O homem que sabia demais

Ele sabia. Claro que sabia. Estava nos olhos dela. Estava no perfume que usava.

Harry sabia. Sabia como os olhos dela brilhavam simplesmente ao se lembrar de alguma noite em que ele ficava a esperando em casa até tarde, enquanto ela, na verdade, estava dormindo na cama de Malfoy. Era inútil ignorar. Ele sabia no momento em que olhos dela se esquivam dos dele toda vez que uma nova mentira saia de seus lábios. Estava nos olhos dela, a traição e a culpa. Mas também a felicidade.

Ele sabia. Bastava sentir o perfume favorito de Malfoy em seus cabelos ruivos, o cheiro empesteando a casa e permanecendo no travesseiro dele por dias a fim. Sabia quando ela corria para o banho, numa tentativa de acabar com as provas, sem muito sucesso, porque era como se o nariz de Harry tivesse memorizado cada camada do perfume, reconhecendo qualquer traço. Estava no perfume a prova irrefutável que ele já não era suficiente.

Pior, Harry sabia mais. Sabia tudo isso e mais. Sabia como e porque Gina decidira que era mais feliz com Malfoy. Sabia de suas próprias falhas, da falta de afeto, da distancia, dos segredos que ele próprio possuía. Sabia o quanto podia amá-la mais, mas não sabia como. Reconhecia que nem tudo era perfeito, que o tempo só trouxe distância. Ele podia ter sido mais, feito mais. Estava claro que Malfoy a oferecia tudo e além, que ele tinha a capacidade de apagar todas as memórias ruins dela, suprir seus desejos e criar novos, que ela jamais considerara antes.

No, fim, Harry sabia que gritos não funcionariam, que presentes não iluminariam mais os olhos dela e que nem uma casa cheia de buques de flores esconderia o perfume do outro.

E, por saber demais, Harry a perdoava.