Step Up!
Capítulo 9 - Wanna Play?
Parte 3
Eu já deveria saber que seria assim. Não adianta eu tentar tomar o controle da situação. As coisas não funcionam assim. As garotas me desobedeceram e agora estavam ali comigo e com os caras. Sasuke e minha prima estavam desaparecidos. É... Acho que eu não consigo controlar tudo mesmo. Mas isso não importava naquela hora. A única coisa na qual consegui pensar era em derrotar o time Hebi.
- Vamos brincar, Ninjas... - convidou Suigetsu quando já estávamos dentro do círculo contornado por todos naquele galpão.
Em resposta, risquei um sorriso tão desafiador quanto o dele. Meus amigos estavam atrás de mim apenas esperando meu comando. Por trás do trio Hebi, surgiram mais nove integrantes. Quase me esqueci do restante deles, já que raras eram as vezes que estavam todos juntos. Certamente, doze (na verdade dez, já que estávamos sem Sasuke e Hinata naquele momento) contra três era bem injusto.
- Vamos nessa, pessoal... - disse com os braços cruzados e encarando fixamente o time desafiador enquanto a primeira batida ecoava pelo galpão saindo das imensas caixas de som.
A primeira música foi ''How We Roll Remix'' de Don Omar. A multidão ao redor de nós se agitou imediatamente e emitiam sons desafiadores, instigando-nos a competir ferozmente. Admito que senti vontade de mergulhar profundamente nessa competição para, definitivamente, vencer. Mas eu ainda era Hyuuga Neji e não perderia o controle e tentaria mantê-lo até o fim. Admito... seria extremamente difícil.
No lado oposto do círculo, Suigetsu recrutou dois caras e estes se direcionavam ao centro do círculo. Mirei Lee e Chouji e estes olhavam para mim. Apenas movimentando minha cabeça em direção ao centro, os recrutei também. Os dois sorriram satisfeitos, por serem os primeiros e também pela adrenalina que era quase palpável naquele lugar. Já no centro, os quatro se olhavam, como se estivessem analisando uns aos outros. Kaname, o cara que nos recepcionou, pôs-se entre os dois times:
- Cada um tem dois minutos para batalhar por vez. Enquanto um grupo se apresenta, o outro não pode interferir. Quando os dois minutos acabarem, soará um alarme para o outro grupo começar. - explicou Kaname falando em um microfone.
- Só isso? - pude ouvir Chouji perguntando a Kaname - Mais nenhuma regra?
- Isso não é um campeonato oficial, garoto. - Kaname não o respondeu no microfone, mas eu mal pude ouví-lo devido à distância e ao som altíssimo. Na verdade, fiz a leitura labial e detestei quando ele completou sua fala - Aqui vale tudo. - e riscou um sorriso sinistro.
Pude ouvir as meninas sussurrando assustadas atrás de mim. Por isso não queria que elas viessem. Certamente ficaram apreensivas, mas agora era tarde demais. Se tivessem ficado na mansão fazendo uma noite do pijama ou se eu tivesse trancado as quatro dentro da dispensa, Hinata não teria desaparecido e todas estariam seguras. Por que descartei tão rapidamente a segunda opção?
Kaname deu o sinal para começarem. O grupo desafiador começaria primeiro. E começaram bem. Muito bem. Bem até demais...
Os movimentos dos dois primeiros escolhidos do Hebi eram fortes, quase violentos. Na verdade, eram bem ofensivos, justamente para nos afrontar. Aqueles dois minutos pareciam duas horas. Eu mesmo me senti fracamente intimidado. Mirei as meninas atrás de mim e não era que elas, e até mesmo o restante dos caras, estavam ainda mais apreensivos? Ao soar o alarme, voltei meus olhos aos dois Ninjas no centro do círculo e eles me olhavam também. Assenti com a cabeça enquanto esboçava um sorriso desafiador, que me foi correspondido por eles e ainda com o polegar levantado de Lee. Foi então que eles explodiram diante de toda aquela multidão, mostrando a que viemos.
Eu já havia corrido tanto. Estava começando a me cansar, e muito. Na verdade, eu corria sem rumo. Apenas corria para tentar sumir da vista dos meus perseguidores. Correr sem um destino definido é como percorrer um labirinto. Não fazia ideia para onde minhas pernas me levavam. Eu só me embrenhava pelas ruas e becos, clamando para que estes tivessem uma saída. Como fui estúpida! Como pude me perder das meninas daquela forma?
Flashback
- Estamos perdendo tempo aqui fora. - Ino pôs-se a caminhar como se fosse liderar uma expedição à selva - Vamos, amigas! Coragem!
Ino ia à frente, Tenten logo atrás, depois Sakura e eu em seus calcanhares. Eram tantos corpos se esbarrando... Me esbarrando! Me senti uma bola de ping pong ao ser empurrada de um lado para outro, enquanto tentava ao máximo me manter o mais próxima possível de Sakura à minha frente. Foi então que alguém pisou no meu pé ao passar bem na minha frente, impedindo que eu visse as meninas, que se afastavam.
- Ai! - exclamei com a voz fina de dor, chamando a atenção de meu ''agressor''.
- Oh! - um rapaz, definitivamente uns anos mais velho que eu, finalmente viu em que pisou e pareceu analisar bem, pois levou uns segundos para voltar a falar, enquanto outros dois surgiram atrás dele - Foi mal... Gracinha. - me analisava de cima a baixo com um sorriso detestável.
Mirei os outros dois atrás do rapaz que pisou em meu pé e também me olhavam com o mesmo sorriso. Me senti tão mal. Me movimentei para passar por eles, mas meu ''agressor'' pôs-se a minha frente:
- Espera! Onde vai com tanta pressa?
- M-me dê licença, p-por favor... - pedi, evitando olhar para ele e tentando manter minha voz o mais firme que pude, sem sucesso.
- Como se chama, bonequinha? - perguntou dando um passo em minha direção.
Busquei minhas amigas com o olhar, mas não as encontrei. Me desesperei. Oh, céus! Como eu queria ter uma visão capaz de alcançar quilômetros a frente! Não somente para encontrar as meninas. Mas também para encontrar Neji-nii-san e os meninos. Acho que eles puderam notar o desespero em meus olhos.
- Está sozinha? - um dos amigos quis saber.
Tentei novamente me desvincilhar da barreira à minha frente, mas agora os três, não somente meu ''agressor'', formavam a barreira entre mim e o caminho que minhas amigas trilharam. Não pude deixar de olhar para eles, que sorriram ao notar o medo em meus olhos. E ali começou meu pesadelo.
Fim do Flashback
Eu não sabia onde estava e não sabia para onde correr. Tudo o que sabia era que precisava continuar correndo para que eles não me alcançassem. Queria tanto não estar naquele lugar. Queria tanto estar longe. Queria tanto poder voar pra longe, mas levando comigo meus amigos! Talvez pudessem estar em apuros como eu. Pensando melhor, eles não poderiam estar em piores apuros do que eu.
Tentando raciocinar e brigando com minhas lágrimas que teimavam em cair e embaçar minha visão, cheguei a uma rua muito pouco iluminada que se dividia em muitos becos. Sem tempo ou lucidez suficiente para análises, entrei em um dos becos e corri poucos metros a frente antes de sentir o mundo desabando em minhas costas ao constatar que se tratava de um beco sem saída. Quando parei de correr bruscamente, por um segundo me senti aliviada por parar, mas no segundo seguinte meu coração se apertou tanto, mas tanto, que pensei que poderia sofrer um ataque cardíaco naquele momento. Mirei a enorme parede de concreto erguida à minha frente. Se fosse um muro, talvez, ao menos, eu poderia tentar escalar. Mas, não. Era uma parede. Completamente sólida e frívola, me impedindo de continuar a correr para longe daqueles que me perseguiam. Meu corpo quase caía para frente de tanto que meus músculos intercostais faziam força para puxar o ar para meus pulmões. Minhas pernas tremiam de tal forma que quase não as sentia.
- Ora, ora, ora... - me virei para ver o trio no começo do beco - Acho que você não tem mais para onde correr.
Enquanto eles davam passos, não tão lentos, adentrando o local, eu dava pequenos passos incertos para trás até minhas costas tocarem a parede. Eles sorriram. Continuei a aproximar cada vez mais meu corpo da parede como se ela pudesse me engolir e me tirar dali, fazendo-os soltarem breves risadas. Meus pulmões reclamavam por mais ar, mas parecia que eu não poderia oferecer mais. Agora não somente minhas pernas tremiam, mas todo meu corpo, inclusive meus lábios, enquanto eu fazia um esforço, grande demais diante do meu estado, para não cair em lágrimas. E quando o rapaz que pisara em meu pé se aproximou o bastante, pude constatar mais uma vez como ele era bem mais alto que eu.
- P-por -f-favor... - minha voz saiu em um sussurro embargado pelo choro - M-me deixem... - respirei - Em paz...
Ele tocou meu rosto enquanto a primeira lágrima daquela rodada rolou, molhando-lhe a mão:
- Calma, bonequinha... - fechei fortemente meus olhos enquanto ele enxugava a lágrima teimosa - Não vamos te machucar. Só queremos seu celular e seu dinheiro... - aproximou seu rosto e logo baixou o olhar em direção ao meu pescoço - E o que é essa coisa brilhando aqui? - perguntou enquanto buscava com a mão o que avistou, alcançando rapidamente - Uau... que lindo pingente.
Arregalei meus olhos já entupidos com lágrimas quando ele puxou a bailarina prateada da mamãe.
- N-não... - sussurrei em meio às lágrimas - P-por favor! Levem o que quiserem! Mas i-isso não...
Tudo! Poderiam levar absolutamente tudo que julgassem valioso! Menos o meu pingente. Era da mamãe. Ela o confiou a mim no dia em que a visitei pela última vez no hospital, enquanto embalou Hanabi em seus braços pela última vez.
Naquele momento, parecia que haviam me anestesiado. Acho que, na verdade, o meu medo me anestesiou, pois já não sentia nada e parecia que tudo começou a se movimentar em câmera lenta. Como quando o rapaz em minha frente levantava seu olhar para me mirar chorando quieta, com as pálpebras já pesadas e muito cansadas de resistir. Acho que minhas feições não estavam endurecidas pelo medo, pois ele não me pareceu nem um pouco comovido ao sorrir maliciosamente para mim enquanto seus amigos se aproximavam e se colocavam entre mim e a pouca luz que chegava ao final daquele beco sem saída.
''Beco sem saída...'' - pensei - ''Definitivamente... estou em um beco sem saída...''
Fechei meu olhos, como se aceitando o destino que me esperava.
- Ei, vocês! - uma voz masculina, muito fria, ecoou. Enquanto abria meus olhos lentamente e minha visão se livrava das lágrimas remanescentes, o trio a minha frente se virava para mirar o dono da voz - Deixem a garota em paz... - disse a sombra no início do beco, com o corpo aparentemente enrijecido e com uma postura ereta e desafiadora.
