Capítulo Nove: A Workaholic

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Ino acordou com batidas frenéticas na porta. Ela demorou até conseguir deixar por completo o torpor que a dominava.

Haviam ido dormir extremamente tarde na noite anterior. Não apenas pelo jantar de noivado ter se estendido até altas horas, como também porque todos ficaram conversando na sala de estar, à espera de Sakura, que só apareceu cerca de duas horas depois de haverem se acomodado nos sofás confortáveis.

Deste modo, o período de sono da Yamanaka se resumia a míseras quatro horas, talvez menos, o que contribuía completamente para que uma onda de mau-humor se apossasse sobre o ânimo sonolento e frustrado da loira.

"O quê? O quê?" Perguntou antes mesmo de chegar até a porta, cambaleante. "Merda, o que diabos você quer?" Gritou, sem se importar em verificar o recém-chegado.

Neji entreabriu os lábios, chocado por tamanha desconsideração.

Membro de uma família de posição, embora não tão influente quanto a Uchiha, havia recebido uma educação impecável. Era cortês até quando não era necessário – o que Ino na maioria das vezes achava muito charmoso, porque homens corteses entraram numa época de declínio que praticamente os levou à extinção. Assim, receber um tratamento impolido o deixava constrangido. Ou melhor, desconfortável era uma palavra que melhor descrevia seu sentimento momentâneo.

Ao vê-lo, irreprochável dentro de um terno bem cortado e camisa social, Ino imediatamente se arrependeu. Não esperava que fosse alguém além de Naruto – sua mãe e Sakura raramente batiam na porta. Porém não teve tempo de se retratar. O Hyuuga pigarreou e reassumiu a compostura.

"Hm, sua mãe requisitou a sua presença imediata no quarto de Sakura." Explicou, utilizando-se do seu vocabulário de alto nível e de uma polidez afável, como sempre.

"Oh." A loira piscou, endireitando-se em frente à porta. "Sim." Concordou, vacilante. "Bem, obrigada, Neji. E desculpe pela..." Moveu a mão, constrangida.

"Ah, sim, não se preocupe." Ele a presenteou com um pequeno sorriso, desfazendo por completo a hesitação da mulher à sua frente. "Minha prima mais nova seguidamente acorda com um humor muito menos agradável que o seu." Garantiu, deslizando a mão pelos cabelos compridos e penteados. Sua confissão provocou riso em Ino. "É melhor você ir antes que Sakura comece a gritar."

Com aquela última recomendação, Neji se afastou pelo corredor, descendo as escadas.

Ela o observou partir antes de fechar novamente a porta e se encostar à mesma, tratando de espantar a sonolência com um enorme bocejo. Espreguiçou-se no momento seguinte e, quando abriu os olhos, pôde perceber Gaara a fitá-la, preguiçoso.

"Preciso ir até o quarto da Sakura descobrir o motivo do drama matinal." Explicou, caminhando até o roupeiro, de onde tirou uma calça jeans e uma camiseta branca simples. "Você vai levantar ou prefere dormir mais um pouco?" Perguntou, depositando as vestes sobre a cama, desfazendo-se da camisola, que jogou sobre a poltrona. "Mamãe já deve ter posto o café." Mirou o relógio, que marcava oito da manhã, antes de abrir uma gaveta do armário atrás de um sutiã.

"Hn." O ruivo suspirou, revirando-se debaixo dos lençóis. "Não me sinto tentado a me envolver em tragédias de noivas desesperadas." Murmurou, rouco. "Você pode me chamar mais tarde. Ou tornar a vir dormir comigo quando terminar." Ofereceu, fechando os olhos.

"Não acho que o nervosismo da Sakura passará tão rápido." Comentou Ino, terminando rapidamente de se vestir.

Aproximou-se de Gaara, depositando um beijo sobre os lábios entreabertos.

"Vejo você mais tarde." Sussurrou, encaminhando-se para fora do cômodo, na direção do quarto da irmã.

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O quarto de Sakura estava uma bagunça quando ela chegou.

A noiva estava sentada em frente à penteadeira, rodeada pela Sra. Uzumaki, Tsunade e Tenten, com Hinata acomodada na poltrona perto do sofá, e havia uma infinidade de maquiagens espalhadas por sobre a cama já arrumada.

"Ah, meu Deus, Ino, você precisa nos ajudar!" Gritou Kushina, correndo até a caixa de sombras, agarrando quatro delas, que pareciam diferentes tonalidades de rosa. "Tsunade prefere esse aqui" mostrou a primeira. "porque diz que algo mais suave vai deixar a Sakura com uma aparência mais delicada. Mas eu e Tenten concordamos que o melhor a fazer é usar um tom mais forte, para destacar os seus olhos enormes. Só que não combinamos na escolha!" Exclamou, frustrada. "E o último é ilustrativo." Jogou-o de volta na cama.

"Ino, elas estão me enlouquecendo!" Rugiu Sakura, com Tenten penteando seu cabelo já perfeitamente liso.

A loira deu uma risada divertida ao ouvi-la. Era difícil que Sakura admitisse estar sendo perturbada pelo excesso de produção. Não era um exemplo no quesito moda e um look casual era sua marca registrada, mas adorava se reunir com as amigas para fofocar e testar novas pinturas faciais.

Devia mesmo estar sendo muito pressionada para estender a mão com um pedido de socorro, concluiu.

"Sou a favor da idéia da Tsunade." Disse, escorando-se no umbral da porta. "Cores fortes vão quebrar a suavidade do rosto da Sakura." Declarou com demasiada segurança. "Além do quê, a cor dos olhos dela já faz todo o trabalho de chamar a atenção. Não vamos pôr nada que compita com eles."

"Ah, bem, você pode estar certa." Concordou Tenten, postando a mão na cintura. "Deus, agora entendo porque nunca me casei." Reclamou, soltando a escova. "Ei, Hinata, assuma o cabelo enquanto eu vou fumar na varanda." Pediu, tirando o maço de cigarros do bolso traseiro da calça jeans.

"O meu cabelo está ótimo, obrigada." Reiterou Sakura com secura. "Você vai mesmo fumar ou vai flertar com o Neji, que está lendo jornal por lá?" Perguntou, certo azedume na voz.

A morena pareceu desconfortável por apenas um segundo, porém depois recobrou a compostura. Não precisava conhecê-la demasiado para saber que lidar com questionamentos desagradáveis e sempre obter uma resposta plausível para todos eles era uma característica básica sua. Tenten era segura e desleixada com a sua posição e postura, o que era um ponto a seu favor.

"Você nunca vai saber." Declarou, dando-lhe um sorrisinho afetado por cima do ombro, enquanto cruzava com Ino e seguia pelo corredor.

Sakura observou o local onde antes se encontrava a amiga com os orbes verdes arregalados, que foram assumindo um brilho mais malicioso a cada instante que passava.

"Vou espiar." Anunciou, fazendo menção de se levantar e correr porta afora, sem se importar com o fato de que ainda utilizava a camiseta de pijama do time de futebol de Naruto.

