Capítulo XII

Um formigamento contínuo na ponta dos dedos fez Bella abrir os olhos. Sorriu ao ver Edward. Tinha a mão dela presa na dele, porém dormia profundamente.

Era lindo. E também gentil e corajoso. Desejando observá-lo melhor, tentou se virar, mas uma dor lancinante no abdome a pa ralisou. Grande Deusa... o que havia acontecido? Ergueu o lençol e se deparou com as ataduras.

Então tudo lhe veio à mente: a visita à velha Maggie, o ataque dos Newton, o corpo dilacerado de Edward caído no solo...

Quando voltou-se para ele, Edward tinha despertado e a fitava, uma expressão incrédula no olhar. Bella sorriu. A Grande Mãe operara seu milagre novamente e, por alguma razão, a poupara também.

Levou a mão ao ventre. Sabia que tudo estava bem. Seriam os três, enfim.

— Bom dia — murmurou, com um lindo sorriso.

— Bella? Pensei que eu estava sonhando! — confessou Edward, extasiado.

— Não. Está acordado e parece que eu também. Quanto tempo levou dessa vez?

Ele beijou-lhe a mão com ardor.

— Quatro longos dias!

— Eu não tinha escolha — desculpou-se, séria.

— Tinha, sim, Bella. Não sei como pôde pensar que a minha vida poderia valer mais do que a sua.

— Eu amo você, Edward! Você mostrou o mundo para mim, não entende? Salvou minha vida tantas vezes, me protegeu e...

— Protegi coisa nenhuma.

— Se havia alguém que merecia viver era você. — Ela foi tomada por uma súbita emoção. — Eu não passo de uma feiticeira que sempre incomoda as pessoas de um jeito ou de outro. — Não demoraria muito e aquele padre iria voltar, pensou. Desta vez com uma tocha nas mãos. — Vou embora, Edward. Antes que eu cause mais problemas. Mas saiba que o meu coração vai ficar aqui.

E levarei comigo o seu filho. Mas prometo que o amarei e cuidarei dele como só você me ensinou a cuidar e a amar.

Ele enxugou as lágrimas que escorreram pelo canto dos olhos claros.

— Acabou?

Bella fez que sim com a cabeça.

— Então, escute. Primeiro: é a mulher mais linda, mais adorá vel, mais generosa e mais obstinada que já conheci. Segundo: não vai a lugar nenhum. Não sem a minha companhia. Terceiro: não incomoda as pessoas. Todos lá embaixo estão preocupados com você porque aprenderam a admirá-la, exatamente como eu. E quar to: quero me unir a você com as bênçãos de qualquer deus ou deusa. Eu a amo, Bella, e se a única maneira de tê-la é viver com você numa cabana, em meio aos meus inimigos, então que seja!

Ela piscou. Edward não podia estar falando sério. Alguém bateu na porta do quarto.

— Entre! — ele pediu.

— A febre dela baixou? Maggie!

— Veja por si mesma... — Edward sorriu.

— Ela está acordada? — A velha senhora caminhou até a cama. — Ora, ora, veja só esses olhos lindos e brilhantes! Louvada seja a Grande Deusa!

— E as mãos de lady Esme — completou Edward. Maggie espiou por debaixo do lençol.

— Parece tudo bem. Melhor do que eu esperava. Daqui para a frente, moça, nada de curas até aprender a se proteger.

— Todo esse sangue e sofrimento não são necessários. exclamou Edward, aturdido. —

— Não? — Bella a fitou, confusa.

— Claro que não! Eu ia dizer exatamente isso quando os Newton atacaram. Basta curar, sem tomar para si todo o sofrimento. Também não precisa se preocupar com o bebê. Sei muito bem do que estou fa...

— Bebê? — interrompeu-a Edward, olhando de uma para outra. — Que bebê?

Bella puxou o lençol até o queixo. Oh, Mãe da Terra!

— O nosso bebê.

— Nosso bebê? Nosso bebê! Você está grávida?

Ela cobriu a cabeça com o lençol. Ele vai me matar!

