Aquarela

Romance – yaoi

Disclaimer: Saint Seiya não me pertence, todos os direitos são de Masami Kurumada. Trabalho sem fins lucrativos, apenas para diversão dos fãs.

Beta-reader : Lua Prateada

Aviso: Yaoi, relacionamento homem x homem, texto impróprio para menores de 18 anos.

Notas iniciais: Essa fic não é recomendada para aqueles que gostam de histórias de amor retas. Quando falo retas, são histórias com finais e ações previsíveis. Essa fic se trata de um triângulo amoroso real, onde há amor de todas as partes e ações inesperadas. Caso gostem do tipo: "Zezinho ama Luizinho e foram felizes para sempre", recomendo procurar outra coisa para ler.

Vejo cores em você

I Capítulo

Shun olhava pela vitrine as obras de cristal expostas, fascinado, sobretudo por uma escultura de um cisne saindo das águas.

- Você gosta dessa peça? É minha favorita! - Ouviu a voz rouca, suave e sensual atrás de si e se virou com olhos curiosos. Ficou imediatamente hipnotizado por um par de olhos azuis acinzentados, tão maliciosos quanto belos.

- Achei realmente bela, é você o artista?

- Sim, o artista e o novo dono dessa galeria. Você não quer entrar para olhar outras peças? - perguntou o rapaz com um sorriso charmoso.

- Adoraria, mas estou atrasado para a aula.

- Um estudante? - ele falou um pouco mais alto, pois Shun já começava a se afastar; ele se virou com um sorriso.

- Sim, de música.

- Eu fico aberto até as oito, caso queira conhecer outras peças...

Shun apenas assentiu com a cabeça, afastando-se sorrindo: "Será minha imaginação ou esse monumento louro está interessado em mim?"

- Tão bonito... – disse Hyoga, entrando na galeria. Ainda tinha algumas peças para acabar e precisava de inspiração para iniciar um quadro encomendado.

************

Por algum motivo, naquela tarde, Shun estava incrivelmente desconcentrado, sua mente fixada nos olhos azuis do homem da galeria; ele era no mínimo um bálsamo na vida cotidiana daquela cidade pequena.

- Shun, desse jeito não dá! - disse o maestro interrompendo o ensaio. Shun corou, notando que errara mais uma nota e que todos os colegas o olhavam.

- Desculpa, Albion, tentarei me concentrar.

- Shun, vá pra casa e descanse; amanhã continuaremos. Você não parece bem.

- Certo, me desculpem mais uma vez. – pediu contrariado começando a guardar o violino no case.

- Shun, algum problema? Você está pálido! - ele sorriu para a bela loura que colocava a mão em sua testa.

- Oi, June, não é nada não. Estou um pouco cansado, não tenho dormido muito, você sabe que eu trabalho à noite.

- Eu sei, Shun, mas nesse ritmo acabará doente.

- Tentarei descansar esse final de semana, obrigado pela preocupação.

- Ah, Shun, o que é isso! Somos amigos!

O rapaz sorriu; sabia que pela bela moça loura, eles seriam bem mais que amigos, mesmo ela conhecendo suas preferências, já que se conheciam desde a infância. Ele se despediu dela e seguiu seu percurso para casa, isso incluía passar novamente em frente à galeria recém-inaugurada.

Quando já estava em frente à mesma, estancou o passo indeciso: "Bem, já que estou aqui, acho que não custa nada." Pensou empurrando a porta de vidro e entrando. Ficou ainda mais maravilhado, além das esculturas de cristal, havia quadros e outras de vários materiais.

- Sabia que viria. – ouviu a voz sensual dele novamente e olhou em sua direção, ele estava sentado em frente a um torno e moldava uma peça, suas mãos deslizavam suavemente pela argila molhada, enquanto ele olhava com uma mistura de malícia e ironia para o rapaz a sua frente.

- Não seria arrogante dizer algo assim? - perguntou Shun sem desviar os olhos dele.

"Nunca senti essa sensação, esse desejo, essa vontade... agora me vem à cabeça aquela história de que o homem foi feito do barro, eu queria ser barro agora, para estar sob aquelas mãos."

- Talvez eu seja exatamente isso, um arrogante, te incomoda? - ele levantou e limpou as mãos numa toalha.

- Impressionante. Todas essas obras são suas? - perguntou Shun, ignorando a pergunta e tentando fugir dos próprios pensamentos obscenos.

- A maioria delas. Eu abandonei os estudos, então... digamos que tenho tido bastante tempo livre.

- Impressionante para alguém tão jovem.

- E você, qual a sua idade?

Shun encarou os olhos azuis cinzentos curiosos e sorriu com malícia, o que fez o louro pela primeira vez, parecer constrangido.

- Tem medo de estar flertando com um menor, é isso?

Shun perguntou e o louro riu relaxando.

- Gosto de pessoas perspicazes – falou convidando com um gesto para que o rapaz andasse pela galeria.

- Tenho vinte e você?

- Vinte e cinco.

- Pensei que tivesse mais, você é muito seguro. – volveu o Amamiya mais jovem.

- Você também não é o que se pode chamar de pessoa insegura.

- Teatro. – riu Shun.

- Gostaria de vê-lo tocar esse violino, talvez me inspire a terminar um quadro, poderia fazer isso?

Shun estancou o passo atônito, não somente pela mudança brusca de assunto, como também pela mudança no tom de voz do louro que soou fria e cortante.

- Foi pra isso que pediu para eu vir? - perguntou o jovem de cabelos verde escuro.

- Não exatamente, mas fiquei curioso e com vontade de vê-lo tocando esse violino.

- Tudo bem, mas outra hora, agora preciso trabalhar.

- Onde você trabalha?

- Num bar, não muito longe daqui, sou garçom, mas também canto nas noites de sexta.

- Eu adoraria vê-lo cantar.

- O nome do bar é shooters*, é só aparecer. – Volveu Shun, começando a se afastar e se lembrando de algo muito importante, estancou o passo e se virou para o escultor:

- A propósito, qual o seu nome?

- Hyoga; e não precisa me dizer o seu, Shun Amamiya.

- Como sabe? - Shun interrogou atônito.

- Está escrito no case do seu violino.

Shun sorriu e assentiu com a cabeça.

- Gosto de pessoas observadoras. – falou e consultou o relógio, estava atrasado, teria que correr.

***************

- Uma e meia; onde está o Shun? - Ikki batia impacientemente os dedos no volante da pick-up, enquanto apagava o cigarro. Finalmente vislumbrou o irmão se despedindo de alguns colegas, enquanto afrouxava o nó da gravata, caminhando até o carro.

- Porra, Shun! Sabe que eu odeio esperar; por que fica de papo?

- Ah, desculpa, é que hoje cheguei atrasado e tive que compensar; mas se viu que eu demorava, podia muito bem ter entrado.

