Bom... ainda existe alguém aqui? Então, eu sumi por um tempo colossal. Faz dois anos (G_G) que postei o cap. 4, e vim escrever/postar o cap. 5 agora. Estou me superando em tempos absurdos de postagem entre capítulos. LOL De qualquer modo, peço muitas desculpas a todos vocês. Tive vários problemas – dentre eles, a preguiça, para ser sincera – e as coisas apertaram em 2011, por causa do preparatório para vestibular e tudo mais. Não sei se alguém ainda lembra dessa fic, mas fiquei muito enternecida com os últimos reviews que vocês deixaram. 20 reviews! O_o Seria falta de educação minha não continuar essa história, pela qual tenho um carinho tão grande. Sendo assim, desculpem-me mais uma vez pela minha incrível lentidão, e espero que gostem do cap., e espero que o VEJAM depois de todo esse tempo... G_G (não ia falar isso aqui, mas precisei reler a fic para me situar um pouco. LOL).

Alguns termos que não lembro se expliquei antes e que são relevantes para entender a fic:

Onna: é o vocativo que o Hiei usa para chamar a Botan na versão original do anime, que significa, basicamente, "mulher". É comum usarem-no em fics em inglês, que estou mais acostumada a ler, e acho interessante colocar XD

Ferry girl: outro termo estrangeiro (estrangeirismo, tsc, que coisa feia u_u) que uso para descrever a Botan, bem comum em fics em inglês e em algumas HB clássicas em português. Significa algo como "garota da travessia", reverente ao trabalho da Botan como guia espiritual.

Ningenkai, Makai e Reikai: mundos de YuYu Hakusho: Mundo Humano, Submundo (ou Terra dos Demônios/Youkais), e Mundo Espiritual, respectivamente. Mais uma vez, decidi manter os termos originais por uma afinidade estranha que tenho com eles. _

Disclaimer: YuYu Hakusho e seus personagens não me pertencem, e se pertencessem, já teriam fugido do meu domínio imperialista nesses dois anos de desaparecimento.


E pintando anéis em volta de seus olhos, esses buracos salpicados tão cheios de lágrimas

Um suspiro pesou sobre os farrapos onde eu e você estávamos deitados

The Hazards of Love 4 (The Drowned) – The Decemberists

Botan só percebeu que fazia mais de trinta minutos que estava apoiada no parapeito da janela quando seus cotovelos começaram a arder pelo contato prolongado com a madeira quente. Ela ajeitou-se melhor na janela, mudando a posição da cabeça para apoiá-la de forma mais confortável nas mãos. Do lado de fora de seu quarto, a paisagem em tons de verde e dourado brilhava de forma calma, observada pelos olhos sonhadores da ferry girl.

Não era do seu feitio espiar casais numa tarde ensolarada qualquer, mas Botan dedicava especial atenção às figuras alegres de Yukina e Kuwabara, acomodados em algum ponto do jardim de Genkai e ignorando a presença da garota de cabelos azuis que os observava. Eles riam e conversavam – Yukina escutava, e Kuwabara falava por ambos -, enquanto o olhar distante de Botan se perdia em algum ponto entre as madeixas verde-azuladas da irmã de Hiei e o sorriso de Kuwabara. Aquilo lhe parecia o perfeito retrato da felicidade conjunta.

Se por um lado a cena a incentivava a manter o plano de Hiei apenas para convencê-lo de que Kuwabara proporcionava uma felicidade sem-igual à Yukina, por outro, fazia a ferry girl sentir-se estranhamente sozinha, sem ninguém que lhe tratasse de maneira tão doce, e com um adicional de um koorime irritado que não gostava nem um pouco dela. Tais ideias preenchiam sua mente de um vazio estranho, o que era incomum. Como guia do Reikai, nunca tivera muito tempo para pensar em si mesma, ou em seus sentimentos – era um trabalho difícil, que exigia sua devoção integral. A imagem de seus amigos compartilhando um sentimento doce que ela provavelmente nunca experimentaria a fazia triste e solitária, mas, de alguma forma, ela era capaz de manter sua máscara sorridente no lugar que lhe cabia. O que importava se nunca seria capaz de amar e ser amada? Tinha amigos maravilhosos, e era por eles que existia. Era por Yukina e Kuwabara que se submetera ao crivo cruel de Hiei, esperando que, de alguma forma, fosse capaz de fazê-lo enxergar a riqueza dos sentimentos entre a irmã do koorime e seu namorado.

