Capítulo 5: Flash Back.

A garotinha de três anos levantou o braço o mais alto que pôde, segurando na pequena mão a barra da camisa do pai com força, antes de puxá-la para baixo, numa tentativa eficaz de chamar a atenção do mais velho.

- "Mamãe."- Foi tudo o que ela disse, quando o pai inclinou a cabeça para encará-la.

Charlie abaixou-se até ficar na altura da filha, de forma a poder olhá-la nos olhos.

- "A mamãe só acordou um pouco indisposta hoje, Bella. Não precisa se preocupar."

Ele abriu um sorriso, tentando passar segurança ao pôr uma mão sobre a cabeça da menina.

Os olhos chocolates da pequena encararam os do pai em busca de uma confirmação para suas palavras, afinal, aquele sorriso não lhe parecia igual aos que seu pai sempre lhe dava. E estava correta, pois não havia muito brilho nos olhos do mais velho. A seu ver estavam transbordando de preocupação e... Tristeza.

Ela sabia que a mãe era doente. E sabia que havia também um motivo para o pai mentir pra ela. Portanto só assentiu com a cabeça, antes de seguir em direção ao próprio quarto. Porque talvez um dia ela soubesse...

Um dia talvez descobrisse... Já que tudo tem uma explicação.

Ou nem tudo...

...

...

...

Ela espreitou de uma forma um tanto tímida pela fresta da porta. Não tinha certeza se podia entrar... Sabia que uma coisa era certa: não poderia ficar o dia todo ali. Uma hora a veriam, e sentia medo de ser pega. Mesmo sem ter certeza se estava fazendo algo ruim ou errado provavelmente receberia uma bronca, não que se importasse muito com isso. O medo vinha da vergonha que tinha certeza de que sentiria ao ser pega. Sentiu o coração bater mais rápido enquanto pensava confusa e dava outra espiadela pela fresta. Apesar do medo ela não queria, e não iria, sair dali. Não podia.

Mas o que diria? Ainda não tinha certeza. E se fosse incomodar? Por mais preocupada que estivesse não queria importuná-la. Melhor seria se saísse logo dali, mesmo que não quisesse.

E hesitando deu as costas àquela pequena fresta.

Não porque quisesse, mas porque sabia que era o que deveria fazer.

Uma vez lera num livro uma frase que dizia que as pessoas agiam de acordo com seus interesses, em proveito próprio. Executando ações que as deixassem felizes. Ela queria ver a mãe, e ficar perto dela. Isso a deixaria feliz, muito feliz, mas se estivesse atrapalhando, então ficaria triste. E ela já sabia que a mãe ia ficar melhor. Se entrasse só porque queria ficar perto dela, seria egoísmo de sua parte ao submetê-la a algo cansativo como uma visita. E o que importava era que ela melhorasse.

Porque depois que melhorasse, então talvez... Talvez ela até pudesse... Mesmo que só um pouquinho...

...Brincar com ela.

...

...

...

Ouvia as vozes animadas das outras crianças naquele dia nevado. A cidade estava coberta de neve. Inteiramente branca.

Bella olhava a rua através do vidro embaçado da janela do próprio quarto. Observava as outras crianças brincando felizes com todo aquele gelo, como sempre acontecia quando nevava. Estava frio, entretanto as crianças não pareciam se importar muito com isso.

Ela gostaria de poder juntar-se a elas. Perguntava-se se poderia brincar daquele jeito algum dia e sabia da resposta: provavelmente não. E mesmo assim, não conseguia deixar de imaginar a si mesma também lá fora, brincando com todo mundo como qualquer criança normal, sem se importar com a neve, com o frio, com o tempo que fazia no momento.

Fechou as pálpebras.

Assim, de olhos fechados, ela podia imaginar o frio e a neve por todos os cantos. Imaginava os gritos felizes lá embaixo ao seu redor, como se estivessem ao seu lado. A textura que deveria ter uma bola de neve, a sensação de tê-la diretamente em contato com sua pele, com seus dedos...

Os batimentos de seu coração aceleraram levemente, e ela suspirou abrindo lentamente os olhos. A mão encostou com cuidado no vidro um pouco frio da janela, e então escorregou devagar até a extremidade de uma das pontas e, mais uma vez, desejou que aquele vidro fosse tudo o que a separava do mundo do outro lado dele.

...

...

...

Suspirou...

Seu pai continuava mentindo depois de tanto tempo. Depois de tudo. Não era como se ela não soubesse que a mãe não estava só indisposta, quer dizer, ela tinha a mesma doença. E seu pai mentia tão mal... Era só dar uma rápida olhada em seus olhos para ter total certeza de que estava mentindo, ou nem isso, já que até a voz ou a própria face denunciava seu desconforto.