- E quem é você, idiota? - ralhou o que pisara em meu pé impaciente pela interrupção - Não vê que está sobrando aqui? - voltou-se a mim, ignorando o recém chegado.
- Eu mandei deixá-la em paz! - pude ouvir a voz imperiosa com ainda mais fúria, porém sem se elevar muito. O rapaz em minha frente bufou irritado e começou a se virar em direção ao dono da voz.
- Não se meta onde não é da su... OH! - e não pôde completar sua fala, pois o punho cerrado da sombra veio de encontro à sua boca tão fortemente que eu pude ouvir o ruído de seus maxilares se unirem bruscamente.
Ninguém percebera o dono da voz se aproximar tão sorrateiramente. Certamente, o trio que me perseguiu não o levou a sério e esse foi o erro deles, pois após o soco, o que pisara em meu pé caiu atordoado sobre os joelhos uns metros a frente e os outros dois foram acudi-lo. Foi então, que a sombra, também com uma estatura maior do que a minha, colocou-se entre mim e o trio, de costas para mim.
- Você está bem... - aquela voz - Hinata? - e virou-se para mim e arregalei levemente meus olhos quando estes encontraram e reconheceram o par de ônix pelos quais meu coração batia tão loucamente.
Definitivamente, Chouji e Lee mostraram a que viemos. A multidão se agitou com a primeira dupla do Hebi, mas também se agitou muito durante a vez dos primeiros Ninjas. Mirei Suigetsu do outro lado do grande círculo e seu olhar e sorriso ainda me desafiavam. Ele não esperou que estaríamos intimidados ou, ainda, pelo fato de não batalharmos ilegalmente, dançaríamos como inciantes, não é? Soltei uma curta, discreta e sarcástica risada ao cogitar essa possibilidade.
O de cabelos brancos recrutou outra dupla. Mais dois caras, sendo que um era Juugo. Olhei sério para trás mirando Naruto e Kiba. Eles me sorriram totalmente eufóricos. Kiba começou a caminhar para o centro do círculo enquanto estalava o pescoço e Naruto abriu um sorriso menor do que os seus habituais, e mais desafiador também, esfregou o nariz e caminhou ao lado do Inuzuka. Risquei um sorriso quando passaram por mim, mas eles não viram, pois seus olhares miravam fixamente os oponentes à frente.
Primeiro, seria a vez do Hebi novamente. Dançaram uma coreografia praticamente inteira em dupla, com a atitude e os movimentos tão ofensivos quanto os primeiros companheiros. Deram cambalhotas, amparando um ao outro e uma série de movimentos que, ao meu olhar crítico, não pareciam tão sincronizados. Este detalhe poderia passar por despercebido por qualquer um, mas não por mim. Pude ler através daquela coreografia que eles não tinham bem um laço. Meus olhos podem ver esse tipo de coisa, e muitas outras mais, claramente. E não somente em relação à dança, mas também coisas relacionadas à vida em geral. Você pode pensar que possuir essa visão diferenciada, seja muito útil e tal. Mas, na verdade, você acaba vendo coisas demais... Até mesmo coisas que você não quer ver.
Então o alarme soou. E antes que pudesse ouvir o término deste, Naruto e Kiba já haviam saltado num mortal para trás perfeitamente sincronizados, caindo ambos sobre as mãos um pouco atrás, também perfeitamente sincronizados. Por mais bobo que um mortal pudesse parecer naquele lugar onde, certamente, quase todos poderiam dar um, o primeiro passo da performance da segunda dupla Ninja estremeceu aquele galpão, pois explodiram o mortal ao mesmo tempo que a batida da música explodiu também.
Se sincronismo é sinônimo de laços de amizade no Street, ou em qualquer outra dança, então o sincronismo dos Ninjas era perfeito.
Eu não podia estar em meu juízo perfeito! Mas pra falar a verdade... Acho que nunca estive mesmo. Então será que eu tenho juízo?
Enfim! Eu não poderia parar para pensar mesmo. Se parasse, talvez desperdiçaria segundos preciosos e o cometa de calda negro azulada que vi passar, perseguido por três vultos, poderia estar sem brilho agora. Não parei para raciocinar, pois o fiz enquanto já corria o máximo que minhas pernas suportavam seguindo os vultos que se distanciavam cada vez mais, concentrados demais no alvo para perceberem que os seguia de longe. E enquanto corria é que fui me perguntar o que Hinata estaria fazendo ali, sozinha e desprotegida, sendo perseguida por caras tão estranhos. Ela viria sozinha a este lugar? Ela desobedeceria o primo, mesmo depois de ele explicar que queria poupá-la assim como as outras garotas? Ah, sim! Lembrei! Estamos falando de Hyuuga Hinata. E então concluí que ela fora arrastada até aqui pelas outras. E lideradas por Ino ainda por cima! E com todo o apoio de Tenten e o melodrama de Sakura. Acho que estou passando tempo demais com os meus novos amigos...
E ali estava eu. O cara que eu acertei ainda estava caído uns metros a minha frente, paparicado pelos outros dois e Hinata ainda unida à parede atrás de si, com as pérolas arregaladas sobre mim.
- Você está bem? - perguntei novamente, mas ela ainda parecia muito atordoada. E não era para estar?
Ainda que eu não goste muito dessa imagem de bonequinha de porcelana que nossos amigos tem dela, é inegável o fato de que a Hyuuga era muito frágil. Não era difícil surgir em alguém o desejo de protegê-la, mesmo que ela não pedisse por isso. Me pergunto se ela se incomoda com os - na minha humilde opinião - excessos de Neji, Kiba e Shino. Até mesmo daquele bezerro do Akamaru.
Ela ainda estava colada à parede e com as pérolas arregaladas quando me aproximei e me coloquei diante dela:
- Hinata... - chamei enquanto pegava seu rosto trêmulo em minhas mãos, ao que ela soltou um soluço choroso e assustado, como se estivesse saindo de um transe - Fale comigo. - pedi suavemente, temendo que ela estivesse em choque.
- SASUKE, CUIDADO!
E antes que virasse completamente o rosto para mirar o que Hinata anunciara, fui golpeado no ombro, o que me fez cair de lado no chão.
- Sasuke! - ouvi Hinata me chamar quando cai ao chão. Meu ombro doía.
- Eu disse pra você não se meter, mauricinho... - o que golpeei, e o que me golpeara de volta, se aproximava - Agora você me deixou zangado. - parou em minha frente enquanto eu tentava me levantar - Segurem ele! - ordenou e prontamente os outros dois me tiraram do chão pelos braços, erguendo-me de pé diante do que ordenara.
Pude ouvir Hinata soluçar, anunciando um choro de terror. Ela sabia o que aquele cara pretendia. E eu também.
- Pela sua carinha nem você e nem a gracinha ali são daqui. - ele começou.
- Mas não são mesmo! - concordou um dos que me seguravam pelos braços.
- Roupinhas bacanas... Cara de riquinhos. - analisou o outro que me segurava - Só podem ser de Konoha.
- Konoha, é? - ironizou o que estava diante de mim, tirando o olhar do comparsa para repousá-lo sobre mim. Meus músculos faciais estavam tensos, tamanha a intensidade de minha raiva - Vamos te mandar de volta pra lá em uma ambulância, cara... - finalizou erguendo o braço lentamente para trás e preparando um potente soco, enquanto eu assistia a isso cerrando meus dentes e a dupla que me ladeava passou a me segurar mais firmemente.
O primeiro soco veio, acertando em cheio o meu rosto. Enquanto ele o desferia em mim, ouvi um grito feminino e muito fino dizendo ''Não!''. Senti gosto de sangue momentos depois. Era a parte interna de minha bochecha, certamente. Eu teria caído se não fossem os dois caras me segurando. Tratei de me colocar de pé rapidamente, tentando me esquivar dos dois, mas ainda estava tonto por causa do soco.
- Onde pensa que vai? - perguntou um deles.
- Eu ainda não terminei... - informou meu ''agressor'' preparando o segundo soco, o qual, eu tinha certeza, destinava-se ao meu abdômen.
- Pare, por favor! - Hinata pediu em prantos.
- Não se meta, gracinha! - advertiu ele a mirando e a fazendo estremecer de medo - Eu ainda não terminei com você também. - como ele se atrevia a ameaçá-la assim? Ele começou a se virar - Antes eu vou terminar de quebrar a cara desse filha da... - e com minha raiva triplicada, desferi um chute em seu peito, apoiando-me nos dois idiotas que me seguravam. Fui rápido o bastante para golpeá-lo, mas não o suficiente para me desvincilhar dos outros dois, que me seguraram com mais força ainda, enquanto eu me movia freneticamente para me livrar deles.
O golpeado caiu sentado e ofegava um pouco. Demorou para se recuperar e se levantar um pouco desajeitado. Quando seus olhos encontraram os meus, pude ver o ódio queimando neles. E isso não me intimidou, só me fez sentir ainda mais raiva. A cada passo lento, ele me prometia em silêncio que eu pagaria por minha ousadia. Eu só o esperava, até mesmo com certa ansiedade.
- Seu... - ele rosnou - Eu vou acabar com você! - posicionou-se de lado preparando um chute.
Fechei os olhos por reflexo, e esperei. Ouvi o golpe. Esperei um pouco, pois geralmente a dor vem apenas uns milésimos de segundo depois. Mas a dor não veio. Ouvi ainda algo cair no chão desajeito e de forma brusca. Abri os olhos, e o que vi me impressiona até hoje quando me lembro. Como se fosse sempre a primeira vez que via a cena.
Meu ''agressor'' esparramado debilmente sobre o chão, quase inconsciente. E logo atrás, uma Hinata muito ofegante, com as pérolas arregaladas, a face molhada por lágrimas quase secas, e um comprido pedaço de madeira tremendo em suas duas mãos. Podia ouvir sua respiração intercalada com gemidos confusos e assustados. A dupla a me segurar assistia a cena tão incrédulos quanto eu:
- Hideki...? - chamou um.
- Cara, você tá legal? - perguntou o outro.
E não desperdicei a oportunidade. Não levou muitos segundos após o golpe certeiro de Hinata sobre a cabeça do tal Hideki quando senti o aperto em meus braços afrouxarem. Então, rapidamente, dei uma cotovelada em um e depois no outro e me libertei, finalmente. Desferi um soco em um e depois me virei e dei uma joelhada no rosto do outro, pois este havia lançado o tronco para frente pela minha cotovelada. Ambos caíram sobre os joelhos e gemiam de dor. Meus olhos buscaram por Hinata e ela ainda estava estática. Corri rapidamente em sua direção e tirei o pedaço de madeira de suas mãos e peguei uma delas:
- Vamos, rápido! - ordenei, a fazendo sair daquele estado e a puxei para começar a correr comigo.
Devo ter puxado sua mão com força, mas não poderia arriscar! Precisávamos nos afastar dali o mais rápido que nossas pernas suportassem. Antes que nos afastássemos muito, pude senti-los fazerem força para se levantar. Olhei para trás e confirmei meu pressentimento. Estavam realmente se levantando, ainda muito atordoados, mas esforçando-se. Mirei a entrada do beco e firmei minha mão na da Hyuuga, a fazendo correr mais depressa.
