Disclaimer: Nenhum dos personagens de Harry Potter me pertencem, blá, blá, blá...

Sinopse: E se Rony tivesse dito sim, ao invés de não?


1. "O que poderia ter sido"

_ Você está indo embora?_ Hermione perguntou. Sua voz estava fraca, tremida.

Rony estava a sua frente, uma mochila nas costas e uma mala pequena aos pés de sua cama. Ele suspirou. Não queria que as coisas acontecessem dessa forma, mas ele não via como poderia ser diferente. Só lamentava fazê-la sofrer.

_ É uma coisa que eu tenho que fazer, Hermione_ ele disse, a olhando fixamente.

_ Não, não tem_ Hermione rebateu, se aproximando_ Você não tem.

_ Hermione...

_ Você não precisa ir tão longe pra jogar quadribol, Rony_ ela continuou, seus olhos estavam brilhantes.

_ Você não entende_ Rony disse, desviando o olhar. Não poderia olhar para aqueles olhos a beira das lágrimas.

_ Tem razão, não entendo_ Hermione falou, se aproximando mais e segurando as mãos dele_ Você pode jogar aqui... Eu sei que você recebeu uma proposta aqui de um time...

_ Da segunda divisão_ Rony a cortou, puxando suas mãos e as enfiando nos bolsos de sua calça jeans.

_ E isso é tão ruim assim?_ a garota perguntou, as primeiras lágrimas começando a cair.

_ Na Nova Zelândia eu vou estar na primeira divisão, num time importante. Eu não posso deixar essa oportunidade passar... Eu tenho a chance de começar por cima, Hermione.

_ Mas e quanto a nós?_ ela perguntou, entre soluços.

_ Nós?

_ Não vamos mais fingir que o que sentimos um pelo outro é apenas amizade, Rony. Nunca foi só amizade.

Ela estava certa. Nunca fora só amizade. Rony respirou fundo. Ele a amava, não podia negar. Mas uma oportunidade como essa, não acontecia todos os dias. Mas isso não queria dizer que deveriam ficar longe um do outro.

_ Então... Vem comigo_ ele pediu, sorrindo pela primeira vez desde que aquela conversa começara.

Mas seu sorriso logo morreu, quando ele viu o olhar ferido que ela lhe lançou.

_ Rony, eu não posso_ ela disse, chorando mais fortemente_ Minha vida toda está aqui. Minha família, meus amigos e tem o estágio no Ministério, você sabe o quanto é importante pra mim... Tudo que eu tenho está aqui. Não pode me pedir pra largar tudo e ir com você...

_ E não é isso que você quer que eu faça?_ Rony perguntou, levemente irritado_ Quer que eu desista do meu sonho pra ficar aqui.

_ Não é nada disso. Você sabe que não é_ Hermione disse, desesperada_ Só estou pedindo pra você esperar mais... Você também pode jogar aqui.

_ Quer que eu seja pra sempre um ninguém?_ ele perguntou.

_ Você é alguém pra mim, Rony. Você é alguém pra sua família, para as pessoas que te amam_ a garota continuou, seu rosto cheio de agonia_ Você não precisa provar nada...

_ Eu preciso sim, Hermione. Pra que esperar pra ser grande, se eu posso ser grande agora?

Rony sabia que estava sendo egoísta, que só estava pensando nele. Mas a sua vida toda, ele esteve a sombra de seus irmãos, de Harry e até mesmo de Hermione. E agora ele tinha a chance de mudar isso. De ser mais do que apenas mais um Weasley ou o melhor amigo de Harry Potter. E ele não podia deixar isso passar.

_ Eu... Eu tenho que ir_ ele disse, evitando encará-la_ A chave de portal vai ser ativada daqui a meia hora. Eu preciso estar no ponto de encontro...

_ Rony, por favor_ Hermione suplicou. Ela se atirou em cima dele, tentando abraçá-lo, tentando impedir que ele fosse.

Rony viu desespero puro no rosto dela. Ele mesmo sentiu que choraria a qualquer momento, mas antes que isso acontecesse, ele teria que ir embora. Nem ela o faria desistir de seu propósito. Gentilmente, ele segurou os braços dela, e a afastou. Hermione o encarou com os olhos vermelhos, ela não precisou dizer nada, pra que Rony soubesse que ela estava implorando.

_ Você é a minha melhor amiga, Hermione_ Rony disse, e lhe deu um beijo na testa. Hermione fechou os olhos.