"Não neste século, mocinha." Garantiu Tsunade, pressionando a mão contra o ombro da noiva com força, forçando-a a se manter sentada. "Nós ainda precisamos pintar as suas unhas e fazer a depilação genital. Trouxe o meu aparelho depilatório exatamente por isso, lembra?" Soltou uma risada maldosa. "Ou você esqueceu que disse querer estar lisinha como um bumbum de bebê para o seu marido delicioso?"

A moça virou o rosto para o lado com força, fazendo uma careta, a face se avermelhando gradualmente. "Nunca disse isso!" Afirmou ela, cruzando os braços, um bico se formando nos lábios naturalmente rosados.

As outras mulheres do cômodo soltaram uma gargalhada.

"Você nunca deve ter feito depilação com certa, certo?" Indagou Ino, sentando-se na beirada da cama. "Dói como a morte."

"Não me diga, não me diga!" Sakura soltou um gritinho, perto do histerismo. Sacudiu a cabeça. "P-posso pensar noutro tipo de presente de núpcias para o Sasuke-kun. Talvez um lingerie sensual?" Perguntou, hesitante, dando-lhes um olhar pidão, que tentava demovê-las do plano de uma depilação completa.

"Não mesmo." Negou Tsunade. "Vai ser o seu rito de iniciação para a vida de casada." Comentou, filosófica. "Agora, quanto mais cedo nós fizermos, menos ardida você vai ficar. Tire as calcinhas e se jogue na cama, tigreza!" Declarou, apontando para o local onde a loira estava. "Ah, Ino, livre-se da maquilagem. Kushina, vá pegar uma tesoura para apararmos os pêlos. Hinata, feche as portas e as janelas!" Instruiu, ignorando os orbes jade lacrimejantes de uma Sakura quase desesperada.

Cerca de meia hora depois, tudo o que se ouvia pela casa eram os gritos alucinados de uma noiva arrependida, que prometia nunca mais contar seus anseios secretos para alguém que pudesse ter a chance de realizá-los.

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Neji tremeu ao ouvir o terceiro berro vindo do segundo andar e baixou o jornal, lançando um olhar vacilante para Tenten.

"Vocês estão experimentando técnicas de tortura chinesa na noiva ou o quê?" Perguntou, o cenho franzido, o rosto contorcido em perturbação.

"Ou o quê." Respondeu Tenten imediatamente, dando-lhe um sorriso. "Você é comprometido?"

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"Por que você estava gritando como se estivessem cravando estacas no seu corpo?" Foi a primeira coisa que Naruto questionou quando a família se reuniu à mesa na hora da refeição – os Uchiha se encontravam no hotel da cidade, com os demais familiares.

Sakura lhe lançou um olhar capaz de fazer congelar o inferno.

"É o meu novo hobby." Declarou secamente, servindo-se de um pouco de massa. Sua afirmação ocasionou risos nas mulheres presentes, inclusive em Hinata, que era tímida demais para se expressar. "A cerimônia é às seis, seu loiro imbecil, portanto não fique ocupando o banheiro por duas horas." Avisou.

"Não se preocupe, querida." Disse a Sra. Uzumaki, acomodando-se junto dos demais logo que levou a última travessa e jarra de suco para a sala de jantar. "Nós vamos fazer como fazíamos quando vocês eram pequenos. Os mais rápidos, primeiro." Anunciou. "Isso inclui o Gaara e o Neji. É claro, como eu e Minato precisaremos chegar antes que todos para recepcionar os convidados, começaremos a nos aprontar logo depois que comermos a sobremesa."

"Ahh, mas a cerimônia não começa às seis da tarde?" Indagou Minato, aborrecido. "Por que preciso pôr o terno antes das três?" Reclamou.

"Ahh, papai, não seja resmungão." Reiterou Ino. "Com você as coisas sempre são oito ou oitenta. De quem você acha que Naruto puxou a sua síndrome de noiva no banho?" Zombou, ocasionando risos. "Além do mais, do jeito que a mamãe demora em se vestir e fazer a maquilagem, não deveria se preocupar em sair cedo."

Sakura concordou.

"Nós acertamos todos os detalhes." Garantiu ela. "O pai do Sasuke-kun vai vir me buscar às cinco e meia. Você irá me encontrar na porta." Apontou para o pai. "Ino, Tsunade e Tenten vão me ajudar com o penteado e as demais coisas, mas elas estarão liberadas perto das quatro. Todos os homens da casa já devem estar de banho tomado, para não monopolizar o banheiro."

"Todas essas preparações me deixam tensa." Comentou Tenten, ocupando-se com o suco de maracujá. "Espero que você tenha me posto sentada com a sua irmã e a sua cunhada, Sakura."

"É, eu pus. Mas você nem tente roubar o Gaara-kun da Ino, por mais sexy que ele seja." Ameaçou Sakura, dando-lhe um riso sarcástico.

A morena revirou os olhos.

"Homens comprometidos não me atraem, não se preocupe." Respondeu, olhando rapidamente na direção de Neji, que parecia à parte do diálogo feminino. "Já não posso dizer o mesmo de você, Tsunade." Cutucou a outra, até então silenciosa.

"O quê?" Tsunade franziu o cenho. "Jiraya está separado. Aliás," virou-se para Minato. "preciso admitir que o seu irmão é uma figura agradável, Minato." Comentou. "Nós tivemos uma conversa muito interessante ontem à noite. Espero que não se oponha em ter uma nova cunhada." Chacoteou.

Antes que o Sr. Uzumaki respondesse, ouviram um grito alto vindo do andar de cima e Kushina suspirou.

"Ah, é a tia Chiyo." Disse, embora não fosse necessário explicar. "É uma sorte que ela tenha cochilado na cadeira de rodas ontem, depois do jantar. Tia Chiyo não tem papas na língua. Poderia ter estragado todos os discursos com os seus comentários ácidos." Encolheu os ombros, desgostosa. "Naruto, querido, vá levar o suco de soja para a sua tia-avó."

O loiro soltou um gemido.

"Mas... mas, mãe..." Fez bico. "Estou no meio da refeição. Ela não pode esperar?" Resmungou.

Puderam escutar outro berro imediatamente, quase como revide à resposta mal-criada de Naruto.

"Acho que essa é a resposta que você precisava?" Reiterou Gaara, no seu tom de voz calmo e controlado de sempre, que fez metade da mesa dar um sorriso engraçado.

Enquanto o loiro se levantava e seguia bufando na direção da cozinha, o diálogo continuou girando em torno do casamento que os esperava no final da tarde. Embora Sakura não houvesse comido quase nada em função do nervosismo que sentia, acompanhou a refeição inteira, opinando sobre o pseudo-relacionamento de Tsunade e Jiraya, que parecia ter marcado de se encontrar com a médica durante a festa.

Todos pareciam muito à vontade com a conversa, inclusive Tenten e Neji, que não faziam ou pretendiam fazer parte da família, e tudo o que o Sabaku fez foi se escorar melhor à cadeira para ouvir a Sra. Uzumaki repreender o marido por estar comendo rápido demais.

