Interlúdio I

Parte IV

止まない愛

(yamanai ai)

Parecia um sonho.

Seus lábios eram tomados com voracidade por Itachi, enquanto tentava sair de seu banco para se acomodar no colo dele. Seu irmão o recebeu de bom grado e, sem interromper o beijo, ajustou seu corpo ao dele e correu as mãos por sua nuca, segurando seus cabelos com firmeza e fazendo Sasuke gemer novamente.

Parecia, realmente, um sonho. Mas sabia ser realidade.

Sabia, pois, nem eu seus mais intensos sonhos, conseguia sentir tudo com tanta clareza. A textura das mãos do mais velho contra sua pele, os dentes dele em seus lábios, o perfume dos longos cabelos negros, a excitação de seu irmão que podia sentir pela íntima posição em que estava. Tudo, absolutamente tudo, era real.

E era tão melhor do que Sasuke ousara desejar... era perfeito. Exatamente como Itachi, sem qualquer falha.

- Otouto... – O mais velho sussurrou entre seus lábios, enquanto acariciava seu corpo com a mesma intensidade que antes o beijara.

Seus olhos se encontraram e o amor que Sasuke podia ver refletido nos de Itachi o fez estremecer. Segurou-lhe o rosto, num gesto ousado, e beijou-o novamente, incapaz de se conter. A beleza dele, junto com aquele sentimento de pura adoração e os lábios inchados de seu irmão eram mais do que poderia suportar, e, já que não precisava mais se apegar a controle, beijava-o com visível abandono. A forma como era retribuído era o suficiente para fazer seu corpo queimar de desejo e ter a certeza de que seus sentimentos eram retribuídos.

E fora exatamente este pensamento que o fizera interromper o beijo de forma brusca.

- Você... também? – Perguntou, querendo se estapear por sua falta de eloqüência, mas agradecendo ao universo por seu irmão mais velho ser um gênio e não exigir explicações mais elaboradas. Não sabia se conseguiria dá-las.

- O que você acha? – Ele o respondeu, com um sorriso malicioso que fez o baixo ventre de Sasuke se contrair. – Eu amo você, Otouto. Inteiro.

Aquelas palavras quase o fizeram chorar mais uma vez, mas respirou fundo para controlar suas reações. Era tudo o que sempre quisera, sempre precisara ouvir de seu irmão.

- Itachi... eu sei do que você... gosta. E faz... e eu também... quero dizer, eu acho que gosto. Me interesso, pelo menos. – Balbuciou, sem conseguir expressar em palavras exatamente o que sentia, já que o pudor e o embaraço não o permitiam falar abertamente. Sabia que sua pele deveria estar vermelha, pois sentia o calor se espalhar por seu pescoço e peito, mas não deixou de olhá-lo nos olhos um segundo sequer.

- Elabore. – Itachi demandou, o sorriso nunca deixando seus lábios, enquanto suas mãos o acariciavam calmamente, como se mapeando a extensão de seu corpo.

- Eu vi você com Shisui, no seu aniversário… quando conheci Naruto. - Disse, respirando fundo para manter a voz firme. - E o que você fez com ele… é o que eu quero.

Viu o irmão prender a respiração e sentiu a excitação dele latejar contra sua perna, o que fez seu próprio corpo reagir em resposta. Sem que tivesse qualquer aviso, Itachi atacou novamente seus lábios, apertando seus quadris com força o suficiente para doer, mas não de forma insuportável; sabia que ele estava se controlando ao máximo para não assustá-lo, mas queria deixar claro que não era necessário. Tudo que o mais velho quisesse fazer consigo seria bem vindo.

- Você sabe o que isso significa, Otouto? - Ele questionou, após findar o agressivo beijo, olhando-o nos olhos com uma intensidade que Sasuke quase sentiu a necessidade de abaixar os olhos em submissão. Mas não o fez. Não era o momento ainda. - Você sabe o que significa o que eu fiz com Shisui?

- Sei. - Respondeu num sussurro. - Eu pesquisei. Naruto me obrigou a fazer diversos testes idiotas para saber mais sobre isso e sobre… mim. E sim, ele sabe. De tudo. Ele também viu.