- Você sabe que eu não gosto de entrar nesse tipo de lugar.

Shun riu e provocou o irmão:

- Isso é preconceito.

- Sabe que não é, mas acho que você tem que entender o quanto é complicado pra mim, ter um bando de marmanjo "secando" minha bunda enquanto ando.

Os dois riram.

- Ok, eu entendo.

- Certo. Agora me diga, como está o concerto?

- Hoje eu quase não ensaiei, estava disperso, errando as notas.

- E por quê? Geralmente você leva essas coisas tão a sério. – Perguntou o mais velho, dando partida na pick-up.

- Eu conheci alguém.

- Alguém, aqui? - Surpreendeu-se Ikki.

- Sim, o novo dono daquela galeria de arte que fica a dois quarteirões de minha casa. Ele também é o artista.

- Artista? - riu o mais velho – Só você mesmo, Shun. Eu não tenho vindo muito aqui, nem sabia que a galeria havia sido vendida.

- Você tem se prendido demais àquele rancho de fim-de-mundo, irmão; se não fosse por essa sua mania de vir me buscar, nem estaríamos nos vendo.

- É verdade, estou com muito trabalho no meu "rancho de fim-de-mundo", como você descreve tão bem. – ironizou o Amamiya mais velho.

- Ikki, agora vamos falar sério. – tornou Shun, encarando o irmão – Não me agrada nada você dirigir por duas horas para vir me pegar todo dia, quando eu moro a quarenta minutos de onde trabalho. Essa super-proteção está passando dos limites.

- Não depois do que aconteceu.

- O que aconteceu poderia acontecer em qualquer lugar e com qualquer um, Ikki! Olhe pra você, está exausto!

- Shun, continuarei vindo. Te levo pra casa e depois volto pro rancho, não custa nada.

- Você é um teimoso! - reclamou o mais jovem e ele parou o carro em frente a sua casa

- Vem, entra. Passa a noite aqui dessa vez.

- Não, tenho muito que fazer mais tarde e você, vê se descansa, está com olheiras! – falou, dando partida no carro.

- Olha quem fala! - ironizou Shun acenando para o irmão e entrando em casa, enquanto Ikki partia.

O Amamiya mais novo acordou com o barulho do despertador, deveria ir para a faculdade, precisava ensaiar, o Natal se aproximava e tinha que estar afinado para o concerto municipal. Levantou num pulo, já tirando a roupa e correndo apressado para baixo do chuveiro, nos últimos tempos andava sempre atrasado. Terminou o banho em alguns minutos e começou a se vestir, escolhendo uma calca jeans e uma camisa branca social, prendeu os cabelos num rabo de cavalo frouxo enquanto começava a escovar os dentes.

O telefone tocou e ele foi atender ainda com a escova na boca.

- Bom dia, Ikki!

- Boa tarde, Shun. Já passa do meio-dia e quero saber como você está.

- Não entendi a Per-gun-taaaaa! - caçoou o mais jovem, já sabendo que seu super protetor irmão tinha "contraído nova neura" para infernizar sua vida.

- Engraçadinho. – volveu Ikki, zangado, do outro lado da linha – Você está pálido e com olheiras, deve estar trabalhando demais, estou preocupado.

- Ikki, você não se olha no espelho, não? - ironizou Shun.

- Sua saúde é mais frágil que a minha.

- Isso é o que você acha!

- Eu moro no campo, respiro ar puro e não dióxido de enxofre o tempo todo igual a você.

- Ok, mamãe, mais alguma observação sobre o ar que eu respiro?

- Shun, não caçoa, estou preocupado com você.

- Certo, irmão, mas estou bem, de verdade.

- Nos vemos mais tarde então?

- Sim, irmão. Ikki, eu te amo!

- Eu também, Shun, tchau. – ele desligou e Shun terminou de se arrumar, saindo apressado com seu violino na mão.

Estava a alguns passos da galeria quando seu braço foi seguro por alguém, voltou-se e fechou a cara, aborrecido ao reconhecer o ex-namorado.

- Oi, Shun. Queria conversar com você!

- Já não temos nada para conversar, Jabu; me solta e me deixa em paz! - falou Shun, puxando o braço.

- Espera, Shun, é importante...

- Eu não tenho nada pra conversar com você, me deixa em paz!

- Algum problema? - o jovem de cabelos verdes ouviu a voz de Hyoga que se aproximava com uma sacola de compras nos braços.

- N... Não, problema nenhum, está tudo bem. – disse Shun, que tinha horror a violência e já percebia que os dois homens se olhavam com hostilidade.

- Quem é esse aí, Shun? - perguntou Jabu, mal-humorado.

- Não é de sua conta; já pedi pra não falar comigo, me deixe em paz e larga do meu pé!

Tornou Shun irritado e recomeçando a andar. Hyoga o seguiu, ainda ouviram o outro rapaz resmungar e chutar uma lixeira antes de se conformar em partir.

- Desculpa, Hyoga, por você presenciar essa cena deplorável.

- Não seja tão pejorativo com as paixões humanas. – disse o louro friamente – Eu as acho interessantíssimas.

- Conquanto não seja você a senti-las, não é mesmo? - sorriu Shun, com ironia.

- Shun, você é surpreendente, sabe realmente ler nas entrelinhas – riu o escultor.

- Sei sim, por isso posso ler a frase: "cuidado, animal perigoso" que está escrito bem grande em você.

Hyoga fez uma teatral careta de dor e acenou uma bandeira imaginária no ar.

- Paz, senhor Amamiya, por favor! Bandeira branca!

Eles pararam em frente à galeria.

- Não gostaria de entrar?

- Eu tenho aula agora...

- Farei a pergunta novamente, você gostaria de entrar? - ironizou Hyoga.

- Gostaria sim, mas não devo. – confessou Shun, corando.

- Dever; palavra interessante, mas pesada demais para alguém jovem como você.

- Você também é muito jovem.

- Sou, mas já perdi há tempos esse frescor que você tem; quase inocência. – disse o louro examinando detalhadamente o rapaz a sua frente e isso fez Shun corar violentamente. "Achava que já havia passado dessa fase", pensou o Amamiya mais jovem.

- Eu quero pintar você Shun.

- O-o quê? - espantou-se o rapaz.

- Eu quis assim que o vi, suas cores são fantásticas.

- Eu...eu não sei, eu não...

- Você quer?

- Eu não sei, é... pode ser, acho que sim.

- Então comecei bem, já tenho dois "sins", você entrará e posará pra mim, ok?

- Certo, eu poso pra você. – Shun falou sério, olhando dentro dos zombeteiros olhos azuis.

- Agora? - o mais jovem não respondeu, entrou na galeria, vendo que os raios do sol refletiam nas peças de cristal, dando uma luz única ao ambiente.