Ele pegou sua mala no chão, ajeitou melhor a mochila em suas costas e caminhou até a porta do quarto. Se virou para ela uma última vez. Hermione o olhava suplicante, ela estava abraçada ao próprio corpo como se tivesse medo que alguma coisa em sua barriga fosse se desprender.

_ Eu... Eu te amo, Rony_ ela tentou uma última vez. Grossas lágrimas rolavam freneticamente por seu rosto.

Rony quis dizer algo, ele deveria dizer. Mas sabia que se dissesse um "eu também", o adeus seria ainda mais difícil para os dois. Ele então, nada disse. Apenas lhe lançou um último olhar e saiu do quarto.

Os soluços dela preencheram o corredor, e ele desejou mais do que nunca ir embora. Não suportaria mais ouvir aquele choro.


Dois anos depois

Havia conseguido o que queria, era o goleiro titular do Hurricane e estrela principal do time que era o líder do campeonato Neozelandês. Era conhecido no mundo bruxo e amado pela torcida. Tinha um ótimo contrato e várias ofertas de outros times, inclusive alguns da Inglaterra. Mas não, ainda não era a hora de voltar a seu país. Sentia que podia brilhar mais, ser ainda maior do que já era. Aí sim, voltaria.

Não que não sentisse falta de sua família e de seus amigos, é claro que sentia. Mas no momento não havia nada mais importante que sua carreira, que sua fama. Por enquanto, estava bom assim. E de qualquer forma, depois daquela briga com seu pai, achava difícil voltar e as coisas serem como eram.

Ele se espreguiçou no sofá e deu uma boa olhada ao seu redor, com orgulho. Estava na sala de seu apartamento. Sorriu.

Com quase um ano de time, ele conseguiu comprar aquele apartamento. Era imenso. Talvez, muita gente achasse grande demais para uma pessoa só, como seus pais acharam na única vez em que estiveram ali, mas para Rony, era ideal. Finalmente, ele tinha uma lugar grande pra ele e que não precisava dividir com seis irmãos. Era perfeito. Tinha uma sala espaçosa, com um sofá de couro cinza, na frente de uma enorme lareira de pedra. A parede, onde deveriam ficar as janelas, era feita de vidro. Uma enorme parede de vidro. Mais um sorriso. Ele podia ver toda a paisagem por ali. No outro canto da sala, mas três sofás enormes, onde sempre sentava com seus companheiros de time, quando esses vinham a sua casa pra jogar conversa fora. Na outra parede, perto da porta de saída, havia alguns prêmios de melhor goleiro, e as capas de revistas das quais, ele havia sido capa ao longo desses dois anos. Tudo protegido por um vidro. Sua cozinha era depois do corredor que ficava ao lado dessa parede. Era uma grande cozinha. Mas Rony quase nunca entrava lá. Quem normalmente cozinhava para ele, arrumava suas coisas e o lembrava de seus compromissos, era Meg Parker, uma jovem bruxa mestiça, que conheceu quando se arriscou a fazer compras em um mercado perto de sua casa. Imediatamente se tornaram amigos e Meg sempre estava em sua casa o ajudando.

O quarto de Rony, era outro espetáculo à parte. Tão grande quanto os outros cômodos da casa e com mais uma parede de vidro, exatamente igual a da sala, para que dali, ele também pudesse ver a paisagem. Sua cama era king size e cabia umas três pessoas confortavelmente nela. Ele sabia disso, já que as gêmeas Mandy e Cindy, estiveram ali com ele pra provar.

Rony adorava aquele apartamento. Da área de serviço até o enorme banheiro em seu quarto, tudo ali era perfeito pra ele. Afinal, era dele. Ele havia conquistado.

Definitivamente, ele não era mais a sombra. De ninguém.

E sua família, ao invés de ter orgulho, teve a coragem de criticá-lo. Diziam que tinha mudado. Que não era mais o garoto humilde que costumava ser. Se lembrava exatamente das palavras de seu pai, quando ele e sua mãe o estiveram visitando há um ano atrás.

_ Eu olho esse lugar e eu olho pra você e eu não te reconheço mais_ seu pai disse e de fato, parecia estar olhando para um estranho.

E ele se lembrava da resposta que dera a seu pai.

_ O senhor está tão acostumado com pouco, pai, que não consegue apreciar algo realmente bom.

