Disclaimer: Harry Potter é propriedade de J. K. Rowling, da Warner Brothers e afiliadas. Sem fins lucrativos.


Capítulo 02 - Lifesize

All for love we become
Larger than lifesize, wondersome
Great in the eyes of someone
Larger than lifesize we become

("Lifesize", A Fine Frenzy)

Tanto Harry quanto Ron não conheciam Londres ao menos bem, mas decidiram que o primeiro tinha mais experiência naquele mundo que não era exatamente o deles, então Ron se permitiu ser guiado. Olhava para todos os cantos, todas as luzes, não era capaz de se conter. Talvez a antecipação do que estava por vir o tivesse deixado nervoso, necessitado de qualquer distração, mas ele duvidava. Seu pai estivera certo o tempo todo: o mundo exterior ao deles, das pessoas que inventavam qualquer razão para não ver o que estava logo ali, era fascinante a sua própria maneira. Se o pensamento não lhe causasse certo desconforto, habitual diante do que passaria ainda naquela noite, teria prometido a si mesmo que contaria a Hermione sua visão da cidade natal dela.

Dela, de sua noiva, cuja casa estava muito próxima. Não tarde o suficiente, o número 187 entrou em foco bem à sua frente, apesar das luzes. Harry estivera quieto durante o caminho todo, nem lhe dissera alguma palavra de encorajamento que fosse, apenas apontou a casa com a cabeça, sorriu de leve, sentou-se na calçada em frente a uma sorveteria, do outro lado da rua. Fez um sinal para que apertasse a campainha. Hesitante, se sentindo meio ridículo ali, na cidade desconhecida, fazendo algo inteiramente normal para toda a gente por perto, Ron imitou o gesto e apertou a campainha.

Depois de alguns segundos, a Sra. Granger abriu a porta, suas feições doces dissolvidas em um sorriso. "Você deve ser o Ronald," disse, embora de certa forma já o conhecesse. Informou-lhe que o marido ainda não havia chegado do trabalho, mas que não demoraria. Disse a ele para entrar. Ron pensou que, se fosse sua mãe, já estaria mostrando suas fotos de bebê ou coisa parecida, mas imaginou que a Sra. Granger não fosse disso. Ela lhe ofereceu chá, ele recusou menos educadamente do que pretendera, quase grunhindo. Ficou a olhar a casa, um sobrado simples e bastante aconchegante, de certa maneira. A lareira estava apagada, mas chamou-lhe a atenção pelas fotos de Hermione acima do mármore. Ela estava sorrindo em todas. Ron lembrou-se de sua mãe por um momento, sempre triste quando eles partiam para Hogwarts, mesmo antes, quando alguns de seus sete filhos ficavam em casa. Os pais de Hermione deviam sentir muito a falta dela, enquanto estava naquele mundo desconhecido.

O Sr. Granger acabou por chegar depois de alguns minutos. Havia um pouco menos dele em Hermione do que a mãe, mas seus olhos eram igualmente gentis e castanhos. O homem se apresentou e sorriu. "Você deve ser o Ronald." Sentaram-se. De todas as coisas de que poderia dizer, acabou por ser direto, tirar aquilo da garganta.

"Vou me casar com Hermione."

O Sr. e a Sra. Granger ficaram um pouco surpresos com a notícia. Ron quase podia ouvir as palavras que esperara: jovens demais, não faz parte de nossa gente, por que não esperar um pouco?, é um oportunista!

"Hermione nos falou muito bem de você."

Os pais da noiva tinham a capacidade de surpreender tão grande quanto ela própria, Ron pensou. Com apenas essa frase, sabia que havia vencido.

xxx

Quase uma hora depois, Ron se despediu e saiu do número 187 para a rua de Londres, quase vazia agora, só a sorveteria aberta. Encontrou Harry encostado na parede, lendo um jornal. Quando se aproximou, o amigo encarou-o de um jeito meio perdido, como se não soubesse o que fazer. Juntos, caminharam em direção ao Ministério, Harry segurando o jornal dobrado com cuidado.

"Foi tudo bem?"

"Foi." Ron não conseguiu esconder o alívio na voz. A leve preocupação no rosto de Harry, porém, deixou-o alarmado. "Como conseguiu esse jornal?"

"Um cara me deu. Heh, Ron, sobre isso..." Harry pareceu perder as palavras e acabou por entregar o jornal ao outro. "Veja você mesmo."

Ron pegou o jornal e abriu-o bruscamente. Já estavam em frente ao Ministério. Depois que leu a manchete, xingou audivelmente e jogou o jornal na lixeira mais próxima. "Vou matar a Skeeter! Isto é, se Hermione não matar a nós dois primeiro."

xxx

De seu pequeno espaço na seção dos aurores, Harry ouviu o rumor rapidamente se espalhando. Já estava acostumado a ter todos falando de si por lá, mas dessa vez era diferente. Algo sobre um dos Malfoy. Algo sobre um casamento.

Reconheceu a voz de Draco de longe. "Posso falar com Potter?" As cabeças dos aurores viradas subitamente para ver a cena, olhares desconfiados entre eles. Draco havia sido educado em sua colocação, mas sua família não era mais vista como antes, e uma conexão sua com Harry Potter, de todas as pessoas, não era assim tão esperada.

"Claro, Malfoy. Vamos dar uma volta," disse, e era apenas um auror aqui. Harry chegou a considerar se os colegas de trabalhos conseguiram ouvir as risadas dele e de Draco, mas não se importou. Draco levou-o até onde não podiam ser ouvidos, sua expressão estranha, quase austera demais.

"Posso saber por que não me contou sobre o casamento?"

Harry suspirou pesadamente. Sabia que, mais cedo ou mais tarde, ele acabaria por perguntar-lhe algo parecido com aquilo. "Sabe," Draco continuou, "não é como se eu fosse me tornar amiguinho deles apesar de tudo, mas... Eu fiquei pensando que não tivesse me contado para eu não ir. Talvez eu até apreciasse seu gesto, mas, bem..."

"Está me dizendo," Harry interrompeu, "que quer ir a um casamento dos Weasley? Eu realmente mudei alguma coisa em você."

Draco não respondeu. Não estavam juntos há muito tempo, poucos sabiam. Na verdade, nem juntos estavam. Aquela estranheza de começo que podia não durar o perturbava mais do que devia.

"De qualquer maneira," disse quase risonho, "acha que seria um bocado estranho se eu entrasse na cerimônia com o padrinho do neto de minha tia? Quero dizer, o que as pessoas podem pensar, hein, Potter? Espero que não se arrependa de nada."

De verdade, nenhum deles se importava com o que diriam.