- Alguma obsessão por cisnes? - perguntou Shun, olhando uma escultura inacabada.

- Digamos que fui um patinho feio a vida toda e sempre sonhei em me tornar um cisne. – ele falou colocando a sacola num canto.

- Você, um patinho feio? - riu Shun – Eu duvido, acho que no máximo você seria o príncipe preso na forma de um cisne, esperando o beijo que o libertaria.

- Obrigado pelo elogio, mas minha vida não foi bem assim; venha. – Hyoga abriu uma porta e pediu para que o rapaz entrasse. Shun obedeceu curioso, observando a ampla sala de paredes cinza e cortinas brancas: havia somente um sofá vermelho, uma banqueta alta e uma grande tela em branco naquele espaço imenso.

- Deixe o violino aqui por enquanto, Shun. – pediu o louro tirando o instrumento de suas mãos e o colocando sobre a banqueta, depois pegou o jovem pelas mãos e o posicionou a sua frente enquanto ficava ao lado do cavalete que suportava a imensa tela.

- Tire a roupa.

- O quê? - perguntou Shun, atônito.

- Shun, se eu quisesse vê-lo vestido, pediria que posasse lá na calçada; então tire a roupa.

Shun olhou para os olhos frios a sua frente e começou a desabotoar a camisa, bem devagar, sem desviar o olhar dele, tudo muito lentamente, dedilhou cada botão, até abri-la por completo. Depois, ainda sem tirar a camisa, começou a desabotoar a calça ao mesmo tempo em que se livrava dos sapatos e das meias.

- Sem pressa, Shun, temos a tarde toda. – sorriu Hyoga, malicioso.

- Mas eu deveria estar ensaiando. – tornou o mais jovem com um sorriso constrangido, terminando de tirar as calças.

- A cueca também. – disse Hyoga, tranquilamente.

- Mas... eu...

- Ninguém entrará aqui, Shun. Mas se estiver com medo de mim...

- Eu não conheço a palavra medo. – afirmou o jovem de olhos verdes, começando a descer a peça lentamente como num streep. Hyoga o olhava fixamente com olhos brilhantes, contudo impenetráveis.

Quando Shun estava totalmente nu, ele se levantou do sofá e se aproximou do constrangido jovem, que não conseguiu evitar proteger o corpo com as mãos. Hyoga segurou seu queixo, olhando o rosto ruborizado.

- Lindo. – sussurrou o louro – Um lindo David*de marfim.

- Você não vai me pintar? - perguntou Shun, umedecendo os lábios com a língua em pura provocação.

- Vou, sim. – respondeu o louro ainda sussurrando, puxando o elástico que prendia os cabelos do rapaz que caíram por suas costas e ombros – Mas quero pintá-lo assim e... - muito rápido ele pegou uma faixa que estava pendurada no cavalete e passou pelos olhos de Shun.

O mais jovem arqueou o corpo pra trás com o susto e Hyoga prendeu a faixa delicadamente. Shun já não conseguia enxergá-lo.

- Não tenha medo, você não está me vendo, mas estou aqui.

- Eu não estou com medo. – falou e sentiu o violino sendo posto em suas mãos.

- Toque, Shun. Algo bem vigoroso.

Shun sorriu e ajeitou o violino sob o queixo. Hyoga pegou um pincel, preparando a tinta, mas quando o rapaz começou a tocar, ele parou para olhá-lo. Ao contrário do que pediu, Shun começou a tocar algo suave, tão suave quanto sua aparência. O louro ficou hipnotizado, de repente tudo na sala sumiu, só ficou o rapaz nu, com os olhos vendados a sua frente, tocando divinamente.

"É o Noturno em c menor de Chopin, por que ele está tocando isso quando eu pedi que tocasse algo vigoroso? Se bem que, com ele, não poderia ser diferente, suas cores são tão suaves, ele todo é tão suave, posso sentir cada nuance dele nesse momento, o rosa e o verde se fundem e se confundem, é um verde água, tão transparente, tão verdadeiro, tão puro... Não imaginava que ainda existisse uma alma assim, tão pura e limpa."

Hyoga se libertou dos pensamentos e começou a pintar usando exatamente aquelas cores.

Quando Shun terminou a música, ele também parou com a pintura, se aproximou do rapaz desnudo, tirando a faixa de seus olhos sem delicadeza, se colocando bem próximo ao rosto dele.

- Perfeito, Shun. Tão perfeito que eu quero você pra mim... – sussurrou e segurou o queixo do mais jovem, puxando-o para um beijo que não foi repelido.

Shun sentiu sua boca ser tomada tão sensualmente que suas pernas fraquejaram e ele se apoiou nos ombros de Hyoga para não dobrar os joelhos. O louro continuou com a exploração sensual dos seus lábios, enquanto tirava o violino das suas mãos e o colocava sobre a banqueta. Puxou o mais jovem pra si com mais fogo enquanto arrancava a própria camisa e abria as próprias calças.

- Segura forte em mim, Shun. – sussurrou ao ouvido dele e o suspendeu em seus braços, as pernas de Shun envolvendo sua cintura.

- Hyoga... eu... – o mais jovem tentou falar, mas teve a boca novamente invadida pela língua hábil e experiente, enquanto os dedos dele faziam o mesmo com seu corpo, sem pudor. O louro apoiou as costas do outro rapaz na parede, o ouvindo gritar mais alto ao ser invadido, se agarrando mais forte ao seu pescoço. Shun mordeu os lábios para evitar um grito de dor a ponto de sangrá-los, Hyoga o beijou novamente saboreando o gosto ácido do sangue e começando a se mover vigorosamente, puxando o corpo magro e delgado pela cintura, ouvindo o barulho que ele fazia ao bater contra o seu e sentindo o friccionar do sexo dele contra seu abdômen; não demorou para ambos gozarem, gritando alto, o cheiro de suor e sexo se espalhando pelo ambiente.

Hyoga, ainda com Shun no colo, apoiou-se na parede escorregando até o chão, abraçando-se ao corpo menor que estava tão ofegante quanto o dele.

- Espero que não faça isso com todo artista que pede pra você tirar a roupa. – sussurrou buscando ar e afagando os cabelos suados dele.

- Sorte sua ser o primeiro a me fazer tal proposta. – respondeu Shun e ambos riram. Então o mais jovem tentou se afastar, mas o outro segurou sua mão.

- Usou meu corpo e agora vai embora? - perguntou divertido – Me prepara pelo menos um café.

- Contanto que você não me peça pra falar de amor, tudo bem. – disse Shun, com um sorriso malicioso, levantando-se do colo dele e começando a pegar suas roupas.

- Essa palavra está terminantemente proibida no meu vocabulário. – tornou Hyoga, levantando-se também e fechando as calças. Apesar do tom irônico, Shun sentiu a verdade daquela afirmação.