E era verdade. Seu amigo não sossegara até que houvesse feito todos os testes imbecis que encontrara na internet, depois de dias pesquisando sobre o assunto. Alguns resultados haviam sido pouco interessantes para si e assustadores para o loiro, mas outros bateram exatamente com o que sentia.

Ainda se lembrava do dia em que encontraram, ou melhor, que Naruto encontrara, um site que até hoje servia como sua enciclopédia pessoal. Todos os termos, as regras de etiqueta, modalidades… enfim, tudo que poderia descobrir sobre BDSM encontrava-se naquele local. Seu choque fora tão grande pela descoberta que chegou a agradecer ao amigo, o que deixou o loiro mais atônito que o próprio conteúdo da página.

A expressão surpresa de Itachi não possuía qualquer resguardo, algo que Sasuke admirou abertamente. Percebeu que, naquele momento, havia retirado toda e qualquer máscara que o mais velho utilizava para o mundo e isso fez seu coração palpitar em alegria.

- E quais foram os resultados desses tais testes? - Seu irmão perguntou, voltando a acariciá-lo vagarosamente. Aquilo o distraía de seus pensamentos, mas forçou-se a focar no assunto em questão.

- Masoquista. Brat. Submisso. - Respondeu de forma metódica. - Mas ainda tenho dúvidas sobre o termo "Brat".

O mais velho abriu um sorriso inebriante e aproximou o rosto do seu, colando os lábios em sua orelha e traçando-a com a língua antes de respondê-lo.

- Brats são desobedientes, desafiadores, que gostam de aprontar. São meninos maus, Otouto. - Ele sussurrou, obrigando o mais novo a fechar os olhos em puro deleite. - E, até onde me lembro, meu Otouto é um bom menino.

Riu, sem conseguir controlar a reação. Até hoje Madara usava seus rompantes enquanto criança para atormentá-lo, descrevendo a forma com que agredira Shisui e afirmara ser um "bom minini" após a ato. E nunca admitiria em voz alta, mas a satisfação por seu eu infantil ter batido no primo ainda corria por suas veias.

Detestava Shisui.

- Eu não tenho mais três anos, Nii-san. Não sou mais um menino tão bom assim. - Declarou, impondo seus quadris contra os do mais velho para provar seu ponto.

- Então, vou ser obrigado a te disciplinar. - Itachi respondeu, voltando a segurar seus cabelos e puxá-los com força, olhando-o profundamente nos olhos.

- Faz comigo o que você quiser. - Sussurrou, desafiando o irmão com o olhar e gemendo ao sentir a pegada em seu cabelo aumentar de intensidade.

- Você ainda tem muito o que aprender antes disso, Otouto.

E mais um beijo se seguiu, tirando todo o fôlego do mais novo. Tinha, sim, muito a aprender e sabia que Itachi seria um professor exemplar. Rígido, porém perfeito. Como tudo o que ele fazia.

Entregou-se ao irmão, ao beijo e carícias que dividiam, àquele momento que ficaria gravado em sua mente para sempre. Nunca havia se sentido tão feliz, tão vivo como nos braços de Itachi. A forma como ele o tocava, como o controlava e sussurrava em seu ouvido o deixava completamente louco de excitação e prazer. Prazer por ter seu irmão como sempre o quisera, por estar agradando e servindo a ele, por deixá-lo feliz também.

Podia ver a mesma sensação que existia em si na expressão aberta do irmão. Ele não mais tentava mascarar nada, e parecia tão eufórico quanto o próprio Sasuke. Como se, também, houvesse esperado tempo demais, se atormentado demais, se machucado demais até que aquele momento fosse real.

E, ao descansar a cabeça em seu peito após um violento clímax, onde Itachi sequer havia o tocado, apenas o ordenado com aquela voz que lhe tirara de seu eixo desde que tinha treze anos, deixou-se sentir, pela primeira vez, completo.

...

Naruto chegou exatamente no horário combinado na mensagem que o enviara, o que o deixou um pouco contrariado; queria passar mais tempo com o irmão. Sabia que, depois do que haviam dividido naquele dia, não teria mais que se preocupar com a falta de tempo de Itachi, já que ele não tinha mais motivos para se esconder. Ele estava tão investido naquilo quanto o próprio Sasuke.