— Maggie... poderia nos dar licença um minuto? — ouviu-o pedir. — Preciso dar uma palavrinha com minha mulher.

A porta se fechou em seguida.

— Se não sair daí, vou arrancar este lençol.

Bella baixou o lençol apenas o suficiente para expor os olhos enormes e apavorados.

— Por isso ficou o tempo todo daquele jeito? Ela fez que sim com a cabeça.

— Não queria um filho meu, é isso? — Edward se levantou e caminhou até a janela, tenso. — Preferiu morrer, mesmo sabendo que...

— Não, Edward! Eu amo esta criança! É que... Pensei que... Eu sabia que podia morrer se curasse você. Mas certa vez me disseram que se tivesse um filho, ele seria mais sensitivo e mais cego do que eu. Então, se eu morresse, o nosso bebê não sofreria tudo o que sofri. — Deixou escapar um soluço. — Ele não viveria num mundo quase às escuras, sendo rejeitado pelas pessoas e...

Edward correu até ela e a abraçou.

— Já entendi, Bella... — Segurou-a pelo rosto, tentando acal má-la, porém permitindo que as lágrimas corressem, soltas.

Ela ainda chorou por algum tempo, e Edward se manteve em silêncio.

— Não foi por falta de amor... — Bella conseguiu dizer, por fim. — E, sim, porque eu os amo demais!

Ele a segurou pelo queixo, olhando-a no fundo dos olhos.

— Bella, eu amarei esta criança sendo ela cega ou não, sensitiva ou não. Ela foi concebida com amor e saberá disso enquanto eu viver. Nós dois, juntos, vamos protegê-la caso o mundo não estiver preparado para aceitá-la como ela for.

Bella soube que Edward falava com o coração.

— Vamos, sim!

Ele respirou fundo e abriu um sorriso.

— Muito bem. Agora, só precisamos planejar o nosso casa mento.

Ela sorriu de volta, os olhos claros se iluminando.

— Seria bom se pulássemos a fogueira da festa de Beltane para garantir sorte e fertilidade, mas como já temos as duas — Bella acariciou o ventre —, podíamos nos casar no samhain, que tal?

Edward franziu a testa por um segundo, depois sorriu.

Chegou enfim a manhã do dia mais curto do ano, o samhain. No grande salão de Blackstone, Edward e Bella juraram amor, res peito e lealdade até que a morte os separasse. E tudo diante de um padre itinerante — prestes a partir de Drasmoor — e de todo o clã Cullen.

Terminada a cerimónia, todos ergueram as canecas de estanho para brindar aos noivos. Carlisle, diante dos convidados ansiosos pelo início da festa, limpou a garganta:

— Aos noivos!

Gritos de "viva" e "saúde" ecoaram pelo salão, em meio ao barulho das canecas batendo sobre as mesas. Carlisle fez outro brinde:

— A lorde Edward Cullen, de Donaliegh, e à sua linda esposa e castelã, lady Esme Bella Cullen.

Bella lançou um olhar para Esme, e esta levou as mãos ao rosto, comovida.

Edward abriu a boca, olhando seu senhor, confuso.

— Mas... — Fitou o pergaminho e as chaves que Carlisle lhe estendia. —Pensei que...

Carlisle passou o braço pelos ombros de seu fiel escudeiro.

— Tudo o que eu sempre quis foi que encontrasse uma mulher que pudesse amá-lo tanto quanto sou amado pela minha Esme. E isso você conseguiu.

Edward sorriu e trocou com ele um forte abraço.

Ao som das flautas e gaitas de fole, dançaram, cantaram, co meram e beberam até o sol começar a se pôr. Caminharam, então, pelo ancoradouro de pedra, até os barcos. Atravessaram a bafa de Drasmoor em direção à colina, onde a velha Maggie os aguardava ao lado de uma fogueira acesa, próxima à fonte sagrada. Edward e Bella trocaram seus votos uma vez mais, beberam das águas sa gradas, então deram-se as mãos e pularam o fogo que abençoaria seu futuro.

FIM