- Estou enxergando a placa de advertência novamente... – riu o mais jovem, fechando a camisa. Já havia vestido a calça.

- É sempre melhor quando se brinca com fogo, não é verdade? - perguntou o louro divertido, ajudando-o a fechar os botões.

- Não quando se sai queimado. – Shun disse sério, afastando-se dele e colocando o violino no case.

- E você acha que tem chance disso acontecer a um de nós dois?

- Acho que não, posso morar numa cidade pequena, mas não sou nenhum garoto bobinho. Se bem que isso, acho que você já conferiu. – falou Shun, mordendo o lábio inferior e enlaçando o louro pelo pescoço.

- Maravilhosamente. – sibilou Hyoga olhando o rapaz de cima a baixo antes de beijá-lo.

- Deus! Eu sempre gosto dos rapazes maus! - disse Shun teatralmente se afastando dele.

- Assim você me magoa! - gritou Hyoga, pois o outro já saía pela porta da galeria, sem se despedir.


Ikki desligou o trator e desceu do veículo, tirando o celular do bolso.

- Oi, Shun.

- Ikkiiiiiiiii! - gritou o rapaz do outro lado da linha - Ikki eu vou pegar um táxi e vou pra aí!

- Por quê? O que aconteceu, você não deveria estar na faculdade uma hora dessas? - perguntou zangado.

- Ikki, não briga comigo, aconteceu algo muito sério, estou indo pra aí!

- Certo, Shun. Vem, mas vem logo, que já estou ficando nervoso com você!

O irmão desligou o telefone e Ikki voltou para o trator, demoraria no mínimo duas horas para o irmão chegar ali.


Hyoga fechou a galeria depois que Shun saiu. Sorriu ao pensar no rapaz, coisa que há muito tempo não acontecia ao pensar nas pessoas. Não queria romances, estava naquele lugar para mudar de vida e esquecer o passado, de forma alguma se envolveria emocionalmente e estava tranqüilo, pois o outro jovem parecia pensar o mesmo.

O louro voltou para a sala e sorriu. Próximo ao cavalete estavam à cueca e a carteira de Shun. "Bem, ao menos sei que o verei de novo, só não sei se isso é bom".

Shun chegou correndo ao rancho do irmão:

- Ikkiiiiiiiiiiii! – exclamou, abraçando-o com força.

- Shun, você quer me matar do coração? O que aconteceu pra você estar nesse estado?

- Ikki, você não sabe o que eu fiz, eu não me reconheço, não acredito que fui pra cama com ele, eu mal o conheço, Ikki!

Ikki olhou lívido para o irmão:

- Espera, Shun, devagar; não estou entendendo nada! - falou, andando até a cozinha e pegando uma jarra de água na geladeira.

- Eu fui pra cama com o escultor! - confessou o rapaz aceitando o copo d'água que o irmão lhe oferecia.

Ikki parou aturdido, depois olhou o irmão zangado:

- Já pedi pra você parar de me contar essas coisas!

- Ikki, eu precisava conversar, você é meu irmão, eu só confio em você! Quem eu deveria procurar então?

- Ah, Shun! Qualquer amiguinho que compartilhe dos seus mesmos interesses! - reclamou Ikki, mas sabia que na verdade ficava enciumado ao saber que o irmão estava dedicando atenção a mais alguém além dele, porém, tinha consciência que essa possessividade era doentia e não fazia bem a nenhum dos dois.

- Ikki, você é meu irmão e terá que me ouvir! - tornou o mais novo, irritado.

O mais velho se sentou ao lado dele, vencido.

- Fala, você transou com o cara, e daí?

- Essa é a questão, eu só transei com ele, não temos nenhum envolvimento, foi só carne, entende? Ikki, em toda a minha vida, eu sequer beijei alguém só por isso, sempre fui muito seletivo e romântico, eu não sou assim tão... fácil, tão promíscuo!

- Shun, isso acontece! Relaxa, não foi nada demais. – tornou o moreno, desconfortável.

- É o que acontece entre você e Minu? - Shun perguntou olhando seriamente para o irmão.

- Você sabe que eu gosto dela.

- Sei, mas vai perdê-la por ser teimoso, Ikki! Você não pode continuar nesse luto eterno irmão, por Deus!

- Shun, você veio falar de você; e eu já pedi para não se envolver nos meus assuntos com a Minu.

- Ikki, já se passaram cinco anos, já é hora...

- Shun, não se meta nisso. A Minu nem gosta de você, por que insiste em defendê-la?

- Porque eu quero a sua felicidade, irmão. – Shun passou a mão no rosto moreno dele e Ikki a segurou com carinho, sorrindo, coisa que era muito raro de se ver a cinco anos.

Shun sabia que Minu tinha todo o direito de não gostar dele. Desde que Ikki perdera a família, vivia obsessivamente para o irmão e sem cerimônia trocava a companhia da namorada pela dele, não adiantava reclamar, não adiantava dizer que ele estava errado, ele simplesmente tinha um medo doentio de perdê-lo.

- Shun, no momento eu só gostaria mesmo de saber quem é esse escultor com que você anda saindo, sabe que fico preocupado com você. – falou soltando a mão do caçula.

- Ikki, não estamos saindo, nos conhecemos e transamos, só isso.

Shun pôde perceber que o irmão corou, e se segurou pra não rir, isso com certeza o irritaria ainda mais.

- E você diz isso nessa cara-de-pau? - perguntou o Amamiya mais velho, indignado.

- Ah, Ikki, para com isso! Você já sabe há muito tempo que eu durmo com homens!

- Mas ouvir isso, dessa forma, ainda me choca. Sou seu irmão mais velho! - declarou o moreno, desconfortável.

- Na verdade, você é ciumento, porque quer ser o único homem na minha vida! - disse Shun, rindo e se jogando nos braços do irmão.

- Confesso, tudo bem! - riu Ikki – É difícil pra mim, saber que meu irmãozinho está na cama de algum marmanjo.

- Você é mesmo um machão! - riu Shun – E você ainda não me disse o que devo fazer!

- Nem vou, você sabe qual seria o meu conselho.

- Sei sim, você diria pra eu largar mão de ser bicha e arranjar uma mulher, certo?

- Talvez não fosse tão cruel. – falou Ikki, levantando-se e ajeitando a camisa de flanela xadrez. – Só peço uma coisa irmão, tenha cuidado. Eu mato esse escultor se ele te magoar.

Shun bufou cruzando os braços.

- Que obsessão, irmão, ninguém vai me magoar! Eu sei me cuidar. Agora pedirei um táxi, tenho que voltar, hoje é sexta-feira!

Ikki assentiu com a cabeça.

- Ikki, você nunca me verá cantar? - Shun perguntou magoado.

