Os personagens desta fanfic não me pertencem. Mas eu não pretendo comercializá-los ou ganhar qualquer coisa por ter escrito esta fic além de comentários preciosos.
Desafio: I Chall de Marriage Law do Fórum Seis Vassouras mestrado pela Malu Chan e ainda não julgado
Ship: Rabastan/Harry/Rodolphus
Capa: por DarkAngel – link no meu perfil
Sinopse: A lei tão fria quanto a casa. E a magia em meio ao silêncio.
Spoiller: 7
Beta: twin ^^
Finalização: 25/07/2009
Quantidade de capítulos: 15, e serão postados um por semana, toda sexta.
Aviso: Como se pode prever pela indicação do ship, essa fic contém relação explícita entre dois e três, sendo dois deles em situações de incesto. Além disso, contém m-preg.
Cold Relations
Capítulo 01 – A lei
Um som fino, contínuo e irritante.
O dedo longo e fino, de articulações grossas e unhas roídas, passava levemente pela borda do copo. Indo e voltando. O som era incômodo somente para o garoto, baixo demais para todo o resto do ambiente barulhento.
Harry pegou o copo e entornou metade do seu conteúdo de uma vez, o líquido âmbar descendo quente e frio ao mesmo tempo pela sua garganta. Queimando. E sentir aquilo era simplesmente delicioso. Deixou o corpo se encostar pesadamente à parede de tijolos aparentes e passou a mão gelada no rosto, pousando os óculos sobre a mesa.
Os olhos verdes ébrios esquadrinharam o homem que jogava cartas, bebendo de uma garrafa na mesa ao lado, o grupo de três homens que discutiam no balcão, a moça que andava de forma provocante em meio às mesas, o adolescente caído sobre um dos bancos, o ser de cabelos longos e negros que lhe fizera um brinde de longe.
Harry piscou longamente e recolocou os óculos. Este último era um homem. Os cabelos negros o fizeram lembrar-se de Sirius e ele riu da ironia. Afinal, era de certa forma por Sirius que estava ali. Era a lembrança do padrinho bebendo para lidar com a própria frustração que o fizera tentar a primeira vez.
E não deu certo, então ele tentava várias vezes por semana agora.
O homem entendeu o sorriso como uma afirmativa e chamou o garçom. Cochicharam por alguns segundos antes que o atendente viesse à mesa de Harry, lhe trazendo mais uma dose de bebida.
Era daquilo que ele precisava. De bebida que o fizesse ver pessoas sem rosto e lembranças perdidas, embaçados e combinados em meio ao álcool.
Tomou mais um gole e ganhou mais um brinde e deu mais um sorriso. Era quase automático sorrir, ele havia aprendido que as pessoas gostavam que ele sorrisse, independente de ele ter motivos para isso ou não. Kingsley pedia para que ele sorrisse em frente à platéia que o ovacionava no ministério. Ginny pedira para que ele sorrisse quando ele aceitou seu pedido para voltarem a namorar. Hermione dizia preocupada que ele agora era livre e precisava voltar a sorrir.
Ninguém pediu para que sorrisse quando ele desistiu da carreira de auror simplesmente porque não conseguia mais se obrigar a lutar.
Ninguém pediu para que sorrisse quando ele recusou a primeira insinuação de casamento entre ele e Ginny feita em um almoço de domingo com os Weasleys.
Ninguém pediu para que sorrisse quando ele percebeu que sua vida não tinha direção.
A guerra tinha acabado, o colégio tinha acabado, sua obrigação com a sociedade estava cumprida, seus amigos estavam felizes, as pessoas a sua volta retomavam seus afazeres cotidianos, suas próprias vidas, suas histórias, aproveitando-se da paz que ele conquistara a custo de sua própria alma. E olhando para aquele teatro em câmera lenta que o cercava é que ele percebeu.
Ele não tinha o que retomar.