Seu pai estreitou os olhos para ele de uma maneira que ele nunca havia visto antes. E então a briga começou. Disseram coisas horríveis um ao outro, sob os apelos de uma Molly aos prantos. Foi a última vez que falou com seu pai. Até mesmo seus irmãos se afastaram dele, mesmo Harry quase nunca dava notícias. A única ainda um pouco presente, era sua mãe, que mandava cartas duas vezes por mês. Era verdade que Rony quase nunca respondia, mas honestamente, sua mãe deveria saber que ele tinha coisas mais importantes pra fazer do que ficar rabiscando num pergaminho. Ele estava em todas as capas de revistas, então ela devia se basear nisso pra saber que ele estava bem. Pensando em sua mãe, ele havia esquecido o aniversário dela. Fez uma anotação mental para pedir a Meg que comprasse algum presente e com um cartão que já viesse com coisas escritas e que ele só precisasse assinar e então mandaria pra ela. Rony não achava que ela se importaria com os "parabéns" com uns dias de atraso. Ah, e talvez devesse abrir e ler a carta que ela havia mandado no começo da semana. Talvez até respondesse. Se ele lembrasse, faria isso.

Seu pensamento vagou até Harry Potter. Seu melhor amigo, ou ex-melhor amigo. Talvez fosse melhor essa definição, já que no último contato que fizeram, Harry só soube criticá-lo por estar agindo feito um cretino. Isso, cretino, foi essa a palavra que Harry usara na carta. Rony não se deu o trabalho de responder. Já fazia uns nove meses e desde então, não se falaram mais, nem mesmo por carta. Rony tinha novos amigos e quase não sentia falta de Harry. Por que sentiria falta de alguém que o chamou de cretino? Harry era outro, que deveria estar feliz por ele, e não estava. Não precisava de um amigo assim.

Falando em amizade, ainda tinha Hermione. Rony também podia considerá-la ex-melhor amiga. Não, ela não o havia chamado de cretino. Mas já fazia mais de um ano, desde a última vez que recebeu notícias dela, dadas por ela mesma. A verdade é que depois de um tempo, Rony passou a ignorar a maioria das cartas que chegavam pra ele da Inglaterra, inclusive as de Hermione. Então, parece que ela acabou desistindo. E Rony achava isso bom. Não precisava de uma amiga apaixonada e implorando pra ele voltar em cada linha que escrevia. Tá certo que ele já havia sido apaixonado por ela, que até chegou a pedir pra que ela fosse com ele para a Nova Zelândia, mas ela era passado agora. Era algo completamente superado da parte dele. Foi apenas uma paixão de adolescente. Nada demais. E ele que chegou a achar que a amava. Aquilo era apego, não era amor.

Aliás, um dos motivos que fez Harry chamá-lo de cretino, foi justamente Hermione. Segundo Harry, a garota enfrentou uma depressão terrível depois que ele foi embora. É claro que Rony, ficou preocupado à princípio, mas logo chegou a conclusão de que era exagero da parte de Harry. Talvez, ela tenha ficado triste sim, mas se ele superou, por que ela não superaria? Completo exagero.

E no final das contas, ele estava bem do jeito que estava.

Se espreguiçou mais uma vez e estava seriamente pensando em ir a festa que David Carter, um de seus amigos de time estava dando aquela noite pra comemorar seu aniversário. Com certeza haveria muita bebida e muitas mulheres pra se distrair, como em todas as festas de David. Só precisava ter cuidado e não beber como da última vez, ou corria o risco de dormir no jardim da casa de David de novo. No dia seguinte, acordou com uma baita dor nas costas e todo molhado, já que havia chuviscado naquela madrugada.

É, ele iria a festa de David. Se levantou, pensando num demorado banho quente, quando ouviu um baque na parede de vidro a esquerda. Uma coruja, que ele reconheceu como sendo Errol, voava na frente do vidro parecendo completamente tonta. Ele suspirou.

_ Meg, tem uma coruja aqui_ gritou em direção a cozinha e caminhou pelo corredor, que o levaria até seu quarto.

_ Você está aleijado, por acaso? E desde quando eu sou sua empregada?_ ela rosnou. Rony já se despia no quarto, quando ouviu o barulho do vidro, que era como uma porta de correr, sendo aberto.

