Estilhaços

Sinopse: Ela, dona de uma mente perigosa. Ele, estudante de psicologia com uma tese a fazer. O centro de reabilitação foi o ponto de encontro. EdwardxBella.

Disclaimer: Twilight não me pertence e todos sabem muito bem disso, obrigada.


Capítulo 5: Desconfiança

Obviamente, Alice estava pronta e à espera quando fui procurá-la em seu quarto. Ela parecia extremamente radiante com a possibilidade de se livrar dos remédios e das horas intermináveis de terapia. Eu tentei demonstrar o mesmo entusiasmo, mas estava tão cansada depois de toda aquela atuação com Edward, que talvez não tenha sido convincente o bastante. Não que Alice realmente estivesse prestando atenção nisso, na verdade.

- Você demorou. – ela disse, mas abriu um largo sorriso para mim. – Eu sabia que Edward Cullen só poderia significar boa coisa, para você principalmente. – ela piscou, rindo baixinho.

- Francamente, esse não é o melhor momento para gracinhas, Alice. – eu ralhei, embora tenha retribuído seu sorriso. – Edward está esperando lá fora. Tem certeza que consegue sair sem chamar atenção? – olhei para ela em dúvida.

- É claro, Bella. – ela rolou os olhos, bufando. – Eu não sou nenhuma amadora.

- Certo. – concordei, deixando de lado minhas suspeitas quanto as suas habilidades de fuga. – Vamos.

Passar pela segurança da clínica não foi uma tarefa difícil, eu estava acostumada a me deslocar em lugares proibidos – digamos assim – e Alice, surpreendentemente, conseguia me acompanhar com facilidade. Assim que estávamos a uma distância segura, pude ver Edward parado ao lado do Volvo prateado. Seu rosto se iluminou quando nos viu e ele gesticulou para que andássemos mais depressa.

- Edward! – Alice correu até ele, enlaçando-o em um abraço apertado. Eu observei intrigada a sua reação, ela o conhecia pelas inúmeras vezes em que ele fora me visitar na clínica, mas mesmo assim eles não trocavam mais do que algumas poucas palavras. E lá estava ela, abraçando-o e conversando como se os dois fossem amigos de longa data. – Eu estou tão feliz que você finalmente resolveu tomar essa decisão!

Decisão? Eu olhei curiosa para Edward, seus olhos dourados encontraram os meus e ele subitamente parecia aflito com a tagarelice de Alice, como se ela soubesse de algo realmente importante e estivesse prestes a contar – sem ao menos se dar conta disso.

- ...Porque eu não poderia esperar nada mais vindo do meu irmão. – ela continuou, alheia aos olhares de súplica de Edward.

- Irmão? – eu repeti, incrédula. Alice pareceu perceber que cometera um grave erro e Edward me olhava com incerteza.

- Você...não disse nada a ela? – ela perguntou, mirando-o com a mesma incredulidade que eu. Ele apenas negou com um aceno de cabeça. – Mas eu vi você contando! – ela exclamou, exasperada.

- Eu mudei de idéia, há alguns poucos minutos. – ele respondeu, olhando-a como se dissesse que a culpa não era dela. – Bella, eu sinto muito não ter contado nada para você. – ele se aproximou de mim, e eu instintivamente dei um passo para trás.

- Vocês dois, são mesmos irmãos? – eu perguntei, mas sabia que receberia uma resposta afirmativa. Era apenas estranho demais que eu não tivesse percebido nada. Eu deveria ter reparado nas semelhanças: os mesmos olhos dourados, a mesma pele pálida. E ainda havia o modo como Alice o elogiava e me incentivava a conversar com ele, como se soubesse exatamente que tipo de pessoa se tratava. Era tudo tão simples e claro que não conseguia entender como ficara cega a tudo isso.

- Sim. – Alice respondeu, também se aproximando de mim. Eu recuei mais um pouco, em outras circunstâncias a situação pareceria até engraça. Imagine, Isabella Swan recuando como uma presa encurralada! Isso não fazia sentido algum. – Mas não muda nada o fato de que queremos ajudá-la. - ela sorriu, meio receosa.