As mulheres se prontificaram de servir a sobremesa, mas os homens foram os encarregados de limpar a cozinha.

"Você pretende chamar a Tenten para sair?" Questionou Gaara, já em frente à pia, ocupando-se em enxaguar os copos recém ensaboados.

Neji, que secava a louça, ficou calado por um instante. Não parecia nervoso ou inquieto, ao contrário. Apenas aparentava refletir ou pensar na resposta que daria. E ele agarrou mais um prato do escorredor antes de falar.

"Ela é uma mulher atraente." Não disse nada mais do que isso, mas foi o suficiente. "Então, você parecia tenso ontem à noite. Hinata disse que você não se deu bem com o chefe da Ino."

O ruivo anuiu, encolhendo os ombros.

Por não estar com os orbes claros fixos no outro homem, o Hyuuga não percebeu a tensão que se espalhou pelo corpo de Gaara. Uma nuvem negra passou de fronte ao seu rosto pálido, porém se foi com igual rapidez. Era um mestre na arte de controlar o próprio humor.

"Apesar de ter trazido a bicha andrógena do seu marido, aquele imbecil é um mulherengo." Respondeu, sem se preocupar com o vocabulário ofensivo. "Não é exatamente a coisa mais agradável do mundo descobrir que a sua noiva está se relacionando com esse tipo de bissexual intragável." Resmungou, a voz mais baixa do que o normal, como se não quisesse dividir aquele pensamento desagradável com mais ninguém.

Quando Gaara voltou rapidamente o rosto na direção do moreno, inquisidor pelo silêncio duradouro, encontrou-o com um pequeno riso nos lábios.

"Desculpe. É engraçado pensar que alguém é capaz de tirá-lo do sério." Comentou Neji, encolhendo os ombros num gesto de quem tenta se retratar. "Não tiro a sua razão, é claro. O Akasuna nunca foi alguém que merecesse confiança."

"Bem," disse o Sabaku depois de algum tempo. "você viu o resultado do jogo de hóquei?"

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Ino só voltou para o próprio quarto perto das quatro, quando todos os preparativos para com a noiva haviam finalizado. Gaara recém havia saído do banho, com os cabelos ruivos úmidos, e a loira sentiu uma onda dura de sentimentos atingi-la ao vislumbrá-lo jogado sobre a cama, ocupado com o jornal.

Embora soubesse que ele estava plenamente absorvido pelas notícias do dia, Ino sorriu na sua direção sem um motivo aparente.

A proximidade do Sabaku despertava nela sensações adormecidas e fazia o seu peito rugir dolorosamente, ansioso por tocá-lo e beijá-lo e expor fisicamente tudo o que carregava consigo, quase como se fosse uma reverência. É claro, a intensidade dos seus sentimentos por vezes a punha preocupada, mas tudo daria certo enquanto seguisse seu próprio coração – era o que quase todas as mães recomendavam às suas filhas, afinal.

Ela relaxou enquanto caminhava na direção do corpo masculino, enfim atraindo a sua atenção.

"Ah, olá." Declarou Gaara, obviamente ignorante dos pensamentos amorosos que corriam o cérebro da Yamanaka. Deu uma rápida olhada em Ino, voltando-se para o que lia. "Presumo que o dia da noiva tenha acabado?" Indagou, um pouco distante.

"Sim, ainda bem." Anuiu ela, deitando-se ao seu lado. Rolou para junto dele, abraçando a sua cintura, apoiando o rosto no braço direito. "Toda essa correria me deixou exausta. Poderia dormir agora." Bocejou. "Sou a última na fila do banho. Tsunade e Tenten obviamente precisam de mais tempo para se arrumar, já que existem Jiraya e Neji e um ritual de sedução envolvidos. E eu, pobre de mim, não tive nem chance na briga."

"Você vai superar isso." Falou o ruivo, sorrindo de canto.

"É claro que eu vou." Ino se sentou de repente, arrancando o jornal da mão de Gaara, jogando-o no chão. Num gesto rápido, sentou sobre o quadril do homem, espalmando as mãos sobre o seu tórax. "Então, já que todos estão ocupados demais para prestarem atenção em nós, por que não fazemos o nosso próprio ritual da sedução?" Indagou, tirando a blusa.

Gaara soltou um riso baixo, espalmando as mãos quentes por sobre a cintura da mulher.

"Ritual do acasalamento, você quer dizer?" Zombou.

"Você devia me agradecer por não ser obrigado a passar pela parte em que a roupa é o que mais interessa." Murmurou Ino, curvando-se para lhe beijar a boca. Brincou com o lábio inferior do Sabaku por algum tempo, sentindo-o correr os dedos pelas suas costas, provocando arrepios, até chegar aos cabelos dourados, segurando-os para que ela não pudesse escapar.

"Afinal," sussurrou ele, rouco. "o melhor da vida a gente faz sem roupa, não é?" Questionou, provocando um riso baixo na Yamanaka.

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Embora Ino houvesse sido a última a começar a se arrumar, foi a primeira a terminar. E, logo após dar os últimos retoques na maquilagem leve que fizera, sentou-se na sala, junto de Neji e Gaara, que pareciam entediados enquanto viam as demais mulheres da casa correrem de um lado para o outro.

Eram cinco da tarde, o que significava que Minato e Kushina já haviam ido para o local da cerimônia, muito embora a Sra. Uzumaki tivesse deixado Sakura sob alguns protestos de última hora, preocupada em manter a noiva longe das suas vistas mesmo que fosse por pouco tempo. Foi pura sorte que Sakura não se encontrasse demasiado nervosa para implorar para que a mãe ficasse, pois se o fizesse, a certeza de que a mulher ficaria era absoluta.

Agora, Tenten e Tsunade tratavam de terminar a própria produção, intercalando o aborrecimento com a chegada do final do prazo com o aborrecimento provocado pelos gritos da tia Chiyo.

Aparentemente, a velha não se sentia muito confortável no seu vestido perfeitamente apropriado para a ocasião e já retirara os brincos e os sapatos de verniz que lhe haviam sido colocados. Embora fosse final de semana, o programa de bingo que ela sempre assistia estava passando, o que a atraía muito mais do que festas de casamento.

"Você não devia estar dando apoio moral para a noiva ou algo assim?" Questionou Neji, logo ao ver Ino se acomodar na poltrona em frente a eles.

Usava o vestido de madrinha, totalmente reformulado, que lhe caía de modo gracioso. Era de alças, revelando o colo, e não ia muito abaixo dos joelhos, o que destacava o tamanho das suas pernas. Os cabelos estavam soltos, muito embora ela houvesse tencionado prendê-los. Tenten disse que invejava as suas madeixas loiras e lhe pediu para deixá-las soltas, em sua homenagem.

"Nop." A Yamanaka encolheu os ombros. "Sakura quer ficar um pouco sozinha, para se acalmar." Naquela hora, tia Chiyo gritou, porque fizera um ponto. "O que vai ser impossível." Completou.