Rony não disse nada, apenas riu sozinho. Meg o lembrava de sua irmã, Gina. Tinha o mesmo gênio, com a diferença de que o jeito irritante dela, o divertia. Naquela altura da sua vida, ela era sem dúvida, a pessoa em quem Rony mais confiava. Era sua melhor amiga. Ele entrou no banheiro e tomou um relaxante e demorado banho quente. Precisava estar bem disposto para a festa de David. Já que provavelmente, viraria a noite lá.

Assim, que saiu do banheiro enrolado em uma toalha, se deparou com Meg, sentada de pernas cruzadas em sua cama. A carta balançando em sua mão direita. Seus cabelos lisos e castanhos, caindo feito uma cascata por suas costas. Seus olhos azuis claros, o encaravam de um jeito reprovador.

_ É da sua mãe_ ela disse, lançando um olhar rápido para a carta em sua mão.

_ Eu sei_ Afinal, sua mãe era a única pessoa que o escrevia, Rony pensou, enquanto entrava em seu closet e procurava algo bom para usar_ O que você acha de eu usar aquela calça jeans nova? Ainda não tive a oportunidade e ela ficou ótima em mim.

_ Você não vai ler?_ a jovem continuou.

_ Depois. Amanhã, quando eu não estiver de ressaca_ ele respondeu, saindo rapidamente do closet, jogando a calça jeans na cama ao lado de Meg e sumindo de novo dentro do que parecia ser mais um quarto pequeno, cheio de roupas.

_ Mas você não está de ressaca agora.

_ Hum, acho que vou com essa camisa_ ele puxou uma camisa, colocou em frente ao seu peito nu e se mirou no espelho que ficava no closet.

_ Você está com algum problema de audição? Eu estou falando com você_ Meg resmungou, quando Rony jogou o resto das peças que usaria, em cima da cama.

_ Eu já te disse, amanhã eu leio_ ele falou, pegando sua varinha em cima da mesa de cabeceira e apontando para o cabelo. Um instante depois, seu cabelo ruivo estava impecável.

_ Rony, essa é a segunda carta que sua mãe te manda em menos de uma semana. Ela não costuma fazer isso, deve ser importante.

Rony a ignorou, ele entrou no banheiro e alguns minutos depois, saiu de lá completamente vestido. Meg estava de pé, com as mãos na cintura, o olhando irritada.

_ Você não tem nada melhor pra fazer, ao invés de ficar me perturbando?_ ele perguntou, enquanto olhava de um lado para o outro_ Onde estão meus tênis novos?

_ No mesmo lugar que você deixou, quando voltou da farra ontem. Debaixo da sua cama_ ela tirou a varinha do bolso traseiro da calça jeans e com um gesto impaciente, apontou para a cama de Rony. Imediatamente, um par de sapatos flutuava em frente à Rony. Ele os pegou e depois de por as meias, começou a calçá-los.

_ Por que você não vem comigo?_ Rony perguntou a ela.

_ Porque eu tenho coisas mais interessantes pra fazer do que ficar enchendo a cara com você e seus amigos.

_ Você que sabe_ ele levantou e se dirigiu até o espelho do closet, depois ele voltou e sorriu pra Meg_ E então, como estou? Acha que vou pegar muitas gatinhas hoje?

_ Eu não sei. E honestamente, espero que a única coisa que você pegue, seja uma herpes_ Meg retrucou. Rony a olhou horrorizado.

_ Como você pode me desejar uma coisa dessas?

_ Seria um belo de um castigo pra você_ ela disse, aborrecida. Não conseguia acreditar em como seu amigo era imaturo_ Você é um péssimo filho, Ronald Weasley. O que custa ler a carta que sua mãe escreveu? É a sua mãe, Rony.

_ Eu já disse que vou ler amanhã_ Rony respondeu exasperado. Já era a terceira vez que ele dizia isso. Será que Meg não entendia?

_ Você não vai ler amanhã e nem depois. Você simplesmente, não vai ler.

_ O que pode ter de interessante nessa carta? Aposto que é o mesmo de sempre. Essas coisas de mãe, querendo saber se tá tudo bem. Nada de importante.

_ Você só vai saber, se ler_ Meg insistiu, balançando a carta na frente do rosto dele.

_ Tá, se te faz tão feliz. Se isso vai fazer você parar de encher o meu saco, então me dá aqui que eu vou ler agora_ Ele estendeu a mão pra ela, impaciente. Meg sorriu.

