Ponto de Vista.

'Você não pára nem na hora do almoço?' Perguntou Alvo tirando o livrinho de minhas mãos. Olhei para os meus pés para depois olhá-lo nos olhos. Ele girou o livrinho nos dedos longos e leu a primeira frase daquela página. 'As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as próprias mentiras... Até que faz sentido...'.

'Claro que faz sentido, Al. Quem disse isso foi Nietzsche!' Respondi com certa arrogância. Ele soltou um sorriso falso, amarelo, um sorriso que costumo chamar de pomposo; como se ele quisesse realmente soltar um sorriso divertido, mas era incapaz de ocultar a franca falsidade.

'E claro que Nietzsche nunca está errado...' Ele ironizou.

'Huh, o que você quer, Al?' Perguntei mudando de assunto.

"Você bem sabe que admiro a quantidade de livros que lês por ano, Rose, mas há tempos em que se precisa comer.' Ele disse aumentando o sorriso pomposo. 'O almoço está servido.'

Revirei os olhos e bufei um pouco indignada. Alvo tirou o sorriso pomposo e riu divertido. Ele me conhecia. Ele era o único daquela família que realmente me conhecia. Ele sabia que eu detestava quando todos da família decidiam almoçarem juntos.

Irrita-me ver todos eles sentados numa mesa, falando sem parar, sobre as mesmas coisas de sempre, ocultando todas as coisas ruins e mostrando-se felizes com tudo que os rodeiavam. Todos juntos escondidos numa grande máscara de hipocrisia.

Ah, a hipocrisia... A grande responsável pelo Status Quo de nossa sociedade. Tão irritante, tão revoltante, tão... divertida!

Respirei fundo e levantei-me da poltrona. Alvo fechou o meu livrinho e o colocou sobre a mesinha em frente a lareira. Juntos, fomos até o jardim para o tão adorado almoço. Eu já não gostava de ir á Toca, mas quando todos se reuniam tornava-se ainda pior. Não suportava ter que comprimentar todos ali presentes, inclusive parentes dos quais nem me lembro o nome – e nem hei de lembrar.

'Oiy, Rose, venha cá...' Chamou-me meu pai com a mão direita quando me viu sair pela porta da cozinha. Falava com um homem alto, de chapéu e de bigode e também ruivo. Fui até ele em passos lentos, olhando para a grama mal-feita. 'Esse é seu tio, Charles. É a primeira vez que ele vem ao almoço da família... vamos, cumprimente-o.'

Soltei um sorriso hipócrita e apertei a mão dele. 'Está uma moça, já.' Ele disse puxando sorrisos do meu pai. Eu odiava esses tipos de comentários. Típicas pessoas que provavelmente só pensa em duas coisas: o tempo passa rápido demais e/ou o queria ser da sua idade para enamorar-te.

Senti o braço direito do meu pai sobre minha cintura. 'Rosinha é a melhor aluna de Hogwarts.'

Revirei os olhos e olhei para a grama tosca. Certo, talvez o que mais me irritava em tudo aquilo fosse a eterna mania de todos os parentes mais velhos chamarem-me de Rosinha. Eu já tinha 15 anos, entraria para o meu sexto ano e ainda havia pessoas ridículas na minha família que continuavam a me chamar pelo apelido de quando tinha 10! E se já não bastasse, era meu pai quem não se tocava de que eu detestava aquele apelido.

'Ah, então puxou a mãe... Ainda bem.' Brincou meu tio rindo fazendo papai rir junto.

Ainda bem mesmo. Eu poderia até não gostar muito da minha família, poderia odiar todos aqueles almoços e jantares que costumavam fazer no verão, mas o que mais me agradava em tudo aquilo era minha mãe.

Hermione era a única pessoa de toda aquela família que eu realmente admirava. Foi a melhor aluna de Hogwarts mesmo sendo Trouxa, é chefe no departamento de Leis Mágicas do Ministério da Magia, conhece de tudo um pouco, lê mais de cem livros por ano e foi responsável pela revolução nas leis sobre os elfos domésticos. Eu tinha muito orgulho dela...