Seu amigo exibia o mesmo sorriso imbecil de sempre, em uma felicidade eterna que às vezes chegava a ser irritante. Mas não naquele dia; compartilhava do sentimento, e simplesmente não conseguia retirar o pequeno sorriso satisfeito que se delineava em seus lábios.

Aquilo, porém fora alarmante para o loiro, que exibiu uma expressão confusa logo em seguida.

- O que está acontecendo com você, Teme? - Ele perguntou, olhando-o de perto com curiosidade e preocupação. Quis socar-lhe a cara, mas não o fez, limitando-se a rolar os olhos. - Não, é sério, você está rindo pra mim! E matou aula! Tem algo de muito errado com você.

Ao seu lado, ouviu Itachi rir baixo, atraindo a atenção de ambos os adolescentes. Naruto o observou com uma sobrancelha erguida por alguns segundos, antes que sua expressão se abrisse imediatamente em choque e entendimento. Sasuke sempre soubera que seu amigo não era o idiota que aparentava ao mundo.

- Vocês estavam juntos?! - Ele questionou, sem se preocupar com seu tom de voz esganiçado. - Então…

- Vamos entrar, Naruto-kun? - Itachi o interrompeu, antes que o loiro fizesse um escândalo na porta do estúdio de música. - Eu acho que encontramos bons integrantes para a futura banda de vocês.

Diante daquela afirmação, o foco do loiro mudou imediatamente, e seu rosto iluminou-se em empolgação. Sasuke olhou para o irmão com admiração; não era à toa que Itachi era um gênio. Ele sabia manipular as pessoas como ninguém, e conseguir exatamente o resultado desejado.

- Me ajuda também a fazer o Sasuke aceitar um dos nomes que eu propus, Itachi! Ele é rabugento demais e ainda estamos com uma banda sem nome. Uma banda, que vai ter membros, mas não tem nome! - O loiro declarou, olhando feio para o amigo e recebendo mais um rolar de olhos em resposta, antes de continuar seu rompante. - Se isso não é um absurdo, eu não sei o que é!

Itachi riu novamente, seu habitual riso contido, antes de guiar ambos para o estúdio.

Haviam decidido resolver os assuntos da banda após conversarem o dia todo sobre os mais diversos assuntos, sendo música um dos tópicos principais, bem como BDSM. E Sasuke aprendeu mais com algumas horas com o irmão que em anos com a internet. Aprendeu a usar os termos corretamente, e que haviam diversos tipos de dominação e de submissão. E também práticas que não se enquadravam em nenhuma das duas denominações.

Itachi lhe explicou que nem todo masoquista, aquele que sente prazer na dor, é um submisso. E que nem todo submisso é um masoquista, visto que a vontade de servir e agradar seu Senhor era o que o fazia aguentar as dores que lhe eram infligidas. E o mesmo se aplicava a Dominadores e Sádicos, que podiam coexistir, mas não obrigatoriamente.

Itachi se identificou tanto como Dominador quanto como Sádico, algo que já desconfiava, e lhe explicou também como de fato funcionava tal configuração. Seu irmão gostava de dominar os que se submetiam a ele de formas extremas, até mesmo escolhendo vestimentas e alimentos, bem como sentia prazer em causar dor de diversas formas.

Aquilo o deixou ainda mais excitado com toda a situação. Sua real vontade era que Itachi realmente o quebrasse e reconstruísse, pedaço por pedaço. Que fizesse consigo o que ele tivesse vontade. Que tomasse o controle e lhe desse o direito apenas de ficar de joelhos e pedir mais.

Sasuke era orgulhoso, sempre o fora, e jamais se submeteria a outra pessoa que não seu irmão. Jamais se deixaria ser visto com aquela vulnerabilidade, jamais deixaria que tivessem acesso a seus pontos fracos. Não sentia a menor vontade de abaixar a cabeça para qualquer outro.

Mas Itachi exercia em si algo muito além de fascínio. Algo que simplesmente não conseguia explicar, mas que fazia com que sua atenção fosse automaticamente voltada ao mais velho toda vez em que estavam no mesmo recinto. Seus pensamentos eram atraídos para a direção dele sempre que deixava sua mente vagar. Itachi era como um imã para o mais novo; e não havia nada que pudesse fazer para mudar tal fato.

