. Ter que freqüentar as aulas, escolher algum curso para se graduar. Sirius não tinha muitas aspirações acadêmicas; este era o departamento de Lily. Mas se o que ele precisava fazer para sair de casa era ficar enfiado numa biblioteca estudando, ou então treinando com afinco na quadra de basquete, ele faria sem pestanejar. Mesmo não sendo esse seu sonho. Era melhor do que nada.

Rapidamente o rapaz terminou o banho, e saiu em direção ao quarto. Com a toalha enrolada na cintura, ele deu uma espiada rápida pela janela. Ele observou o céu, completamente sem nuvens (como quase sempre na Califórnia), e passou os olhos pela casa abandonada, que separava sua casa da de Lily. Como sempre, o local estava fechado e sem qualquer movimento. Um leve sorriso chegou aos seus lábios quando ele se lembrou da época de infância, em que ele e Lily invadiam o jardim da casa, e brincavam lá sem que ninguém soubesse. Eles nunca conseguiram entrar na casa, mas o grande jardim era cenário suficiente para as brincadeiras dos amigos. Mesmo a piscina vazia e cheia de folhas secas servia como parte do divertimento das crianças.

Sirius então vestiu suas roupas, e se jogou em sua cama. Pensou que poderia sair de casa sem almoçar, mas sabia que seria inútil. Não havia nada que ele pudesse fazer, naquele momento. Santa Barbara era tão monótona que ele teria mais chances de encontrar alguma distração sozinho em seu quarto.

O rapaz ficou observando o teto, aguardando o grito diário de sua mãe, chamando-o para o almoço. Alguns minutos depois o grito veio, e ele levantou da cama, praticamente se arrastando até o andar de baixo da casa. Para piorar tudo, quando ele passou pela porta de entrada, ele viu seu irmão caçula, Regulus, chegando em casa.

Regulus estava vestido com uma camisa engomada e calças sociais, e sapatos muito bem engraxados nos pés. O cabelo preto dele estava todo penteado para trás, num visual que Sirius achou extremamente careta, mas que visivelmente agradava o mais novo dos Black.

Ele carregava uma pasta de couro marrom nos braços, e logo foi seguido pelo pai, que também entrava em casa. Sirius revirou os olhos, sem que eles percebessem. E logo ouviu a voz de sua mãe falando.

- Chegaram? O almoço está pronto!

Sirius largou-se de qualquer jeito numa cadeira, e ficou esperando os outros membros da família. Assim que entrou na sala de jantar, o Sr. Black falou.

- Isso é forma de sentar, rapaz? Fique com uma postura direita!

Sirius queria dizer um palavrão bem desagradável, mas ignorou o comentário do pai. Nada de bom podia sair de uma discussão com ele.

Logo Regulus e a Sra. Black se juntaram aos dois, e a família começou a refeição. Sirius serviu-se em silêncio, apenas ouvindo a conversa entre os outros moradores de sua casa.

- Regulus está indo muito bem no trabalho, Walburga. Você precisava ver, parece que ele nasceu com talento para a coisa.

A Sra. Black sorria, cheia de contentamento. E falou.

- Ah, mas isso já era de se esperar. Ele é tão bom aluno na escola. Sempre notas máximas em matemática.

Sirius fez uma expressão de tédio. Não podia imaginar trabalho mais enfadonho que de seu pai, sentado o dia inteiro em frente a uma mesa, conferindo números e organizando planilhas de custos. Mas como Regulus era, na opinião dele, tão tedioso quanto o pai, sabia que não havia exageros sobre o desempenho do irmão na empresa da família. Somente Regulus agüentaria um trabalho tão chato.

Mas, como Sirius sabia que aconteceria, a mãe voltou sua atenção para ele. Sempre que elogiava Regulus, ela encaminhava uma repreensão ao filho mais velho. E ela imediatamente veio.

- Por que você não consegue ser como seu irmão, Sirius?

Sirius começou a contar mentalmente. Não queria perder a calma naquela tarde. Tinha que convencer (ou surrupiar sem que ele soubesse) o pai a emprestar seu carro, para que pudesse ir ao drive-in com Lily. Se ele arranjasse alguma confusão, ele poderia ficar de castigo. Mesmo que isso nunca tivesse segurado Sirius antes, era muito mais fácil apenas ignorar os comentários e ficar quieto.