Quando finalmente saímos do beco, olhei para trás para ver Hinata, que se esforçava para me acompanhar e não me atrasar. Me senti mal por forçá-la tanto, mas queria levá-la para algum lugar seguro, e rápido. Já muito afastados da entrada do beco, ouvimos o trio sair dele e adentrar a rua pela qual fugíamos gritando ameaças. Hinata gemeu e cerrei os dentes fortemente. Esses idiotas! Até quando iam nos perseguir?
Tratei de raciocinar! Precisava raciocinar! Dessa vez eu tinha que raciocinar! De onde eu havia tirado essa mania besta de fazer a idiotice e só depois raciocinar? Por que será que Naruto veio logo à minha mente? Ali não poderia contar com Naruto, meu parceiro do crime. Quase soltei uma risada. E nem com nenhum dos Ninjas e muito menos com Itachi. Por que me lembrei do Itachi naquela hora? Balancei a cabeça para espantar meu monólogo mental. Não era hora pra isso! Logo Hinata iria se cansar muito e não conseguiria dar nem mais um passo, quanto mais correr! Precisávamos sair daquela rua principal, mas não queria arriscar entrar em algum beco sem saída. Meu corpo reclamava pelos golpes que eu havia recebido. Não aguentaria mais uma briga. E tinha a certeza de que com toda a raiva que, não somente eu mas Hinata também, despertamos no trio, principalmente no tal do Hideki, a coisa ia ficar muito feia.
Eu já estava ficando muito nervosa! Neurótica! Chegava a vez de todo mundo, menos a minha! Quando eu iria usar meus poderes de loira fatal?
Tentei me acalmar quando o alarme soou novamente e a outra dupla Hebi cessou os movimentos em uma pose desafiadora, dando lugar a Shino e Shikamaru. Ambos caminharam calmamente, totalmente contrários ao ritmo do rap que ecoava imperiosamente por aquele galpão, e parecendo ignorar os incentivos ferozes da multidão que assistia ao espetáculo da noite.
Minha vontade era de ir até lá e sacudir o Shikamaru! Mas eu tenho noção de perigo suficiente e muito amor pela minha vida para não fazer isso e evitar que Neji cometesse o seu primeiro homicídio. Preciso me preservar, pois o mundo ainda não conheceu Yamanaka Ino! Não vou tirar esse privilégio de ninguém.
Eles finalmente começaram a se movimentar e só então eu percebi que todo aquele suspense só serviu para surpreender a platéia. Não importa o quanto nossas personalidades sejam diferentes. Seja a carrancuda do Neji, tímida da Hinata, estranha do Shino, preguiçosa do Shikamaru, drama queen da Sakura, lúcida de Tenten, nice guy do Lee, amistosa de Chouji, barulhenta de Kiba, fechada de Sasuke e hiperativa de Naruto... Quando fazemos o que sabemos fazer de melhor, tínhamos uma única personalidade: apaixonada! E, por incrível que pareça, Shino e Shikamaru também eram apaixonados pelo que fazemos. E mostraram essa paixão - que só se revelava durante a dança - naquela batalha.
Mesmo amando assistir à performance da dupla Ninja, ainda estava muito ansiosa pela minha vez. Afinal, vim aqui pra isso, não é? Ajudar os meninos! Mesmo eles não querendo. Acho muito fofo eles se preocuparem e tentarem nos proteger. Os machos tem por natureza proteger as fêmeas, certo? O problema é que essa fêmea aqui também gosta de proteger!
Quase gritei de felicidade quando o alarme soou anunciando o fim da performance deles. Não era possível! Teria que ser a minha vez! Avistei o tal do Suigetsu do outro lado do círculo, ainda com aquele sorriso de tubarão branco dele, e ele fez o que eu estava esperando a noite toda: mirou aquela nojenta da Karin e indicou o centro do círculo com a cabeça. Eu poderia dar um beijo na boca dele!
Só que não!
Agora sim! Minha vez! Quase dei o primeiro passo em direção ao centro do círculo, quando um raio me acertou a memória! Não posso ousar respirar sem a ordem de Neji. Olhei para ele, e este já me mirava. Tentei fazer uma carinha fofa de Hinata na tentativa de sensibilizá-lo. Claro que não funcionou. Ele olhou novamente em direção aos nossos desafiadores e Karin já se dirigia ao centro do círculo com mais duas garotas em seus calcanhares.
O Hyuuga olhou novamente para mim e depois para Sakura e depois Tenten. Eu podia sentir que ainda estava relutante em nos deixar batalhar naquela noite, mas aposto que ele pensou ''O que eu posso fazer agora?''. Seus olhos perolados e sérios pousaram sobre nós novamente e, após suspirar, riscou um sorriso muito miúdo e sinalizou com a cabeça, nos ''autorizando''. Ouvi as meninas comemorarem como eu, e nos encaminhamos ao centro, onde aquela ruiva azeda nos esperava com suas amiguinhas.
- Ué... - começou ela parecendo procurar por algo - Tá faltando uma perdedora!
- Quem você pensa que é, sua ruiva de farmácia?! - esbravejei irritadíssima por ela ter se referido a Hinata e a nós daquela maneira - Você vai pagar por isso, sua nojenta! - cerrei o punho em direção a ela desejando voar naquele pescoço magrelo.
- Hum... - murmurou forjando medo - Que medinho de vocês. - ela riu, assim com as hienas que a ladeavam - Pode vir... - desafiou-nos - OXIGENADA BARRAQUEIRA!
Senti meu corpo petrificar.
- AHH! - ouvi as meninas soltarem um grito aterrorizado no segundo seguinte à última frase de Karin.
Eu já sabia MUITO bem porquê.
- O-ohh, não... - gaguejou Tenten. Ela e Sakura estavam um pouco mais atrás de mim e, aposto, buscando distância de mim.
- E-e-ela disse... - começou Sakura com a voz trêmula - AS PALAVRAS PROIBIDAS!
Tentava acompanhar Sasuke com todas as minhas forças e fôlego para não atrasá-lo. Vez ou outra, eu olhava para trás, mas buscava me concentrar para não tropeçar, cair e acabarmos ao alcance do trio. Já começava a realmente me cansar quando senti Sasuke me puxar com mais firmeza para dobrarmos uma esquina que nos direcionou a uma ruela que estava muito pouco iluminada. Ele parou de repente e analisou o lugar, ofegante. Não ousei perguntar absolutamente nada, pois ele parecia concentrado e o que eu menos queria era causar ainda mais problemas do que já havia lhe causado àquela altura. Sua análise durou pouquíssimos segundos e ele me puxou para que eu continuasse a segui-lo. Parecia que ele já havia decidido o que iria fazer. Que rápido! Me guiou rapidamente a um estreito beco e encontrou uma fenda ainda mais estreita e escura, a qual eu nem havia enxergado.
- Entre! - sussurrou bem baixo - Rápido!
Obedeci imediatamente, sem relutar. Me ajeitei na fenda olhando para baixo e com medo de haver algum bicho, mas não demonstrei, pois não queria que ele pensasse que eu era uma garota fresca. Quando ergui meu olhar, dei de cara com o peito de Sasuke. Ele havia entrado depois de mim e agora estávamos muito, muito - mas MUITO - próximos. Ergui um pouco mais o olhar e encontrei o sério de Sasuke.
- S-sasuke... - sentia minhas bochechas arderam conforme me dava conta do quanto nossos corpos estavam próximos.
- Shhh... - me silenciou espalmando a mão sobre minha boca suavemente enquanto colava o corpo ao meu. Arregalei os olhos e tentei reter na garganta o ruído de surpresa que queria sair. Agora sentia toda a cabeça arder de vergonha.
Sasuke havia me silenciado pois ouvira o trio se aproximar. Eles já haviam adentrado a ruela pela qual passamos, mas não o estreito beco que continha a fenda. Estava realmente escuro. A luz que vinha da rua principal não alcançava a fenda, somente a escassa luz da lua. Podíamos ouvir os passos deles e também a conversa:
- Onde aqueles dois se meteram?
- Posso jurar que os vi entrando por aqui. - era a voz de Hideki, aquele que pisara em meu pé no início desse pesadelo.
Enquanto conversavam, Sasuke afrouxava o leve aperto sobre minha boca olhando intensamente dentro dos meus olhos como me dizendo ''Vou confiar em você.''
- Podem ter entrado no próximo.
- Não. - ele insistia, o que me fez estremecer, fazendo Sasuke me abraçar na tentativa de me acalmar e impedir que eu emitisse algum som - Eu tenho certeza que estão por aqui...
- Tá muito escuro, cara. Vamos embora.
- É, Hideki. Já cansei de correr atrás deles.
A teimosia de Hideki me desesperava. O que ele tanto queria de nós, afinal de contas? Eu só torcia para que desistissem e fossem embora logo. Fechei fortemente os olhos e escondi o rosto no peito de Sasuke, como se assim pudesse ficar invisível. Minha respiração estava ofegante e certamente o Uchiha podia sentir, já que nossos corpos estavam colados. Não queria ser tão fraca daquela maneira, mas eu estava aterrorizada com aquilo tudo. Ele já havia me ajudado tanto naquele fatídico dia da reunião de pais na academia... ''O que ele deve pensar de mim?'' eu me perguntava.
- Quando eu puser as minhas mãos naqueles dois... - a voz de Hideki saía entre os dentes, furiosamente - Eu... eu vou... AH! - e ouvimos o som de latões de lixo irem brutalmente ao chão, me fazendo estremecer novamente nos braços de Sasuke, que me conteve.
- Nós nunca mais vamos vê-los de novo, Hideki.
- É. Não precisa ficar desse jeito.
- Eu nunca esqueço um rosto! - garantiu Hideki com sua voz próxima de onde estávamos escondidos. Com aquela proximidade, segurei minha respiração por uns segundos, como se caso eu não o fizesse, o trio pudesse ouvi-la e nos encontrar na escuridão daquela fenda - E quando encontrá-los novamente... - senti Sasuke endurecer - Vou acabar com os dois... - sua voz já estava se distanciando.
- Relaxa, Hideki...
- Vamos voltar para o galpão. A batalha já deve ter começado há um tempão, com certeza! - as vozes estavam se distanciando mais e mais.
- É! Fiquei sabendo que o Hebi desafiou uns playboyzinhos de Konoha e que... - já não podíamos ouvir nada mais que murmurinhos, que cessaram instantes depois.
E eu pensando que aquela noite não poderia piorar...
Tudo que eu tentei fazer ao impedir a vinda das garotas era TENTAR manter o controle daquela situação na qual acabei colocando os Ninjas. Não me arrependi nem por um segundo de ter aceitado o desafio, mas depois de ouvir o que Karin falara para Ino, eu simplesmente desisti de tentar administrar tudo aquilo.
A palavra terminantemente proibida de ser proferida na presença de Akimichi Chouji era gordo, bem como qualquer variável desta.