"Não achei que conheceria uma criatura mais desagradável do que a minha avó, até conhecer a sua tia." Comentou o moreno, franzindo o cenho, o que provocou uma gargalhada divertida da loira.

"Ela ganha qualquer competição com louvor." Concordou Ino, movendo a cabeça. "Mas não é algo com o que você precisará se preocupar hoje à noite. Para a nossa sorte, quem terá de suportá-la durante a festa é o papai."

Gaara, que até então se mantivera silencioso, fez uma careta de puro desagrado diante daquela declaração. "Sinto pena por ele."

"Ou ele, ou nós." A loira encolheu os ombros, aparentemente sem se importar. Já haviam se habituado a dividir o infortúnio de ter a tia Chiyo por perto. Ino já deixara de ir a muitas festas para permanecer em casa, como babá. "Mas não se sinta tão mal. Provavelmente, ela irá dormir logo no início da celebração, como fez ontem à noite."

"O marido do seu chefe vai comparecer?" Indagou Neji, remexendo-se sobre a poltrona, incomodado.

"Ohh, vai." Ino torceu os lábios pintados de rosa com insatisfação. "Deidara não perderia uma oportunidade como essa nem se sua própria mãe estivesse à beira da morte. Ele é absolutamente maníaco por festividades, não importam quais sejam. Comemora até o aniversário do seu cachorro!" Revirou os olhos. De repente, fixou-os no Hyuuga, desconfiada. "Não me diga que..." Um riso malicioso se espalhou pelo seu rosto. "Não me diga que Deidara flertou com você!"

Ele tornou a se mover sobre o assento, desconfortável com o tópico do diálogo. Não os fitava quando pigarreou, ajeitando a gravata.

"Bem, se você chama beliscar o meu traseiro na saída do banheiro masculino de flertar, sim, ele flertou comigo." Admitiu, um leve rubor de ultraje colorindo a face pálida, o que fez a loira explodir numa gargalhada.

"Deidara sempre teve um fraco por morenos de olhos claros." Confidenciou ela, logo após parar de rir. "Não se preocupe. O máximo que ele fará será tentar boliná-lo. Diferente do Akasuna, Deidara faz o tipo 'fiel enquanto durar'."

Neji lhe lançou um olhar cético. "Isso não fez com que eu me sentisse melhor, você sabe."

Sakura gritou do andar de cima, pedindo pela irmã, e Ino teve de subir as escadas antes de responder, despedindo-se com apenas um "Divirtam-se, rapazes."

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O vestido de noiva de Sakura era absolutamente divino. Embora a Sra. Uzumaki houvesse insistido para que a filha usasse o mesmo modelo que usou no seu matrimônio, a moça declinou suavemente a proposta e seguiu a sugestão da sogra, mesmo que a odiasse, e investiu em dólares no seu próprio pedaçinho de céu. Feito, é claro, pelas mãos hábeis de um estilista europeu.

Assim, a peça parecia cair de modo divino sobre a sua silhueta adorável, dando-lhe um ar virginal e vitoriano que encantaria o homem mais duro.

A maquilagem, num tom rosa suave quase imperceptível, acentuava o brilho dos olhos jade, deixando-os ainda maiores no rosto, e ela parecia radiante enquanto era ladeada pelas amigas e irmã até o automóvel, onde o Sr. Uchiha e Itachi a esperavam.

Ao vê-la acenar enquanto partia, Ino sentiu vontade de chorar.

Não fazia o tipo sentimental, mas precisava admitir que aquela era uma cena maravilhosa. A qual nunca imaginaria protagonizar até algum tempo atrás. Casamento e relacionamento estável infelizmente nunca estiveram na sua lista de prioridades, considerando o perfil daqueles com quem lidava.

Filhos, uma casa própria, alguém para quem voltar no final do dia, sem se preocupar em estar sendo ouvida por algum curioso, sem que houvesse o sentimento de competição masculino, em que metade do sexo parecia se mostrar ultrajado ao descobrir a sua posição de prestígio – duramente conseguida, precisava frisar – numa empresa de renome nacional. Tudo aquilo não era um sonho, não fulgurara sua lista de prioridades. Até então, tudo o que ela ambicionara mais efusivamente fora a vice-presidência.

Prostrada na varanda da residência Uzumaki, vendo o carro importado partir, Ino se sentiu, pela primeira vez, invejosa de Sakura.

Como seria quando voltassem para casa?, perguntou-se pela primeira vez. Como seria quando Gaara voltasse para a própria rotina inconstante, quando ela retornasse ao serviço incessante, ficando até de madrugada na empresa, resolvendo problemas aparentemente insolucionáveis? Era difícil imaginar a si mesma e àquele Sabaku tendo de se adequar à rotina um do outro.

Até então, pareceram viver num universo paralelo. Ela estava apaixonada, ansiosa pelo próximo toque, pelo próximo beijo, pela próxima descoberta. Ele descobrira todas as suas fraquezas, tentara saná-las mesmo que temporariamente, estivera de braços abertos para recebê-la, mediante todo o tipo de situação catastrófica. Mas o sentimento existente entre os dois era passageiro ou era forte o suficiente para ser eternizado por um estado civil? A atração resistiria ao dia-a-dia na metrópole?

Ino era uma ausente na própria casa. Não sabia cozinhar, não arrumava a própria cama. As empregadas faziam tudo, compravam tudo. Sua única habilidade era trabalhar.

Como seria o Gaara com seus hábitos particulares? Ele fazia o tipo caseiro ou gostava de sair à noite? Preferia mulheres que aceitassem serem sustentadas ou preferia as independentes? Seu tipo de café preferido? Seu hobby? Correria às seis da manhã como ela ou seria um ocioso? Gostava de preparar as refeições ou preferia comprar tudo por tele-entrega?

Começar um relacionamento no interior do país era diferente de começar um relacionamento na capital do país. Ali, em Ota, eles não deram vazão aos seus hábitos, apenas se adaptaram à grade de acontecimentos oferecida pelos donos da casa. Era como um universo paralelo, refletiu novamente, e que estava muito distante de Tóquio.

"Ei, Ino, o que diabos você está fazendo aí parada?" Gritou Tsunade, despertando-a dos seus devaneios. "Vamos, vamos! Ou chegaremos depois da noiva!" Exclamou, afoita.

Todos correram para o carro, embora soubessem que Sakura ainda faria uma parada no hotel para ser recepcionada pelo Sr. Uzumaki e para que o Sr. Uchiha se encaminhasse até o local da cerimônia.

"No que você estava pensando, tão compenetrada?" Indagou Gaara em voz baixa, quando ficaram ambos para trás, as outras duas mulheres se ajeitando no banco traseiro do jipe.

A loira moveu a cabeça, incerta. Agarrou a mão masculina, apertando-lhe os dedos quentes. "Nisso tudo." Sinalizou o local ao redor. "Em nós. Nós daremos certo, Gaara?" Perguntou, angústia tanto na voz quanto nos olhos claros.

"Só vamos descobrir tentando, não é?" Ele reiterou, ajudando-a a se acomodar no assento de motorista.