Mas Walburga Black não parecia muito disposta a ceder naquela tarde, e prosseguiu.

- Fica o dia todo na praia, como um desocupado. Seu irmão está aprendendo muito com seu pai.

Sirius então respondeu, num tom contrariado.

- Não estou à toa, estou trabalhando.

Mas Walburga riu, e retrucou.

- Na praia? Você acha que ser salva-vidas é um trabalho?

- Estou tentando evitar que as pessoas se afoguem, acho que é um trabalho bom o suficiente! – Sirius rebateu.

Mas essa resposta a deixou ainda mais irritada. E ela levantou o tom de voz, olhando para o filho com muita raiva.

- Você não tem senso de respeito próprio, garoto? Você é um Black!

Mas Sirius revirou os olhos, e apenas respondeu.

- Grande coisa.

Isso fez a Sra. Black levantar-se da cadeira imediatamente, e bater as mãos na mesa de forma violenta. Mas ela não teve tempo de falar nada; o Sr. Black falou antes que qualquer um dos dois se manifestasse.

- Chega disso. Sirius, para o quarto agora! Isso não é forma de falar com sua mãe, nem de sua própria família!

- Não precisa mandar duas vezes. – Sirius ainda falou, levantando da cama de maneira rápida.

O rapaz percorreu as escadas e o corredor num instante. Entrou no quarto e bateu a porta. Jogou-se na cama, e voltou a encarar o teto.

Ele falou, para si mesmo, num tom baixo.

- Só preciso agüentar até o outono. Só até o outono.

Mas o outono parecia nunca chegar.


Lily passou a tarde inteira organizando seu quarto. Ela se desfez de coisas antigas, que não queria mais. Arrumou os armários (ritual que repetia todos os verões) e organizou os livros nas prateleiras. Desta vez, ela resolveu colocá-los em ordem alfabética. Ela riu sozinha ao pensar que o tédio naquela cidade era tão grande que era necessário uma arrumação de livros para que ela se distraísse. Quando terminou tudo, já estava anoitecendo, e ela resolveu ir até a garagem dos Black, ver se Sirius já tinha resolvido o horário que iriam ao cinema.

Lily foi caminhando pela calçada até a casa de Sirius. Estranhou muito o fato de a garagem estar fechada. Geralmente o amigo passava boa parte da tarde mexendo no motor de sua moto. Então, já que ela não gostava de enfrentar a assustadora mãe de Sirius, ela contornou o quintal da casa do amigo, e parou bem embaixo da janela do amigo. Pegou uma pedrinha no chão, e atirou contra o vidro. Repetiu o ritual mais duas vezes, até que Sirius apareceu na janela.

- Oi! – ele falou. Seu rosto aparentava muito sono.

- Te acordei? – ela perguntou, num tom não muito alto, para que a mãe de Sirius não ouvisse.

Ele coçou a cabeça, e respondeu.

- A-ham. Mas já está tarde, era hora de acordar mesmo.

- Desculpe.

- Ah, deixa pra lá, Lily. Vou descer pra falar com você.

- Ok. – foi a resposta dela.

Alguns minutos depois, Sirius apareceu na porta de casa, e foi até Lily, que o esperava sentada na calçada. E ele sentou ao lado dela assim que se aproximou.

- E então, que horas vamos ao drive-in? – ela perguntou.

Sirius levou a mão aos cabelos, e fez uma expressão de chateação.

- Não vai dar para ir hoje, teve um problema aqui e...

Lily não o deixou completar. Ela sabia exatamente o que era. O amigo sempre ficava com a mesma expressão no rosto quando brigava com os pais.

- Não precisa se preocupar, tudo bem.

- Foi mal, Lils.

- Já disse que não tem problema, Sirius! Mas... quer falar sobre isso?

Sirius se remexeu, incomodado. E ficou em silêncio por alguns instantes antes de resmungar.

- São todos doidos. Eu não ligo não, Lily. Vou me livrar disso assim que o verão acabar.

Lily sorriu para o amigo, de forma encorajadora. Por mais que estivesse desolada em perder o convívio diário com ele, sabia que Sirius seria muito mais feliz fora de casa. Mesmo que, para isso, estivesse indo para uma universidade que não queria, e que tivesse que estudar, algo que ele quase abominava. Então Lily colocou a mão no ombro do amigo, e falou.