- Como você pôde? – perguntei, lançando um olhar furioso na direção de Edward. - Eu confiei em você! – era mentira, claro, mas eu sabia muito bem que estivera quase a ponto de fazê-lo. O que era uma total estupidez.

- Eu achei que não estivesse pronta. – ele respondeu, como se aquilo lhe absolvesse de qualquer culpa. E talvez, ele realmente acreditasse nisso.

- Bella, por favor. – Alice pediu. - Edward fez tudo isso por você! Pense em tudo o que ele arriscou! – ela parecia quase suplicante, muito diferente da Alice risonha que eu conhecia.

- Bella. – desta vez era Edward, mas ele não estava suplicante nem nada parecido. Pelo contrário, ele estava confiante. – Venha conosco. Pode decidir o que fazer depois, se ficar aqui só tem a perder.

Ele estava certo – eu poderia ser facilmente pega e levada e volta, sem contar que não tinha exatamente para onde ir – e eu o odiei por isso.


Pelo menos, eu constatei satisfeita pelas feições de espanto dos presentes, não era a única desavisada do plano de resgate de Edward. Carlisle e uma mulher de cabelo marrom caramelado e rosto em formato de coração – que eu presumi ser sua esposa – olhavam de mim para Edward, provavelmente decidindo qual a melhor atitude para tomar.

Havia mais três pessoas na sala de estar, aparentando a mesma faixa etária. O primeiro era alto e musculoso, de cabelos escuros e curtos e, ao contrário dos outros, sorria como se a minha presença ali fosse totalmente normal, ou até mesmo divertida. Ao seu lado estava uma loira estonteante, parecendo como uma modelo saída de algum catálogo da Victoria Secrets. Ela me lançou um olhar raivoso, os lábios apertados em uma linha fina. Bom, pelo menos alguém naquela casa tinha senso de auto-preservação.

Então eu me voltei para observar o último presente. Ele era loiro, não tão corpulento como o outro, mas ainda assim, alguém que eu supunha ser capaz de levar a melhor em uma boa briga. Como se percebesse o peso do meu olhar, sua atenção passou de Edward e Alice para mim, me avaliando de tal modo, que por um instante, eu pensei que ele soubesse exatamente que tipo de pessoa eu era.

Mas se sabia ou não, ele não pôde dizer. Porque, de repente Alice estava parada a sua frente, os olhos dourados brilhando em expectativa e pelo modo como ela se portava, eu percebi que estava se segurando para não enlaçar seus braços ao redor do pescoço dele.

- Você veio. – ela disse, abrindo um largo sorriso.

- Desculpe a demora, madame. – ele falou, e sua voz tinha um 'quê' do sotaque sulista.

Ainda sorrindo, Alice se virou para que eu voltasse ao seu campo de visão:

- Eu te disse Bella. – parecia impossível, mas o sorriso se alargou ainda mais. – Jasper não é um devaneio, você consegue vê-lo, não consegue? – ela perguntou, se aproximando de mim.

- É o que parece. – eu respondi, surpresa pela revelação. Não eram muitas coisas que tinham a capacidade de me surpreender, mas a saber que ele de fato existia era totalmente inesperado. Eu sempre considerei Alice como alguém dotada de uma forte intuição, mas nunca como uma...vidente.

- Isso é ótimo, mas o que vamos fazer com ela? – uma voz irritada falou, e eu percebi que a loira finalmente resolvera se manifestar. – Ela certamente não pode ficar aqui, já é bastante ruim Edward ter tirado Alice de lá sem permissão.

- Você sabe por que fiz isso, Rosalie. – Edward respondeu, e sua voz soava baixa e ameaçadora. Eu nunca o vira daquele jeito e era até engraçado ver como a loira, Rosalie pareceu se encolher com o tom dele.

- Brigar não vai nos fazer encontrar uma solução. – a voz de Carlisle soou, como sempre era ele quem trazia a razão.

- Não vejo porque, brigar sempre resolveu muita coisa. Pelo menos para mim. – o grandalhão ao lado de Rosalie falou, parecendo achar graça da situação.

- Nem todo mundo tem cérebro de ervilha, Emmett. – Alice respondeu, provocativa.