Ela lhe entregou a carta e o observou sentar-se na poltrona encostada numa parede de frente para a cama. Bufando, Rony abriu a bendita carta e desdobrou o pergaminho. Começou a ler.

Meg o observava. Primeiro, satisfeita por tê-lo convencido a ler. Depois, ansiosa para saber do que se tratava. Viu a indiferença com a qual ele começou a ler. Após alguns minutos, Rony foi ficando pálido.

_ Rony, está tudo bem?

Ele não respondeu. Com as mãos tremendo, ele começou a dobrar a carta e a enfiou no envelope pardo. Sentia seu sangue parar de ser bombeado até seu cérebro. Não sabia como ainda estava respirando. Ele se levantou e lentamente, foi caminhando até a porta. Não sabia o que estava fazendo.

_ Rony?_ Meg o chamou, mais alarmada_ Pelo amor de Deus, o que está acontecendo?

Rony então se virou para ela como um cego. Talvez, estivesse cego ou quase. Ele não tinha certeza se a estava vendo. Estava tudo muito embaçado. Ele apertou com força o envelope em sua mão.

_ É o meu pai_ ele disse finalmente. Sua voz soou estranha, até pra ele.

_ O que tem ele?_ a garota perguntou, se aproximando. Ela o olhava assustada.

_ Ele... Ele está morrendo.

Rony pôde ver Meg levar as mãos a boca, chocada. Depois foi tudo muito confuso. Sua visão foi ficando mais turva, ele tentou se apoiar em algo, mas sua mão encontrou o nada. E antes que ele pudesse fazer mais alguma coisa, sentiu seu corpo ir de encontro ao chão. Enquanto caía, viu o corpo embaçado de Meg, correr até ele, desesperada. E foi a última coisa que viu, quando seu rosto encontrou o carpete do quarto e tudo ficou escuro.


Rony abriu os olhos com dificuldade, ele piscou algumas vezes, confuso, sua cabeça doía. Demorou apenas um segundo pra que ele se lembrasse da última coisa que lhe havia acontecido. Seu pai... Ele... Fechou os olhos de novo, com força. Não queria acreditar naquilo, não podia ser verdade. Apertou os olhos o máximo que pôde, tentando conter o choro que o ameaçava, então sentiu um braço o cobrir. Só podia ser Meg, tentando consolá-lo. Mas o que Meg estava fazendo deitada em sua cama? Aliás, o que ele estava fazendo na cama? Ele sabia que tinha desmaiado. No chão. Meg deve tê-lo levitado até a cama...

Abriu os olhos novamente, piscando várias vezes, sentia que estavam úmidos. Então se deparou com aquelas cortinas azuis. E se perguntou desde quando estavam ali. Foi aí que prestou mais atenção, aquelas janelas não eram as suas. Aliás, ele nem tinha janelas, a parede onde devia ficar a janela, era de vidro e não aquela parede branca, sem graça, que agora ele encarava confuso. Não reconhecia aquelas cortinas azuis, nem as paredes. Ele se sentou na cama, esfregando os olhos. De frente pra sua cama, tinha uma cômoda de madeira, que ele tinha certeza de nunca ter colocado ali e então aquele quarto era completamente estranho pra ele. Não era seu quarto, com certeza. Mas se não era seu quarto...

Ele olhou para o lado, procurando por Meg. Mas aquela mulher, deitada a seu lado, definitivamente, não era Meg. Ela estava de costas pra ele, com o braço meio caído ao seu lado, já que ele havia se levantado tão bruscamente, que o braço dela escorregou de cima dele. Rony reconheceria aqueles cabelos cacheados em qualquer lugar. Seus olhos se arregalaram.

Hermione se virou para ele, com o rosto sonolento e um sorriso nos lábios. Ele se assustou. Como isso era possível? O que estava havendo? O que Hermione estava fazendo ali, na cama com ele? E onde raios, ele estava?

_ Bom dia, amor_ ela disse com uma voz pastosa.

_ Hermione?

_ Dormiu bem?_ ela perguntou, tentando claramente se manter de olhos abertos.

_ O que está havendo?_ ele perguntou, olhando ao redor e depois olhando para ela de novo.

_ Como assim?_ Hermione abriu os olhos definitivamente. Ela o encarava um pouco curiosa.

_ Onde eu estou? Onde está o meu pai?

_ Hum?_ ela se sentou na cama também, olhando fixamente para ele_ Você está bem, amor?