Ao entrar no estúdio, deparou-se logo com Madara, que sorria como lhe era habitual. Cruzou os braços, sua expressão tornando-se desgostosa, mas nada disse; teria que aprender a engolir a presença do tio se realmente quisesse montar a banda. Era um sacrifício que valeria a pena, pois teria muito mais de seu irmão, tanto em presença quanto no que poderiam dividir. E isso lhe era precioso demais para deixar que sua antipatia por Madara destruísse.

- Fiquei preocupado quando não te vi por aqui hoje, moleque. - O tio falou, olhando para Itachi diretamente nos olhos com claro questionamento.

- Não era você que reclamava que Itachi trabalhava demais? - Sasuke não conseguiu controlar a pergunta irônica que deixou seus lábios, olhando para o mais velho com uma sobrancelha erguida.

- Você está certo. - Madara respondeu, sorrindo de forma provocativa. - É exatamente por isso que estou preocupado; para Itachi não estar trabalhando, algo de muito importante deve ter acontecido. Ou ele estava doente.

- Eu estou bem aqui. - Seu irmão declarou, sua voz levemente ríspida, fazendo Sasuke se retesar instintivamente e Madara focar-lhe a atenção. - Tinha assuntos a resolver.

A troca de olhares entre seu tio e Itachi foi demorada, onde percebia que o mais velho tentava decifrá-lo e seu irmão não exibia absolutamente nada em sua expressão, tornando o objetivo do outro ainda mais difícil de ser realizado. Conhecia aquela expressão, aquela máscara, e sabia o quão impenetrável era.

Pelo visto, Madara também sabia, afinal, desistiu de tentar com um sonoro suspiro e voltou-se para os dois adolescentes.

- Madara, Itachi me falou que vocês acharam os membros pra nossa banda! - Naruto aproveitou-se da situação para mudar de assunto, algo que agradeceu mentalmente; seu amigo às vezes sabia a hora certa de fazer as coisas. Às vezes.

O Uchiha mais velho riu ruidosamente, aparentando extrema diversão, e bagunçou os cabelos de Naruto como sempre fazia.

- Eu acredito que sim, pirralho. Mas antes, eu quero fazer alguns testes com vocês, para saber em que pé estamos antes de enfiar vocês dois numa banda com nível acima do que podem acompanhar. - Madara declarou, e Sasuke, pela primeira vez, o achou bastante sensato.

De todos os que estavam presentes, ele era o único que não tinha qualquer experiência musical, e isso seria um grande problema para que a banda de fato existisse. Naruto recebia algumas aulas com o pai, mas não achava que eram o suficiente, visto que Minato passava mais tempo ensinando os alunos da escola de Madara que o próprio filho, mas Sasuke sabia que seu amigo possuía talento, já que o ouvia tocar inúmeras vezes.

- Tá certo. Você não vai colocar a gente com um monte de velho não, né, Madara? - Naruto questionou, colocando as mãos na cintura e lançando um olhar acusatório para o mais velho.

Sasuke rolou os olhos em exasperação, ainda mais quando seu tio voltou a rir, extremamente entretido com os rompantes do loiro. Eles eram parecidos até demais e isso o irritava profundamente.

- Claro que não! Qual seria a graça? - O mais velho gracejou, arrancando um sorriso radiante do loiro.

Sentiu a mão de Itachi tocar seu ombro durante a troca dos dois idiotas e virou-se para o irmão, sentindo-se enrubescer suavemente. Itachi lhe oferecia um pequeno sorriso afetuoso e Sasuke lhe retribuiu da mesma forma, sentindo seu interior aquecer-se em pura felicidade. Queria novamente estar em seus braços, beijando-o e sendo tocado por ele, mas sabia que mais tarde poderiam estar juntos novamente; o olhar dele assim o prometia.

- Os outros integrantes são muito bons. - Seu irmão declarou, sem desviar aquele olhar amoroso de si. - E tem idade próxima da de vocês.

Naruto virou-se para olhá-lo, com sua habitual animação, sequer se importando de não ser o foco de Itachi no momento.

