Sea

Você tem medo do mar?

Prólogo

O Sol tocava o mar no horizonte oeste. Céu e água estavam atípicos para o fim de um verão, muito mais sombrios do que se esperaria. O casal de jovens observava o belo cenário como em milhões de outras vezes.

- E eis nosso último dia aqui. – Disse em ar teatral o garoto bonito de olhos cinza-intensos, da cor do mar abaixo do cais em que contemplavam a paisagem. Olhou para o lado, buscando os olhos que conhecia melhor que os seus. Castanhos da cor das piores tempestades que mar e céu podem fazer juntos. Viu os cabelos queimados pelo Sol daquele verão livrarem seu pescoço e ombros para dançarem com a brisa. E ela lhe respondeu no volume da quebra das ondas:

- Vou sentir tanta saudade.

Ele abriu um sorriso perfeito, achando graça na umidade dos olhos da amiga.

- Você fala como se fosse sentir saudades de mim. Nós vamos pra mesma universidade, Lene.

Ela sorriu e mirou o mar outra vez. Estava mesmo mais revolto que de costume, e o tom era mesmo exatamente o tom do cinza dos olhos de Sirius.

- Bom, de certa forma vou sentir. – Ela respondeu, dando de ombros queimados. – As coisas vão mudar. Talvez a gente mude também.

- Eu sempre vou ser o Sirius. – A voz rouca respondeu rápido, achava aquilo um drama feminino.

Ela o olhou, tendo que guiar os fios castanho-claros para o vento; olhou o garoto alto pela milionésima vez, espremendo os olhos pensativa.

- Você vai arrumar uma namorada que faz Arquitetura e me esquecer. – Disse por fim, em tom fatídico.

Ele riu.

- Namoradas não me fazem te esquecer, lembra?

- Só me ignorar.

- Ah, qual é. Preciso de você, quem vai cuidar de mim se eu ficar doente?

- A garota arquiteta. Já sei até o nome dela. – Ela respondeu, mordendo os lábios para não rir.

- Hum. Ela quer Nutrição, não Arquitetura. Mas OK. Você venceu, não tenho motivos pra me lembrar de você.

- É, você não tem. – Ela respondeu num suspiro distraído.

- Pára de fazer drama.

Ela fixou seus olhos por um tempo, ele achou que ela ia reprimi-lo, odiava quando dizia que ela fazia "drama como uma mulherzinha", mas estava mesmo diferente hoje.

- Eu 'tava falando do mar.

- Quê?

- Falei que ia sentir saudades do mar, você que veio com esse papo egocêntrico de que eu vou sentir saudades de você. – Ela completou e não segurou mais o riso.

Ele riu também, aquela risada que parecia um latido e que ela ouvia desde criança.

O vento ficou mais forte e por um instante seus cabelos, negros e castanhos, agitaram-se e o mar chamou sua atenção outra vez. Uns pingos bateram em seus pés, nos chinelos de Sirius e de Marlene, e nas pernas onde as bermudas não cobriam. Ele olhou para ambas, seus próprios músculos de surf encobertos por pele queimada e forte, e as pernas dela, que insistiam em permanecer finas e clarinhas mesmo com o contato constante com sol, mar e ondas.

- Vai fazer falta mesmo. O mar. – Ele disse.

- É…

- Surfar no verão, Luau no outono…

- Festa na primavera…

- É…

- Mas a gente vai voltar.

- Sempre.

- É estranho… ir embora. – Ela disse um pouco mais triste.

- Você se acostuma. – Respondeu do jeito dele, que não consolaria ninguém, mas ela o entendia. E ele tomou sua mão, para confirmar isso.

- O mar é tão perigoso. – Ela disse de repente, o que o fez olha-la curioso. – Já parou pra pensar? – Ergueu as sobrancelhas escuras para ele.

- Que corremos perigo todos esses anos? – Ele mal continha um sorriso impetuoso. – Adoro pensar nisso.

Ela riu.

- Você é o próprio clichê, Pads.

- Só por que não tenho medo do mar, como você?

- Eu não tenho medo do mar.