_ Não, eu... O que está... Cadê o meu apartamento? Eu não sei que droga está acontecendo_ Rony disse, passando as mãos pelos cabelos.

_ Rony, você está com febre?_ ela perguntou levando uma das mãos a testa dele_ Não, não está.

Ele se levantou rápido e então constatou horrorizado, que estava nu. Rony sentiu seu rosto corar imediatamente. Ele puxou o lençol da cama e se enrolou nele. Agradeceu internamente o fato de Hermione estar de camisola.

_ Que lugar é esse? O que você está fazendo aqui? O que eu estou fazendo aqui?

_ Até onde eu sei eu moro aqui e você também. E essa é a nossa casa.

_ Nossa casa_ Rony sussurrou, apavorado.

_ Rony, qual o problema?

_ Você me diz. É algum tipo de brincadeira?

_ Se alguém está brincando aqui, é você, Ronald_ ela respondeu perdendo a paciência_ E obviamente, não tem graça.

_ Mas eu não sei do que você...

Mas foi interrompido pela porta do quarto que foi aberta bruscamente. Uma garotinha de pijama, veio correndo e pulou sobre a cama e subiu no colo de Hermione.

Rony a olhou bem. Ela tinha cabelos lisos e castanhos, assim como seus olhos. Se parecia muito com Hermione. Ela sorriu pra ele, suas sardas se acentuando.

_ Oi, mamãe, oi papai_ ela disse com sua voz fina de uma criança que deveria ter uns quatro anos.

_ Bom dia, meu amor_ Hermione lhe deu um beijinho no topo da cabeça.

Papai? Papai? Desde quando ele tinha uma filha? Aquilo só poderia ser algum tipo de brincadeira. Talvez, uma das brincadeiras dos gêmeos... Não, não podia ser isso. Ele não via os gêmeos, assim como seus outros irmãos, há dois anos. Bom, ele não via Hermione há dois anos também, e no entanto, ela estava ali. Ele balançou a cabeça. Se voltou para as duas figuras femininas sobre a cama.

_ Eu não tenho filhos_ falou e a menina o olhou curiosa. Hermione simplesmente lhe lançou um olhar mortal.

_ Rose, querida, nos espere lá na sala, a mamãe já está indo dar um banho em você, tá bom?_ Hermione colocou a menina no chão e ela saiu correndo para fora do quarto. Hermione se voltou para ele.

_ Muito bem, já cansou da brincadeira?_ ela perguntou, levantando da cama e cruzando os braços.

_ Eu...

_ Acha engraçado dizer a sua filha uma coisa dessas? Isso pode traumatizar uma criança, sabia?

_ Mas...

_ É uma brincadeira muito sem graça, Ronald_ ela continuou, juntando do chão algumas roupas que estavam espalhadas_ Francamente!

Rony abriu a boca para dizer que não sabia o que estava havendo, quando um choro de bebê invadiu o quarto. Ele se espantou, olhando ao redor como se houvesse um bebê ali e só agora tivesse se dado conta, mas não havia nada lá. O choro vinha pela porta aberta do quarto.

_ O Hugo acordou, eu vou vê-lo_ ela colocou as roupas sobre uma poltrona encostada à parede.

_ Er... Hermione, meu pai está bem? Onde ele está?_ Rony perguntou nervoso, pensando na carta que sua mãe havia lhe mandado. Isso era o mais importante naquele momento. Seu pai.

_ Ele está ótimo! E está n'A Toca, onde mais poderia estar? E que tipo de pergunta é essa?_ ela questionou, o olhando assustada. Rony ficou quieto, mais confuso do que ela. Hermione suspirou. Ela caminhou até a porta, mas antes de sair se voltou pra ele_ É melhor tomar banho logo. Gina e Harry estão nos esperando pra almoçar.

E dizendo isso, saiu.

Rony se sentou na cama. Ele respirou fundo, tentando entender tudo aquilo. Alguma coisa estava errada, muito errada. A última coisa da qual se lembrava, era de ter lido aquela carta de sua mãe, na qual ela dizia que seu pai estava muito doente e estava morrendo. Ele se lembrava de tudo ter ficado preto e então... Mas agora, ele estava ali, num quarto desconhecido, com Hermione e duas crianças em outra parte da casa.

Um pensamento lhe ocorreu e ele olhou para sua mão esquerda. Havia um anel ali. Mas não um anel qualquer, era uma aliança. Ele a tirou e pôde perceber a marca clara em seu dedo, como se a aliança estivesse ali há algum tempo. Na parte interna da aliança estava gravado "Ronald e Hermione para sempre".