Os pensamentos distraíram Botan, anuviando sua concentração e deixando o estalo leve no piso de madeira atrás dela passar despercebido.

- Onna.

O chamado familiarmente arrastado e exclusivo fez Botan levantar a cabeça e arregalar os olhos, abandonando a visão harmoniosa da janela para fixar os olhos num koorime mal-humorado que pisava em seu tapete rosa felpudo.

- Hiei! – a voz da ferry girl ecoou em um gritinho. – O que está fazendo aqui?

- O mesmo que você. – ele indicou a janela com um aceno de cabeça, rodeado por um estranho ar confidencial. – Vigiando o idiota com minha irmã.

- Eu não estava vigiando-os!

- Você já estava nessa janela antes de eu chegar. Não minta.

- Não estou mentindo! – Botan articulou sua melhor careta para ele. – Há uma diferença entre "observar" e "vigiar", sabia?

Hiei franziu a testa.

- Não, não há.

- Claro que há!

- Não há.

- Deixe de ser teimoso! São duas coisas completamente diferentes!

- Explique, então.

Botan mordeu o lábio três ou quatro vezes, antes de resmungar:

- Bem, como posso dizer... são... se você me pedir para explicar de repente...

Hiei girou os olhos.

- Saia da frente. Quero olhar o idiota melhor.

A ferry girl contorceu a boca em desagrado.

- Ah, eu devia imaginar. Você veio alugar minha janela com fins malignos.

Ele encarou-a em silêncio, antes de responder:

- Prefiro lugares altos. Mas o idiota está na área descampada, é ruim observá-los de tão longe.

Botan suspirou, resignada. Queria puxá-lo pelos ombros e jogá-lo de volta numa de suas árvores para ter sua confortável janela de volta, mas preferiu não arranjar briga com alguém que parecia tão inclinado a matá-la.

Os próximos minutos, para a surpresa de Hiei, foram gastos em silêncio, com uma Botan emburrada dobrando as roupas que deixara espalhadas pelo chão. Ela não gostava de dobrar roupas, mas não tinha nada para fazer ali, e não estava disposta a deixar seu pobre quarto rosa sozinho com um koorime maligno.

- Diga, Hiei – ela puxou conversa, depois de sentir-se sufocada pelo silêncio -, o que você odeia tanto no Kuwa-chan?

Hiei respondeu sem virar a cabeça para trás, ainda fixo na figura pacífica que o casal formava.

- Há uma série de motivos que o tornam estúpido e ridículo. Não me peça para enumerá-los.

- Não vou aceitar uma resposta tão evasiva! – Botan bufou. – Acho bom você ser sincero comigo, já que estamos no meu quarto!

Ela proferiu a última frase com um ar de superioridade, como se o fato de ambos estarem em seu habitat clarificasse a dominância da ferry girl.

- Eu não lhe devo respostas, Onna. Nem no seu quarto, nem no inferno.

Botan abriu a boca para argumentar, fechando-a bruscamente em seguida – era Hiei, afinal. Sabia que não podia esperar dele uma resposta que não fosse pontilhada por sarcasmo e superioridade. Não era surpresa saber que ele tinha mais inimigos do que amigos.

Ainda assim, Botan era Botan, e recusava-se a ficar calada.

- Eu acho o Kuwa-chan uma ótima pessoa – disse a ferry girl, não percebendo o efeito cáustico que o apelido que ela dera a Kuwabara causava em Hiei -, e ele realmente ama a Yukina-chan. Você, que tem mantido os olhos neles, devia saber disso melhor que ninguém!