Agora... as duas únicas palavras que eram TERMINANTEMENTE, IRREVOGAVELMENTE, DEFINITIVAMENTE e EXPRESSAMENTE proibidas de serem proferidas na presença de Yamanaka Ino eram... eram...
Oxigenada e barraqueira.
Não gostava nem mesmo de proferi-las mentalmente, pois temia que de alguma forma ela pudesse ouvir. Me arrepio só de pensar no que ela poderia fazer e também no que ela faria naquele momento para se vingar de Karin. Pobre Karin...
Se tinha uma coisa que ninguém poderia cogitar em fazer era duvidar da naturalidade dos fios de Ino. Era um ultraje! Assim como referir-se a ela como alguém encrenqueira e sem classe. Sem classe ela não era. Agora encrenqueira... era outra história.
Mirei os caras uns metros atrás de mim. Uma mistura de expressões estavam estampadas em suas faces, tipo surpresa, tensão, PÂNICO! Direcionei o olhar para o centro do círculo para encontrar uma Tenten indecisa, uma Sakura prestes a infartar, e uma Ino petrificada.
- Ah, cara... - disse para mim mesmo, infeliz.
O DJ cessou a música por momento e parecia que todos ali notaram a tensão no ar. Quem não poderia sentir? Karin tinha uma interrogação no semblante e pude ver quando se irritou:
- Qual é o problema, perdedoras?! - agulhou - Ainda estou esperando!
- Karin... - surpreendentemente, era Ino, falando entre os dentes - SUA VAAAAAAAAAAAAAAAACA! - explodiu, colocando-se em posição de ataque com os punhos mirando a ruiva, que levara um baita susto - EU VOU TE VIRAR DO AVESSO! - ameaçou pronta para saltar em Karin como uma leoa faminta pela carne de uma gazela indefesa.
- Ino, não! - pediu Tenten fazendo força para segurá-la e impedir que a loira... er... virasse Karin do avesso.
- É! - reforçou Sakura após recuperar-se de seu quase infarto - Nos vingaremos fazendo aquilo que viemos fazer!
A loira cedeu e eu respirei fundo. Pelo menos ela não iria mandar ninguém para uma UTI naquela noite. Me virei para mirar os caras logo atrás de mim, e eles respiravam mais aliviados, com os olhos fechados. Suspirei, assim como eles. Quando abriram os olhos novamente, pude notar que de súbito suas expressões tranquilizadas transfomaram-se e se contorciam em pânico novamente enquanto apontavam para o centro do círculo. Me virei novamente, temeroso pelo que havia a frente e, quando finalmente mirei a direção que me indicaram, só havia Karin e sua equipe, Sakura e Tenten. Estremeci e comecei a procurar por aquela maluca com o olhar, virando o rosto de um lado para o outro freneticamente.
Quando finalmente meus olhos repousaram sobre a loira, a vi marchando a passos endurecidos em direção a Kaname - o cara que nos recepcionara e mediava a batalha -, que a mirava de onde estava, aterrorizado. Ino exalava ira por seus poros, deixando um rastro de pavor por onde pisava.
- Ino, onde você vai?! - a Yamanaka ignorava a voz das amigas.
Quando se aproximou de Kaname, que posicionava os braços frente ao corpo tentando construir uma muralha para protegê-lo, Ino arrancou-lhe mal educadamente o o microfone de uma de suas mãos e buscou algo com o olhar:
- EI, DJ! - chamou-o e este revelou somente a cabeça, enquanto o restante de seu corpo se encontrava atrás da mesa de som debilmente escondido - TOCA CIARA!
- Ora, ninguém pede música no meu territó... - Kaname não pôde finalizar a frase, pois Ino já havia recolhido o colarinho de seu casaco com uma das mãos mirando-o ferozmente.
- Você dizia... - rosnou a Yamanaka aproximando seu rosto assustadoramente.
- FAÇA O QUE ELA DIZ! - gritaram Tenten e Sakura desesperadamente ao DJ, tentando garantir que Kaname saísse daquele galpão consciente.
O coitado se levantava e, com as mãos trêmulas, recolocou os fones nos ouvidos e apertava os botões de seu notebook desajeitadamente buscando fazer tudo bem rápido para evitar levar Ino a um nível muito mais elevado de ira. A Yamanaka só começou a caminhar novamente quando a música recomeçou e se colocou entre Sakura e Tenten. Sua face estava menos irada e mais séria. Karin sorriu e girou nos calcanhares para começar a sua performance.
Eu tinha que admitir que o Hebi era um time bom. Não tão bom quanto nós, é claro! Mas eram adversários que tinham a capacidade de fazer, pelo menos, com que nos esforçássemos. Se tinha uma coisa que eu sempre dizia aos meus amigos era: Respeite o adversário. Dizia isso no sentido de não subestimá-los, pois isso é sinônimo de ego, que por sua vez era sinônimo de imprudência, e isto era sinônimo de derrota. E eu, Hyuuga Neji, detesto perder!
Karin e suas companheiras impressionaram os expectadores com sua performance um tanto ''ousada''. Acho que ''ousada'' era uma qualidade meio pobre para definir aquilo, pois elas realmente recorreram um pouco de seus dotes femininos para destacarem-se. Não somente os meus amigos, mas os demais rapazes do local estavam vidrados. Vez ou outra, ouvia-se um ''fiu-fiu'', uma torcida organizada, ou algo do tipo. As Ninjas no centro assistiam inexpressivas enquanto em certos momentos da apresentação, Karin se aproximava para provocá-las. Talvez ela estivesse tentando intimidá-las ou simplesmente não havia entendido ainda que mexer com Ino poderia ser um risco fatal. Permaneci inexpressivo, assim como as Ninjas, assistindo àquilo. Ainda sentia um leve incômodo por vê-las no centro do círculo esperando o alarme anunciar a vez delas, pois não era para estarem ali. Não consegui evitar aquilo! E por mais que Hinata não estivesse ali com elas - o que me deixaria enlouquecido de preocupação -, meu coração se contorcia no peito imaginado onde minha prima estaria.
- Hinata... - chamei num sussurro, mirando a lua parcialmente encoberta por nuvens escuras através de uma das únicas janelas no teto do galpão. E o Uchiha? Onde foi que aquele idiota se meteu?
Despertei de meus devaneios preocupados com minha prima e enfurecidos com Sasuke quando o alarme soou. Voltei meus olhos ao trio feminino adversário, que finalizava sua performance, se afastando um pouco do centro para ceder o espaço ao trio de Ninjas mais à frente. Confesso que fiquei um tanto ansioso. Meus amigos se aproximaram um pouco mais de mim. As três Ninjas viraram os rostos para nós e sorriram como se dissessem ''Confiem em nós.'', e imediatamente retornaram os olhares às adversárias ao soar da música ''Like a Boy'', da artista que Ino exigira. Sorri satisfeito, ainda que minha razão ainda gritasse que era loucura estarem batalhando.
Seus passos intercalavam a delicadeza feminina e a firmeza exigida pela batida da música. Eram muito expressivas e demonstraram toda a confiança inerente a letra da música. Os primeiros minutos da performance contou com passos mais femininos e com uma pitada de sensualidade que chegou a superar, em charme, a performance da fração feminina do Hebi. Não pude deixar de me sentir orgulhoso. Que elas não saibam disso NUNCA! E, pelo visto, meus amigos compartilhavam do mesmo sentimento, pois Naruto, Kiba, Lee e Chouji agora torciam freneticamente por nossas companheiras.
Foi então que, em plena performance, as três desfilaram em direção a nós:
- Deem seus casacos! - ordenou Ino entre os dentes expostos em um sorriso.
- Para que?! - ouvi os caras perguntando.
- Andem logo! - reforçou Tenten esperando o casaco de Lee.
- E os bonés! - acrescentou Sakura arrancando o boné de Naruto, para depois Tenten fazer o mesmo com o de Lee. Ino fisgou o boné de Kiba e ainda o óculos de Shino.
- Ino! - repreendeu o Aburame incomodado.
E as pequenas ''compras'' duraram segundos antes das três retornarem ao centro círculo sob olhares muito curiosos enquanto se adornavam do que pegaram de nós. Sakura pegou o boné e o casaco de Naruto, Tenten os de Lee e Ino, MEU casaco, o boné de Kiba e os óculos escuros de um Shino revoltado. Posicionaram-se rapidamente de frente às três do Hebi com uma postura masculina e esperaram pelo momento certo da música para, finalmente, explodirem! Dali em diante, dançaram com movimentos mais endurecidos, travados e brutos, como garotos. Risquei um sorriso, ao mesmo tempo em que soltei um breve riso, ao vê-las reproduzindo típicos gestos masculinos, como exibir os bíceps e fazer menção do... er... ''amigo''. Entenderam? Como o Michael Jackson. Vocês sabem! Colocando a mão ali perto da virilha! Não me obriguem a falar! Foram ainda mais ousadas ao invadirem a área adversária e ''darem em cima'' das três do Hebi, simulando bem como um garoto pode ser invasivo e insistente.
Eu conseguia ler, através da atitude daquela performance delas, a mensagem que passavam, ainda que talvez não intencionalmente. Protestavam contra uma ditadura amorosa masculina sobre as garotas. Não sou um bom conhecedor do mundo feminino, mas ninguém precisa ser nenhum gênio para saber o que elas amam e o que elas detestam. Não atender o telefone quando ligam, não escutar quando falam, serem usadas como brinquedos, grosseria, descaso, egoísmo, mentiras, infidelidade...
Raciocinando bem...
Acho que os homens também deveriam detestar essas coisas. Eu, pelo menos, detestaria.
Queriam um príncipe, mas não um super-herói. Um namorado, mas não outro pai. Um apoio, mas não um patrão. Queriam caminhar de mãos dadas, mas não queriam algemas. Queriam andar lado a lado, e não atrás. Nossa, isso é tão complexo! Afinal de contas... O que querem essas mulheres?!
Os caras ao meu lado comemoravam antes mesmo da performance acabar. Estavam orgulhos, como eu. Nunca poderia imaginar que as garotas se tornariam um trunfo para nós. Não que eu não as considerasse talentosas, muito pelo contrário! Mas nunca poderia cogitar a possibilidade de tudo correr bem, ainda mais depois de dois desaparecimentos, muitos pré-infartos e um surto de ira de Ino.
E quando a vez delas finalmente acabou, sorriram vitoriosamente para as adversárias, principalmente Ino, e caminharam para perto de nós, sendo recebidas com parabéns e sorrisos, mas também com uma cara feia de Shino para Ino, que não se importou nem um pouco. Não pude deixar de sorrir para elas também, mas eu não ia parabenizá-las. Não ia mesmo! Ainda estavam ali contra a minha vontade. E ao voltar meus olhos ao centro círculo, vi um Suigetsu irritantemente parado, me esperando.
- Minha vez... - anunciei aos Ninjas, que me acompanharam com olhares tensos enquanto me pus a caminhar recolocando meu casaco que Ino me devolvera.