Aquilo deveria ser um sonho. Não, era vívido demais pra ser um sonho. Então, era algum tipo de realidade alternativa, só podia. E naquela realidade, aparentemente ele era casado com sua ex-melhor amiga. Casado com Hermione. E tinha uma aliança pra provar. A colocou de volta em seu dedo. Ah, e aparentemente tinham filhos.

E se não fosse uma realidade alternativa? E se ele apenas estivesse ficando louco. Poderia ser tantas coisas. Se perguntou, onde estaria Meg.

Se levantou e caminhou em direção a uma porta que ficava à direita no quarto, imaginando que ali era o banheiro. Estava certo, era o banheiro. Assim que entrou, Rony se trancou lá dentro. Não prestou atenção em detalhes, apenas foi direto ao espelho. Se rosto estava mais maduro, e tinha uma barba por fazer. Obviamente, ele perdera muita coisa. Uns sete, oito anos talvez...

Ele tinha que tomar banho. Hermione disse que Harry e Gina os estavam esperando pra almoçar. Será que nessa realidade, ou sonho, ou o que quer que fosse, eles estavam casados? Bom, isso não o surpreendia muito, já que da última vez que constatou, os dois estavam namorando.

Se olhou uma última vez no espelho, antes de entrar para o banho. Alguma coisa estava errada. Fosse uma realidade alternativa, um sonho ou um feitiço, ele tinha que descobrir o que era. Se era real ou apenas uma loucura da sua mente.

_ Parece tudo muito confuso, não é?_ uma voz serena conhecida, soou as suas costas. Rony se virou, horrorizado.

Alvo Dumbledore estava parado à sua frente, o encarando com um pequeno sorriso. Definitivamente, ele estava ficando louco.

_ Dumbledore!_ exclamou, atordoado.

Dumbledore apenas sorriu pra ele.

_ Mas como isso é possível? Você está morto!

_ Hum... é verdade_ o ex-diretor de Hogwarts concordou.

_ Então, o que...?_ mas Rony não conseguiu continuar. O que ele iria perguntar? "Se você está morto, o que está fazendo na minha alucinação?". De qualquer forma, não fazia sentido.

_ Eu imagino o quanto essa situação, não deve estar fazendo sentido algum pra você_ Dumbledore disse, calmamente. Ele ainda tinha o pequeno sorriso no rosto.

"Imaginou bem". Rony pensou, mas ficou calado. Como poderia fazer sentido? Num momento, ele estava desmaiando, no momento seguinte, ele estava num lugar estranho, com Hermione, com quem ele não falava há dois anos, duas crianças desconhecidas e pra completar, o fantasma do diretor da sua antiga escola, estava parado à sua frente agora. Falando com ele.

_ Eu não entendo o que está havendo_ Rony disse, exasperado.

O fantasma de Dumbledore - só podia ser um fantasma, não é? - parecia saber o que estava acontecendo. Rony ficou quieto esperando que ele, talvez, lhe dissesse.

_ Bom, por isso estou aqui.

_ E você veio do mundo dos mortos pra me explicar?_ Rony ironizou, mas depois se arrependeu. Ele sempre respeitou muito aquele homem à sua frente_ Desculpe, eu...

_ Nunca se perguntou como teria sido a sua vida, se você não tivesse ido embora, Sr Weasley?_ Dumbledore continuou, como se não tivesse ouvido a grosseria de Rony_ Se não tivesse deixado a sua família e as pessoas que o amavam?

_ Hum... Isso tem alguma coisa a ver com o que está acontecendo agora?_ Rony cruzou os braços e se encostou à pia.

_ Tem tudo a ver. Me responda, por favor_ Dumbledore pediu, educadamente.

_ Não, nunca me perguntei_ Rony suspirou. Por que ele se perguntaria esse tipo de coisa? Ele nunca nem parou pra pensar nisso.

_ Eu imaginei.

_ O que está acontecendo?

_ Eu já estava chegando nesse ponto_ Dumbledore disse divertido. Então, ele ficou repentinamente sério e encarou Rony, profundamente_ Isso, Sr Weasley, é o que poderia ter sido.

Rony piscou algumas vezes, confuso.

_ Como assim?

