CAPÍTULO 1

- Bella! – ouvi meu pai gritando do andar de baixo.

- Que é? – gritei de volta sem me dar ao trabalho de levantar da cama.

- Vem aqui, menina!

Menina! Credo. Eu estava com 18 anos e meu pai insistia em me chamar de "menina".

Levantei da cama jogando o livro de qualquer jeito do colchão e fui até o topo da escada batendo os pés com força no piso de madeira.

- Diga.

- Preciso de um favor – ele falou com a voz doce demais.

Ai. Lá vinha a exploração.

- Pois não?

- Berta está doente e eu fiquei sem ninguém para cozinhar para os presos. – ele falou rapidamente.

- O senhor quer que eu vire chef de delinqüentes?

- Basicamente. – ele respondeu com um sorriso amarelo – Só por uma semana. Pode ser?

- Café da manhã, almoço e jantar?

- Apenas os dois últimos. O café da manhã eu providencio na padaria.

- Tá. – respondi por fim, bufando – Quantos presos?

- Dois.

- Delegacia movimentada essa. – ironizei.

Ele riu e começou a se dirigir para a porta.

- Daqui a dois dias um deles vai ser transferido para a prisão estadual, então, na maior parte do tempo você só vai cozinhar para um.

- Tanto faz. – a quantidade não ia influenciar no tempo que eu passaria na cozinha – É para começar hoje?

- É sim. Aparece lá às 13h, ok?

- Ok.

- Prometo te recompensar por isso, filhinha. – ele falou já com a porta aberta para sair. – Até daqui a pouco.

- Até, pai. Bom trabalho.

Eu estava de férias do trabalho mesmo. Não tinha muito que fazer esses dias. Não custava nada ajudar meu pai.

E agora aqui estou eu com dois recipientes com o almoço preparado dentro de uma sacola, entrando na delegacia, tendo que correr para escapar da chuva que desabava de repente. Assim que cruzei a porta meu pai me viu e acenou para que me aproximasse, enquanto falava ao telefone.

Apoiei a sacola na sua mesa e esperei. Esperei um minuto. Dois. Três. Cinco minutos e eu já estava impaciente, batendo o pé no chão de cimento.

- Pai, a comida vai esfriar – sussurrei apontando para as marmitas.

Ele pediu para que a pessoa do outro lado da linha esperasse e tapou o bocal para falar comigo.

- Filha, pode me fazer outro favor? – mas ele continuou antes mesmo que eu tivesse tempo de falar alguma coisa – Essa ligação vai demorar um pouco. Pode levar o almoço deles?

- Quê?!

- Relaxa, Bella – ele falou quando viu minha expressão chocada – Não são assassinos nem nada do tipo. Um é um ladrãozinho idiota e o outro só infringiu o limite de velocidade.

- Ah.

- Siga pelo corredor. É a última porta. – ele instruiu – Ao lado da porta tem uma chave para abrir a grade principal, que é a única que você precisa abrir. Só coloque o almoço no suporte das celas e mais nada.

- Ok.

O ruim de pedido de pai e mãe é que não dá pra dizer "não". Por mim eu iria embora e deixaria que o Chefe Swan servisse o almoço deles. Nem me importava se eles recebessem a comida gelada.

Andei pelo corredor com portas de madeira e cheguei à última. Peguei a chave que estava pendurada num gancho e entrei devagar.

O lugar ali era bem iluminado, com apenas três celas do lado esquerdo e uma mesa na entrada antes da grade principal, que deveria servir para algum policial ficar de guarda, mas estava vazia. Claro! Os únicos cinco policiais de Forks não poderiam perder tempo vigiando presos que não representavam risco. Todos estavam fora da delegacia, provavelmente trabalhando num caso que meu pai tinha comentado sobre a morte de ovelhas e vacas na região.

Eu disse a ele que provavelmente tinha sido o chupa-cabra que resolveu mudar de dieta, mas ele não gostou muito da piada.

Abri a grade principal, deixando a chave na fechadura e entrei. A primeira cela estava vazia e eu segui para a segunda. Um homem de cabelos loiros rastafári oleosos logo ficou de pé quando me viu e grudou na cela me olhando com um sorriso nojento na boca que faltava um dente.

- Oi docinho.

Ew. Que nojo!

- Seu almoço – falei apenas, colocando a marmita e os talheres de plástico no suporte da cela.

- Queria você para o meu almoço.

- Continua falando que a próxima refeição vem com laxante.

Ele se calou no mesmo instante e no lugar da sua voz nasalenta, eu ouvi uma risada suave e gostosa.