Papai?

É auror, foi goleiro de Quadribol, coleciona figurinhas do Chuddley Cannon's e foi responsável por uma das revoluções no Ministério da Magia. Seu maior orgulho? Hugo.

Não... seu orgulho maior, bem maior, era mamãe. Depois vinha Hugo.

'E já vai para o sexto ano... A qual casa pertence?' Perguntou o tio que nem mais me lembrava o nome.

Papai tirou o braço direito da minha cintura e levou o copo de Whiskey da mão esquerda á boca, tomando um gole. Olhei para os olhos do senhor á minha frente e respondi com um sorriso:

'Sonserina.'

Típica reação. Ele arregalou os olhos castanhos escuros e o rosto pareceu endurecer-se. Ele limpou a garganta e tentou disfarçar o espanto. 'E está gostando?'

Fechei os olhos e sorri alegre. Respondi um 'adorando' e ao abrir os olhos, vi o mesmo gesto que papai havia feito agora pouco. 'Que bom...' Disse ele limpando o bigode com a costa da mão esquerda.

Eu já não me importava mais. Não mais.

Importei-me aos meus 11 anos quando o chapéu seletor decidiu insanamente colocar-me na Sonserina. Não sabia como encarararia papai ao voltar para casa. Ele detestava aquela casa verde-prata, era para eu também detestá-la! Era pra eu ir para Grifinória, assim como ele fora, como mamãe fora!

Não fui.

Vi dirigindo-me á mesa mais sombria daquela escola com uma ânsia de vômito. Alvo sentiu pena de mim. Sim, eu sei que ele sentiu. E por isso, ele pediu para que o Chapéu Seletor também o colocasse na Sonserina. Ele ainda negava e dizia que fora escolha do próprio chapéu, mas eu sabia que não era.

Ao meu lado, ele sentou-se. Nós dois olhamos a mesa á nossa frente e encaramos James. Estava sério, sem gracinhas. E ao vê-lo assim, percebi algo que não havia percebido até então... James era rídiculo.

Extremamente.

Ele queria ser o que tio Fred e Jorge eram. Queria ser o que James Potter era. E por isso, quando se viu á frente de uma situação que não sabia como Fred e Jorge ou James Potter iria lidar, ele fechou a cara. Sem ter o que fazer. Sem saber o que fazer por si próprio.

Não poucas vezes, James é rude comigo. Provavelmente ele pensa a mesma coisa que eu e por isso me culpa por Alvo ter ficado na Sonserina.

Mas já se passaram cinco anos. E eu realmente adoro aquela casa. Gosto das cores, gosto dos dormitórios, gosto do Salão Comunal e gosto das pessoas que lá conheci. E ao fim do meu primeiro ano, eu tinha a certeza que o Chapéu Seletor me colocou de fato na casa certa. Hoje, eu realmente vejo que não pertenço a Grifinória.

'Ningém é perfeito, não é?' Indagou meu pai tentando contornar o mal estar que acabou de se passar por ali.

'É.' Confirmou o meu tio. 'E o caçula?' Indagou mudando de assunto, ou melhor, de sujeito.

Hugo.

Se eu puxei Hermione, Hugo puxou Rony. Talvez a diferença para os dois seja a aparência. Hugo tem os olhos cor de mel e os cabelos castanhos. Mas eram praticamente a mesma pessoa. Os mesmos interesses, o mesmo jeito de ser, a mesma burrice...

'Ah, o Hugo é da Grifinória...'

Recusei-me a escutar o resto. Sem dizer uma palavra saí dali e fui direto á mesa para terminar logo com aquilo. Al estava sentado numa cadeira, amassando a grama tosca com os sapatos pretos.

'Acho que você não gosta disso tanto quanto eu...' Falei sentando-me ao lado dele. Ele deu de ombros e continuou amassando a grama mal-feita. Ele estava irritado com algo. Levantei o rosto e procurei pelo jardim algo que evidenciasse a sua irritação. Soltei um riso abafado ao perceber o que era. 'Ora, Alvo, são seus pais...' Eu disse divertida ao ver através da janela da cozinha, Harry e Gina se beijando.