- Verei sim, irmão, um dia desses, eu verei, só me dá um tempo pra eu tomar coragem. – riu o mais velho, acompanhando o irmão até a porta.

- Certo, fazer o quê... - Shun beijou o rosto do irmão, que corou como sempre. Ikki se incomodava com demonstrações de afeto, não era fácil pra ele. Despediram-se.


- Shun, é sua vez! - gritou um colega e ele tirou o avental, ajeitou os cabelos e subiu ao palco, cumprimentou o público e começou a cantar. Quase errou a melodia ao ver Hyoga entrar no bar e ir se aproximando lentamente do palco com movimentos calmos, sensuais e felinos. Ele sorriu e ficou olhando dentro dos olhos de Shun com olhar lascivo.

you're ruling the way that i move
and i breathe your air
you only can rescue me
this is my prayer

if you were mine
if you were mine
i wouldn't want to go to heaven

Você domina o jeito que eu me jogo
E eu respiro seu ar
Somente você pode me salvar
Este é a minha prece

Se você fosse meu
Se você fosse meu
Eu não queria ir para o céu

As pupilas azuis seguiam todos os suaves movimentos do corpo magro de Shun e aquilo dominava todos os sentidos do jovem Amamiya. Ele sabia que era bonito, sempre foi muito paquerado por ambos os sexos, porém, nunca recebera um olhar daqueles. O louro exalava uma sensualidade tão latente que o desconcertava.

i cherish the day
i won't go astray
i won't be afraid
you won't catch me running
you're ruling the way that i move
you take my air

you show me how deep love can be

you're ruling the way that i move
and i breathe your air
you only can rescue me
this is my prayer

Eu valorizo o dia
Eu não irei extraviar
Eu não estarei com medo
Você não irá me pegar fugindo
Você domina o jeito que eu me jogo
Você tira meu ar

Você me mostra como profundamente o amor pode ser

Você domina o jeito que eu me jogo
E eu respiro seu ar
Somente você pode me salvar
Este é a minha prece

"Tão belo e com uma aparência tão inocente, seus movimentos me encantam. Tão suave, uma suave aquarela... Qual a sua textura, Shun? Ainda tento descobrir, não acredito na mistura da inocência e da luxúria; ou se é vermelho, ou se é rosa. Por que suas cores me confundem, Shun? E seus olhos, seus brilhantes olhos verdes, eles me escondem algo, algo forte e profundo, algo maior que sua aparência frágil deixa transparecer..."

i cherish the day
i won't go astray
i won't be afraid
won't run away
won't shy

Eu valorizo o dia
Eu não irei extraviar
Eu não estarei com medo
Eu não irei fugir
Eu não ficarei tímido

A música terminou e Shun foi aplaudido, ele começou a cantar outra canção, mas o louro quase não ouvia por estar tão fascinado somente com os movimentos dele. Shun ainda cantou mais algumas músicas antes de deixar o palco muito aplaudido. Hyoga se aproximou do palco o ajudando a descer, segurando-o pela cintura e o beijando sensualmente.

- Não pensei que viesse. – confessou Shun quase contra seus lábios.

- Que bom, nada me irrita mais do que ser previsível. – disse o louro.

- Você todo é uma situação imprevista pra mim, Hyoga.

- Se você me disser que gosta de situações imprevisíveis, ganharei a noite. – murmurou o artista roçando os lábios sensualmente no pescoço dele o que o mais jovem se arrepiar e o afastar para manter o controle.

- Eu ainda preciso ficar um pouco mais, até a casa fechar. – Tentou ignorar a provocação – Meu momento Cinderela acabou, volto a ser o gato borralheiro.

- Você é tão divertido, Shun! - sorriu Hyoga, segurando o rosto dele.

- E você é tão enigmático. – Shun disse sério – Bem, eu tenho que terminar meu trabalho.

- Certo, eu me sentarei aqui e aguardarei o fim do expediente. Quem sabe não ganho um show particular...?

Shun sorriu, mordendo o lábio inferior intrigado.

- Tá legal. – falou se afastando, Hyoga se sentou começando a acompanhar o próximo número da casa.


O despertador tocou: onze e meia. Ikki afastou delicadamente a mão que estava sobre seu peito e se sentou na cama.

- Ikki, aonde você vai? - perguntou Minu, sentando-se também – Você tem idéia do quanto tive que dirigir pra chegar até aqui? Não daria pro Shun ir pra casa sozinho, só dessa vez?

- Amor, você sabe que é perigoso, eu tenho que buscá-lo. – disse irritado, estava começando a se aborrecer com a implicância da namorada.

- Você já viu que está sempre me deixando pelo Shun? - tornou a moça, nervosa, passando as mãos nos cabelos escuros – Que droga! Eu estou trabalhando em outra cidade, tiro um final de semana pra passarmos juntos e é isso que recebo em troca?

- Minu, não faz drama, daqui a algumas horas estarei de volta.

- São quatro horas, Ikki, duas pra ir e duas pra voltar; isso se vocês não inventarem de bater papo até amanhecer! E você ainda me pergunta por que implico com seu irmão?

- Minu, você sabe por que não posso deixá-lo ir pra casa sozinho, droga! Você também não faz nenhum esforço para me entender!

- Ikki, já tem muito tempo que aquilo aconteceu e, depois do que você fez, acho que poucos nessa cidade terão coragem de sequer olhar pro Shun! Então já é hora de você parar de bancar a babá de seu irmão gay!

- Não fale dele com esse desprezo! - regougou Ikki, irritado. A moça se calou bufando.

- Sabe do que mais, acho melhor eu ir embora, antes que acabe falando mais do que devo. Não me agrada ficar ofendendo as pessoas, mas você consegue me tirar do sério, Ikki Amamiya.

- Ah, Minu, que merda! Dá pra você parar de drama, temos o final de semana todo e ele pode ser maravilhoso se você parar de implicar com o Shun!

- O final de semana todo? - riu a moça – Isso se ele não tiver algum problema e correr pros seus braços, não é? Eu já estou cheia de tudo isso, Ikki, de sempre ficar com o que resta de você!

Ikki baixou a cabeça, sabia exatamente o que Minu queria dizer. Achou melhor não discutir; levantou da cama e começou a vestir a calça jeans e a regata branca.

- Acho que nós dois nunca vamos parar de brigar! - disse depois de um tempo, vestindo a camisa de flanela xadrez azul por cima da regata.

- No dia em que você reconhecer que não é o pai do Shun, ou melhor, que o Shun não precisa mais de um pai e que a Esmeralda e seu filho estão mortos, quem sabe?

Silêncio. Minu sabia que havia pisado em terreno perigoso e que havia certas feridas com as quais não deveria mexer; aquela era uma delas.

- Ikki, me desculpe...

- Acho melhor você ir embora mesmo! – disse, áspero – Você não tem a menor consideração por meus sentimentos!