No fundo, ela sabia que aquilo já havia virado um código entre eles. Ela sabia que ele sabia que ela entendia o verdadeiro significado, quando ele dizia que: "a mamãe está indisposta hoje.", na verdade queria dizer que ela estava tendo uma espécie de recaída. Queria dizer que a doença estava lhe perturbando. Mas de certa forma, aquela verdade era mais fácil de ser dita daquela forma. E ela entendia tudo isso perfeitamente bem. Bem até demais.

E talvez fosse esse o problema...

...

...

...

Os olhos infantis brilhavam de surpresa e excitação.

- "O tio e a tia têm certeza de que posso mesmo?"

Fazia uma tarde ensolarada, tão rara naquela cidadezinha, que Charlie e Renée resolveram levar a filha para passear um pouco e acabaram parando para visitar dois velhos amigos da família, os quais Bella reconhecia como tios.

- "Claro que sim, Bella." – Billy confirmou se agachando na altura da menina. – "Já tem algo em mente?"

Ela franziu levemente o cenho, em claro sinal de concentração, e lançou um olhar para a barriga da tia que estava muito maior que da última vez que a vira.

- "Não precisa dizer agora, Bells. Pode pensar com calma e falar outro dia."- Charlie se apressou em dizer, pousando a mão no ombro da filha e tentando transmitir segurança.

A garotinha balançou a cabeça em negação.

- "Tudo bem. Já sei um. Pode..." – Ela olhou para o tio e depois para a tia. – "Pode ser Jacob?"

O senhor e a senhora Black se encararam surpresos um minuto, e assentiram sorrindo.

- "É um nome lindo, Bella, obrigado." – A senhora Black disse amavelmente à Bella que sorria aliviada.

- "Mas por que Jacob, Bella?" – Renée perguntou curiosa à filha.

- "Porque é bonito e combina com Black, e porque..." – As pequenas bochechas coraram, enquanto a voz infantil diminuía. – "Assim eu poderei chamá-lo de Jake."

Os adultos olharam a pequena menina com um sorriso bondoso.

- "Tenho certeza que Jake vai adorar, e vocês vão se dar muito bem no futuro." – Charlie apertou a mão no ombro da filha.

E mal sabiam eles que aquelas palavras seriam a mais pura verdade. Ou talvez soubessem.

...

...

...

O barulho de seus passos soava pela casa, a ansiedade no ar. "Onde ela está?". Já a havia procurado pela casa inteira, desde que se levantara, e ainda não tivera sucesso em encontrá-la. Era frustrante. E um pouco desesperador também.

Parou um momento. Talvez se pensasse um pouco com mais clareza, pudesse raciocinar melhor e se lembrar de algum canto que se esquecera de ir.

"Onde me esqueci de ir? Onde?", perguntou-se com impaciência. Olhou a sala em que se encontrava, observando os raios solares tomando todo o ambiente e espalhar-se pelo chão num toque sutil. Estava tão entretida em sua busca que não notara que fazia sol. Era raro fazer um bonito dia ensolarado naquela cidade. "Será que...?".

Havia um sorriso em seu rosto quando voltou a caminhar em direção ao jardim, nos fundos da casa. Um sorriso que aumentou ao ponto de lhe iluminar o rosto, quando parou na varanda e observou debaixo da sombra fresca das árvores a mulher sentada no balanço de madeira, lendo um livro com um semblante calmo.

- "Mãe." – Ela chamou não muito alto.

A mulher baixou o livro que tinha em mãos, um sorriso doce no rosto quando olhou para a filha.

- "Demorou desta vez Bella."

Foi tudo o que ela disse, enquanto continuava a sorrir e abria os braços num convite sugestivo para a filha juntar-se a ela.

Bella permaneceu estática por algum tempo. Estava deslumbrada com a cena: um dia ensolarado, a grama verde do jardim em perfeito contraste com as flores e a sombra convidativa das árvores onde a mãe se encontrava sentada no balanço. O que mais a deslumbrava era a imagem da mãe. Parecia que cada pequeno detalhe ali naquele cenário combinava para deixá-la mais deslumbrante, sentada com um livro entre as mãos, a pele clara brilhando a luz dos raios de sol, que iluminavam seu rosto gentil, dando um maior brilho aos olhos e ao sorriso que ela lhe dirigia.

Sempre achara que sua mãe era como um anjo, e em momentos como aquele ela tinha completa certeza de que ela de fato, era um, porque uma pessoa normal não podia ser tão esplendorosa e gentil. Não podia fazê-la sentir-se bem e feliz só com um sorriso, nem ser tão delicada e surrealmente frágil.

"Porque uma pessoa normal...", acrescentou mentalmente, enquanto corria até ela com um sorriso maior ainda, se fosse possível, e era envolvida em seus braços, "... Não pode ser igual a mamãe".

...

...

...

- "Ele é tão fofinho." – Bella suspirou, dando um sorriso e brincando com a pequenina mãozinha gorducha do bebê.

Os mais velhos sorriram ao observarem a cena.

- "Você também era assim quando saiu de mim, Bells." – Sua mãe lhe disse com ternura.

