Cena Extra II – Um Perdão

Maio de 2010

Era estranho voltar para essa cidade, reviver lembranças que me assombravam como um filme de terror, mas era necessário.

Edward estava comigo, como sempre, e fomos diretamente para o Hospital San Juan, onde Charlie, meu pai, encontrava-se internado.

Sim meu pai e eu estava aqui por ele. Apesar de tudo, ele ainda era o meu pai, e eu sabia que dentro dele ainda existia o homem bom que casou com minha mãe, como minha tia me contava.

Chegamos na recepção, e logo fomos encaminhados e uma sala de espera perto do quarto dele. Eu estava nervosa, por depois de quase 4 anos eu iria falar com ele novamente.

Os motivos para Charlie parar no hospital?

Ele tinha diabetes, e parece que não andou se cuidando, e agora ele estava… cego.

Era difícil até de pensar, mas uma parte de mim raciocinava que isso era parte do seu castigo por ter feito tanto mal a mim, e outra parte me chutava por ter um pensamento tão absurdo.

- Você quer alguma coisa amor? – Edward perguntou enquanto esfregava meu braço levemente.

- Um café seria bom – respondi ainda absorta em meus pensamentos.

- Eu já volto – ele deu um beijo na minha testa e sumiu pelo corredor.

Não é como se eu tivesse querendo chorar, mas eu precisava tirar o peso da minha alma, permitindo as lágrimas escorrerem por meu rosto.

Eu não desejava o mal para as pessoas, principalmente para Charlie. Talvez eu tenha pensado nisso uma ou duas vezes, mas não era como se eu quisesse que ele realmente ficasse mal.

Minutos depois Edward voltou com meu café e um bolinho, pois eu não tinha comido nada desde que saímos de Nova York.

- Coma amor, você está grávida e não pode ficar sem comer – Edward murmurou passando a mão no meu rosto, afastando as lagrimas.

- Eu sei – dei um pequena mordida no bolinho e tomei um gole do café. – Você pode ir ver se tem algum medico por perto? – funguei – Eu necessito ver ele Edward.

- Tudo bem, só coma e eu vou atrás de um médico.

- Obrigada – sussurrei e ele levantou-se sumindo novamente no corredor.

Eu sinceramente não estava com fome, mas era pelo nosso bebe. Eu estava com dois meses de gestação, e ainda nem estava casada. Nosso casamento seria daqui um mês, no dia do aniversario de Edward.

Poderia parece apressado, tem somente um ano que nos conhecemos, mas não queríamos esperar para vivermos como marido e mulher. Não é como se já não vivêssemos assim. Desde que voltamos de Paris eu estava morando no apartamento dele, e eu me sentia bem. Era como um teste para o casamento.

Estava na minha sexta mordida no bolinho e metade do café quando Edward voltou.

- Foi difícil falar com o médico do seu pai, ele estava com outro paciente, mas ele disse que você poderá falar com ele, daqui uns 20 minutos, ele vai almoçar agora e depois você entra.

- Você vai entrar comigo? – perguntei um pouco receosa. Ainda esta estranho falar com meu pai, ainda mais sozinha. Eu precisava de Edward comigo.

- Claro amor, eu falei sobre isso com o medico, expliquei que o relacionamento de vocês não é fácil, por isso temos uma condição para entrar, ele vai perguntar se seu pai vai querer te receber, ai se ele aceitar, nós entramos.

- Entendi, obrigada amor – dei um leve beijo em seus lábios e me encostei em seu ombro dando mais uma mordida no bolinho.

- Por nada meu amor – ele passou um braço pelo meu ombro, fazendo círculos com os dedos.

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- Estou com medo – murmurei.

- Não precisa ter medo – Edward jogou o copo e o papel do bolinho no lixo. – Tenho certeza que ele vai querer conversar com você. Sua tia disse que ele chamou por você muitas vezes.

- Poderia estar delirando, talvez não queria falar comigo – dei de ombro limpando algumas lagrimas que caíram dos meus olhos.

- Vamos descobrir agora – ele disse olhando para a frente e vi um medico se aproximar.

- Senhorita Swan? – ele perguntou.

- Sim – respondi limpando meu rosto e ficando de pé, apoiada por Edward.