Sua história coincidia com a guerra, e a guerra acabara. Ele não tinha casa para voltar, não tinha família para retomar, ele não tinha recomeço, porque nunca teve um começo. E quando ele pensou que seu começo, então, era aquele, com sua namorada, seus amigos, sua carreira, as coisas pareciam não se encaixar.
E ele não conseguiu sorrir quando Ron e Mione avisaram que iam se casar e morar em um apartamento pequeno no centro de Londres, onde seria mais fácil para irem trabalhar. Eles tinham um amor, um trabalho, uma casa e um objetivo a construir juntos. Sem ele.
E ele não sorriu quando tomou o primeiro porre e discutiu aos gritos com Ginny. E não sorria cada vez que chegava de volta à Toca e se deparava com a reprovação em cada rosto sardento que cruzava seu caminho. Eles tinham o cotidiano, tinham a família, tinham o que os unia. E ele era demais ali.
E ele não sorriu quando Kingsley aprovou a maldita lei. Ele chutou a porta de seu gabinete e gritou com ele.
Talvez Harry estivesse ainda deglutindo sua demissão, seu deslocamento, ainda estivesse tentando entender porque se sentia tão mal com coisas tão simples. Talvez por isso tenha soado como um golpe tão letal.
Foi um decreto, aprovado pelo Conselho Supremo dos Bruxos e assinado pelo Ministro. Algo evidentemente feito às pressas e sem grande alarde. Segundo Kingsley lhe disse quando o garoto exigiu respostas, foi necessário que fosse dessa forma para atender imediatamente a uma das maiores pressões que o governo sofria: com tantas baixas na guerra, principalmente de sangues-puros, e uma grande mobilização dos pais de nascidos trouxas, que ou saíram do país ou afastaram seus filhos da cultura bruxa, constatava-se que a população bruxa havia decaído de forma vertiginosa nos últimos anos.
E isso era preocupante, pois havia um país e uma estrutura institucional a ser restaurada. Como fazer isso se a cultura bruxa estava fragilizada em seu ponto mais fraco: a natalidade?
Para Harry, não era uma questão de sangue, de nascimentos ou de assassinatos. Era o mesmo tema da supremacia. A teoria que ele ouviu pela primeira vez como sendo de Voldemort, pela segunda como sendo de famílias puro sangue, pela terceira como sendo de Salazar Slytherin, e depois como sendo de Grindenwald e até mesmo de Dumbledore.
E no meio disso tudo ele concluiu que não era uma teoria ou uma conspiração de bruxos malignos, ser bruxo – e quanto mais puro, melhor - era uma ideologia propagada entre os bruxos paralelamente ao medo e à necessidade de sobrevivência.
Mas que medo era esse de não nascerem bruxos, se ser bruxo era algo independente da genealogia da pessoa? Que medo era esse de perder a cultura bruxa se ela estava presente de forma essencial dentro de cada um, e de forma tão firme nas grandes escolas e instituições milenares do país? E porque tanta necessidade de evidenciar os bruxos, os puro sangues, os mestiços, os abortos, se, no fundo, todos estavam imersos de forma tão necessária ao uso da magia naquele mesmo ambiente e naquela mesma cultura?
E quando a necessidade de fazer nascer um bruxo se tornou lei, Harry não conseguiu não pensar em quando provar que se era bruxo e puro foi lei, e em quantas pessoas sofreram com isso.
E ele precisou gritar tudo isso para Kingsley, pois era algo que já estava além do perturbador: eram os seus próprios medos voltando enquanto todos celebravam a paz.
Foi quando, pela primeira vez, o Salvador foi convidado a se retirar do Ministério, e a imprensa que tanto o atormentava querendo declarações, concluiu que sua posição não era interessante, e mesmo Hermione, que já estava grávida do primeiro filho, não se deixou incomodar por detalhes como aquele. E Ginny gostou da lei, e os Weasley concordaram.
Todos tinham outras preocupações.
Mas ele não queria se casar em menos de seis meses, muito menos ter seu casamento monitorado pelo Ministério, e tampouco ter um filho em menos de um ano. E tinha certeza que não era o único solteiro com mais de dezessete anos que expressaria esse desejo.