Ino o fitou, encontrando um sorriso torto no seu rosto, e imediatamente o correspondeu, aproximando a face do Sabaku, depositando um beijo nos seus lábios. "Sabe o quê?" Murmurou, prendendo-lhe o lábio inferior entre os dentes. "Eu sou louca por você." A frase mal pôde ser escutada pela interferência dos ruídos de Tenten e Tsunade.

"É bom que sejamos dois." Falou Gaara, afastando-se e fechando a porta do motorista antes de seguir para o seu lugar.

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O casamento teve um pequeno atraso de dez minutos. Logo, a noiva invadiu o ambiente, acompanhada do som da marcha nupcial, atraindo a atenção de todos os presentes, mas principalmente a de Sasuke, que pareceu por um momento hipnotizado por aquela perfeita imagem feminina.

Como o esperado, Kushina chorou, borrando a maquilagem, durante os votos.

Embora Sakura houvesse sido muito mais efusiva em suas palavras, já que era uma oradora excepcional, as palavras do Uchiha não deixaram de ter seu digno efeito sobre os ouvintes, surpreendidos que um homem tão impassível como Sasuke tivesse a capacidade de expressar seus sentimentos publicamente.

A cerimônia acabou cerca de vinte minutos depois, que foi quando o padre, após um discurso que dizia respeito às responsabilidades do casamento, os sagrou casados. Houve um estouro de flashes das câmeras fotográficas no momento em que ocorreu o primeiro beijo do novo casal Uchiha e uma saraivada afoita de palmas – embora estas últimas viessem exclusivamente da parte Uzumaki da família, que não se importava em manter a classe acima de todas as circunstâncias.

Sakura e Sasuke abriram a festa com uma valsa.

Todos os convidados já estavam acomodados em suas respectivas mesas. Inclusive, Ebisu, Kakashi e Karin se integraram à mesa de Ino, onde estavam, além dela e de Gaara, Naruto, Hinata, Neji e Tenten. Tsunade os preterira, optando por fazer companhia a Jiraya, Minato e Kushina, onde se sentia perfeitamente bem.

"Quem diria que a Sakura seria a primeira a casar." Comentou Kakashi, vendo a prima dançar, enquanto se ocupava do seu champanhe. "Me sinto velho."

"Isso é porque você está ficando velho, Kakashi, querido." Reiterou Ino, rindo de modo malicioso. "Sei que deve ser um choque, mas você está quase com trinta, se os meus cálculos estão certos. O que significa que está na hora de se arrumar e ter filhos." Piscou para Karin, que revirou os olhos, enrubescida com aquele tipo de insinuação.

"Conhecendo o Kakashi como conheço, filhos não estão no seu programa." Naruto deu palmadas amigáveis sobre o ombro do primo.

"Certíssimo como poucas vezes na vida, Naruto." Falou o outro, o que provocou gargalhadas na metade da mesa. Ele deslizou a mão pelos cabelos, despenteando-os. "Ainda nem transei com quinhentas mulheres diferentes. Não posso mudar meus planos de vida antes de atingir esse objetivo." Declarou, agarrando um canapé.

"Em que número eu me enquadro, precisamente?" Questionou Karin, não parecendo se importar com a verdade cruel.

"Trezendos e dois. Recém começando com o número três, meu bem." Kakashi ajeitou a gravata, dando-lhe um sorriso de canto que pareceu capaz de tirar o fôlego de qualquer tipo de mulher.

"Diabos, Kaskashi, você é repulsivo!" Grunhiu Ebisu, mostrando-se enojado ao fitar a expressão impassível do irmão. "Ainda não sei como não acabou destruído por alguma doença venérea ou algo do tipo, seu ninfomaníaco hediondo."

"Pelo menos 'sexo com freqüência' é um termpo que pode ser incluído na minha rotina. Já não posso dizer a mesma da sua. Por que será?" Kakashi arqueou uma sobrancelha para o moreno, um ar de zombaria incontestável na face. "Ahh, isso é porque você está guardando a sua pureza para o amor da sua vida, não é mesmo?" Seguiu os olhos para Sakura, que dançava com o esposo.

Tenten ainda conseguiu disfarçar o risinho que explodiu em sua garganta com uma tosse, mas Naruto, Karin e Ino, que não se importavam em serem discretos, riram abertamente da piada.

A reação do homem procedeu exatamente como procedia na maioria das vezes: sua face corou em puro despeito e ele se empertigou sobre a cadeira, como se uma posição impecável o ajudasse com a retórica, e ajeitou os óculos, preparando um contra-ataque.

"Gostaria de saber por que terrível motivo me fizeram ser seu irmão." Declarou, ultrajado. "Vou ao toalete, com licença." E abandonou a mesa.

Houve alguns comentários sarcásticos após a saída de Ebisu, o que manteve todos gargalhando por algum tempo, até que Neji convidou Tenten para dançar.

Eles se afastaram da mesa rapidamente, embrenhando-se aos vários casais que se moviam ao som da música agradável, deixando para trás entreolhares maliciosos, claramente cientes do interesse existente em ambos os lados envolvidos.

"Eles fazem um par fantástico." Comentou Karin, roubando um gole do champanhe de Kakashi, com o que ele não pareceu se importar. "Tenten possui uma estrutura física de dar inveja a qualquer mulher que se preze. Nunca ia conseguir umas panturrilhas como aquelas." Fitou Ino, apontando para as pernas da morena, que sorria graciosamente por algo que o Hyuuga lhe falara ao pé do ouvido.

"Não se martirize. Você faz o tipo curvilínea, geninho." Disse a loira, calorosamente. Estendeu a mão, pousando-a sobre a da amiga e a esfregando algumas vezes. "Além do quê, um nerd não é um nerd se é sarado." Completou em tom de troça, dando risada.

"Pelo visto a habilidade para piadas é um mal de família." Soltou Karin, lançando-lhe um olhar azedo.

"Não se preocupe, Karin-chan." Interrompeu Naruto, acomodando-se melhor na cadeira, parecendo excitado. "Normalmente, as únicas pessoas que riem das piadas da porca são ela mesma e a Sakura, que é uma maria-vai-com-as-outras." Explicou, logo antes de estufar o peito. "Já eu," deslizou as mãos pelos cabelos claros. "sou um comediante nato!"

"Pura originalidade." Concordou Ino, sarcástica.

"Um brinde à brilhante capacidade do nosso Naruto aqui em ser engraçado." Kakashi ergueu a sua taça, no que foi imediatamente seguido pela loira – visto que sua acompanhante da noite não possuía nenhuma bebida no momento. "Façamos votos para que ele continue sendo esse poço de diversão!" Desejou, um sorriso divertido delineado no rosto bem feito.

"Amém." Finalizou a Yamanaka, no que ambos tomaram num gole só o restante de champanhe que havia em suas taças.

A partir daí – e da risada chamativa de Naruto -, a conversa se desviou para outros tópicos, onde a banalidade deixou de ser uma marca registrada, e Gaara enfim participou com os seus comentários sempre inteligentes, apimentando a recém erguida discussão entre seu novo cunhado e Kakashi sobre o melhor time do ano.