'Eles podiam parar!' Disse irritado. 'O que eles acham? Que todos gostam de ver isso? É nojento!'

'Bom, não me incomoda nenhum pouco.' Respondi cruzando as pernas. De fato não me incomodava. Não eles. Tenho a mesma sensação de Alvo quando vejo meus pais fazendo aquilo. É curioso, mas é realmente algo assustador.

'Não são seus pais.' Respondeu parecendo um pouco revoltado.

'Ah, ninguém está vendo eles ali...' Disse indiferente. 'Estão todos hipocritamente conversando.'

'Sua mãe não está conversando...' Ele disse levantando o rosto e parando de amassar a grama.

Procurei-a com os olhos e a vi sentada com as pernas cruzadas, numa cadeira branca ao fim da grande mesa. Estava com os olhos focados em algum ponto da mesa e seu dedo indicador tamborilava na mesa sem parar. Era possível ver algo de aflição no rosto de Hermione.

Respirei fundo e olhei para os olhos verdes esmeraldas dele. 'Eles brigaram ontem.' Disse soltando um sorriso. 'Como sempre...'

'Você não tem medo de que eles se separem?" Perguntou ele curioso diminuindo a voz. Não que realmente precisasse já que todas aquelas pessoas conversando faziam um barulho realmente alto.

'Não tenho medo, Al. Eu sei que eles vão se separar.' Vi as pálpebras dele se abrirem um pouco. 'Al, desde que me lembro, esses dois brigam, e sempre brigarão. O que acontece é que minha mãe faz vista grossa.'

'E por que diz que eles vão se separar? Eles te disseram isso?'

'Papai será o último a saber que ele está se separando.' Disse com a voz fina e ele juntou as sobrancelhas negras. Respirei fundo. 'Ninguém aguenta fazer vista grossa por tanto tempo. As pessoas cansam, Al. Mamãe tá cansando. E o papai não tenta fazer dar certo.'

'Você não se incomoda?' Perguntou parecendo desapontado 'Não se incomoda deles se separarem?'

Mirei a grama mal-feita aos meus pés. Imaginei minha vida sem o papai. 'Um pouco, afinal são meus pais...' Levantei o rosto e olhei para mamãe de novo. Ela percebeu meu olhar e sorriu para mim. Hipocrisia. Voltei meus olhos á grama. 'Mas ela tá cansando, Al. Papai irrita mamãe, mamãe irrita papai. Se quer saber, admira-me eles terem aguentado até aqui.'

'Por quê?'

'Porque eles não se respeitam. Papai nunca ouve o que mamãe tem a dizer, isso a irrita mais do que qualquer outra coisa, mamãe não leva papai a sério, o que o irrita também. Papai não sabe dizer qual o livro favorito de Hermione, Hermione não sabe dizer qual jogador Ron mais gosta no time do Chudley Cannon's! Parece que não se conhecem... Como acha que uma relação assim pode dar certo?'

'Mas eles já estão juntos faz muito tempo. Acha que depois de todo esse tempo, ele se separariam?'

'Nenhum tempo é tempo demais, Alvo.' Respondi com a voz um pouco mais baixa.

'O que foi?' Ele perguntou percebendo que eu estava mais pensativa.

'Ás vezes, acho que mamãe só casou com Rony porque ele era o único.' Disse acompanhando uma fileira de formigas marrons caminharem pela grama.

'Ah, Rose, nada a ver!' A forma confiante de como Alvo havia dito aquilo me surpreendeu, e levantei o rosto para olhá-lo nos olhos verdes. 'Rony não seria o único!'

'Eu não disse que seria, Al, disse que era...' Falei corringindo-o com a voz baixa. 'Hermione, Rony e Harry se conhecem faz mais de 25 anos. Harry se casou com Gina, com quem você esperava que minha mãe casasse?'

'Eles se gostam...'