_ Disse que nunca se perguntou como teria sido, se não tivesse ido embora. Bom, eu estou lhe mostrando como as coisas poderiam ter sido.

_ Está me dizendo que eu não estou louco? Que eu não estou sonhando? Então, eu estou mesmo em outra realidade? Numa realidade em que eu nunca fui para a Nova Zelândia?_ Rony perguntou, com a testa franzida.

_ Exatamente!

_ E que nessa realidade, eu sou casado com Hermione e que temos filhos?

_ Sim!

O rapaz, encarou o velho homem a sua frente. "E por acaso eu pedi que me mostrasse alguma coisa? E por que, eu iria querer saber?"

_ Por quê?_ perguntou, sem entender.

_ Por quê o quê?_ Dumbledore continuou com serenidade.

_ Por que está me mostrando isso? Eu nunca tive curiosidade em saber nada disso_ Rony argumentou. Aquilo tudo ainda era muito louco, para ser real.

_ Pelo simples fato, de que precisa saber. É importante. É importante que saiba o que perdeu, Sr Weasley.

É importante que ele saiba o que perdeu? "Mas eu não perdi nada. Eu tenho tudo que eu sempre quis". Obviamente, o fantasma de Dumbledore estava tentando lhe ensinar algum tipo idiota de lição de moral. Só que ele não entendia o motivo. E, por Merlim, Dumbledore estava morto. Ele simplesmente não podia ter aparecido em um sonho seu, ao invés de transportá-lo para uma outra realidade? Aquilo tudo, era absurdo demais. Então, Rony abriu a boca pra responder, mas nesse momento alguém bateu à porta. Ele se sobressaltou, lançou um olhar assustado na direção do ex-diretor e então caminhou até a porta. Abriu apenas o suficiente pra ver quem era, embora já soubesse.

Hermione o encarava com a testa franzida e os olhos castanhos, curiosos.

_ Com quem você estava falando?_ ela perguntou, tentando olhar para dentro do banheiro, pelo espaço mínimo que Rony deixou aparecer pela fresta.

_ Com ninguém_ ele respondeu, com um sorriso nervoso.

_ Eu ouvi a sua voz_ Hermione argumentou, desconfiada.

_ Eu estava cantando_ Rony respondeu a primeira coisa que lhe veio à cabeça.

Então Hermione sorriu.

_ Que bom que você só canta no banheiro, amor_ ela brincou e Rony sorriu, se sentindo um pouco mais calmo_ Você ainda vai demorar muito? Eu tenho que tomar banho também.

_ Hum... Não tem um outro banheiro nessa casa?_ Rony perguntou sem pensar. Ele se lembrava de ter ouvido Hermione dizer à menina "Rose? Rose, eu acho", que estava indo dar banho nela.

_ Se nós dois estivermos tomando banho ao mesmo tempo, quem vai olhar as crianças?_ ela perguntou naquele tom de sabe-tudo, que tantas vezes o deixara irritado.

_ É, certo!_ ele disse, voltando a se sentir nervoso_ Olha, eu não demoro, tá?

E dizendo isso, fechou a porta, sem dar tempo de Hermione dizer mais nada.

Ele só precisava fazer mais algumas perguntas a Dumbledore e aí ele tomaria banho. Mas quando se virou, o ex-diretor não estava mais lá. O banheiro estava vazio, exceto por ele.

Rony respirou fundo, desejando aprender logo o que quer que Dumbledore, quisesse ensinar a ele com toda essa situação absurda. E, principalmente, ele queria entender o que estava fazendo ali. Afinal, aquele não era seu mundo, aquela não era sua vida. Nada daquilo lhe era familiar. Nada. Nem de longe. E não fazia sentido algum. Ele queria voltar logo para o que ele tinha. Para a sua vida. Sua casa, suas coisas. A vida que ele conhecia, que ele tanto desejou e que ele havia conseguido. Isso sim, era real pra ele.


N/A: Aí o primeiro capítulo da minha segunda fic. Então, o que acharam? Meio confuso? Fiquei meio na dúvida se seria o Dumby a explicar ao Rony o que estava havendo, mas depois parei pra pensar que não poderia haver pessoa melhor pra isso. Espero que gostem e comentem, hein. E só pra esclarecer, eu não estou seguindo a cronologia da série.

N/A: A Rose tem o cabelo liso, porque é essa a descrição dela no Wikipédia, ok? Espero que gostem da fic.

Até o próximo capítulo!

Bjks!!!