Foi quando estava começando a se entediar com o teor do assunto que Ino viu Deidara acenar do outro lado do salão, apontando para o banheiro.

Ele estava acomodado em sua mesa de perfeitos executivos Uchiha, onde Sasori parecia entretido e inconsciente da presença de Ino (o que ela definitivamente agradecia). Seu cabelo loiro havia sido preso e vestia um fraque de corte fino, dando a Deidara uma aparência fenomenal.

Sabendo o que a esperava, Ino suspirou e tomou um gole do uísque de Gaara.

"Vou ao banheiro." Avisou, depositando um beijo sobre a bochecha do ruivo.

"Vou com você." Disse Karin, antes que a outra tivesse oportunidade de lhe comunicar seu verdadeiro intento. "Estou mesmo doida por um xixi." Falou, agarrando a bolsa em cima da mesa e ajeitando o vestido chamativo enquanto levantava.

Naruto as olhou com óbvia curiosidade. Alisou o queixo liso, vendo-as começarem a se afastar.

"Gostaria de saber por que as mulheres sempre vão ao banheiro em bando." Falou para ninguém em especial. "Eu odiaria que alguém me visse mijar."

Ino se afastou a tempo de perder a resposta que lhe foi dada, mas não teve tempo de se entristecer. Logo, Deidara as interceptava na divisória dos banheiros, que era recoberta por uma parede, a fim de dar privacidade aos convidados.

Vendo seu pior desafeto se aproximar, tudo o que Karin pôde fazer foi armar uma careta, que logo foi correspondida. Porém, ambos tinham necessidade de falar com a sua amiga loira preferida, o que acabou por uni-los naquele instante, fazendo com que deixassem as desavenças para mais tarde. Preferencialmente quando não sentissem uma necessidade vital de fofocar, no caso da morena, e reclamar, no caso de Deidara.

Sempre se antecipando a tudo, o homem tomou a dianteira, iniciando o diálogo de imediato após encontrá-las.

"Sasori não está me dando a devida atenção!" Exclamou em tom acusatório, bagunçando os cabelos claros com a mão. "Não posso mais ouvir falar de negócios. Eles parecem respirar a seção de economia do jornal. Será que não pra falar um pouco do sapato horrível que a acompanhante do Neji delicioso está usando, por favor?" Resmungou, frustrado.

"Deidara, querido, você é a única bicha entre eles. Não pode esperar que um bando de homofóbicos enrustidos como os Uchiha saibam que gravata vermelha não combina com camisa asul." Disse Ino, revirando os olhos. "Pra isso existem as amigas." Explicou, como quem conversa com uma criança. Virou-se para Karin, que se remexia, inquieta, ao seu lado. "Falando nisso, você viu que Itachi estava a encarando a festa inteira, não viu?"

A outra sorriu, claramente deliciada com a confissão.

"Um pouco." Admitiu, anuindo. "Mas não estou certa de que quero trocar Kakashi por Itachi. Seu primo me faz ter orgasmos múltiplos. É um deus pagão na cama."

"Kakashi é mesmo o melhor pedaço do mau caminho." Concordou Deidara, deixando de lado por completo sua aversão à empregada de Sasori. Falar de homens em geral era um assunto que o agradava muito mais. "E Itachi parece cheio de floreios demais. Tipos assim não fazem maravilhas com o sexo, digo por experiência própria, doçura."

"Nós estávamos num jogo de flerte inocente até esses dias. Itachi é agradável, posso garantir. Talvez esteja interessado num relacionamento estável, diferente de Kakashi. Tudo o que você pode conseguir de Kakashi serão mesmo orgasmos múltiplos." Garantiu Ino, num tom de quem sabe do que fala. "Mas deixemos isso para lá. Com você de braço dado com o meu primo preferido, um cavalheiro como o irmão de Sasuke não vai se aproximar. Agora, vamos para aquele xixi?" Indagou.

As duas adentraram o banheiro feminino, sendo seguidas por Deidara – que só encolheu os ombros e murmurou "O quê? Eu sou quase uma dama!" num tom de ultraje.

Karin recém havia abandonado sua bolsa sobre a pia, pronta para tirar dela o batom, quando ouviram um gemido vindo de dentro de um dos box.

O trio se entreolhou, surpreso, mas o murmúrio feminino e ininteligível irrompeu mais uma vez o silêncio do ambiente, seguido de um suspiro discreto e da pronúncia de um nome em voz arrastada, rouca de paixão.

"J-jiraya, hmm."

Ino sentiu um acesso de riso subindo pela sua garganta, vindo direto do estômago, e correu para fora do local antes que perdesse a compostura e atraísse a atenção de amantes tão discretos.

Tão logo atingiu o corredor, Karin e Deidara apareceram e não foi preciso mais que um entreolhar para que desandassem numa gargalhada frenética. A ponto de fazer a loira se escorar na parede, sentindo lágrimas lhe inundarem os olhos.

"V-velhos tarados." Murmura a morena assim que pôde recuperar o fôlego, ainda risonha.

"Não há idade para o amor." Disse o Akasuna, com bom-humor. De repente se vira para a mulher, analisando-a um instante, e tira um gloss do bolso interno do blazer. "Meu brilho labial vai destacar o seu batom." Ofereceu, dando-lhe um sorriso de trégua.

"Obrigada." Agradeceu Karin, aceitando-o. Tirou um espelhinho da bolsa. "Em pensar que me produzi toda para tentar chamar a atenção da pedra de gelo Uchiha." Zombou, aborrecida.

Enquanto via a amiga delinear novamente os lábios com o gloss oferecido, Ino revirou os olhos. Sabia que em algum momento a sua frustração por ter sido preterida viria à tona. Ela não era o tipo de mulher que aceitava fácil o fato de ser ignorada. Embora o interesse por Sasuke houvesse se escoado como água pelo ralo, seu ego demoraria a se recuperar daquela rejeição.

Deidara suspirou, parecendo concordar, e ajeitou o próprio terno, distraindo-se com os botões por um momento.

"O noivo é o homem mais desagradável que já tive a oportunidade de conhecer." Concordou, fazendo um bico de insatisfação. "Nem mesmo procurou ser afável por um momento que fosse. É como se ignorasse a minha existência. porque eu perguntei se ele fazia o tipo dominador na cama também."

A loira riu de incredulidade.

"Você está mentindo." Acusou, chocada. "Sasuke não pronuncia duas palavras em público a menos que seja obrigado. O que te levou a crer que anunciaria suas preferências sexuais como se estivesse simplesmente falando do tempo?" Moveu a cabeça, ainda em pura descrença.

"Oh, eu não sei." O Akasuna encolheu os ombros, indiferente. "Pensei que um assunto caliente poderia deixá-lo mais à vontade."

"Sasuke age como se tivesse um vibrador enfiado na bunda e não estivesse gostando nada disso." Comentou Karin, provocando risos.