- E o que seria ter consideração por seus sentimentos, Ikki Amamiya? - perguntou a moça, zangada, já levantando e começando a se vestir também – Seria aceitar que eu enfrentei duzentos quilômetros de estrada para vê-lo me abandonar no meio da noite para correr atrás do seu irmãozinho de vinte anos que mora a duas horas de sua casa? Não, não é isso, me deixe pensar um pouco. – continuou a moça com ironia – Eu deveria ter consideração por todas as vezes que você me deixou esperando pra correr atrás dele por qualquer probleminha que ele tivesse ou mesmo quando fui trocada por ele em pleno dias dos namorados?

- Chega, Minu! - gritou Ikki – Se você quer ir embora, vai, mas eu vou buscar o Shun! Você não tem noção do quanto ele é importante pra mim!

- Ah, eu tenho, sim, Ikki! Sei que ele é muito mais importante que eu! Vai, corre atrás dele! Eu tô indo embora! - a moça terminou de se vestir e saiu chorando.

Ikki respirou fundo enquanto ouvia o barulho do motor do carro dela deixando o rancho. Deixou-se cair, sentando na cama com as mãos no rosto: "Esmeralda, meu amor, eu sinto tanto sua falta... Se você estivesse aqui, eu saberia exatamente o que fazer..."


- Até amanhã! - Shun se despedia dos colegas que deixavam a boate, enquanto olhava curioso o louro que continuava sentado no salão já vazio. Aproximou-se, deixando a bandeja que segurava na mesa em que ele apoiava os pés.

- Então? Estou indo embora. – disse sem jeito – Daqui a pouco o gerente vai fechar.

- Sabe o que eu estava pensando agora, Shun? Olhando para aquele poste?

- Não faço a menor idéia. – respondeu o Amamiya mais jovem seguindo o olhar do escultor.

- Gostaria de vê-lo dançando nele pra mim. – Hyoga falou despindo o mais jovem com os olhos.

- Corta essa, Hyoga! – riu nervoso – Eu não sou um dançarino e nem sou tão sarado quanto os que você viu hoje.

- Pra mim você é lindo! – sussurrou o russo – Por favor, Shun. Dança pra mim e faz um streep bem sensual.

Shun ruborizou. Ele já havia brincado no poste de Pole dance com os dançarinos do bar, que se apresentavam uma vez na semana, mas estava longe de ser um profissional. Contudo, tinha de admitir que o pedido era excitante e o local estava vazio.

- Nem pensar! – falou, libertando-se dos próprios pensamentos lascivos, coisa que nos últimos dois dias andava tendo em demasia.

- Por favor, não precisa tirar a roupa toda, só alguns botões.

Shun riu, perguntando aos céus porque aquele tipo o atraía tanto.

- Hyoga, eu não vou...

- Ah, você vai, sim... Não tem ninguém aqui; pra que todo esse pudor? – o louro segurou o queixo do mais jovem e lhe deu um beijo sensual e suave, a língua deslizando por seus lábios molhados – Tem alguma parte de você que eu não possa ver?

Shun não respondeu. Foi até o jukebox e escolheu uma música: Please send me someone to Love de Sade**

Subiu no palco giratório que ficava ao lado do palco principal e começou a dançar sensualmente ao som da melodia. Tirou a gravata enquanto descia as costas pelo poste e a jogou para Hyoga, que a segurou rindo.

- Você me tem feito fazer coisas ridículas, Hyoga. – reclamou olhando sensualmente para o louro enquanto subia no poste para depois descer deslizando, girando sobre ele.

- Ridículo? Você pode estar tudo, Shun... menos ridículo. – disse o mais velho, com uma expressão licenciosa.

- Sério? – riu Shun, fazendo um arco com o próprio corpo, enquanto uma das mãos segurava o poste. Jogou a perna em direção a Hyoga, ficando de pé com agilidade, enquanto o outro aplaudia. Começou a desabotoar a camisa, seguindo o ritmo lento e sensual da música.

Quando a peça já estava totalmente aberta, ele escorregou até o chão ainda com os olhos presos nos do louro.

- Chega, tá bom? - riu.

- Agora que estava começando a ficar excitado... – reclamou Hyoga, engatinhado em direção a ele. Shun deu uma olhada sacana para o volume na calça preta que ele usava.

- Começando? Uau! – sussurrou e Hyoga o puxou pela cintura, beijando-o com ímpeto, afundando as mãos nos sedosos cabelos verde escuros.

- Hyoga, espera... aqui não. – disse Shun, ofegante, fugindo dos lábios dele – É meu local de trabalho.

- Tudo bem. Onde, então? Mas tem que ser agora, Shun. – ofegou o louro, tomando os lábios dele novamente. Então Shun escutou a buzina irritante da pick-up de Ikki e empurrou o louro.

- Merda! – praguejou.

- O que foi?

- É o Ikki. – respondeu começando a fechar a camisa e Hyoga se afastou cruzando os braços com uma expressão entre frustrada e divertida. Shun terminou o que fazia e lhe deu um suave beijo sorrindo.

- Não seria nessa hora que você pergunta quem é o Ikki? – indagou o Amamiya mais jovem, divertido.

- Não mesmo. – riu Hyoga.

- De qualquer forma, eu tenho que ir. Ele vai me deixar em casa.

- Posso esperar escondido no jardim então?

- Você está brincando, não está?

- Não.

Shun balançou a cabeça, rindo:

- Boa noite, Hyoga.

O louro não respondeu e ele saiu olhando pra trás, certificando-se de que ele não o seguiria.

"Porque estou pensando isso? Ele nunca me seguiria; pra ele eu sou só diversão, assim como é só diversão que ele deve ser pra mim. Sem envolvimentos Shun. Sem envolvimentos."

Aproximou-se da pick-up, beijando o rosto do irmão, depois rodeando o veículo e entrando.

- Por que demorou?

- Eu... estava ajudando o gerente a fechar o caixa. – mentiu e se sentiu horrível. Por que estava mentindo? Não era disso, e não começaria a ser agora – É mentira, Ikki. Eu estava com ele lá dentro...

- E por que ele não saiu com você? – perguntou Ikki, irritado – Merda, Shun! Qual o problema com esse cara? Você deveria tê-lo me apresentado!

- Ikki, não fica zangado assim comigo, eu... A verdade é que eu não quero que ele conheça você.

Ikki olhou o irmão aturdido:

- Por quê? Algum problema comigo?

- Não, irmão, não é isso! – riu Shun, enlaçando o pescoço de Ikki num abraço – Eu tenho muito orgulho de você, não pense bobagens!

- Então o que é, Shun? – perguntou afastando o irmão para olhar em seus olhos.

- Eu não quero envolvimento, eu... eu quero apenas diversão com ele, não quero que se torne sério, entende?