'É claro que eles se gostam, são amigos de infância!' Respondi com a voz tranquila. 'Não estou dizendo que eles não se gostam como esposos, é só que mamãe namorou Rony – e somente Rony – e ao verem Harry e Gina se casarem, decidiram se casar! Como se todas as brigas que sempre tiveram fosse desaparecer ao se casarem, como se todas as diferenças fossem ser esquecidas...'

'Acharam que com o casamento mudaria a situação, Rose. É normal.'

'As pessoas não mudam, Al'. Respondi piscando os olhos. Alvo voltou a amassar a grama tosca com os sapatos pretos. 'Elas nunca mudam. Elas acham que mudam. Esquecem os desafetos, os ódios, os detalhes, tudo, para que o outro veja alguma mudança. E mais uma vez, não muito tempo depois, tudo isso volta. Elas tornam-se novamente aquilo que são. Enquanto mamãe tentava mudar, não ser estressada, metida ou reclamona, papai nada fazia. Agia como sempre agia e há de agir. Mamãe não aguentou e tornou-se aquilo que sempre fora... E vivem a brigar todo dia, toda hora.'

'Devia parar de ler Nietzsche, Rose... Está começando a pensar como ele.' Ele disse, puxando um pouco de grama com a mão direita. 'Seus pais namoraram e se casaram. Eles brigam, mas não quer dizer que só se casaram porque eram os únicos na vida do outro.'

'Mamãe está com 42 anos, Al, e em toda sua vida só namorou Rony.' Eu disse levantando o rosto de forma prepotente e fiquei a mirar o céu azul daquela tarde de verão. 'Ela gosta do papai, realmente gosta, mas aposto que ela pensa em outros homens... O quê? Por que o espanto?' Indaguei quando percebi certo susto no semblante dele.

'Hm, sua mãe pensar em outros homens... Não te incomoda?' Percebi no rosto dele um pouco de rubor. Soltei um sorriso.

'Não. Acho normal. Eu penso em outros homens...'

'Ah, mas você tem 16 anos, isso é natural, mas sua mãe?'

Olhei para ele com o rosto divertido, virei-me para ficar á frente dele e cruzei as pernas. 'O que é de tão Inatural na mamãe pensar em outros homens?'

'Sei lá, é um pouco estranho...' Ele procurou as melhores palavras, mas só havia pensado naquela.

'Não é estranho, é natural. Ou você acha que a sua mamãezinha também não pensa em outros homens?' Vi o rubor do rosto dele aumentar incrivelmente. Alarguei meu sorriso ainda mais. 'Você acha que a sua mamãe só pensa no seu papai?'

Se ele dissesse que sim, era mentira. Eu idealizava tudo na minha vida. Idealizava as mais diversas situações, e mesmo que elas não acontecessem como esperava, eu continuava a idealizar. Idealizava meu futuro namorado, minha futura casa, meu futuro emprego. E não muitas vezes, eu alternava essas idealizações. Quantas vezes já quis que meu namorado fosse o próprio Alvo para depois querer namorar Zambini e até Malfoy? Quantas vezes já me vi sendo auror para depois me ver sendo uma Inominável?

Eu poderia não conhecer Gina totalmente, mas eu conhecia Lily Luna. E se Lily Luna é igual a mãe, Gina é igual a Lily Luna. O que quer dizer que Gina, assim como Lily Luna, era safada. E se ela era safada, pensava mais em homens do que minha mãe pensava em livros.

E Alvo Severo também sabia disso. Não sei se por sermos melhores amigos ou por sermos sonserinos, mas nós dois tínhamos uma facilidade imensa de compreender um ao outro. Então, assim como não gostava daquela família a qual pertencia, eu percebia que Alvo tinha certa raiva da mesma família também. Alvo se incomodava com o jeito de ser da mãe e consequentemente da irmã. Eu poderia até chamar de vergonha...

'Ah, pára, Rose, não gosto disso...' Ele disse olhando para o chão mostrando-se completamente sem jeito.

'O quê? Pensar que sua mãe transa com seu pai pensando em outro homem?' Perguntei normal e o vi levantar o rosto assustado para mim. Eu ri. Não sei porque as pessoas teimavam em evitar falar de sexo, era algo divertido de se conversar.