Passaram-se mais cinco minutos de conversas sem fundamento até que as duas mulheres retornaram à mesa da família, onde Naruto parecia claramente aborrecido - sem nenhum motivo aparente. Hinata, ao contrário, estava com uma expressão paciente, acomodada ao seu lado, e se mantinha entretida com a conversa sustentada por Ebisu.

Kakashi soltou um suspiro ao vê-las retornarem, Karin se acomodando ao lado dele, e passou o braço pelo encosto da cadeira onde ela recém se posicionara, enfiando os dedos por entre os cabelos negros.

"Nós estávamos nos perguntando o que de tão atraente havia naquele banheiro." Falou, fitando a prima, que lhe sorriu, agarrando a mão de Gaara por debaixo da mesa.

"Meu bem, você não quereria saber." Ino se entreolhou com a morena, um movimento rápido que gerou risos abafados. Mas a Yamanaka logo tratou de mudar o assunto. Falar sobre as atividades de Tsunade e Jiraya não parecia muito promissor. "Eu estou mesmo faminta." Procurou com os olhos pelos noivos, que começaram a tirar as fotos com os convidados.

"Eles chegarão à nossa mesa em alguns minutos." Garantiu o ruivo, tomando mais um gole do uísque.

Logo que Sakura e Sasuke apareceram, junto do fotógrafo, para serem felicitados, todos se juntaram para a foto, sorriram e brindaram. As mulheres beijaram umas às outras, os homens se cumprimentaram com parcos movimentos de mão, e quando todas as fotografias foram tiradas – e que não foram poucas – eles puderam seguir até o buffet, para se servirem do delicioso jantar.

Após a refeição, vários casais tornaram a se reunir na pista de dança, que tocava algumas músicas lentas, e Gaara e Ino dançaram por quatro ou cinco, até que ela sentisse as novas sandálias fazendo os seus pés doerem e ele resolveu fumar um cigarro. Aquele último intento os levou até a varanda, para que pudessem tomar um ar, e Ino se sentou no banco de madeira, fitando o céu escuro e cheio de estrelas, enquanto o Sabaku agarrava o maço no bolso do terno.

"Está fazendo um tempo maravilhoso." Comentou ela, distraída. "Esse lugar é tão diferente de Tóquio." Suspirou.

Gaara se apoiou na balaustrada da varanda, fitando o rosto feminino, dono de traços formosos e um enorme par de olhos claros, capaz de enlouquecer o mais controlado dos homens. Soltou a fumaça do cigarro acendido lentamente, sem tirar os orbes de Ino, parecendo perdido nos próprios pensamentos.

"Vou parar de trabalhar com mulheres e pôr um anel no seu dedo quando voltarmos, vara-verde." Declarou por fim, a voz tão séria quanto a morte. O maxilar estava rijo, uma particularidade de quando se encontrava em situações difíceis. A expressão profunda e nebulosa fez com que ela tremesse de ansiedade no seu lugar. "Você está pronta para um relacionamento sério?" Questionou, erguendo uma sobrancelha.

O sorriso satisfeito foi se delineando devagar na face de Ino, que não foi pega de surpresa pela indagação – mesmo que internamente Gaara quisesse parecer ameaçador.

"Se isso significar ter você exclusivamente para mim, sim." Anuiu, segurança em suas palavras. "Achei que isso já estava acertado." Comentou, deslizando a mão pelos cabelos claros com serenidade. "Safiras, lembra?" Referia-se à refeição feita no hospital, há alguns dias, em que falaram sobre o assunto.

"Hn." Ele apagou o cigarro. "Vem aqui, vem." Chamou, estendendo os braços.

A Yamanaka não precisou ouvir o pedido duas vezes para atendê-lo.

Levantando-se, seguiu até o sólido corpo masculino, rodeando-lhe a cintura com os braços, e apoiou o rosto sobre o seu tórax, aspirando o perfume de Gaara, com o qual já havia se habituado. Mal sentiu quando ele repousou o queixo sobre o topo da sua cabeça. As batidas do coração vigoroso a mantinham distraída.

"Você vai precisar trabalhar menos." Ele murmurou, baixando o nariz para roçá-lo na cartilagem da orelha dela, fazendo-a se arrepiar.

"E você também." Reiterou Ino, apertando-o mais contra si. O ar abandonou as suas narinas de maneira audível, de modo que provocou em Gaara um riso sarcástico baixo, e ela mordiscou o lábio, desconcertada com a própria reação. "Não quero vê-la flertando com nenhuma enfermeira." Avisou, a voz trêmula disfarçando os seus sentimentos.

"Odeio chegar em casa e não ter jantar." Comentou ele aleatóriamente. "Precisaremos fazer um curso de culinária se você pretende banir todas as mulheres da minha vida."

"Não sei nem como funciona uma lavadora de louça." Admitiu a loira, contendo o riso à recordação dos seus problemas com eletrodomésticos. Não era nenhuma rainha do lar. "Mas eu não me importo de aprender. E aprendo rápido." Garantiu. "Nada de trabalhar mais de oito horas por dia, Gaara. Levar trabalho pra casa, só um dia na semana. E você vai ter que me acompanhar em jantares sociais e festas da empresa."

Ele riu baixo perto do seu ouvido, mordendo-lhe levemente o lóbulo.

"Amor, não tem como eu levar trabalho para casa." Sussurrou, a voz rouca e irônica. "A menos que nós tenhamos uma sala cirúrgica."

Ino não se importou com o tom divertido daquelas palavras. Afastou-se apenas um pouco, adquirindo distância o bastante para que pudesse fitá-lo nos olhos. Havia um brilho de certeza nos seus, que aumentou conforme principiou a falar.

"Sei que não. Estou falando de mim. Eu estabeleço os meus limites, mas você precisará puxar a minha orelha. Sou uma bitch workaholic, Gaara, o que quer dizer que terá muito, muito trabalho até me tornar uma esposa aceitável." Garantiu, ignorando as sobrancelhas sarcasticamente arqueadas na sua direção. "E fique já sabendo que eu acordo às seis da manhã para correr. E odeio, odeio desarrumação."

"Hm, hobby do qual não farei parte às seis da manhã, casa sempre arrumada, hm, anotando isso no meu caderninho, loira." Ele baixou o rosto para beijá-la, massageando devagar os lábios rosados abaixo dos seus. "Mais alguma recomendação ou regra em especial?"

Ela não teve tempo de responder, porque naquele momento escutaram um pigarro vindo da porta da varanda, posicionada bem atrás do casal, e os dois se separaram com algum desgosto.

Temari, que até então não havia tentado nenhuma aproximação, estava encostada no umbral, segurando uma taça. Usava um vestido azul que combinava com o seu tom de pele e o amarelo escuro dos cabelos. A expressão, ao contrário, não parecia nada agradável aos olhos.

"Ah," soltou Ino, aparentemente sem se acovardar. "olá, Temari. Perdeu o caminho do banheiro, querida? É no outro lado do salão."

"Bem, você está mesmo arriando as calcinhas para o meu irmão, pelo visto." Ela comentou, ácida.

