Demorei, mas cheguei. Para ser bem sincera, eu já tinha um capítulo em mente há meses, mas vi que tinha muitos erros e furos ):
Tá, quem liga? Vamos para a fic.


Em Auschwitz, eu não sonhava. Quase nunca sonhei, de fato, antes mesmo do campo de concentração, mas havia seis exatos meses que eu não sonhava. Todas as noites em Auschwitz, eu apenas via uma mancha negra durante o sono. Porém, na noite que escapei... tudo parecia ter voltado. Flashes do passado, lembranças sufocadas por fedor de excremento e Gás Sarin.

Eu estava descendo do trem com meus pais – melhor, sendo expulso pelo cobrador – na Polônia. O ano era 1933, eu tinha sete anos. A neve era muito gelada e eu não vestia nada mais que uma camiseta de longas mangas, uma calça branca e um par de meias.

"Suas roupas são tão brancas quanto seu cabelo..." Minha mãe sorriu. "E quanto a neve!"

"Só não são tão geladas..." Meu pai riu um pouco.

Eu os olhei e sorri bem de leve. Até hoje não sei se eles perceberam.

Meu pai me pegou no colo e tentou me esquentar. Eu o abracei e fomos em direção à cidade. Um amigo de papai morava lá, e esperávamos que talvez ele pudesse nos abrigar. Talvez ele não estivesse com o führer.

Minha mãe insistiu muito para ir primeiro. Eu estava no colo do meu pai, com frio e medo. Ele, embora contra a vontade, a deixou ir antes. Meu pai e minha mãe tinham uma relação de igual para igual, mesmo sendo quase impossível naquela época. Porém, meu pai não queria deixá-la ir antes. Ele era medroso, como eu. Ele tinha seu orgulho, como eu. O orgulho e o medo se chocavam e se misturavam. O medo de perder mamãe e o orgulho de um judeu humilhado. Ele queria fazer isso por ele e pela família. Era bem verdade que minha mãe também queria, e ela era ainda mais persuasiva. Eles eram tão iguais...

E, nesse momento, em vez de mais lembranças, acordei com lambidas de cachorro no meu rosto.

Era um husky siberiano, pêlo cinza, muito bonito. Olhos azuis. Afastei-o de mim um pouco, para poder sentar-me. Quando o fiz, passei a mão em sua cabeça.

– Desculpe, ele é um pouco carente.

Um loiro, com olhos tão azuis quanto os do cão, estava parado a uns passos de mim. Sorria de leve e usava um casaco vermelho. Mas o que mais me chamou a atenção foi que ele tinha traços alemães fortes. Recuei.

– Está tudo bem? – Ele percebeu que eu me afastei.

– Tudo muito bem. – Eu comecei a enrolar meu cabelo, como reflexo por conta do nervosismo.

Ele arqueou uma sobrancelha quando viu meu antebraço. Percebi o que ele viu. 29 e um pedacinho do 6. Rapidamente, eu abaixei meu braço, cobrindo-o o mais rápido possível.

– Também escapou? – Ele me mostrou seu punho esquerdo. 236097. Ele também era um fugitivo. Uma onda de alívio percorreu minha espinha e eu desatei a falar. Não era de meu feitio fazer isso, mas meus nervos estavam, provavelmente, bem à flor da pele.

– Auschwitz. Mergulhando em um tanque de fezes. – Eu sorri bem de leve para ele. Ele retribuiu com um sorriso maior.

– Muito inteligente. Vim de Sobibor. Eu achei uma brecha na troca de guardas, a partir daí eu tracei um plano.

– Achei que fosse o único que tivesse conseguido escapar. Você não é judeu, é? É alemão mesmo?

– Polonês. Na verdade, meu pai é alemão, acho que você notou minha fisionomia, não é? Mas minha mãe é polonesa... Hitler diz que meu sangue está manchado.

Eu quase ri da ignorância que tomara a Alemanha. Bom, minto. Era o medo causado por um ignorante. Mas de qualquer forma, se tem um idiota no poder, o povo será controlado, concordando ou não com esse idiota. Principalmente se esse idiota é um assassino.

– Seu nome é...?

– Me chame de Near. – Não que eu achasse que ele saber meu nome poderia fazer diferença, mas eu sempre fui cuidadoso.

– Apenas Near?

– Sim.

– Então me chame de Mello.

– Você mora por aqui, Mello? – Perguntei, genuinamente curioso. Não tinha como um estrangeiro "manchado" morar naquela área sem estar a sete palmos.

– Não exatamente. Venha, você está com fome?

Por algum motivo que eu atribuí ao nervosismo e medo de ficar sozinho, eu confiei nele.

– Muita.

Na minha cabeça, eu imaginava se isso tudo era sorte mesmo. Nunca acreditei em sorte, tampouco coincidências, então eu me perguntava se eu tinha acabado de assinar meu atestado de óbito.

Enquanto andávamos, o husky – o qual tinha o nome de Ludwig, como aprendi – nos seguia, sempre ao lado de Mello.

Se ele valesse a confiança que eu depositei, poderia ser o começo de uma amizade.


O gás Sarin, queridos, era o gás utilizado para matar os judeus na época da Segunda Guerra. Google ftw, eu saí procurando por aí UISDHUIADISA

Bom, pois é, é isso.

Obrigada, Anne linda, por betar e ter uma paciência do cacete 8D Amo você.

Vale tudo nas reviews, menos ofensas a mim e meus progenitores :3