E antes que Emmett pudesse abrir a boca para retrucar, Edward falou:

- Por favor, nos deixem a sós por alguns instantes, sim? – ele pediu, olhando firme para cada um deles. – Bella e eu precisamos conversar. Afinal trata-se da vida dela, e é ela quem deve decidir o que fazer.

Eles o olharam com indecisão, mas como Edward permaneceu firme em seu pedido, o restante da família se afastou, indo cuidar de seus próprios afazeres. Apenas Alice e Jasper permaneceram na sala, conversando baixo em um canto afastado para nos dar o máximo de privacidade.

- O que foi? – eu perguntei, lançando-lhe o meu melhor olhar de concernimento. - Você parece preocupado, mais do que o normal. – é claro que o clima na casa não era dos melhores, mas tinha minhas dúvidas de que era realmente isso que o estava incomodando.

- Nós vamos ter que sair daqui. – ele disse. – Eu sinto muito Bella, mas ficar longe de Forks é o melhor que podemos fazer agora.

Nós. Isso soava quase certo, como se estar ao lado dele fosse nada mais do que normal e aceitável. Mas eu sabia perfeitamente bem que era algo improvável de acontecer, não podia simplesmente fazer as malas e fugir com Edward.

- Quanto tempo? – eu fui rápida e objetiva, ignorando o fato de que ele se incluía nesse plano de fuga.

- Não sei, talvez alguns meses. – ele pareceu ponderar sobre isso. - O tempo que for preciso para que as coisas se acalmem.

- E você tem alguma idéia de onde ir? – perguntei, apenas para mantê-lo falando enquanto eu traçava a minha própria rota de fuga. Uma vez que já estava fora da clínica, desaparecer por uns tempos não seria problema para mim.

- Alasca. – ele me disse. – Para junto das irmãs Denali, tenho certeza que elas vão concordar em nos deixar ficar.

- Não. – eu disse, simplesmente. Ele me olhou espantado, Alice levantou, desviando sua atenção de Jasper para me lançar um olhar de desaprovação. Ótimo, ela estivera ouvindo mais do que devia.

- O que? – Edward perguntou, voltando seus olhos dourados para mim, incapaz de acreditar que eu estava falando sério.

- Eu não vou. – afirmei. – Eu realmente agradeço por ter se arriscado me tirando de lá, mas eu não vou fazer o mesmo. Não posso me arriscar. – eu esperei que ele entendesse isso, de verdade. Não era nada pessoal, eu apenas não era capaz de um gesto como aquele, não fazia parte da minha natureza me colocar em perigo pelos outros.

- Bella. – ele me chamou. - Não vai estar totalmente segura se ficar aqui, além do mais sozinha.

- Ah, acredite, eu posso me virar. – eu sorri para ele, sem diversão. - Eu sou uma sobrevivente, sei cuidar de mim mesma.

- Não posso deixar que você faça algo tão estúpido. – ele exclamou, transtornado pela calma com que eu tratava o assunto. Aquilo foi demais, até mesmo para mim.

- Porque se importa? – eu lhe lancei um olhar cortante. – Pra quê se preocupar com alguém como eu? Por Deus, Edward. Eu sou uma psicopata! – a última frase foi quase um grito, mas eu esperava que pelo menos assim, com a verdade estampada, ele fosse capaz de perceber o perigo que eu representava.

- Porque eu amo você. – ele falou, e se antes havia me surpreendido com Alice, eu não saberia dizer o que se passou na minha cabeça depois daquelas palavras. Choque, confusão e inúmeras possibilidades de como usar seus sentimentos ao meu favor. Mas acima de tudo havia a sensação de que aquilo era errado e perigoso. Perigoso para nós dois.

Ele não se inclinou para me beijar como eu esperava que fizesse. Apenas continuou me olhando com intensidade, como se esperasse que um 'eu te amo' tivesse o mesmo significado de um voto de confiança.

Não tinha. Mas eu sabia que apesar de não querer que ele se envolvesse mais ainda com a minha vida, não havia muita coisa que eu pudesse fazer. As possibilidades que ele me oferecia ainda eram a melhor coisa que eu tinha no momento.

- Ótimo. – concordei. - Eu só preciso de uma última coisa. Na verdade, um favor.