"E adorando, obrigada." Reiterou a Yamanaka imediatamente, antes que Gaara tivesse tempo de revidar. "Seria ótimo se você parasse de ser uma puta insuportável, Temari, meu bem. Para a sua sorte, o Gaara aqui me pediu em casamento, o que significa me ver sempre que você for vê-lo. Então você podia facilitar pra mim e eu quem sabe facilitaria pra você, e então daqui a um ou dois meses poderíamos ver um anel de noivado no seu dedo, o que acha?" Lançou um sorriso brilhante na sua direção, que foi prontamente recebido com um franzir de cenho.

"Você está mesmo me chantageando, Uzumaki?"

"Shika é um dos caras mais fantásticos do mundo, mas é o perfeito exemplo do que Karin chama de "lento na paçoca". Você nunca vai conseguir fazê-lo avançar o próximo estágio só com sexo. Shikamaru precisa de incentivo vindo de fora, o que eu totalmente posso proporcionar, veja bem. Se você for boazinha comigo, é claro."

A expressão frustrada de Temari quase fez com que Ino caísse na gargalhada.

"Você é uma vadia boa na arte de barganhar." Admitiu por fim, dando-lhes as costas. "Nós acertamos o nosso trato mais tarde," fitou-a por cima do ombro, mordaz. "irmãzinha."

Nem dez segundos depois que a mulher se foi, Gaara riu.

Ino admitia que só acontecimentos muito engraçados poderiam fazê-lo rir. O Sabaku era duro na queda. E ouvir aquela risada rouca soando nos seus ouvidos a agradou imensamente, o sentimento de satisfação muito maior do que o de estranheza.

"Você e Temari vão acabar virando melhores amigas depois de algum tempo." Disse ele, certeza em sua voz.

Tudo o que a Yamanaka fez, porém, foi encolher os ombros, sem descartar a hipótese.

Temari era visivelmente dura. Independente, dona de uma personalidade forte e nada maleável. Ino não estava certa de que chegassem a se entender, mesmo com a convivência. O ditado já dizia "dois bicudos não se beijam" e ela e Kiba eram a prova viva de que personalidade forte versus personalidade forte acabava em desastre.

"Não vamos exagerar." Concluiu por fim, estalando os lábios. "É muito provável que a mágoa perdure. Eu espero com todo o coração que o seu irmão não seja tão estranho quanto."

"Kankurou é o mais agradável de nós três. Você não vai ter a menor dificildade em deixá-lo nos eixos, com o seu par de pernas." Reiterou o ruivo, um sorriso malicioso no rosto, recordando do irmão, com quem há um bom tempo já não tinha contato.

Naquele momento o celular de Gaara tocou.

Era do Hospital de Ota, informando que Inuzuka Tsume havia acordado há cerca de vinte minutos e parecia estável, embora com muita dificuldade para fazer movimentos motoros com o braço esquerdo.

Conforme ouvia, o rosto do Sabaku foi se despindo da máscara usual, em que parecia relaxado e absorto, para assumir o ar médico disciplinado e seguro de si. Segurança era uma característica vital, que distinguia um bom doutor de um amador, e, notando as nuanças cada vez mais evidentes, Ino se escorou na balaustrada, distraindo-se em esmiuçar a feição masculina, sentindo a gravidade da sua voz lhe percorrer as veias.

Mordiscou o lábio, sorrindo de lado com a própria sorte.

"Do que você está sorrindo?" Questionou o ruivo ao vê-la, logo após desligar o celular. "Bem, não importa." Guardou o aparelho no bolso interno do blaser. "Você acha que podemos dar uma passada no hospital? Quero dar uma última checada na Inuzuka."

"Claro." Concordou Ino, anuindo. "Vamos nos despedir de Sakura. Também estou exausta. Nosso vôo parte às dez."

"Você vai dormir durante todo o percurso." Disse Gaara, agarrando-lhe a mão enquanto ambos adentravam novamente o salão de festas, confortáveis como nunca estiveram com a presença um do outro.

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-

Eram seis da manhã.

Ino mal podia se manter de olhos abertos enquanto se livrava dos sapatos e se jogava na cama.

Teriam parcas três horas de sono até o horário da partida do vôo que os levaria para Tóquio. O suficiente apenas para recuperarem uma mísera parte da energia perdida durante o longo dia anterior.

Todos os convidados hospedados na casa dos Uzumaki também se preparavam para partir e iniciar ainda naquele dia suas rotinas. Neji, Tenten e Tsunade se arrastaram pelo corredor assim como Gaara e Ino e entraram em seus quartos, exaustos demais para até mesmo se despedirem uns dos outros.

Agarrando-se ao corpo sólido do Sabaku, a loira suspirou.

"Essa viagem foi fantástica, não foi?" Ela indagou, sorrindo, o rosto apoiado no tórax masculino. "Daqui a algumas semanas teremos tudo de novo, com Naruto e Hinata. Você vai estar comigo?"

"O que você acha?" Reiterou Gaara, cheirando os cabelos dourados. "Não posso me dar ao luxo de deixar a Sra. Sabaku sozinha numa cidade tão cheia de homens terríveis. Você sabe, Ota é o perfeito centro da perdição." Zombou, deslizando a mão pelas suas costas.

Ino riu baixo.

"Quando nossos amigos se forem, quando nossas festas terminarem," começou, posicionando o queixo sobre as costelas de Gaara para que pudesse fitá-lo. "nós ainda pertenceremos um ao outro, não é?" Perguntou, a voz macia.

O Sabaku lhe deu um sorriso de canto, enfiando os dedos pelas suas madeixas claras.

"Absolutamente." Concordou. "Agora, por que você não dorme, que eu te acordo daqui a pouco, vara-verde?" Puxou-a para cima, plantando um beijo nos seus lábios macios, e a loira imediatamente se acomodou nos seus braços, fechando os olhos.

FIM

Sobre o desafio matemático do capítulo anterior: Quem quiser descobrir como é feita a resolução, olhe a review da Haruka Taichou que ela explica nos mínimos detalhes (ô guria inteligente, sô!)

N/A: Yep, and.... é isso. Vários ganchos para os novos casais, muita interação com coadjuvantes, comentários espirituosos, pessoas se entendendo e tudo o mais. Na última cena, a Ino usou a parte da música da Shakira, que tá no prólogo, super fofis e panz. Não teremos epílogo, porque eu nem sequer fiz o de A Cor da Noite. E estou recebendo ameaças de morte pela Império, então, se for para o bem do povo e felicidade geral da nação, eu digo que O Império está oficialmente de volta à ativa!

Pode rolar alguma continuação, algum dia, mas não se excitem demais. Vamos ficar só no "se". Sabaku tel foi ótima, muito divertida, e rende continuação sim, mas O Império tá precisando de atenção e vou me dedicar a ela agora.

OBRIGADA AOS REVIEWS RECEBIDOS, ESPERO MUITOS MAIS! ACOMPANHEM MINHAS OUTRAS FICS E CONTINUEM COMIGO ;DDDD

Grande abraço, Motoko.