Epithalamium
Quando ele me disse que iria se casar, meu mundo caiu. Ainda não tinha me acostumado com a ideia de que não se cria filhos para nós, e sim para o mundo – essa é a maior injustiça que existe. Nunca me esquecerei do dia em que ele entrou em nossa casa, irradiando felicidade, trazendo Hermione pela mão e declarou, com uma felicidade ímpar, que iria me abandonar.
A partir daquele dia, passei a odiar o inverno com todas as minhas forças. Doía ver a neve caindo devagar, alheia a todos os meus problemas, como caíra naquela tarde; era tortura ouvir a lareira crepitar e me lembrar das noites em que eu velara pelo seu sono quando ela, cansada das besteiras dele, lhe colocava para fora do quarto. Era terrível preparar uma xícara de chá e me recordar da criança ruiva cheia de sardas que me pedia, com um olhar inocente, um pouco de chocolate quente nas noites mais frias do inverno inglês. Mais difícil ainda era saber que aquela criança não existia mais, conclusão à qual eu chegava todas as vezes em que sentia falta dos gritos infantis que se seguiam às boladas de neve.
A cada olhar que você me manda, Ronald, eu te entendo um pouco mais; a cada vez que olho para você, nesse terno caríssimo de risca-de-giz e me lembro de tudo isso, eu entendo o que você fez. É difícil ser mãe por ter que ver o amor passar. Mas agora, toda vez que eu vir a neve cair devagar, toda vez que ouvir a lareira crepitar, toda vez que preparar uma xícara de chá e toda vez em que sentir falta de gritos infantis, não sentirei mais raiva, e sim amor, porque é impossível sentir alguma outra coisa lembrando de vocês.