'Ah, Rose, pára! Vai dizer que você não se incomoda com a sua mãe pensando em outro homem?"

'Já disse que não, Alvo.' Respondi normal. E realmente não me incomodava. Hermione era minha mãe e eu a entendia só de olhá-la. Colocando-me no lugar dela, se por toda a minha vida eu tivesse namorado um só garoto, vejo que eu gostaria de transar com outros homens. Só pra ver como é... Se é do mesmo jeito, se tem o mesmo gosto, se são as mesmas sensações... 'Mas me incomoda em pensar que papai pensa em outras mulheres...'

Aquilo sim me incomodava. Não sei porque, mas o pensamento de que papai pensa em outras mulheres – mesmo sabendo que é tão natural quanto mamãe pensar em outros homens – me deixava revoltada. É como se ele não lhe desse valor. Como se não fosse feliz com ela. E vou dizer a verdade... Papai deveria ter orgulho de ter se casado com Hermione. Mamãe vale mais do que toda aquela família. Vale mais do que toda aquela gente pobre e interesseira.

Sim, pobre e interesseira. Este é bem o retrato de que tenho daquela família. Alvo sabe disso e embora ele fique incomodado com esse pensamento, ele aceita. Ás vezes, acho que ele até concorda comigo.

'Não me incomoda o papai pensar em outras mulheres...' Ele disse franzindo as sobrancelhas.

'Quem você acha que seu pai pensa?' Perguntei cruzando os braços e o rosto dele ficou extremamente ruborizado.

'Sei lá... Como quer que eu saiba?" Ele indagou dando de ombros. 'E a sua mãe... quem você acha que ela pensa?' Ele devolveu a pergunta no mesmo tom que lhe lancei.

Olhei a grama tosca no chão. Pensei. Pensei. Um sorriso tímido apareceu no meu rosto e Alvo levantou as sobrancelhas curioso. Eu não tinha certeza e provavelmente nunca teria, mas eu pensava nele com certa frequencia. E se eu puxei mamãe...

'Draco Malfoy.' Disse com a voz elevada em uma risada.

'Por que acha que ela pensa nele?' Ele perguntou curioso. Eu percebi que ele começava a se descontrair naquela conversa atípica de dois adolescentes sobre o relacionamento dos pais.

'Ele é sangue-puro e ela é Trouxa.' Eu disse nos olhos verdes dele. 'Acho que isso a faz idealizar como seria a relação deles.'

'Assim como você e o Scorpius?' Ele perguntou.

Scorpius Malfoy era a pessoa de quem eu mais temia em Hogwarts. Tudo graças ao papai pela incenssante maneira de dizer que ele é mau, faz parte das trevas, quase um necromancer. E ao ser sorteada para a Sonserina, passei mais de anos sem falar com ele. Ele também não fazia questão de falar comigo. Eu estava convicta de que ele era exatamente o que papai tinha me dito.

Lembre-se de Nietzsche. "As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as próprias mentiras."

No nosso quarto ano, após ele ter começado a namorar minha melhor amiga, Gabrielle Mondyllard, passei a conhecê-lo e logo percebi que papai não sabia exatamente de nada em relação á Sonserina.

Scorpius não é má pessoa, nem chega perto de um necromancer. Ele possui lá seus mistérios, seus ódios, mas é perfeitamente normal. Scorpius faz parte de uma família extremamente tradicional, honrosa e poderosa. É meio difícil livrar-se de todas suas crenças, seus pensamentos, mas Scorpius até que é flexível. Passou a conversar comigo mais naturalmente, interessessou-se pela tecnologia do mundo trouxa e respeita o meu sangue.

Mas ainda possui o característico desdém, o preconceito e tem algo nele que me chama atenção. Contei isso a Gabrielle e ela havia me dito que era tensão. Tensão por ele ser sangue-puro; por meu pai não gostar da família dele; tensão por ele não gostar da minha família.