Hiei fechou os punhos, numa clara demonstração de irritação, mas que não causou o efeito esperado em Botan. Observar a palma da mão do koorime esconder-se sobre seus dedos a fez lembrar do dia em que foram forçados, pela situação em que se achavam, a dar as mãos. A ferry girl sentiu um giro engraçado no estômago, e seu rosto adquiriu um leve tom rosado.

- ...Onna?

- Hã? – Botan piscou, saindo do transe que a lembrança havia lhe proporcionado. Suas mãos suavam.

- Você não ouviu o que eu disse.

- Não – admitiu ela, fazendo o koorime se irritar ainda mais.

Hiei direcionou sua atenção novamente à janela, sentindo suas veias pulsarem com certa violência pelo duplo efeito da presença de Botan e da imagem de um Kuwabara prestativo se oferecendo para alimentar Yukina, que ria e corava.

Por um breve instante, o sorriso escancarado do ruivo o lembrou um pouco de Botan, embora Hiei não achasse que Botan tivesse alguma semelhança com cavalos sorridentes, como Kuwabara parecia ter, em sua opinião. Ainda assim, Hiei não podia negar que ambos eram semelhantes – o ruivo e a ferry girl tinham o dom de irritá-lo e serem estupidamente alegres na maioria das ocasiões.

Uma ideia maligna estalou na mente de Hiei, e ele arregalou os olhos.

Claro.

- Onna. – ele chamou calmamente, girando no chão para encarar Botan, que dobrava um pijama estampado por coelhos em várias cores.

Botan quase engasgou com a própria respiração ao perceber que o koorime sorria; não apenas por aquele ser um gesto raro vindo dele, mas por ser um sorriso perfeitamente assustador.

- S-sim?

- Fale mais sobre o idiota.

- O quê?

- Kuwabara.

Botan piscou.

- O que você quer saber sobre ele?

O sorriso de Hiei pareceu se intensificar.

- Nada em especial.

- Hiei, você está me assustando. – ela guardou o pijama dobrado na gaveta mais próxima, temendo que ele enlouquecesse e praticasse alguma maldade contra suas roupas de dormir favoritas.

O koorime tentou girar a direção da conversa.

- Você disse que o considerava uma ótima pessoa.

- Ele não parece, ele é! – afirmou a ferry girl em tom categórico. – Você deveria tentar conhecê-lo melhor, Hiei! Aposto que ficaria surpreso!

- O que há de tão surpreendente naquele idiota? – a voz do koorime adquiriu um tom de satisfação pessoal ao ver os olhos de Botan brilharem.

- Bem, ele pode parecer um pouco desajeitado e estranho, mas na verdade é muito corajoso e tem um coração enorme! Sempre pensa em todos nós antes de si mesmo, é muito gentil, e ele cria gatos! – ela destacou as duas últimas palavras com a voz, como se acreditasse que aquele fosse um fator determinante do caráter humano. – Além do mais, ele ama a Yukina-chan acima de tudo! Ele seria capaz de morrer por ela! – os olhos de Botan ganharam vários tons de rosado. – Isso não é admirável? Ele é um homem raro, muito raro!

Botan forçou-se a parar de falar para conseguir respirar adequadamente, após um monólogo tão eloqüente. Hiei parecia estranhamente satisfeito.

- Você o considera bastante, Onna.

- Claro! Assim como considero Yusuke, Kurama-kun, e até você, Hiei!

O tom de voz que ela usara para falar "até você, Hiei!" fez o koorime sentir-se consideravelmente irritado. Ele tentou balancear os próprios sentimentos, focado no que queria conseguir através de todo aquele falatório:

- Tem certeza?

Botan piscou, confusa.

- Como?

- Você tem certeza que o considera da mesma forma que eu e os outros?

- Por que não seria assim? – Botan não entendia onde o koorime queria chegar.

- Você fala dele com bastante admiração, Onna. Como se ele fosse muito importante para você.

