Estilhaços
Sinopse: Ela, dona de uma mente perigosa. Ele, estudante de psicologia com uma tese a fazer. O centro de reabilitação foi o ponto de encontro. EdwardxBella.
Disclaimer: Twilight não me pertence e todos sabem muito bem disso, obrigada.
Capítulo 1: Uma mente perigosa.
Eu sempre soube que havia algo de errado comigo. Os gestos, palavras, olhares, o mundo em si tinha um significado totalmente diferente para mim em relação às outras pessoas. Eu não tentava me enquadrar em um padrão, muito menos buscar desesperadamente por um sonho.
Traçar planos e alcançar objetivos sem dar importância ao que acontecesse no trajeto era o que eu fazia, o que eu sabia fazer perfeitamente. Sonhos, utopias e romances de tirar o fôlego nunca me interessaram. Eram coisas sem importância. O aqui e agora, assim como a diversão e o que de material eu pudesse conseguir era o que tinha real valor. O que eu verdadeiramente almejava.
A falta de sentimentos e a incapacidade de sentir culpa, mesmo pelo menor dos atos, foi o que primeiro chamou a atenção, e o que inevitavelmente acabou me expondo. Eu sabia o que eles significavam: amor, ódio, paixão; poderia interpretá-los facilmente, mas nunca passaria de uma mera representação. Eu queria o mundo por completo, mas não as pessoas que o habitavam. E era totalmente incapaz de sentir o que quer que fosse por elas.
Dizem que esse defeito é de nascença, que está no meu sangue e nos meus genes, mas duvido muito que Renée ou Charlie sejam capazes de agir, pensar ou até mesmo deixar de sentir como eu. O vazio dentro de mim não poderia nunca ter qualquer relação com meus pais.
Porque eles não poderiam nunca ser uma dessas mentes perigosas que mentem, manipulam e até matam, camuflando-se em meio aos outros como os bons camaleões que são. Eles nunca poderiam ser iguais a mim. O que sou?
Eu sou o que as pessoas chamam de psicopata.
As palavras de Alice chegavam aos meus ouvidos claramente, embora eu não me preocupasse em dar atenção ao que ela dizia – não que ela se incomodasse, na verdade, parecia não perceber que se encontrava em um monólogo, ou até mesmo o apreciava.
- ...que o novo residente parece ser... – a menção a um novo integrante na equipe média fez com que minha atenção se voltasse para ela. Sangue novo poderia significar tanto um problema como uma oportunidade, verificar era sempre bom.
- Desculpe, o que você disse, Alice? – perguntei, mirando seus olhos cor de mel.
- Eu estava contando sobre o novo residente. – ela rolou os olhos, ligeiramente irritada pela minha interrupção. – Parece ser um rapaz bastante agradável. – um pequeno sorriso enfeitou seu rosto.
- Todos eles parecem. – comentei, em tom mais baixo. – Algo mais que queira me contar sobre ele? – pressionei, observando suas reações mais atentamente.
O sorriso dela aumentou, aparentemente satisfeita pelo meu súbito interesse.
- É estudante de psicologia, do último ano. Parece que a tese dele se baseia em doenças mentais. – ela lançou-me um olhar divertido. – Ah, sim, ele é filho do Dr. Cullen que trabalhou aqui no ano passado, lembra-se dele?
- Claro. – concordei, lembrava-me muito bem do homem loiro com aparência de galã de cinema. Amigável, mas profissional demais para ser manipulado. – Provavelmente conseguiu o estágio por influência do pai.
Alice concordou com um aceno de cabeça, a boca abriu-se ligeiramente, mas tornou a se fechar quando ela avistou algo às minhas costas. Então ela voltou seu olhar novamente para mim, entusiasmada.
- Parece que vamos descobrir do que o Cullen é feito. – ela riu baixinho. Meus olhos acompanharam os seus, em busca da única figura que não seria familiar.
A descrição que Alice me fizera não fazia jus a sua real aparência. Os cabelos cor de bronze, a pele incrivelmente branca e os olhos dourados preencheram o meu campo de visão durante vários segundos. Ele era lindo. E isso, novamente, poderia tanto me trazer benefícios quando prejuízos. Era melhor tomar cuidado, pelo menos até saber do que ele era realmente feito.
O olhar dele se voltou para mim, como se percebesse que eu o estivera observando segundos atrás. Eu poderia dizer que o dourado de seus olhos demonstrava curiosidade e algo que talvez fosse surpresa, mas eu não podia avaliar com certeza.
A mão de um dos residentes pousou em seu ombro e ele se voltou para escutar o que o outro dizia, provavelmente instruções sobre como lidar com os pacientes, uma vez que enquanto falava, seus olhos mantinham-se focados em nossa direção, desconfiados.
Alice soltou uma exclamação, eu me virei para ela, pronta para mais uma de suas estranhas predições do futuro – que embora eu custasse a admitir, não se tratavam de um surto esquizofrênico. Mas ela apenas sorriu, acompanhando os movimentos do Cullen com ávido interesse.
- Ele te interessou tanto assim? – perguntei, procurando rápidas explicações para o comportamento exagerado de Alice. Ela geralmente fazia apenas um comentário ou outro sobre pessoas novas naquele lugar, mas eu podia entender porque ele causava essa reação.