- No outono, você fica livre.

Sirius olhou para a amiga, e falou.

- Queria que você pudesse ir também. Seria legal ter alguém junto comigo. Imagina só, nós dois em Los Angeles!

Lily sorriu de lado, e falou.

- Minha vida é como uma tragédia grega. Eu já estou acostumada.

Sirius bagunçou os cabelos da amiga, e falou.

- Se a sua é uma tragédia grega, a minha é o que?

Lily riu, e respondeu.

- Um conto de terror?

Sirius riu, e falou.

- É, acho que você tem razão.

Mas logo os dois ficaram em silêncio, sentados na calçada. Lily pegou uma pedrinha na mão, e ficou remexendo-a por vários minutos. Então ela olhou para cima, e viu o céu escurecendo. A primeira estrela brilhou no céu, e ela se lembrou de uma brincadeira de infância. Isso a fez fechar os olhos, e se concentrar. Sirius viu o movimento dela, e perguntou.

- O que está fazendo?

Ela abriu os olhos e respondeu.

- Lembra daquela brincadeira de criança: "Primeira estrela que vejo, satisfaça meu desejo?"

Sirius concordou com a cabeça, e falou.

- Você fez algum pedido? Qual?

Lily riu, e respondeu.

- É bobeira.

- Eu sei que é. Mas conta mesmo assim. – Sirius questionou.

Lily inspirou profundamente, e respondeu.

- Bem... é que eu pedi algo de novo neste verão. Pedi que algo acontecesse comigo, algo surpreendente. Que me tire desse tédio enorme que é minha vida.

Sirius riu da frase da amiga, mas falou.

- É um bom pedido. Acho que também vou fazê-lo.

O rapaz olhou para o céu também, e repetiu o ritual de Lily. Assim que terminou, ele levantou da calçada, e falou.

- Vem, vamos dar uma volta. Já que não podemos ir ao cinema, vamos tomar um sorvete na lanchonete, pelo menos.

Ele estendeu a mão para ajudar Lily a levantar-se. Ela aceitou a ajuda, e respondeu.

- Acha que existe alguma chance de encontrarmos alguma novidade na lanchonete?

Sirius riu de forma irônica, e respondeu.

- Em Santa Barbara? Está louca?

Lily também riu, mas olhou de relance para a estrela que brilhava, agora acompanhada, no céu. E ela desejou silenciosamente que seu pedido se realizasse.


Uma ida a lanchonete pode ser um programa muito divertido. Mas, em Santa Babara, era mais como uma das poucas opções que os jovens tinham para se divertir. As outras duas opções eram o boliche e o drive-in. Durante o verão ainda aconteciam alguns eventos esporádicos na praia, mas não era algo freqüente, ou que os jovens pudessem ter certeza que seria realizado. Então eles estavam presos àquela rotina.

Sirius e Lily saíram da lanchonete às nove horas da noite. Subiram na moto do rapaz, passaram pela orla da praia, mas viram que era inútil. Nada para fazer. Vencidos, eles simplesmente rumaram para casa. O tédio de Santa Barbara vencera mais um round.

Lily desmontou da moto, e ajeitou os cabelos. Ela olhou para o amigo, e viu no rosto dele o mesmo desânimo que ela sentia. Ela então falou, num tom de ânimo que não condizia com seu estado de espírito.

- Vamos à praia amanhã?

Sirius deu de ombros, e falou.

- Eu trabalho na praia, Lils.

- Eu sei. – ela respondeu – Só estava...

- Tentando ser otimista. É, eu entendo.

Lily sorriu, mas sem muito ânimo. Sirius retribuiu o sorriso, e falou.

- Até amanhã, Lils.

- Até amanhã, Sirius. – ela respondeu.

Lily foi andando pela calçada até sua casa. Antes de entrar acenou para o amigo, que estava guardando a moto na garagem. Ela entrou em casa, e encontrou sua mãe na sala, vendo televisão com seu pai. Ela os cumprimentou, e a Sra. Evans falou.

- Boa noite querida. Vocês se divertiram?

Lily não teria como explicar que, apesar de gostar muito da companhia do melhor amigo, ela não deixou de sentir o enorme tédio que parecia emanar de todos os cantos de Santa Barbara. Então se limitou a dizer.

- Sim. Foi divertido sim, mãe

A Sra. Evans sorriu, e falou.