Eu realmente acho que deva ser isso. E se tenho uma tensão por ele, mamãe também tem. Hermione é Trouxa, amiga de Harry e Ron, Grifinória e a melhor aluna de Hogwarts. Malfoy é puro, inimigo dos Potter e Weasley, Sonserino e o segundo melhor aluno de Hogwarts. Seguramente, as tensões deles são mais fortes que as minhas para com Scorpius Malfoy. Seguramente, mamãe gostaria de transar com Draco Malfoy!

'É, assim como eu e o Scorpius...' Respondi confirmando com a cabeça.

'Acha que Draco Malfoy pensa na sua mãe?'

Aquela pergunta me pegou de surpresa. Eu não havia pensando pelo lado dele. Não sabia se Scorpius pensava em mim também. Algo dentro de mim quis acreditar que sim. Eu me sentia feliz quando pensava que talvez Scorpius pensava em mim. Mas Draco?

Pela tamanha honra dos Malfoy, capaz de Draco autoflagelar-se a cada vez que pensasse em Hermione. 'Eu não sei, Al...' Respondi honestamente.

'Você gostaria que ele pensasse?'

Pisquei os olhos. Pensei em Hermione... Pensei nela com Draco Malfoy... Pensei em Malfoy. 'Aham.' Respondi baixando os olhos. Aquilo era pecado? Injusto? Eu não sei. Minhas sensaçõs não batem ao estilo dos pilares da sociedade. Eu só sei que eu gosto de pensar que Draco Malfoy pensa na mamãe.

'Ás vezes, acho que papai pensa na sua mãe...' Ele disse extremamente corado. Eu olhei para ele e Alvo tentou não rir.

'É... ás vezes, também acho que mamãe pensa em Harry...' Respondi acompanhando o sorriso sem jeito dele.

'Isso é traição?' Ele perguntou curioso.

Fiquei a pensar, mas não cheguei a uma conclusão e por isso dei de ombros. Ajeitamo-nos ao redor da grande mesa e nos servimos do almoço de verão. Lily Luna e Hugo sentaram-se á nossa frente.

Não me agradava em nada ficar perto daqueles dois, mas fingi normalidade, afinal um era meu irmão e a outra minha prima. Os dois pareciam com raiva um do outro. Procurei na minha mente algum motivo. Provavelmente, Hugo havia descoberto que Lily Luna estava interessada em algum garoto.

'Rose, por que os homens acham que mandam em nós?' Perguntou-me Lily Luna num tom de voz que claramente ignorava Hugo ali ao seu lado.

'Não são apenas os homens, Lily. Em toda criatura viva, encontra-se sempre um desejo de poder.' Respondi normalmente e vi os dois ali á minha frente levantarem as sobrancelhas. Eram muito novos parar entender. Nah, nem tanto. Eram muito grifinórios para entender...

'Quem disse isso?' Perguntou Hugo parecendo irritado com o que eu havia dito.

'Friedrich Nietzsche.' Disse Alvo ao meu lado. Olhei para ele e sorrimos juntos.

'Não acho que ele tenha razão.' Disse convicto. 'Não tenho desejo de poder.'

'Você é grifinório, rapaz. Grifinórios não almejam ser nada mais além daquilo que é.' Quem disse isso para ele foi Gabrielle Mondyllard. Levantei as sobrancelhas desacreditada ao ver minha melhor amiga, em pé, no jardim da Toca, com um sorriso desdenhoso na cara ao lado de Scorpius Malfoy.

'O que estão fazendo aqui?' Perguntei curiosa sentindo toda minha raiva daquele almoço ir embora.

'Estávamos sem fazer nada, daí decidimos aparecer por aqui para ver como estaria andando o almoço de verão da família mais populosa de todo o mundo bruxo.' Respondeu Gabrielle com o sorriso desdenhoso ainda no rosto.

'Papai também veio...' Disse Scorpius com a típica voz mordaz.

Procurei-o com os olhos e vi Draco Malfoy falar algo com tio Harry. Papai fechou a cara para ele e mamãe soltou um sorriso hipócrita. Reparei nas narinas de Hermione se dilatarem, como se puxasse para dentro dos pulmões uma quantidade muito grande de ar. Daí tive a certeza.

Draco e Hermione transavam-se. A todo momento...

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