Ela me encarou com espanto, mas logo suas feições se suavizaram e ela me lançou um pequeno sorriso de compreensão.
- Não Bella, ele não me interessa nem um pouco nesse aspecto. – ela riu, como se achasse muito engraçada a idéia de ter um relacionamento com o Cullen. – Mas o futuro dele, ah sim, isso é algo que chamou muito a minha atenção.
- Você deveria parar de falar sobre visões do futuro. – eu suspirei. Aquela não era a primeira vez que eu tentava colocar um pouco de juízo na cabeça de Alice. – Não quer que eles te encham de remédios outras vez, quer? - não que eu fosse realmente me importar se isso acontecesse, mas a companhia dela era agradável e era sempre bom mostrar-se sociável naquele ambiente.
- Eu não vejo nada disso acontecendo, então não há com o que se preocupar. – ela sentenciou, provando como falha mais uma de minhas tentativas de torná-la mais cuidadosa. Não que eu não esperasse por algo assim.
Lancei-lhe um olhar zangado, e ela riu, divertindo-se com a minha frustração. Eu estava acostumada a conseguir o queria, não importava que tipo de pessoa se tratasse. Mas é claro que Alice não podia ser considerada parte desta regra. Ela era diferente demais da maioria, e talvez, fosse isso que a tornasse imune a mim.
- Com licença. – a voz melodiosa dele me sobressaltou com a proximidade, mas eu já estava totalmente refeita quando me virei para ele, dirigindo-lhe um sorriso educado. Alice o fitou com olhos curiosos, mas permaneceu calada. – Meu nome é Edward Cullen. – ele se apresentou.
- Bella Swan. – não que ele já não soubesse meu nome depois de ser instruído com quem poderia falar, mas se ele mostrava-se gentil eu deveria seguir a mesma linha. Embora não entendesse porque o mandaram falar justamente comigo. Eu não era a mente mais perigosa de lá?
- Alice Brandon. – a voz de sino de Alice respondeu, enquanto ela sorria de leve para ele. E sem motivo aparente, ela se levantou, oferecendo seu lugar para Edward e murmurando uma desculpa qualquer antes de se retirar.
Eu não entendia o motivo de Alice querer que eu ficasse a sós com ele, eu me sentia estranhamente desconfortável com sua presença, o que me irritava. Eu não estava acostumada a lidar com emoções, as entendia perfeitamente, mas elas nunca se aplicavam a mim. Mas talvez eu só estivesse incorporando demais a personagem.
- Importa-se em conversar um pouco, Bella? – ele perguntou, novamente gentil. Se havia notado a intenção de Alice, preferiu deixar suas suposições guardadas para si. Perguntei-me se ele realmente se tratava de uma pessoa agradável, ou se este era apenas um artifício de aproximação.
- Não exatamente. – eu respondi, ele me lançou um olhar interrogativo. – Se quiser conversar, ótimo. Mas eu não estou com o mínimo de paciência para servir de cobaia para a sua tese. – expliquei, suas feições tornaram-se de espanto, para depois darem espaço a um riso baixo e controlado.
Isso me surpreendeu. Geralmente as pessoas ficavam ofendidas ou desencorajadas a me incomodar novamente. Mas rir era uma reação que eu não previra; eu devia prestar mais atenção em Edward Cullen, ele aos poucos provava ser diferente. Talvez tão diferente quanto Alice.
Eu esperei que seu rompante acabasse e ele voltasse a falar – o que não demorou muito:
- Eles bem me disseram que você era uma garota difícil. – ele falou, sorrindo para mim de modo divertido. – Mas, sabe Bella, eu estou disposto a tentar. – ele completou, os olhos dourados focalizados nos meus.
Eu trinquei os dentes, subitamente nervosa com suas palavras. Elas eram o eco exato daquelas de uma vida que parecia tão distante. Ele não tinha o direito de desenterrá-las, nem que fosse por pura coincidência.
- Desculpe, eu estou aborrecendo você? – mesmo tentando não demonstrar nada, a irritação no meu rosto deveria ter sido clara o suficiente para que ele percebesse o meu desconforto. Ou talvez ele apenas fosse um bom leitor.
- Na verdade, não. – respondi, rapidamente mudando minha expressão para uma mais calma. Ele não pareceu muito convencido, então resolvi desviar o foco. – Você é diferente deles. Os outros residentes, quero dizer.
- Devo entender isso como um elogio? – ele me lançou um sorriso torto adorável. Eu sorri de volta, involuntariamente. O modo como ele agia era, de certo modo, contagiante.
- Talvez, se ser diferente lhe agrada. – o sorriso dele aumentou ainda mais com minhas palavras.
- Bem, digamos que eu tenha um conceito bastante agradável para essa palavra. – eu não entendi o humor por trás de suas palavras, mas estava claro de que existia um. Seja ele qual fosse, eu teria tempo suficiente para descobrir.
N/a: Alguém aí concorda que a Bella precisa de um pouco mais de personalidade? :) então, a idéia da fic surgiu basicamente disso, além do fato dela citar várias vezes no livro que "há um defeito no meu cérebro", só que aqui o defeito trata-se de um caso de psicopatia. Eu não sou mestra no assunto, então me perdoem pelos possíveis erros. Espero que gostem, e até o próximo capítulo! :*