Porém, aparentemente, havia algo romântico no pós-guerra. Talvez fosse a separação forçada de muitos casais, talvez fosse a morte de muitos maridos e a necessidade de esposas solitárias criarem seus filhos, talvez fosse a sensação de segurança e a liberdade para poder realmente pensar em um futuro que fazia com que as pessoas, em geral, buscassem se compromissar, independentemente da lei.
E Harry se sentiu ainda mais sozinho. E aceitou se casar com Ginny, pois talvez fosse somente disso de que precisava: esquecer os problemas e tentar ser feliz. E ele estava tão focado nessa tarefa que não se importou quando a lei foi incrementada com uma emenda, que obrigava os casamentos a acontecerem somente entre pessoas sem ligação consangüínea em pelo menos sete gerações, e de preferência entre um nascido trouxa e um puro sangue.
O casamento entre Harry Potter e Ginevra Weasley aconteceu em 10 de fevereiro de 1998, no quintal da Toca, em uma festa muito maior que a do casamento de Bill e Fleur ou de Ron e Mione, porém com um quê melancólico, pois as árvores ainda secas do inverno tremulavam com o vento ao longe na tarde nublada. E o noivo não sorria.
Em sua noite de núpcias, Harry só conseguiu confirmar aquilo que já sabia, e que o assaltaria a cada vez que tocasse Ginny durante todo o próximo longo ano: ele não queria aquilo.
Sua primeira vez com uma mulher foi tão fria quanto o vento que corria em meio às mesas ainda montadas no jardim para a festa já acabada. Ele a queria, de certa forma, ela era bonita, desejável e carinhosa. Mas ele estava nervoso, envergonhado, não estava à vontade com ela e não sabia direito o que fazer. Quando desceu para a cozinha, enquanto ela dormia, e abriu uma garrafa de champanhe que sobrevivera às comemorações, bebendo sozinho e em silêncio à luz fraca da lareira quase apagada, chegou à conclusão de que não foi tão bom quanto esperava, e que talvez precisasse pegar o jeito.
Ou talvez ele fosse simplesmente ruim, porque meses se passavam e a cada vez parecia ficar pior. Quando a timidez e a insegurança sumiram, tudo ficou meio automático, o que só foi reforçado pela carta que chegou do ministério aos seis meses, lembrando que precisavam de um herdeiro. Logo.
E Harry começou a realmente desejar um filho. Seu casamento com Ginny não o fez se sentir realmente em uma família, principalmente quando ela decidiu que precisavam de uma casa própria, e se afastaram de todos os outros. Ela não parecia mais feliz que ele, porém. Talvez também esperasse mais. Talvez também precisasse do calor que Harry buscava toda noite em uma bebida qualquer depois que ela adormecia. Talvez quisesse aquela criança tanto quanto ele, para que deixassem de ser só um casal e passassem a ser a família Potter.
Mas eles já não conversavam sobre isso, e não falavam sobre nada, e ela decidiu procurar um emprego quando terminou os estudos, porque queria fazer qualquer coisa. E Harry sabia que qualquer coisa era pouco agora para ele, e para não ficar sozinho no apartamento frio começou a ir ao Beco Diagonal. E em uma de suas travessas, descobriu o bar. E no bar encontrou o calor que lhe faltava.
A primeira vez veio junto com a primeira discussão séria entre ele e Ginny, que veio junto com a carta bem humorada de Ron e Mione parabenizando o feliz casal pelo aniversário de oito meses de casamento e o jantar calado que se seguiu quando ambos se deram conta de que haviam esquecido. E ele disse que estava cansando quando voltaram para casa. E ela disse que estava cansada dele. E ele não quis dormir em casa.
Foi para o bar e bebeu muito mais do que deveria, até chegar àquele ponto em que os rostos não passavam de um borrão e os gestos eram tão lentos quanto todo o resto que o rodeava, e as risadas ecoavam e copos pagos por estranhos se enfileiravam a sua frente, e seu nome, sua cicatriz, suas decisões e sua vida não eram importantes para ninguém ali. Nem para ele.