- Acabei de falar com o Senhor Charlie.

- E então ele quer falar comigo? – perguntei receosa.

- Sim – ele sorriu levemente. – O Senhor Edward pode entrar com você. Tem exatamente 20 minutos, a situação dele é muito delicada e grave Senhorita Swan, evite algum tipo de stress.

- Claro – respondi.

- Venham – ele disse e caminhamos pelo corredor até o quarto do meu pai. – Podem entrar.

Abri a porta lentamente, observando-o na cama. Não era como se ele estivesse me vendo, mas eu sei que ele sentiu.

- Bella? – sua voz fraca e rouca apertou mais meu coração.

- Sim pai, sou eu – respondi tentando esconder minha voz embargada pelo nó na garganta.

- Minha filha, me perdoe eu... – o interrompi.

- Shhh pai, não fale nada agora tudo bem, estamos bem – eu disse segurando em sua mão, quando cheguei ao seu lado.

- Tem mais alguém aqui não é? – ele perguntou franzindo a testa. Seus olhos estavam, fechados.

- Meu noivo, Edward Cullen – respondi.

- Oh sim, ola rapaz.

- Ola Senhor Swan.

- Filha – Charlie apertou minha mão fracamente. Sua respiração era tão fraca, seus batimentos também. Sim ele estava mal e era bastante grave. – Eu sei que não é bem o momento adequado, mas eu preciso falar.

Olhei para Edward e ele assentiu com a cabeça. Meu pai estava mal, e mesmo que eu não quisesse pensar, poderia ser a ultima vez que eu falava com ele.

- Sim pai, pode falar o que o senhor quiser.

- Eu nunca fui um bom pai – ele começou. Estava difícil para ele falar então eu tive paciência. – Queria lhe pedir perdão, por não ter cuidado de você da melhor maneira, mas quando eu perdi sua mãe, eu perdi o sentido de viver. Eu lhe culpava Bella, lhe culpava por algo que nunca foi causado por você. Sua aparência é tão idêntica a de Renee que eu lhe odiava por ter nascido e tirado o melhor da minha vida. – eu vi lagrimas saindo dos seus olhos fechados, e os meus também já estavam transbordando. Edward apertou suas mãos em meu ombro como conforto. – Perdoe-me minha filha – ele tossiu e sua voz foi ficando mais fraca. – Eu não tenho mais tanto tempo, mas eu preciso do seu perdão, para seguir em paz.

- Eu lhe perdôo pai – passei minha mão livre no seu rosto, tirando as lágrimas dali. – E o senhor não tem pouco tempo, eu vou me casar pai, e terei um filho. Sim estou grávida – um sorriso singelo apareceu no seu rosto. – E o senhor estará presente na minha vida agora.

- Filha eu não tenho muito tempo, estou mal, estou doente, estou sentindo dor – ele disse ainda mais fraco. – É o preço pelos meus erros, mas vou em paz, sabendo que você se transformou em uma boa mulher, que tem alguém para cuidar de você, que esta construindo uma família. Cuide bem dos seus filhos, ele vão precisar de muito amor.

- Cuidarei pai – aproximei-me dele dando um beijo em sua testa.

- Eu te amo filha, desculpe nunca ter dito isso quando tive a oportunidade.

- Eu também te amo pai, mesmo nunca dizendo também.

Uma leve batida na porta nos tirou da conversa.

- O tempo de vocês acabou – uma enfermeira disse. – Vocês tem que sair.

- Pai vou ter que sair, e depois eu volto para o ver o senhor.

- Obrigado por ter vindo filha – beijei sua mão e afastei-me da cama.

- Edward – meu pai disse fracamente.

- Sim senhor Swan.

- Cuide bem dela, ela merece.

- Cuidarei sim.

A enfermeira ficou no quarto, e foi o prazo de sairmos de lá, que tudo ficou rápido demais.

O médico que vimos mais cedo correu para o quarto, seguido por outros enfermeiros.

Agarrei-me nos braços de Edward, com os olhos temerosos, e lagrimas que não paravam. Minutos depois o médico saiu, com um olhar triste no rosto.

Não precisou ele dizer nada, eu tinha entendido tudo perfeitamente.

Meu pai se foi.