- Shun, é você mesmo? – perguntou Ikki, pasmo.

- Eu não quero mais sofrer, Ikki. Você sabe como sou; até hoje eu só apanhei do amor e não quero mais isso, pelo menos, não por enquanto. Não estou pronto para outro relacionamento, sabe?

- Mas... mas você foi pra cama com ele, Shun!

- Sexo não tem nada a ver com amor, Ikki. Estou descobrindo isso e está sendo maravilhoso! – Sorriu o mais jovem, ruborizando levemente.

- Eu sei disso, Shun. Porém eu o conheço e sei como você é sensível e bobo. Não dou duas semanas para você estar totalmente apaixonado por esse tal escultor. Vai acabar sofrendo mais uma vez!

- Não vou, não. Dessa vez, eu não vou sofrer nem que pra isso tenha que fazer alguém sofrer. – suspirou Shun e se aproximou do irmão cheirando seu pescoço.

- O que é isso, Shun? Para! - tornou Ikki, constrangido. O mais jovem começou a rir.

- Você está com o perfume da Minu. Ela está no rancho?

- Não, já foi embora. – respondeu de mau humor.

- Foi por minha causa, não é? Ikki, quando você vai parar com isso?

- Continuarei vindo, não importa o quanto vocês reclamem!

- Você é teimosamente irritante quando quer! – reclamou Shun, cruzando os braços emburrado.

Ikki deu partida no carro ignorando a irritação do irmão. Seus pensamentos estavam em Minu e na desgastada relação dos dois, uma relação que desde a adolescência era complicada, um caso mal resolvido, como tantos outros em sua vida. Então chegaram e parou o carro.

- Ikki, liga pra Minu e pede desculpas. Não adianta nada esse seu orgulho bobo!

- Shun, quer entrar? Está tarde!

- Por que você nunca me ouve, Ikki? – reclamou o caçula, descendo do carro – Desse jeito, acabará velho e sozinho.

- E ranzinza, você esqueceu! – ironizou o Amamiya mais velho dando partida no carro – Durma bem, irmão!

Shun ficou olhando o carro se afastar, desolado. Abriu o pequeno portão de madeira e entrou no jardim; estava preocupado com Ikki. Se ele continuasse daquela forma, como o faria aceitar sua viagem? Colocou a chave na fechadura e levou um susto ao ser abraçado pela cintura:

- Hyoga! Você quer me matar do coração? – disse ao se virar e encontrar o escultor.

- Eu disse que esperaria no jardim.

- Como você chegou tão rápido aqui? – perguntou Shun, ainda aborrecido com a brincadeira.

- Vim a mais de cento e vinte. Veja como estou louco pra ficar com você.

- Ah, você se arriscou, sim. Sorte sua que eu e o Ikki discutimos hoje; geralmente ele só vai embora quando eu entro em casa e se ele te visse aqui...

- Shiuuu! – o louro tapou seus lábios com a mão – Vamos falar de nós dois... Além do mais, tenho alguns pertences seus para entregar.

Ele sorriu, balançando a cueca boxer branca próximo ao rosto de Shun, que ruborizou violentamente, dando-lhe as costas envergonhado:

- Eu não acredito que tenha esquecido isso! – disse o rapaz, vermelho como um pimentão.

- Não só isso, a carteira também. Não notou?

- N-não... eu ainda não tinha dado falta. – gaguejou.

- Agora que já fiz uma boa ação, me convida para entrar? – pediu o louro.

- Claro.

- E quem sabe... Com sorte, você termina o que começou na boate.

Shun sorriu e abriu a porta. Hyoga se fascinou com a harmonia do ambiente, tudo muito organizado, limpo e romântico, decorado em tons claros, amarelo pastel e verde.

- Eu imaginei que você morasse num lugar assim. – declarou – É tão tranqüilo, transmite muita paz.

Shun não respondeu. Aproximou-se dele e o empurrou no sofá, sentando em seu colo.

- Você veio aqui para falar de decoração? – perguntou corando e o louro riu o enlaçando pela cintura.

- Não; na verdade, quero e muito é conhecer seu quarto. – sussurrou e o mais jovem o puxou pelas mãos adentrando o corredor em direção ao quarto.

Amaram-se ardentemente e agora Shun repousava no peito forte do louro, pensando que nunca se entregou tanto a alguém:

"Nós dois nos amamos como se fôssemos morrer amanhã... Eu nunca fui tão sexualmente livre como estou sendo com ele e ninguém nunca despertou minha libido dessa forma. Na verdade, nunca me achei capaz de seduzir alguém, sempre fui tão tímido, tão passivamente dependente... O que o Hyoga tem que faz com que me sinta livre, com que não me envergonhe de nada em seus braços...?"

- Quem é Ikki? – a voz suave do louro o livrou das próprias indagações.

- O quê?

- Você disse que eu deveria perguntar; estou perguntando agora. – sorriu Hyoga, passando as mãos nos cabelos dele.

- Pergunta atrasada... Então não tenho obrigação de responder. – provocou Shun.

- É que agora fiquei curioso. Observei enquanto vocês dois conversavam... Não consegui ver o rosto dele, mas parecia que tinha muito carinho por você e senti que há uma forte ligação entre os dois.

- Deus! Um sensitivo; eu tenho muita sorte mesmo! – riu Shun.

- Não caçoa; você entendeu. Quem é ele?

Shun apoiou as mãos no peito dele, para encarar seus olhos frios e zombeteiros.

- Ele? Ele é só duas coisas... meu paraíso e meu inferno.

- Explique. – tornou Hyoga friamente.

- Ele é meu paraíso porque é tudo que tenho na vida; meu referencial, meu porto seguro, ele é pra quem eu sempre volto, minha ilha particular de paz. Quando estou fraco, sujo e abandonado, é ele que me salva, é ele que vai me aceitar e curar minhas feridas, é nele que eu confio totalmente, o único. Meu paraíso...

- Isso foi lindo, Shun... – sorriu o escultor e seu rosto não tinha nenhuma expressão – Mas agora é a vez de você me dizer por que ele é seu inferno também.

- Ele é meu inferno porque é a única coisa que me prende a essa cidade; é ele quem ocupa a minha mente, além da minha música... É ele que me persegue obsessivamente, me controla, me vigia...

- Não entendo uma relação assim. – disse o louro, pensativo – Por que ele não entrou então?

- Você está com ciúmes? – perguntou o mais jovem, divertido.

- Pode ser que sim. É difícil para um homem ouvir essas coisas, numa situação dessas. – riu o louro.

- O Ikki nunca entra, ele nunca dorme aqui. – respondeu Shun – Ele mora num rancho e tem muito trabalho lá.

- Mas você gostaria que ele dormisse?