A afirmação parecia tão absurda para Botan que ela não pôde deixar de pensar que, por algum milagre extraterrestre, Hiei estava fazendo alguma piadinha para alegrar o dia. O que não era do feitio dele, claro.

- Oh, Hiei! – Botan decidiu acompanhar o ritmo da conversa. – É isso? Você está com ciúmes? – ela riu. – Não se preocupe! Não importa quantas ameaças de morte você me imponha, eu sempre considerarei você uma ótima pessoa!

Hiei sentiu um inexplicável desejo de puxar os cabelos azuis de Botan até que ela revogasse uma afirmação tão ridícula como aquela. Seus olhos estreitaram de maneira perigosa.

- Não fuja do assunto, Onna.

- Perdão? – Botan ainda ria.

- O idiota. Você gosta dele.

- Claro que sim. Mas não se preocupe, Hiei. Por alguma razão, eu também gosto de você.

- Fique com ele.

Botan achava que Hiei estava confuso demais para seu gosto. Ela estava quase desistindo daquela conversa sem pé nem cabeça.

- Como assim?

Hiei levantou o queixo, parecendo satisfeito por ter chegado onde queria.

- Estamos trabalhando juntos nisso, Onna. Eu quero Yukina longe do idiota, e você tem uma adoração estúpida pelo idiota. Fique com ele para você. Será melhor para Yukina.

Botan permaneceu em silêncio, precisando de algum tempo para processar as palavras frias do koorime. Algo dentro dela doeu, e ela adiantou-se passos o suficiente para estender a mão e desferir um sonoro tapa no rosto desavisado de Hiei.

Em qualquer outra situação, Hiei jamais teria sido atingido por um golpe tão óbvio. A única razão para isso era o fato de que ele não mantinha sua guarda em alta quando estava a sós com a ferry girl, plenamente consciente que ela era tão ameaçadora quanto os bichos de pelúcia espremidos nas estantes do quarto dela. Talvez o ambiente excessivamente rosado e alegre tenha contribuído também para rebaixar suas defesas. Um turbilhão de confusão e dor o atingiu junto com o tapa, e sua mente pareceu sair do ar por alguns momentos.

- Nunca repita isso! – gritou a voz de Botan num tom horrorizado. – Você tem a mínima consciência do que acabou de dizer? Tem certeza de que gosta tanto da sua irmã quanto diz gostar?

As palavras dela não faziam nenhum sentido para ele, que a encarava de olhos arregalados e imóveis.

Botan abriu e fechou a boca várias vezes, pronta para dizer tudo o que parecia explodir em seu peito, mas não conseguiu verbalizar nada mais além de gritinhos irritados. Ela virou-se bruscamente, saindo do quarto e batendo a porta com força, as mãos ainda trêmulas.

Hiei tinha certeza que vira lágrimas nos olhos da ferry girl.


N.A.: Desapareço por dois anos e volto com um capítulo triste... essa sou eu 8D /pedras/ Me desculpem por isso, nem eu esperava uma reviravolta tão grande neste capítulo, a ideia me surgiu hoje, e depois de alguns minutos de prática, consegui inseri-la perfeitamente no contexto original da fic! :3 O que acharam do Hiei com suas idéias dignas de novela das oito para separar a Yukina e o Kuwabara? XD Vale salientar que o fato da Botan ficar tão irritada não é apenas pelo Hiei estar sendo cruel com ela, mas também por ele sugerir algo tão errado com tanta naturalidade, como se quisesse usá-la. Mas não sintam raiva dele! XD Hiei é um pouquinho inocente em alguns aspectos, especialmente em relações afetivas. Tanto é que ele não tinha noção da crueldade do que estava propondo 8'D Bem, espero que tenham gostado do cap. Queria fazer maior para compensar minha ausência, mas achei tão bom parar onde parei... escreverei mais essa semana ainda, se eu receber muitos reviews legais ;u; -chata- Mandem reviews, deem sinal de vida, por favor, nem que seja para me chutar por ter sumido!