Enquanto caminhava, o líder do Hebi sorriu-me sarcasticamente, e eu só conseguia me lembrar de Lee desfalecido nos braços de Tenten durante o campeonato regional. Eu havia prometido a mim mesmo que não deixaria a raiva me dominar, mas diante daquela atitude tão desumana, tão baixa, eu não poderia me controlar. Não por muito tempo. Quando parei e me posicionei frente a frente a meu adversário, tentava com todas as forças me lembrar que aquilo era uma batalha de street dance e não um vale tudo, pois eu poderia muito bem quebrar aqueles dentes pontiagudos em um instante, tamanha era minha revolta.
Suigetsu não esperou o alarme soar para dar um mortal para trás, quase acertando meu rosto com os pés. Mas não me movi um centímetro sequer e nem mesmo expressei surpresa com o súbito movimento. Eu estava preparado para qualquer coisa ali. Ele se movimentava e me provocava à ira, desferindo socos e chutes no ar, como me convidando a lutar. Quando aquela cara dele fosse o alvo de soco e um chute meus, ele iria se arrepender de me provocar. AH, SE IA!
Continuei inexpressivo por toda sua performance. Assim como as Ninjas haviam feito com as garotas do Hebi, Suigetsu adentrou minha área e colocou-se uns metros atrás de mim. Permaneci imóvel, prevendo o que ele pretendia. Dois segundos depois, ouvi a voz de Naruto me alertar para somente confirmar minhas suspeitas. Dei uma cambalhota para frente enquanto o líder Hebi saltava no lugar onde estava após sua voadora acertar o ar.
- Que cara sujo! - pude ouvir a voz de Kiba.
- Ei, Kaname! - gritou Naruto em minha defesa - Isso não vale!
- Não há regras! - respondeu simplesmente.
Virei o rosto para encontrar Suigetsu ainda agachado no lugar que antes eu ocupava, da maneira como aterrissou. E enquanto me levantava lentamente, o alarme ecoou anunciando a minha vez.
Não sei dizer por quanto tempo permanecemos naquela mesma posição depois que o trio que nos perseguiu até ali se foi. Eu só sei que ainda tinha medo de sair e constatar que eles estavam por perto, que haviam nos preparado uma emboscada e que surgiriam da escuridão para cumprirem suas ameças. Não queria que fizessem ainda mais mal a Sasuke. Oh, céus! Ele me salvou, mas acabou se machucando.
Eu tenho esse poder, essa habilidade... De incomodar a todos ao meu redor. A mamãe, quando viva, o papai, Neji-nii-san... Este último era o que mais tinha trabalho comigo. Nii-san é tão bom pra mim e abuso muito de sua generosidade e de sua paciência. Como ele ainda me aguentava? Como ele continuava a se importar tanto comigo?
Eu me sentia um peso para todos.
Não conseguia nem mesmo ajudar a tia Gina e a Kurenai-sensei a salvar a academia. Nem mesmo consegui convencer meus amigos a não se arriscarem em uma batalha ilegal em um lugar totalmente desconhecido e - agora poderia dizer com propriedade - perigoso. Me sentia uma completa e perfeita idiota.
Não consegui conter as lágrimas e parecia que Sasuke notara:
- Hinata? - sussurrou bem baixinho, mas não ergui meu olhar para mirá-lo - O que foi?
Eu não respondi. Apenas o abracei com mais força, enfiando meu rosto em seu peito e molhando-lhe o casaco azul-marinho.
- Não precisa ter medo... - começou com a voz muito suave e cheia de paciência - Eles já se foram. - alcançou meu queixo com seus dedos e buscou meu olhar - Não vou deixar ninguém machucar você. - me prometeu olhando intensamente dentro dos meus olhos chorosos.
- N-não... é... só isso... - disse entre soluços.
- Então o que é?
- Eu... sou... - solucei novamente - Um fardo para todos!
Fechei meus olhos fortemente, então não pude ver sua reação.
- Do que está falando? - perguntou-me, mas sua voz não parecia nem um pouco confusa. Acho que apenas queria ouvir o que eu tinha a dizer. Ousaria dizer que queria me ouvir desabafar.
- Eu sou fardo que meu pai, Neji-nii-san, tia Gina, Kurenai-sensei, os Ninjas e até você tem de carregar... - disparei entre lágrimas - Não consigo ajudar Kurenai-sensei, não pude evitar que nossos amigos viessem parar neste lugar, Neji-nii-san deve estar muitíssimo preocupado e... - fiz uma pausa para respirar e fungar - Ainda, por minha culpa, você se machucou...
E chorei um pouco mais, envergonhada. Sasuke pareceu processar todas as minhas palavras por um minuto. Ainda não olhava em seus olhos negros. Eu não conseguia.
- Fardo, é?
- Uhum... - confirmei entre soluços.
- Pesado?
- S-sim...
- Hmm... - pareceu ponderar mais coisas - Então acha que o mundo gira em torno de você, Hinata?
Suas palavras me despertaram tão intensamente, que no mesmo segundo ergui meus olhos e busquei seu olhar. As palavras não haviam saído geladas por seus lábios, mas ainda sim, firmes e sérias o suficiente.
- Acha mesmo que tudo o que aconteceu tem a ver com você?
- N-não! - rebati - Não quis dizer isso!
- Pois pareceu. - devolveu ele - Quando disse que era um fardo para todos e que não conseguiu fazer todas aquelas coisas, pareceu que quis dizer que você tem o poder de controlar tudo e que, quando isso não acontece, você fica insatisfeita.
- M-mas eu não...
- Você acha mesmo que poderia evitar o aconteceu com a academia? - me interrompeu - E o que mais você pode fazer para ajudar sua tia e Kurenai-sensei? E o que você, sozinha, poderia fazer para impedir que os outros viessem até este lugar batalhar? Você convive com eles há anos e ainda não os conhece como eu para saber que nada os faria desistir? E é claro que Neji está preocupado. Ele é como seu irmão mais velho.
Baixei meu olhar. Minhas bochechas queimavam intensamente, e meu coração se apertava no peito. O que Sasuke pensava de mim agora? Não queria que ele tivesse uma imagem de mim como uma pessoa egocêntrica, manipuladora ou fraca. Eu não era assim e não queria que ele tivesse uma imagem ruim de mim! Não ele! Não Sasuke! Por que não suportava a ideia do Uchiha me ver com maus olhos? Por que a opinião dele sobre mim me preocupava tanto?
- E quanto a mim... - sua voz me despertou, assim como suas mãos que seguraram meu rosto e me faziam olhar no fundo do par de ônix - Sinto que por você... - fez uma pausa e pareceu mergulhar profundamente dentro dos meus olhos - Eu poderia cometer qualquer loucura... - finalizou secando minhas lágrimas, acariciando seus polegares em cada uma de minhas bochechas.
Senti-me estremecer. Minha garganta secou subitamente e borboletas dançavam sapateado em meu estômago enquanto minhas pernas queriam ceder. Meus lábios estavam entreabertos, buscando disfarçadamente por um maior aporte de ar. Ele pareceu analisar cada traço de minhas feições. Uma corrente elétrica me percorreu quando senti seu corpo tão próximo ao meu, me lembrando que ainda estávamos colados um ao outro no interior daquela fenda escura. Senti sua respiração um pouco mais intensa, então comecei a ofegar também, principalmente quando começou a aproximar lentamente seu rosto do meu.
Ao mesmo tempo em que quase entrava em pânico, ansiava pelo que ele parecia intentar fazer. Num instante, meu corpo pareceu pesado e, no outro parecia leve. Meu coração estava disparado, mas poderia apostar que em meu rosto, minhas expressões eram serenas. Tantos fenômenos contraditórios aconteciam dentro de mim naquele momento... E quando finalmente seu rosto estava bem pertinho do meu, pude sentir sua respiração quente ir contra mim. Sasuke ainda segurava meu rosto com as mãos e, primeiramente, roçou seus lábios aos meus muito suavemente, me fazendo fechar os olhos para melhor apreciar aquele primeiro toque, que fez com minha temperatura fosse às alturas. Acho que ele percebeu que fechei os olhos, pois me castigou mais uns mínimos segundos, fazendo-me esperar, até finalmente selar nossos lábios.
Suigetsu não deveria ter feito aquilo! Mas ele não deveria MESMO!
Uma coisa era aquela VACA da Karin me provocar e eu ter uma crise de ira. Agora, provocar o Neji... Hmm...
Eu deveria ter mais cuidado, sabe? Eu vivo fazendo coisas que acidentalmente enlouquecem o Hyuuga. Só que eu tenho a Hinata para eu me esconder atrás! E atrás de quem Suigetsu se esconderia naquele momento? Eu é que não queria estar na pele de tubarão dele!
O altíssimo e imponente rap que tomara conta do galpão foi o coadjuvante perfeito da performance de Neji. Ele dançou com todos os seus sentimentos, força e talento. Certamente, em sua mente vingativa, aquele Hyuuga maquinava meios e mais meios de dizimar seu adversário. E, não surpreendentemente, ele estava no caminho certo. Não era à toa que reconhecíamos Hyuuga Neji como nosso líder, ainda que não o fosse oficialmente. Neji parecia um líder, dançava como um, mandava como um e agia como um. Estava em sua natureza liderar, assim como era nato seu talento. Merecia o nosso respeito sem esforço. Mas eu não fico enchendo muito a bola dele, para não ficar achando que é o bonzão da parada. Mas reconheço tudo o que ele representa para nós, os Ninjas, apesar de ele me perseguir exageradamente! Tá bom! Eu dou motivo. Tá bom! Eu dou muitos motivos. TÁ BOM! Eu enlouqueço qualquer cidadão!
O fato é que naquele momento Neji se vingava bonito do Hebi! Não chegou a ser humilhante para Suigetsu, afinal ele também era muito bom, mas foi quase. E nosso líder, diga-se de passagem, fazia questão de mostrar que não era como ele e que não precisaria fazer apologia à violência para dar uma surra bem dada em nossos desafiadores.
Ao final do rap, a platéia foi à loucura! Definitivamente, o moreno Hyuuga proporcionou um espetáculo de primeira. Claro! Com a rivalidade quase palpável no ar, seria impossível aquela performance não ser incrível. Gritei o nome de Neji algumas vezes, parabenizando-o, assim como nosso amigos. Suigetsu ainda mantinha na cara aquele sorrisinho sínico. Argh! Que vontade de virar aquele sorriso dele para o outro lado da cabeça com um soco!
O alarme soou novamente e o líder Hebi mirou os companheiros logo atrás, recrutando as três cobras fêmeas. Elas vieram ao seu encontro no centro do círculo e logo uma outra música começou - ''Body'', do Ja Rule. Então iniciaram com uma coreografia em quarteto com foco em Suigetsu, como se fosse o machão com suas fêmeas, sacou? As três sensualizaram um pouco - menos do que da última vez - e o quarteto parecia se divertir com elas lançando sorrisos bem do sa-fa-di-nhos para o líder.
Junto ao alarme, a música cessou e agora era novamente a vez de Neji. E como nós estamos falando de Hyuuga Neji, é CLARO que ele não ficaria por baixo e, antes mesmo de nos recrutar, eu, Sakura e Tenten já havíamos entendido o recado e desfilamos ao seu encontro enquanto a próxima música começava: Hey Daddy, do Usher lindão.