- Você está falando de sexo? – perguntou o jovem de cabelos esmeralda, começando a rir e o louro já estava incomodado com a situação.

- Claro que estou falando de sexo, Shun. Ou vocês dormiriam como irmãozinhos? – ironizou irritado.

Depois da frase, Shun riu mais ainda:

- Ah, Hyoga, você é mesmo perspicaz! – Shun tentou controlar o riso, limpando as lágrimas que já desciam por seu rosto.

- E você está me constrangendo. – disse o louro, desconfortável, afundando no travesseiro, para logo receber um beijo suave do outro.

- O Ikki é meu irmão.

- Irmão? – Hyoga se sentiu ridículo e começou a rir também – Só irmão?

- Ai! – exclamou Shun, apertando o pescoço dele, divertido – Você deve achar que sou muito pervertido!

- Confesso que senti certa fascinação sexual de sua parte.

- Fascinação sexual? – repetiu Shun, intrigado – Pode ser, sim... O Ikki é meu modelo; ele é sincero, é forte, é bonito. Pode haver mesmo essa tal fascinação de que você fala. Qual o problema?

- Você não vê problema nisso? – espantou-se Hyoga.

- Não; o Ikki é meu modelo e eu admito que possa sofrer de um complexo de Édipo às avessas, afinal ele é como um pai pra mim. Isso não me incomoda e nem interfere em nada na relação pura e fraternal que temos.

- E os sentimentos dele em relação a você são os mesmos?

- Por que pergunta isso? Os sentimentos do Ikki são bem melhores e mais profundos que os meus, porque ele é bem melhor que eu.

- Em que sentido?

- Ah, o Ikki sacrificou toda a vida dele por mim. Ficamos órfãos muito cedo e... tivemos que nos virar para ficarmos juntos, porque queriam nos mandar para adoção. Acabamos com um tio alcoólatra e ele sempre tinha que me proteger dele... Bem, não é uma história boa...

- É sim, todas as histórias trágicas são boas, quando conseguimos sobreviver. – disse Hyoga e pela primeira vez Shun percebeu que sua voz não soou fria ou irônica, e sim triste. Mas achou melhor não comentar.

- O importante é que ele morreu pouco depois que o Ikki fez vinte anos, aí ele pôde me adotar legalmente, está vendo? Sou filho do meu irmão. – riu Shun.

- Quantos anos ele tem agora?

- Vinte e nove.

- Muito jovem ainda pra uma vida tão reclusa, como você diz.

- É, meu irmão tem suas tragédias... Mas vamos parar de falar dele um pouco; que tal falarmos de você?

- Vamos lá, então. – disse Hyoga – Eu nasci na Rússia, tenho vinte e cinco anos, sou do signo de aquário e gosto de frango à parmeggiana. Mais alguma coisa?

- Palhaço!


A aurora já pintava o horizonte quando Ikki chegou ao rancho. Alguns dos empregados já deixavam suas casas para começar o trabalho no arado; cumprimentou-os e entrou na moradia em estilo rústico, caminhando até a sala e pegando um porta-retrato que estava sobre a lareira:

"Bom dia, meu amor" disse sorrindo para a mulher da foto, deixando o porta-retrato onde estava e seguindo para a cozinha para preparar um café. Shun tinha razão, estava exausto, mas não poderia ser diferente. Estava trabalhando muito na vinícola, ainda cuidava da contabilidade do rancho, tinha que procurar alguém para ajudá-lo, percebia que estava sem tempo pra Shun e isso não poderia acontecer; vivia somente para protegê-lo e de uma forma ou outra, ele estava abandonado. Só se viam naqueles poucos minutos da madrugada. Tinha sido muito difícil para ele aceitar que o irmão morasse sozinho na cidade e sentia muita falta dele; só admitiu porque sabia que não seria bom para Shun uma vida como a dele, misantropa e solitária. Ele era muito jovem, precisava estudar, alçar vôos maiores e seria egoísmo da sua parte prendê-lo ali. Mas desde que ele partiu, sentia-se vazio naquela casa enorme, povoada de lembranças felizes, e agora tão solitária.


- Meu irmão sempre me protegeu; ele sacrificou tanto por mim, a vida dele toda por minha causa. Eu sempre me sinto em dívida com ele e deixá-lo sozinho naquele rancho, acho que foi a pior batalha interna que já travei. – Shun falava para Hyoga, que brincava com seus cabelos após se amarem mais uma vez.

- Eu acho que há uma paixão velada entre vocês. – Caçoou o russo.

- Velada não; já disse, é declarada. Ele é tudo pra mim e há uma co-dependência entre nós dois.

- Então por que o deixou?

- Eu precisava estudar. Não nasci pra vida do rancho e nem acho que nasci pra ficar numa cidade pequena. Sei que não sou grande coisa, mas tenho grandes sonhos! – sorriu.

- Shun, essa sua humildade me fascina. – suspirou o louro – Você nem sequer imagina o quanto é especial.

- Bondade sua. Sei que talvez nunca consiga realizar meus sonhos, mas continuarei sonhando, não importa. Agora já falei demais de mim, que tal falar de você um pouco?

- Eu já falei tudo que poderia falar de mim, minha vida não foi tão interessante quanto a sua e não vou estragar esse momento com histórias tristes.

Ele beijou Shun na testa se afastando.

- Acho que já é hora...

- Pode dormir aqui, Hyoga. Prometo que não o pedirei em casamento por isso...

O rapaz louro ficou indeciso, dormir ali poderia significar mais envolvimento e percebia que já estava gostando mais que o conveniente da companhia de Shun.

- Se você quiser, claro. – Cortou o mais jovem, vendo a dúvida no rosto dele.

- A questão não é essa, Shun. Tenho medo de eu, sim, pedi-lo em casamento se for mais longe com isso.

- Eu prometo que não aceito. – riu o rapaz de cabelos esmeraldas.

- Então acho que não há problema. Abro a galeria mais tarde. – disse o russo e aninhou o corpo menor em seus braços; cansados como estavam, não demorou muito para adormecerem.

Continua...

Notas Finais: Mais um AU. E eu que não gostava dele de jeito nenhum. Bem, mudamos (Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, yeh!).

Perdoem o capítulo grande, é que sou péssima "resumista" os outros serão menores com certeza.

Notas da Fic: Quando o Hyoga chama o Shun de "Belo David de Marfim" ele se refere à famosa obra de Michelangelo.

A música que o Shun canta é "Cherish the Day" e a que ele dança (não achei relevante a letra, mas a melodia é muito sensual e recomendo ouvi-la para compreender melhor a cena) é "Please send me someone", ambas da Sade.

Agradeço especialmente a minha amiga Lua Prateada por todo o incentivo e por betar essa fic pra mim, de forma tão sincera e doce.

Amiga, você é uma inspiração.

Obrigada de antemão por todos os reviews deixados.