- Diga. – ele falou, e o alívio estava presente em sua voz.

- Me leve até a minha casa.


Assim que Edward estacionou o volvo na frente de casa, desci correndo e bati na porta insistentemente até que meu pai viesse abri-la. Eu pude ouvir Charlie resmungar um pouco enquanto girava a chave, mas seu rosto se iluminou ao perceber que era eu quem estava na soleira da porta.

- Bells? – ele parecia surpreso e levemente atordoado. Eu não pude culpá-lo, afinal, deveria ser a última pessoa que ele esperaria encontrar lá. Estava prestes a cumprimentá-lo quando ouvi o barulho de algo que supus ser uma cadeira de rodas, se aproximando de nós.

- Ora Charlie, você deveria escolher um time realmente bom, ao invés de torcer pelos... – a voz de Billy Black sumiu quando ele chegou perto o suficiente para me ver. - Bella.

- Boa noite, Billy. – eu cumprimentei. Ele olhou para mim cheio de uma suspeita não camuflada, mas eu o ignorei.

- O que está fazendo aqui? – Charlie me perguntou. – Liberaram você da clínica?

- Não. – eu respondi, não havia motivo para mentir para o meu pai. Estava certa de que ele não me condenaria por ter fugido de lá, muito menos me levaria de volta. - Eu...só queria me despedir. Vou passar algum tempo fora, e não sei bem quando vou voltar. – na verdade, eu nem ao menos sabia se colocar os pés de novo em Forks, mas Charlie não precisava de mais essa informação.

Eu lancei um olhar para Edward, parado junto ao volvo. Fora extremamente educado da parte dele manter distância – mesmo que pequena – enquanto eu conversava com meu pai e resolvia o que quer que ele achasse que eu viera tratar aqui.

- Entendo. – Charlie falou, ele não soava decepcionado, mas eu sabia que ele não aprovava de todo a minha atitude. - Deveria dizer para se cuidar, mas sei que você é capaz de fazer isso melhor do que ninguém.

Era em momentos como esse, que eu pensava que se pudesse sentir algum tipo de afeto, seria pelo meu pai. Eu não era emocional, mas sabia reconhecer que ele estivera ao meu lado desde sempre. E talvez o único que sabia quem eu era de verdade, mas não se importava. Eu era sua filha, e isso não iria mudar.

- Bom te ver, Billy. – eu disse, depois de me despedir de meu pai. Eu estava de costas para eles quando ouvi Billy falar.

- Charlie...conte a ela. – ele disse, e parecia de certa forma angustiado. - Depois de tudo que aconteceu, ela deveria ao menos saber disso.

- O que aconteceu? – eu perguntei, olhando de um para o outro. Antes que eu me desse conta, Charlie estava me conduzindo para fora, longe do olhar e dos ouvidos de Billy.

- Bella, é o Jacob. – ele disse, objetivo. Essa era uma das coisas que eu gostava nele, sem rodeios ou distrações, apenas os fatos mostrados como eles são.

- Jake? Aconteceu alguma coisa com ele? – perguntei, e minha voz subiu algumas oitavas.

- Sim. – meu pai falou, mas havia algo como alegria em seu tom. - Ele acordou.

Acordou. Por incrível que pareça, eu não sabia o que fazer com essa informação.

Jacob Black estava lá naquela noite, ele vira tudo o que aconteceu. E fora por estar lá que ele acabara em coma, em primeiro lugar. As paredes estavam se fechando sobre mim, Jacob contaria o que sabia. Eu estava perdida, e desta vez, eu talvez não tivesse como fugir.


N/a: Olá! Sim, eu sei que demorou muito³ para atualizar, maas época de ENEM/vestibular não é pouca coisa, eu estou quase morrendo, sério. Enfim, deixo avisado que novos capítulos vão demorar, mas a fic não vai ser abandonada – até porque eu já tenho todos os capítulos planejados. Espero que vocês gostem desse capítulo, ligeiramente maior e no próximo...teremos a verdade sobre o que aconteceu com o Jake e qual o envolvimento da Bella nisso e tals. Bem, obrigada pelas reviews, eu adorei cada uma delas! :D

E até o próximo capítulo! Beejos :*