Olhei rapidamente para a cela ao lado e havia um Adônis deitado na cama, sua cabeça apoiada nos braços e uma das pernas levemente flexionada, numa postura tão relaxada que mais parecia que ele estava em casa.

Infelizmente não na minha casa.

- Nunca provoque o garçom, Mike. – ele falou, olhando apenas para o teto.

Meu. Deus. Que voz era aquela? Ovulei.

- Você não vai querer ter laxante no seu jantar, não é? – ele continuou num tom despreocupado e brincalhão – Duvido que seja muito agradável ter diarréia dentro de uma cela.

- Ei, eu tava brincando, "vi"? – o tal de Mike falou apressado.

"Vi"? Eu não "vi" nada. Eu "ouvi". Além de feio ainda era analfabeto.

Ignorei suas palavras que pouco me interessava e me dirigi à frente da cela de Adônis.

- Seu almoço – falei em alto e bom som, abrindo um sorriso.

Ele levantou a cabeça brevemente para me olhar e voltou a repousá-la nos braços. E então olhou para mim novamente. Oba.

- Oi. – ele cumprimentou com o cenho franzido, levantando lentamente do colchão e andando na minha direção.

- Oi.

- Você não é Berta.

- Meio óbvio isso.

- A não ser que você tenha emagrecido uns cem quilos na noite por dia – ele sugeriu levando uma mão ao queixo – e tirado o bigode e as verrugas. E ainda rejuvenescido uns 40 ou 50 anos. – ele falou num tom divertido, as mãos agora nos bolsos da calça jeans, enquanto seus olhos percorriam meu corpo de cima a baixo, depois de baixo para cima. E descendo de novo.

Forks ficou tão quente de repente.

- Eu não sou Berta. – falei num tom meio arfante.

- Meio óbvio isso. – ele falou e então sorriu. Ele sorriu. É, ele sorriu. Ai meu santinho. – O que aconteceu com ela?

Ela quem? Ah, Berta.

- Está doente ou algo do tipo. Vou ficar responsável pelo almoço e jantar de vocês enquanto ela não melhorar.

- Você fez o almoço? – ele perguntou com uma sobrancelha arqueada, pegando a marmita e tirou a tampa para cheirar o conteúdo.

- Sim.

- Hum... Garota prendada. Começou bem.

- Obrigada. – agradeci sorrindo feito uma idiota, quase babando quando ele sorriu de novo.

Meu celular tocou, me tirando do transe e eu amaldiçoei Jéssica por ligar naquele momento.

- Preciso ir. – falei, me afastando com relutância.

- Até mais, não-Berta.

Saí quase correndo dali para ele não ver o sorriso idiota que tinha surgido no meu rosto.

"Que decadência, Bella Swan. Se encantando por um preso."

Mas eu queria ver alguma mulher ser capaz de agir com indiferença na frente daquele deus. A não ser que fosse uma freira. E ainda tinha que ser cega. Ou lésbica. Ou uma lésbica cega. E eu não era nada disso.

Preparei o jantar com capricho e às 19h eu já estava em frente à delegacia novamente.

Meu pai estava na sua mesa, se balançando nos pés traseiros da cadeira de madeira, enquanto folheava uns papeis numa pasta.

- Oi, Bella. – ele cumprimentou, repousando a pasta na mesa e colocando a cadeira na posição normal. – Pode deixar aí que eu levo.

- Hein? – droga. Por que ele tinha que sugerir isso logo agora? Queria tanto ver Adônis de novo. – Tá.

Deixei a sacola em cima da sua mesa e saí de cabeça baixa da delegacia. O que eu poderia fazer, afinal de contas? Não teria como dizer que queria levar a comida para os presos sem levantar suspeitas. Meu pai era lento às vezes, mas até ele poderia perceber que nesse mato tinha coelho. Uma olhada com mais atenção no preso da ultima cela e ele perceberia o meu interesse no deus ali dentro.

Fui para casa e me tranquei no quarto sem ter nada de interessante para fazer. Ainda tentei terminar o livro que estava lendo pela manhã, mas o personagem que antes me parecia ser tão interessante acabou perdendo a graça e o livro ficou esquecido num canto qualquer do quarto. Liguei o som para tentar ocupar minha cabeça com algo e acabei pegando no sono.

Não lembro bem com o que eu sonhei, mas quando acordei estava suada e arfando muito. Fui direto para o chuveiro do único banheiro da casa e tirei minha roupa que estava um tanto grudada no meu corpo. Minha calcinha era a peça mais molhada, mesmo o suor não tendo chegado àquela parte do meu corpo. Algo me dizia que eu tinha sonhado com Adônis.