- Agora é que o ego do Neji não vai mais caber dentro dele... - ainda pude ouvir Naruto resmungando antes de nos afastarmos.
Neji nos esperava no centro do círculo com miúdo e satisfeito sorriso riscado nos lábios. E eu não pude resistir a uma piadinha:
- Vamos dançar, papai. - ele segurou charmosamente um riso enquanto as meninas riram da piadinha.
Assim como o quarteto anterior, o foco da performance era Neji e eu e as meninas também usamos de nosso charme para apimentar um pouquinho. Em certo momento da música, Neji abriu levemente os braços e então eu e Sakura demos uma de nossas mãos a ele, e então o líder nos puxou e nós rodopiamos para mais perto de seu corpo, o que arrancou suspiros apaixonados das novas fãs do recinto. Rodopiamos mais uma vez e nos afastamos. Então a foi a vez de Tenten, que surgiu ao seu lado e desfilou em sua frente e executaram uma curta coreografia juntos, que também animou os expectadores. Aproveitei o curtíssimo intervalo para dar uma olhada nos outros garotos e, definitivamente, tinham a inveja descaradamente estampada na cara deles, principalmente pelo fato dele ter arrancado suspiros enamorados da parcela feminina da platéia.
E, novamente, o alarme ecoou. Uma nova música se iniciou e agora todo o time Hebi se espalhava pela área que lhes pertencia e, com firmeza e sincronia, iniciaram uma coreografia grupal bem explosiva.
Eu poderia ficar ali com Hinata para sempre. Se eu realmente pudesse, congelaria o tempo. Talvez eu poderia até mesmo apelar para algo mais realista e menos fantasioso e, simplesmente, sequestrá-la. Mas não faria isso. Não por enquanto...
Lembro-me que quando demos uma primeira pausa durante nosso beijo, nos olhamos uns segundos e pude notar, com satisfação, que Hinata não evitava meus olhos, mas os mirava fixamente. Pude sentir que, apesar de estar envergonhada, não queria fugir de mim. Pelo contrário... Me queria por perto tanto quanto eu a queria cada vez mais perto de mim. Então nos beijamos novamente, com um pouco mais de vontade e necessidade, e daquela vez a Hyuuga retribuía mais confiantemente. Quando finalizamos o segundo beijo, estávamos levemente ofegantes e sua respiração estava um pouco descompassada com a minha. Nos olhamos por uns segundos e então a abracei, desejando que não se afastasse de mim.
Eu não disse nada naquele primeiro momento, e nem ela. Pela primeira vez, não sabia o que dizer. Na verdade, tive receio em dizer alguma coisa e estragar tudo. Em síntese, eu simplesmente não sabia o que fazer ou o que dizer. Era angustiante, mas ao mesmo tempo tão prazerosa aquela incerteza, aquele novo tipo de adrenalina correndo por minhas veias. Não era a adrenalina que era liberada em minha corrente sanguínea quando dançava, embora fosse muito parecida com a nova, que era liberada quando Hyuuga Hinata estava comigo. Hinata era o fator desencadeante dessa nova adrenalina, dessa nova reação em minha vida.
Ponderei um pouco as palavras em minha mente antes de dizê-las, e então disse:
- Precisamos procurar os outros...
- Oh! - ela pareceu retornar à realidade, e fiquei satisfeito em descobrir que eu tinha a habilidade de fazê-la ir para outra dimensão - É verdade! - disse já olhando para mim.
Ela se movimentou como se fôssemos sair dali imediatamente, mas parou quando percebeu que eu não me movi um centímetro sequer:
- Sasuke? - piscou para mim confusa com suas pérolas inocentes - O que foi?
Mirei seu rosto por uns longos instantes, saboreando sua expressão confusa. Toquei seu rosto mais uma vez e sorri ao vê-la corar novamente.
- Não é nada. - respondi à pergunta que me fizera - Eu só... - aproximei meu rosto um pouco mais do dela e completei - Não queria me separar de você ainda.
- Mas não vamos nos separar... - garantiu-me docemente, me surpreendendo por sua resposta tão prontamente proferida, ainda que timidamente - Não mais... - e me riscou um sorriso ainda mais doce.
Meu coração deu um mortal para trás dentro do peito.
- Trate de não se arrepender dessas palavras futuramente, Hyuuga Hinata... - disse com um sorriso malicioso que a fez perder o fôlego momentaneamente. Eu pude notar. E gostei - Foi você quem pediu... - e a beijei novamente, não me importando em desfazer o sorriso satisfeito que se fez em seus lábios.
- Relaaaaaxa, Itachi... - Deidara pedia pela centésima vez - Talvez o seu irmão não estivesse mesmo lá.
- Eu não sei... - respondi, mais para mim mesmo do que para meus amigos - Aquela garota anda com ele.
- Quem? - começou Hidan - Aquela gatinha de cabelo rosa que trombou contigo? Nossa, ela é uma beleza.
- É verdade! - concordou Deidara - Por que uma gata dessas não dá uma trombada em mim também?
- Porque te jogaria no chão, seu fracote! - alfinetou Hidan.
- QUEM VOCÊ ESTÁ CHAMANDO DE FRACOTE, SEU IMBECIL?! - o loiro fez questão de berrar quase em cima de mim, que estava ladeado por ele e por Hidan.
- Vocês são tão infantis... - resmungou Kisame mais atrás com as mãos nos bolsos.
Meus pensamentos - e o início de uma irritante dor de cabeça - me levaram para longe daquela discussão inútil entre meus amigos. Já havíamos deixado o galpão a quase uma hora atrás e ainda não conseguia parar de pensar se meu irmão estava mesmo naquele lugar. Sakura... Acho que o nome dela é Sakura. Ela não estaria ali sozinha, estaria? Não! Lembro-me que fora puxada por uma outra garota que também anda com meu irmão e que nem me notou ali, levando Sakura embora sem responder à minha pergunta. Já havia ligado para o celular de meu irmão caçula, mas todas as nove chamadas caíram na caixa postal. Aquele idiota irresponsável...
Não que estivesse preocupado! Eu só não queria que sobrasse um restinho da ira de Uchiha Fugaku para mim. Meu pai vivia ameaçando me obrigar a abandonar minha banda e, definitivamente, buscava não irritá-lo e tudo o que eu fazia ou era conforme suas ordens e expectativas, ou era escondido para... digamos... poupá-lo. Francamente, um cara de vinte anos precisa de sua liberdade.
- Não é, Itachi?!
- Hã? - a voz de Deidara me despertara, mas não fazia ideia do que ele poderia estar falando.
- Eu disse que amanhã poderíamos ensaiar lá em casa!
- Ah, sim... - me situei - Claro.
- Nem ficamos o suficiente para assistir a tal batalha de street dance. - comentou Sasori, avulso como sempre.
- Fiquei sabendo que um tal de Hebi desafiou um grupo de Konoha. - completava Deidara ao meu lado - Qual era o nome deles mesmo? - coçou o cabeção loiro e parecia fazer uma enorme força para desenterrar a informação de seu cérebro avoado - Guerreiros... Gladiadores... Samurais... Power Rangers...
- Ninjas, seu animal! - ralhou Hidan.
Meu coração parou de bater subitamente e conhecei naquele instante o que pessoas que estão prestes a infartar sentem. Parei de andar imediatamente enquanto os outros continuaram.
- Isso! Ninjas! - confirmou o loiro.
- Que droga de nome é esse? - perguntou Sasori desdenhoso.
- É! - concordou Kisame - Que nome idiota.
Fui recobrando os sentidos e senti o cheiro da ira de Uchiha Fugaku no ar.
- NINJAS?!
E não esperamos o alarme. Sob a liderança de Neji, invadimos até à metade a área do time Hebi e saboreamos aquela coreografia grupal como se fosse a coreografia de nossa vitória. Aquilo tudo já estava me dando uma fome enorme, mas nenhuma pizza, hamburguer ou doce seria mais delicioso do que a vitória sobre aquelas cobras cretinas. Me lembro das meninas dançando charmosamente, e dos caras dançando com força e muita vontade. Queríamos ganhar e estávamos ganhando.
Àquela altura da batalha eu já deveria estar exausto. Meus quilinhos a mais às vezes me rendiam um pouco mais de fadiga do que em meus amigos, mas nada tão grave. Minha mãe sempre dizia que esses quilinhos eram o meu charme, mas que meu melhor e maior dote era meu coração. O caso era que eu estava tão eufórico, tão elétrico e tão concentrado, que não parei nem mesmo para me autoanalisar e perceber se estava cansado demais.
Lembrei do campeonato regional e de outros menores que participamos. Nossos pais costumavam encrencar no começo, quando lhes pedíamos autorização. Imagina o que fariam conosco se descobrissem que viemos ao subúrbio de Suna batalhar?! Perco a fome só de imaginar a fúria dos meus pais que, na verdade, não chegaria nem nas solas da fúria do tio/pai de Neji e Hinata, da mãe de Sakura, do pai de Sasuke, do avô de Naruto e da mãe de Shikamaru. Um arrepio sinistro se espalhou por minha espinha ao imaginar fumaça saindo das narinas de uma senhora Nara colérica.
O final de nossa performance e também o da batalha foi anunciado pelo alarme. E antes de nos seguir para o nosso lado do círculo - sendo ovacionados pelos expectadores - pude ver Ino lançar um sorriso vitorioso a Karin e jogar as madeixas loiras para trás ao girar nos calcanhares e começar a nos seguir. Essa Ino...
Kaname encaminhou-se ao centro do círculo com o microfone - outrora raptado por Ino - em uma das mãos. Ao chegar, ergueu o objeto e direcionou a fala à platéia que, em resposta, gritou fervorosamente. Ele disse coisas e mais coisas como qualquer bom apresentador. Estávamos ansiosos pelo resultado, pois sabíamos que os Ninjas fizeram seu melhor naquela noite e que, por isso, nossa vitória seria merecida. Mas estranhamente, todas as cobras do Hebi tinham estampados em seu rostos sorrisos confiantes. Confiantes até demais. Kaname enrolou um pouco mais para só depois anunciar os vencedores:
- E nessa noite, a vitória pertence... - fez um suspense desnecessário - AO TIME HEBI!
- O QUÊ?! - a revolta de Ino fora abafada por comemorações de uma parte da platéia e vaias da outra.
- Não é possível! - exclamou Sakura que, assim como os outros Ninjas, mirava alguns do time ''vencedor'' comemorando, indo para junto da platéia, enquanto o trio principal (Suigestsu, Juugo e Karin) nos lançavam sorrisos inchados de superioridade.
- Ei, Kaname! - berrou Kiba, chamando a atenção do mediador - Isso não é justo! Fomos muito melhores do que esses patifes! Quais são os critérios usados aqui para avaliar os times?
- Não chorem, Ninjas... - começou Kaname, displicentemente - Quem sabe na próxima?