- Tem sim. Lembro os dias que você não entrou…

- Tubarões. – Ela apontou um dedo para ele, e usou seu olhar ameaçador.

- Ou tempestade, ou "tá muito forte", ou "muito fundo", "muito longe" ou…

- Vou mais longe que você. E mergulho mais fundo.

- Nem nos seus sonhos! – Respondeu rindo. – Admite, Lene, você tem medo do mar.

A garota estreitou os olhos perigosamente.

- É você que tem.

- Errado. Eu não tenho medo de nada.

Ela revirou os orbes castanhos brilhantes.

- Certo, super-coragem. Vamos embora que mamãe quer que eu jante em casa.

- Vou junto. – Ele disse em tom cotidiano. Jantava na casa de Marlene quase tanto quanto na casa de James.

E quando já andavam pela areia, ele virou-se para trás e lançou ao mar mais um olhar. Viu as ondas quebrarem e as gotas de água salpicarem o cais em que estiveram. Então olhou a amiga, matreiro.

- Ei, Lene.

Ela abraçava o corpo por sobre a regata branca, parou e se virou para ele, numa manobra muito praticada de desvencilhar o rosto dos cabelos revoltos pelo vento.

- Quê.

- Não acha que devemos um último mergulho ao mar?

- 'Tá doido, Sirius? O mar 'tá bravio hoje!

- "O mar 'tá bravio hoje"! – Ele a imitou com voz de falsete. – Vamos pular!

Ela revirou os olhos antes de se virar novamente para a direção da cidade, e deu alguns passos antes de sentir os braços do amigo erguerem-na do chão.

- Sirius! Me larga! Me larga agora! O mar 'tá perigoso!

- Ele sempre é. – Diz em seu tom naturalmente entediado.

- Sirius…

- Poxa, você 'tá mais pesada, hein.

- Quando você me largar, vai se ferrar.

- Vou te jogar lá no meio do mar, até você voltar já vou ter ido pra sua casa.

Ele parou com os dedos dos pés a escaparem pela borda do cais. Segurou-a mais para frente, jogou-a no mar, e pulou em seguida.

"Saberás que não te amo e que te amo
posto que de dois modos é a vida,
a palavra é uma asa do silêncio,
o fogo tem uma metade de frio."

Poema XLIV – Pablo Neruda

N/A: ai, tinha jurado pra mim mesma que só começaria a publicar essa fic quando tivesse terminado de publicar a Higway. Mas tem dias que ela simplesmente me consome e faz eu não publicar as outras, então cá estou! ela tá quaaase terminada... fico meio insegura, ela é diferente... vou explicar:

primeiro: sim, eu tenho sérios problemas com essa coisa de eles terem crescido juntos, fica até repetitivo, mas isso simplesmente parece um fato pra mim. fora q o q me inspirou essa fic foi algo q aconteceu comigo, não com um melhor amigo, não nessas condições, mas enfim… eu preciso de coisas q separem a inspiração real das coisas q escrevo uhauahau com certeza. E pra isso q serve o enredo dramático e as coisas aperfeiçoadas... :) mas enfim...

segundo: ela tem capítulos mais curtos do q eu costumo escrever e vai ser dividida numa porção de partes. nao sei bem por que, mas imaginei ela assim... acho que porque ela fala muito de mudança de fases na vida, bom, pra mim pelo menos... e cada parte vai ter uma frase como tema, uma frase dita pelo Sirius ou pela Marlene. cada parte tbm vai ter uma capa!!! q emoção!!! ^^ ah e cada parte vai ter tipo uns 3, 4 ou 5 capítulos. por aí...

terceiro: esse "você tem medo do mar?" vai se repetir nas partes, porque de fato é um dos temas da fic, o medo. medo do mar porque o mar envolve a vida dos dois no passado, presente, futuro.... blá blá blá.... :P

aquela coisa: meu desejo do fundo do coração é q vcs gostem e se divirtam lendo!! ela é meio melancólica, mas, bem, culpem essa vida (amorosa?) complicada hauhauha

besos mis amores!