- "Mesmo?" – A pequena menina fez uma cara engraçada de espanto, fazendo os pais rir.

- "Mesmo. Seu pai ficou tão bobo que bateu várias fotos suas quando era bebê." – Renée lançou um olhar malicioso a Charlie, que tossiu um pouco e corou.

- "Isso porque você foi o bebê mais lindo que já vi na vida. E continua sendo." – Ele se curvou para beijar a bochecha da filha e afagar seu cabelo com uma mão, enquanto lhe dava um sorriso e piscava um olho. – "Ainda bem que herdou isso de sua mãe."

Renée lançou um sorriso enternecido ao marido.

- "Mas a personalidade dela é igual a sua." – Disse amavelmente.

- "Então..." – Bella interrompeu, parando para pensar na conclusão de tudo aquilo, e chamando a atenção dos pais. – "Eu sou uma mistura do papai e da mamãe?"

Os pequenos olhos castanhos chocolate estavam tão confusos e surpresos por aquela descoberta, que fez o pai e a mãe rirem mais uma vez aquele dia e a pegarem no colo em um abraço grupal.

- "Isso porque você é uma combinação entre sua mãe e eu, Bells." – Charlie explicou. – "O que significa que sempre irá ter uma parte dela e outra minha em você."

- "Em uma família todos somos um só, como nesse abraço." – Renée falou bondosamente. – "Entretanto, não esqueça que você não é simplesmente uma mistura do papai e da mamãe. Há algo dentro de você que só você tem. Uma característica especial que a torna única. Que faz de você a nossa Bella."

A pequena menina voltou pensativa ao chão, tentando entender o que havia ouvido e olhando o bebê.

- "O Jake também é família, não é?" – Ela questionou.

- "Todas as pessoas das quais gostamos muito são nossa família, Bella." – A mãe respondeu pacientemente.

- "Então, também poderemos ser um só? Como irmãos?"

A garotinha tinha os olhos brilhando em expectativa, o que fez os dois adultos abrirem um sorriso bobo de contentamento.

- "Se assim você desejar..."

- "Perfeito!" – Bella se virou entusiasmada para o berço, encarando seu futuro irmãozinho. – "Nós seremos um só também Jake! E eu prometo que sempre vou cuidar de você!"

Era uma promessa infantil, mas feita com tanta determinação, que até Charlie e Renée acreditaram sinceramente que seria cumprida.

Continua...


Quem é vivo sempre aparece, né?

Ok, eu nem sei se alguém ainda vai ler essa fic, ou se interessar por ela. Também acho pouco provável que as pessoas que a acompanhavam voltem a acompanhá-la, mas se alguém que acompanhou essa fic voltou a lê-la agora, então minhas mais sinceras desculpas por todo este tempo sem postar. Afinal, foram dois anos pra esse capítulo 5 aparecer.

Na verdade a maior parte dele foi escrita dois anos atrás mesmo. Poucas coisas foram mexidas por mim recentemente. O problema é que como esse é um capítulo só sobre o passado eu fiquei meio confusa quanto ao quê do passado da Bella eu deveria mostrar, então acabei ficando sem inspiração no tempo e as lembranças ficaram aleatórias. Pra ser sincera ainda tenho minhas dúvidas, mas neste capítulo 5 que talvez não esteja divertido ou muito bom, tentei intercalar momentos felizes e um tanto tristes do passado da Bella, pra todos terem uma noção de como ela cresceu e o tipo de ambiente em que viveu.

Talvez muita coisa tenha deixado a desejar. Várias lembranças que eu havia escrito preferi deixar de fora para o capítulo não ficar muito cansativo ou muito dramático, mas tentei deixá-lo o melhor possível e espero que gostem.

Bom, eu adorei os comentários do capítulo 4 e queria agradecer por todos eles de verdade, mesmo depois de dois anos foram eles que me fizeram voltar a postar esta fic, então muito obrigada a todos.

Deu um trabalhinho me lembrar da senha dessa conta e de como se postava, até porque o site tá bem mudado, o que me surpreendeu bastante. Também não sei se perdi o jeito de escrever, já que eu tinha 15 anos quando postei o capítulo 4, mas vou tentar fazer meu melhor.

Dois anos atrás acabei deixando a fic de lado também porque tive de focar nos estudos, e o ano passado também foi muito corrido, sem falar que acabei me interessando por outras coisas. Agora que to no terceiro ano meu tempo tá meio apertado e não tenho certeza de quanto em quanto tempo vou atualizar aqui, mas prometo que no máximo todo mês posto um capítulo, apesar de poder postar bem antes também, já que estou mais organizada e tenho ideia do que escrever em cada capítulo.

E é isso, espero sinceramente que gostem e comentem sobre o que acharam. E aos que acompanhavam, mais uma vez: mil desculpas.

Muito obrigada a todos que leram este capítulo.

Ziza.