- Que bom, querida.

Lily então foi até seu quarto. Trocou suas roupas por pijamas, e olhou para sua prateleira de livros. Estava sem sono, então resolveu ler um pouco. Escolheu um livro qualquer que já tinha lido, e deitou na cama.

A garota perdeu a noção do tempo que tinha passado. Notou que os pais tinham ido dormir a bastante tempo. Mas a leitura estava interessante, então ela manteve a luz de seu abajur acesa.

Sem notar, a garota acabou adormecendo. O livro caiu em seu colo, e ela nem notou. Completamente entregue ao sono.

Ela teria ficado naquela posição, acordando só pela manhã se algo estranho não a tivesse acordado no meio da madrugada.

Lily acordou sobressaltada, olhando rapidamente em volta. Demorou alguns instantes para despertar, sem entender o que tinha acontecido. Recolheu o livro que tinha caído no chão com o susto, e se espreguiçou.

Então, repentinamente, algo chamou sua atenção.

Um barulho vindo do lado de fora de sua janela.

A garota imediatamente se aproximou do vidro, e buscou a origem do som. E o que viu a vez questionar se estava acordada ou dormindo.

A casa ao lado da sua, que separava sua casa da de Sirius, a casa que vivia abandonada há anos, estava com as luzes acesas.

Lily entreabriu os lábios. Mal podia acreditar.

Ela focalizou melhor a visão. Apenas alguns cômodos da grande casa estavam acesos. Uma janela na parte de baixo, que ela julgava ser da sala de estar, e um quarto do segundo andar, que ficava de frente para o seu e, portanto, na lateral da casa.

Lily tentou notar se via movimento pela casa, mas não viu nada. Vencida pela curiosidade, ela resolveu descer para a sala de sua casa, de onde teria uma visão melhor da parte da frente da casa.

Silenciosamente, ela abriu a porta de seu quarto. Desceu as escadas cuidadosamente, e foi até a janela lateral da sala de sua casa. Abriu as cortinas discretamente, e espiou.

Um carro, que Lily não conseguiu identificar à noite, estava parado na porta da casa. E duas pessoas transitavam do carro para a casa.

Estreitando o olhar, Lily conseguiu distinguir ligeiramente as pessoas que andavam num ritmo frenético. Era um homem e uma mulher. Não viu suas feições por conta do escuro, mas eles aparentavam ser jovens, pelas roupas que usavam. E eles pareciam estar carregando malas para dentro da casa.

Lily manteve seu olhar fixo na dupla que caminhava do carro para a casa, e da casa para o carro. Ela viu o homem derrubando algo no chão, e viu que a mulher falou algo com ele. Ela pode ouvir a voz da mulher, mas não conseguiu entender o que ela falou.

A dupla demorou mais alguns minutos na tarefa. Mas logo terminaram, e entraram na casa. Poucos minutos depois, a luz da sala estava apagada. Eles deviam ter subido para o quarto.

Lily correu o mais silenciosamente que conseguiu para seu quarto. Chegando lá, ela olhou pela janela. Mas a cortina do quarto da casa misteriosa estava fechada, e a única coisa que a garota conseguiu ver foram sombras passando de um lado para o outro.

Depois de alguns minutos, a luz se apagou. E Lily permaneceu na janela, apenas para constatar que a luz não se acenderia mais.

Finalmente ela desistiu, e voltou para a cama. Deitada, livre de suas cobertas, Lily ficou encarando o teto no escuro. A misteriosa casa, que ficara tanto tempo fechada, agora tinha dois ocupantes misteriosos. Era tão estranho...

A garota demorou muito tempo para conseguir pegar no sono. Uma pergunta martelava sua cabeça sem parar. Quem eram aquelas pessoas, e o que elas estavam fazendo numa casa abandonada?

Os olhos de Lily se fecharam, pesados de sono. Mas a dúvida ainda permanecia.


Fim do primeiro capítulo. Deu para notar que ele foi apenas uma introdução para a história, algo para definir a situação de Lily e Sirius. No próximo capítulo terá um pouco mais de ação! E, logicamente, a aparição de novos personagens.

Espero que vocês tenham gostado da nova fic, e que deixem muitas reviews me contando a opinião de vocês. A estória é nova, então eu gostaria muito mesmo de saber o que vocês acharam!

Beijinhos para todos!

Pri.