Quando o corpo quente se aliou ao seu e o abraçou, ele não pensava mais. Ele não pensava no quanto Ginny era distante e no quanto havia se habituado ao frio e à ausência de sua própria casa sendo que tudo o que sempre desejou era o contrário. E o aperto de suas costas contra o peito forte e os braços protetores em volta do seu corpo lhe pareceram o suficiente para diminuir aquele vazio, e ele se virou de frente para o estranho, tocando seu rosto de forma errônea sem conseguir vê-lo, mesmo tão perto. Tão perto que o estranho o beijou e o empurrou contra o bar, contra a parede e contra a porta de um quarto nos fundos. Contra a cama. E Harry descobriu que sexo não era para ser frio e distante, e chegou em casa de manhã mancando levemente e rouco de tanto gritar nos braços do estranho.
E dormiu no sofá, porque não conseguiria olhar para Ginny, conhecia seus traços demais para discerni-los mesmo bêbado.
Harry fitou o homem de cabelos longos que continuava o olhando de forma insistente. Não fizera aquilo uma ou duas vezes, já eram muitas demais para que sentisse a mesma culpa de sempre. A mesma culpa intrínseca em seus pesadelos com corpos caídos, em sua distância dos amigos, em sua cama vazia, em sua falta de perspectiva, em seu copo de whisky. Estava cansado demais para sentir aquela culpa repetitiva, como tudo em sua vida, e precisava do conforto e da ação que sabia que aquele homem poderia lhe dar.
Levantou-se e caminhou trôpego até o homem. Dentes brancos sorriram entre lábios finos, mas Harry não se sentia mais capaz de sorrir. Permitiu-se ser conduzido até os fundos do bar, onde tantos outros casais se tornavam sombras perdidas nas sombras e tudo o que se ouvia eram a respiração contínua e gemidos baixos como se de um só ente. O homem o empurrou contra a parede e o beijou com ânsia, ao que Harry correspondeu com a mesma vontade. Precisava daquilo, daquela força, do gosto da bebida da boca do outro na sua boca.
Desceu suas próprias mãos para o cós da calça do estranho, abrindo caminho entre as roupas para tocá-lo e perceber que o outro não precisava de mais nenhum estímulo. Virou-se de frente para a parede e o ouviu rir enquanto mãos frias desciam suas vestes até os joelhos, o corpo colando-se ao seu, os lábios correndo úmidos o seu pescoço. A primeira estocada sempre doía, mas ele já aprendera a não gritar. Apoiou o braço na parede e a cabeça no braço e deixou seu corpo ser conduzido pelo movimento forte do outro.
Precisava do frio grudento da noite contra sua pele nua em contraste com o corpo quente invadindo o seu. Precisava da mão forte marcando sua cintura e dos lábios ousados que não abandonavam seu pescoço. Precisava dos gemidos roucos e do movimento rápido, do toque íntimo como uma preocupação com seu prazer. Precisava se sentir frágil e cuidado por alguém, por alguns curtos minutos, e precisava da ausência do seu nome quando o grito de êxtase vinha do homem sem rosto. Precisava ser conduzido, porque já não conseguia se manter de pé, e virado com brusquidão para que lábios quentes lhe dessem o que não conseguiu sentir sozinho.
Precisava sentir e se abandonar. Como se sentia abandonado.
E depois disso podia retomar tranqüilo os passos incertos que o levavam de volta para a casa que não era sua, porque nunca teve nada.
-:=:-
NA: Eu preciso confessar: eu amo acabar com o Harry XD
Certo, primeiro capítulo de uma fic realmente longa e nova. Estou experimentando bastante com ela e quero saber quem está acompanhando e o que está achando disso tudo.
Ainda faltam algumas reviews de Merus para eu responder, mas são poucas e acho que termino entre hoje e amanhã, tenham fé e não me abandonem.
No mais, aproveitem. Sexta eu volto com o segundo capítulo.
Beijos ^^