O Inuzuka cerrou fortemente os dentes e seus caninos me pareciam bem mais proeminentes como os de um lobo raivoso e intentou se aproximar de Kaname levando consigo sua revolta, mas fora impedido de continuar por Shino:
- Não seja imprudente, Kiba.
- Neji! - tentou Lee.
- Tem alguma coisa errada aqui... - analisava o Hyuuga com os olhos fixos no trio do outro lado do círculo. No entanto, Neji desviou os olhos de seu foco quando Naruto entrou em seu campo de visão, direcionando-se a Kaname - Naruto! Onde você pensa que está indo? - perguntou - Ei! - exclamou ao ser ignorado.
O Uzumaki marchou até onde Kaname estava - ignorando totalmente nossos chamados - e, assim como uma certa loira havia feito mais cedo, arrancou o microfone da mão de Kaname, que tomara um susto pois estava distraído antes do Ninja se aproximar. Loucura deve ser coisa de loiros mesmo.
- EI, PESSOAL! - berrou o Uzumaki no microfone - Meu nome é Uzumaki Naruto e sou um Ninja! - apresentou-se com o dedo polegar apontando para si mesmo - Eu e meus amigos não aceitamos esse resultado absurdo! Os critérios usados aqui são um lixo!
- Naruto... - choramingou Sakura, temendo, assim como nós, as consequências do ato inusitado do loiro.
- Eu não tô nem aí para esses critérios! - continuou, sendo atentamente ouvido por absolutamente todos no recinto - A única coisa que me interessa aqui nessa noite é opinião da galera! - ergueu o braço livre e foi interrompido por gritos animados da platéia - Não é mesmo, galera?! - mais gritos de apoio e aprovação - Então eu quero ouvir o grito para o time Hebi! - o mesmo braço que fora erguido para a plateia indicava agora o time rival.
Os gritos foram altos e animados. Cheguei a pensar que não teríamos chance nenhuma, uma vez que o Hebi era um grupo local e bem conhecido na região de Suna e, certamente, teria um fã-clube garantido. Quando a animação foi se acalmando, Naruto posicionou o microfone próximo à boca novamente:
- Agora eu quero ouvir o grito da galera para os NINJAS! - reergueu o braço livre, deu uma baita ênfase ao nome de nosso grupo e sorriu largamente com os gritos ainda mais altos, animados e aprovadores de todos.
Olhei ao redor e contemplei uma grande e fervorosa torcida. Os outros Ninjas fizeram o mesmo e alguns sorriam surpresos e até mesmo emocionados por todo o reconhecimento por parte deles. Mais gritos, assobios e comemorações.
- NINJAS! NINJAS! NINJAS! NINJAS! - gritavam a palavra que nomeava nosso time e me senti muito emocionado e grato. Não estávamos em um campeonato. Não estávamos apresentando um festival da academia. Estávamos no subúrbio de Suna, em uma batalha não oficial, rodeados de desconhecidos. Desconhecidos estes, que agora torciam por nós!
- Não vá chorar, Chouji... - alfinetou Shikamaru me puxando de volta para fora de meu mundo de pesamentos. Sorri e disse:
- Não vou.
Naruto comemorou ainda com o microfone em suas mãos e se virou para nos olhar. Seu sorriso parecia o maior que já havia sido estampado em seu rosto. Quando deu o primeiro passo em nossa direção, Kaname o virou bruscamente pelo ombro e tomou o microfone de sua mão rudemente. Nós nos surpreendemos com a atitude de Kaname, que agora falava com o Uzumaki, mas não podíamos ouvir o que ele dizia ao loiro. Uns cinco caras mal encarados se aproximavam de onde os dois estavam. Olhei para Shikamaru ao meu lado e esse por sua vez mirou um Neji apreensivo.
E ao voltar meus olhos novamente aos dois no centro do círculo, Naruto já desferia um soco furioso em Kaname.
Opa...
Fiquei em dúvida se seria muito cedo para andar por aí de mãos dados com Hinata. Não sabia se ela me acharia romântico ou extremamente idiota. Mas mesmo assim, arrisquei e segurei sua mão. E continuamos andando de mãos dadas desde que saímos de nosso esconderijo. Alcançamos a rua principal pela qual fugimos de nossos perseguidores anteriormente. Fazer o caminho contrário e ainda por cima de mãos dados com Hinata, me deixou feliz. Calmo.
Caminhávamos em um silêncio que não era totalmente desconfortável. Acho que Hinata gosta de silêncio em alguns momentos, além de estar acostumada a ele, tendo Neji como primo. Eu gosto de silêncio às vezes. Acho que saberíamos respeitar o silêncio um do outro sem problemas. O que não acontece com a maioria das garotas.
Chegamos em uma parte da rua principal a partir da qual iniciava uma alta ladeira. Parei antes do topo, de maneira que não podíamos visualizar a descida ainda. Hinata parou também e seus olhos me perguntavam ''O que foi?''. Olhei para ela e suspirei:
- O que diremos aos outros?
A morena Hyuuga corou e desviou seus olhos para baixo e depois para o lado.
- O que foi? - agora fora minha vez - Não quer que ninguém saiba?
- N-não é isso... - gaguejou.
- Não quer me assumir? - agulhei maliciosamente.
- N-n-n-não é nada disso, Sasuke! - gaguejou ainda mais, visivelmente nervosa - Não pense mal de mim!
- É brincadeira. - disse para acalmá-la, recebendo um olhar perolado reprovador.
- É só que... - pausou, relaxando as feições - Bem, é que... - fechou os olhos e respirou fundo - Talvez... só não seja o melhor momento. - agora já olhava em meus olhos - Entende?
Ela se referia aos problemas da academia, à doença da tia, às circunstâncias naquele exato momento em Suna. Ela não precisou me dizer. Eu já sabia. Não estava me dando um fora, não estava me rejeitando e não ficaria me ''cozinhando''. E muito menos tinha vergonha de mim! Apenas era madura demais para sua idade para sair por aí anunciando saltitante um namoro em um período tão conturbado que não envolvia apenas ela, mas muitos outros mais.
- Eu entendo. - respondi - E concordo. - não soltei sua mão e com a outra toquei com as costas uma de suas bochechas - Vamos esperar pelo melhor momento, combinado?
- Combinado. - e sorriu.
Levei uns instantes admirando seu rosto e seu sorriso. Me contive para não beijá-la novamente, pois sabia que não me contentaria com apenas um ou dois. Me afastei um pouco, mas ainda com minha mão dada a Hinata, para convidá-la a caminhar novamente.
- SAI DA FREEEEENTE! - um raio laranja voou entre mim e Hinata nos forçando a nos separar.
- Mas o que...? - perguntei meio tonto e olhando para direção que o raio seguiu - Naruto?!
- C-corram! - ele se virou para nós sem parar de se locomover, correndo uns passos de ré - SALVEM SUAS VIDAS! - gritou quando já estava novamente de costas para nós e disparou endoidecido.
- O que?! - perguntei ainda mirando o loiro correndo acelerado na direção pela qual eu e Hinata viemos momentos antes.
E antes que eu pudesse me voltar totalmente para a Hyuuga e tentar raciocinar, Hinata fora capturada pela mão e puxada por um Neji apressado que agora corria seguindo o raio Uzumaki e forçando a prima a correr também. A garota ainda me lançou um olhar, virando a cabeça para trás enquanto corria, ainda mais confusa do que antes. Virei-me para a direção oposta aos dos apressadinhos e corri pouquíssimos passos até o topo da ladeira e o que vi me fez arregalar os olhos e entreabrir os lábios tamanha e insana era a cena que via:
Os outros Ninjas vinham correndo em minha direção e em seu encalço, um grupo de aproximadamente dez caras mal encarados que exalavam suas más intenções. Passaram por mim, primeiramente, Shikamaru e Ino. Depois Sakura, Shino e Kiba. Lee segurando fortemente a mão de Tenten, a forçando a correr em seu ritmo. E o último fora Chouji. Mirei meus amigos correndo pela mesma direção de Naruto, Neji e Hinata e ainda me sentia muito abobalhado. Olhei novamente para a ladeira abaixo e o grupo perseguidor já alcançava o meio desta. Foi aí que eu acordei e comecei a correr também. Mas que droga! Quantas vezes mais eu iria correr naquela noite?!
Corri o mais rápido que conseguia naquele momento, conseguindo ultrapassar Chouji, Lee e Tenten, depois Kiba, Sakura e Shino, Shikamaru e Ino, e finalmente alcancei Neji e Hinata. Eu só me perguntava o que havia acontecido para estarmos fugindo de um bando de gorilas bombados e furiosos. Visualizei Naruto ainda liderando aquele maratona e o loiro parou de repente. Na verdade, para onde iríamos correr? Ou pensaram que correríamos para o resto da vida?
- Acho melhor nos separarmos! - gritou Shino para que todos ouvissem.
- Separar?! - ralhou Kiba próximo a ele - Tá maluco?!
- Talvez tenhamos uma chance! - reforçou Tenten.
- Ninguém vai para lugar nenhum! - disse um Neji autoritário - Não vou perder mais ninguém de vista! - puxou Hinata com mais força para que continuasse a correr e me lançou um olhar reprovador que, definitivamente, não ficou sem resposta.
- AAAHHHH! - nossas atenções se voltaram a Naruto quando ouvimos seu grito. À sua frente, uma van branca muito conhecida vinha em alta velocidade e fez uma curva perigosamente radical, como em um filme de ação. A porta lateral de correr com a logomarca da academia de dança Hyuuga Hikari se abriu bruscamente:
- ENTREM! RÁPIDO!
- Kurenai-sensei?! - exclamou o loiro ainda correndo e reconhecendo a pessoa ao volante.
- RÁPIDO! - reforçou nossa sensei.
Apertei o passo e ultrapassei Neji e Hinata. Ao chegar perto o suficiente da van aberta, Naruto mergulhou para dentro e caiu deitado de bruços sobre o banco. Quando cheguei perto, também mergulhei, aterrissando sobre o Uzumaki, que soltou um grito abafado:
- AHHHH! - berrou escandaloso - SASUKE, SAI DE CIMA DE MIM!
Rolei para o chão da van, não obedecendo a ordem de Naruto, mas para evitar que Shikamaru e Ino caíssem sobre mim, o que não foi possível para meu melhor amigo, já que perdeu tempo me xingando. E então Neji e Hinata adentraram a van um pouco mais civilizadamente do que os outros. Shikamaru e Ino tentavam se levantar de cima de Naruto, mas Kiba puxou Shino e ambos foram de encontro ao Nara e à Yamanaka. O grito de Naruto se sobressaiu aos demais. Procurei por Hinata e a encontrei escalando a parte trás do banco da frente da van, ao lado de Kurenai-sensei. Se esgueirou e conseguiu subir e, desajeitadamente - mas de um de modo muito meigo - caiu de mal jeito no banco da frente, ficando com as pernas para cima. Sorri divertido com a cena - intercalada ao caos na parte de trás daquela van - e cogitei ajudá-la, mas o anúncio de Lee me fez voltar os olhos para a porta.
- Aí vou eu! - e mergulhou dramaticamente van a dentro com Tenten em seu colo.
Naruto ainda não conseguira sair debaixo dos demais e, àquela altura, já sentia um pouco de pena dele. Sakura veio atrás, tentando entrar feito gente, mas acabou tropeçando no pé de alguém e caindo em cima dos demais.
- SAIAM DE CIMA DE MIM! - berrava Naruto.
- SAI DE CIMA DE MIM, SHIKAMARU! - berrava Ino.
- NÃO CHUTA A MINHA CARA! - rosnou um Kiba enfurecido após levar um potente chute de Ino quando tentou se desvincilhar de Shikamaru.
- Droga, Kiba! - ralhou Shino - Vai pra lá!
- VAI VOCÊ! - devolveu o Inuzuka entre os dentes.
- Ai! - ouvi o grito finíssimo de Tenten - Alguém passou a mão em mim!
- Não reclame! - começou Kiba - Eu também estou me sentindo violado!
- Ei, cadê o... - Lee procurava pelo único Ninja que ainda não adentrara a van.
- ESPEREM POR MIM! - o Akimichi vinha correndo o mais depressa que podia e muitos metros atrás de si já se podia visualizar nossos caçadores ao longe e se aproximando rapidamente.
- O-o-ohh... - começou Shikamaru já se preparando para o impacto - Chouji... Chouji... CHOUJI, ESPERA!
Mas Chouji ignorou completamente os pedidos desesperados de calma estampados ridiculamente em nossos rostos e saltou van a dentro, a fazendo balançar:
- AAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHH! - todos gritamos, mas o grito de Naruto era sôfrego. Pobre Uzumaki. Me perguntava se sua coluna havia resistido a tantos impactos.
- Kurenai-sensei! - chamei ao me aproximar da porta e constatar que o grupo que nos perseguia já estava se aproximando - Vai! Vai!
E a sensei não esperou mais e arrancou bruscamente com o veículo nos fazendo chacoalhar como mercadorias em um caminhão, sendo que quase fui arremessado porta a fora, já que esta ainda se encontrava aberta. E com dificuldade, a deslizei e a fechei depois de dar uma última olhada no grupo que apertava o passo para ainda tentar nos alcançar. Me senti em um filme da franquia ''Velozes e Furiosos''.
- Naruto? - chamou Tenten - Você tá bem?
- Hummm... - murmurava ele enfraquecido - Minhas costas... - choramingava.
Chouji soltou uma risadinha sem graça enquanto coçava a parte de trás da cabeça:
- Foi mal, galera... - ainda sorria nervosamente - Fiquei com medo de ficar para trás.
- Hummm... - o Uzumaki ainda murmurava. Ele ficaria bem.
- Que noite pavorosa! - começou Sakura - Corremos um risco enorme! Essa foi uma péssima ideia!
- Calma, Sakura. Já passou. - Kiba tentava tranquilizar a rósea - Ainda bem que a Kurenai-sensei apareceu e... - e não pôde finalizar sua fala pois nossa sensei desviou o olhar rubro do trânsito para pousá-lo gelidamente sobre nós e depois sobre Hinata no banco da frente ao seu lado, que acabou se encolhendo, envergonhada.
Com o olhar fixo no trânsito novamente, a sensei dirigiu por longos minutos totalmente calada. O clima estava muito pesado. Tanto que parecia que chegava a adicionar uns quilos ao veículo. Não ousamos dizer nenhuma só palavra até ela mesma iniciar alguma conversa, nem ao menos perguntar como ela nos encontrou exatamente ali. Fiquei apreensivo com isso. O inquietante é que não sabíamos quando uma possível conversa iria começar, pois ainda havia um longo pedaço do caminho de volta a Konoha a percorrer.
- Estou extremamente decepcionada... - começou a sensei repentinamente ao parar para um sinal vermelho - Não acredito que me desobedeceram dessa maneira.
- Kurenai-sensei, nós...
- Não quero ouvir! - interrompeu Neji friamente - Eu quero falar! - e seguiu quando o sinal ficou verde - Que irresponsabilidade! O que eu sempre disse sobre participar de batalhas não oficiais? É uma grande perda de tempo, além de ser perigoso! - ela continuava a falar enquanto suas mãos movimentavam suavemente o voltante, contrastando com a dureza em sua voz - Como esperam que eu confie em vocês agora? E o que o acham que vai acontecer quando seus pais ficarem sabendo? - nossos olhares, antes cabisbaixos, ergueram-se rapidamente em direção à motorista.
- Nossos pais? - perguntou Kiba.
- Não! - exclamou Sakura - Por favor, Kurenai-sensei! Não pode contar aos nossos pais!
- Não posso? - ironizou ela, com uma risada sem humor - Não esperam que eu acoberte vocês como uma adolescente, não é? Eu também sou mãe, vocês sabem.
Dessa eu não sabia! Mas como ninguém mais tinha surpresa estampada no rosto, conclui que somente eu não sabia mesmo desse fato por ser o novato.
- Mas, Kurenai-sensei! - chamou Tenten - Se contar a eles... Vão nos proibir de participar do festival!
Olhei para Hinata no banco da frente e esta olhou automaticamente para Kurenai, que retribuiu o olhar:
- Deveriam ter pensado nisso antes. - voltou a atenção à sua frente.
Me preocupei com Hinata quando a vi baixar o olhar melancolicamente. O silêncio pairou por mais alguns minutos, até finalmente a voz da mais velha nos despertar de nossos devaneios preocupados:
- Vocês sabem porque eu odeio batalhas ilegais? - ela perguntou.
Nos entreolhamos esperando que algum de nós tivesse a resposta, mas ninguém se pronunciou e Kurenai-sensei entendeu a negativa através de nosso silêncio.
- Meu marido era policial. - começou a explicar e deu uma curta pausa parecendo relembrar muitas cenas em sua mente - Ele morreu há dois anos atrás durante uma batida da polícia em uma batalha ilegal em Konoha.
Eu tinha certeza de que meus amigos haviam congelado. Ouvir aquela história me abalou muito mais do que eu gostaria e não tinha como não dar razão à decepção e raiva de nossa sensei diante de nossa atitude. Toda aquela situação deveria estar sendo extremamente dolorosa para ela, principalmente enquanto nos contava a história de seu falecido marido. Eu percebi como não conhecia nada sobre minha sensei. Não sabia que tinha filhos, não sabia que era viúva tão jovem. Então conclui que, definitivamente, ainda não conhecia nem mesmo meus amigos e imaginei o que poderia estar por trás de seus sorrisos e personalidades. Quais eram suas histórias?
Não ousamos dizer mais nada, nem mesmo que sentíamos muito. Tentei evitar, mas fiquei um pouco inquieto sobre como Neji poderia estar se sentindo. Afinal, ele certamente se responsabilizaria por tudo aquilo, mas ninguém nos obrigou a vir. Eu, pelo menos, não vim amarrado. O caminho pareceu bem mais longo do que realmente era. Kurenai-sensei nos deixou um por um em nossas casas e as únicas palavras proferidas eram as necessárias para que pudêssemos guiá-la aos endereços, além dos agradecimentos. O primeiro foi Kiba, que estava sendo aguardado por um Akamaru que latiu e saltou animadamente ao avistar o dono descendo do veículo não tão animado quanto o cão. A próxima foi Sakura, que assim que abrira o portão de sua casa, sua mãe surgira da porta berrando coisas que não pudemos ouvir pois Kurenai-sensei já havia arrancado. E um por um foi deixado em casa.
Na minha vez, saí da van um tanto relutante, mas o fiz sem nada dizer. Me coloquei próximo à janela do carona e Hinata ainda estava cabisbaixa. Mirei a sensei e esta me olhou de volta. Assenti com a cabeça em agradecimento e ela fez o mesmo. Antes de me virar, ainda olhei para Hinata, que ergueu os olhos e esforçou-se para me lançar um sorriso amarelo, que murchou rapidamente. Pisquei meu olho direito a ela e virei em direção ao portão do prédio enquanto a van voltava à pista.
O porteiro me avistou e abriu o portão apertando o botão em sua bancada. Segurei-o, mas antes de adentrá-lo, lancei um último olhar em direção à traseira da van que seguia rumo às casas de Naruto, Ino, e a de Neji e Hinata. Esperei a mesma dobrar a esquina à frente e entrei. Enquanto caminhava fazia uma retrospectiva dos acontecimentos daquela noite esquisita. Eu e os caras saindo da casa de Neji, pegando o metrô para Suna, chegando ao local da batalha...
- Boa noite, Sasuke! - desejou-me o porteiro.
- Boa noite. - respondi automaticamente passando por sua bancada sem olhá-lo e me encaminhei para o elevador.
O visor informava que o elevador se encontrava no terceiro andar. Apertei o botão e esperei, me lembrando de quando eu e os caras adentramos o galpão, e depois vi Orochimaru, o chefe de meu pai. O que ele estaria fazendo ali? Eu tinha certeza de que era ele. Meus olhos não me enganam. Revivi a cena em que corri pela direção que o advogado seguiu, para encontrar seu Mercedes preto arrancando. O elevador se abriu para mim e o adentrei e enquanto as portas se fechavam novamente, minha mente me mostrou um cometa de cauda negro azulada passando. Arregalei levemente os olhos quando me lembrei dessa parte da noite. Hinata encurralada, eu dando uma de herói, nós dois correndo de mãos dadas e...
Taquei minhas costas à parede do elevador e risquei um sorriso bobo nos lábios ao me lembrar de nosso, ou melhor, nossos beijos.
Fiquei viajando em minhas primeiras memórias com Hyuuga Hinata e logo as portas do elevador se abriram. Segui pelo corredor e quando me aproximava da porta de casa que dava para a cozinha, busquei por minhas chaves no bolso da calça. Encontrei a chave da porta da cozinha entre as outras e a enfiei na fechadura, virando-a com o máximo cuidado para não chacoalharem e fazerem barulho. Abri a porta lentamente e adentrei a passos levíssimos. Tranquei a porta atrás de mim e continuei a caminhar calmamente pela cozinha com cuidado para não esbarrar em nada. Se fosse Naruto, delicado como um rinoceronte, já teria esbarrado em algum móvel, tropeçado em outro e acabaria no chão enrolado em um tapete. Tentei não emitir nenhum som - não um riso, mas um ''Idiota'' - para que minha chegada em casa àquela hora alta da noite não me rendesse uns sermões.
Quando alcancei a esquina que dava de um lado para o corredor que levava aos quartos e do outra a sala, mirei a sala escura para me certificar de que não havia mesmo ninguém. Concluindo que não havia porque estava escuro, dei meu primeiro passo rumo ao meu quarto quando a luz da sala se acendeu sozinha me fazendo congelar de susto e me impedindo de dar qualquer passo à mais.
- A noite foi divertida? - me virei devagar para assistir um Itachi sério se levantando da poltrona do meu pai que ficava perto do interruptor - Irmãozinho...
Muito obrigada pelo carinho e me desculpem, por favor...