- Vamos ser famosos, Sasuke! - O loiro bradou, dando um soco no ar com tanta empolgação que o Uchiha mais novo quis se esconder atrás do irmão, tamanha era sua vergonha por tal ato. - Estou pronto pro teste, Madara. Manda ver!

Seu tio o fitou, cada vez mais divertido, mas seus olhos foram para Sasuke imediatamente.

- Eu vou testar Sasuke, enquanto você experimenta os instrumentos, Naruto. Itachi vai testar você. - Seu tio disse, fazendo-o se sentir apreensivo.

E se falhasse? E se não fosse bom o suficiente? Itachi certamente ficaria insatisfeito, e perderiam aquele assunto em comum que seu irmão tanto amava, bem como o tempo que passariam juntos no estúdio. A pegada em seu ombro, porém, foi intensificada e voltou a olhar para o irmão, recebendo um novo sorriso em retorno.

- Relaxe, Otouto. Madara é um bom professor. - Itachi afirmou, parecendo sentir seu nervosismo. - Você leva jeito, ele vai apenas ajudá-lo.

- Se seu irmão disse que você leva jeito, pivete, então você deve levar mesmo. Ninguém tem ouvido para música melhor que ele. - O tio declarou, divertido. - Vamos. Prometo que não vai doer.

Pode notar o tom novamente provocativo do tio, e imediatamente a postura de Itachi se tornou rígida. O olhar fulminante que seu irmão lançava ao mais velho o deixou surpreso, mas Madara sequer pareceu se importar, ainda sorrindo feito um idiota e o guiando para a sala de canto. Foi obrigado a engolir sua confusão diante daquela cena, bem como o nervosismo que ameaçava tomá-lo; daria o melhor de si naquele teste e, quem sabe, continuasse digno de ter a atenção de Itachi sobre si.

...

- Hey, Itachi… vocês conversaram?

A pergunta do mais novo atraiu sua atenção, fazendo-o se virar para encará-lo. Podia ver as emoções nos olhos azuis que o fitavam, num misto de dúvida e esperança, e permitiu-se relaxar um pouco antes de respondê-lo.

- Sim, Naruto-kun. Não se preocupe. - Respondeu com a voz suave.

- Preocupado eu não tô, nunca vi o Teme tão feliz antes. - Ele disse, sua voz surpreendentemente baixa. - Cuida dele, ok? Sasuke é sensível, apesar de parecer durão e ranzinza. Não engana ele.

Sorriu para o amigo de seu irmão. A forma como ele zelava pelo bem estar de Sasuke era admirável, bem como a completa aceitação do sentimento incestuoso que lhe fora confidenciado.

- Jamais. - Declarou, após desfazer o mínimo sorriso que antes exibira e o olhando com seriedade. - Eu o retribuo.

A expressão de Naruto se tornou cômica, seus grandes olhos azuis arregalados em surpresa enquanto sua boca não sabia se exibia um sorriso ou uma carranca. Era como se ele não conseguisse expressar apenas um sentimento e Itachi tinha a certeza de que realmente não conseguia.

- Eu sabia! Sabia que ele deveria ter falado alguma coisa, sabia que ia dar tudo certo! - O loiro exclamou após alguns segundos de indecisão, adiantando-se para abraçá-lo num gesto impulsivo. - Vocês são dois imbecis!

Sua surpresa pelo abraço foi rapidamente superada, e viu-se retribuindo-o de forma comedida, afastando-o um pouco de si logo depois.

- Não conte a ninguém. - Pediu, sabendo que não precisava fazê-lo, mas necessitando da tranquilização que tal pedido o traria. - As pessoas não entenderiam.

- E você acha que eu não sei?! Pode relaxar, Itachi, esse segredo já tá jurado de sangue pra morrer comigo!

A exclamação, seguida do sorriso aberto e alegre do loiro, o surpreendeu, mas nada disse, decidindo guiá-lo para a sala de música de deixar que se familiarizasse com as diversas guitarras presentes. Observava-o de longe, respondendo suas perguntas enquanto sentia a mente vagar; jamais vira uma pessoa tão sincera e genuína como Naruto. Só esperava que a vida não fosse cruel demais com o adolescente a ponto de fazê-lo perder tal inocência.

Observou-o tocar o instrumento escolhido, percebendo que Minato estivera correto em dizer que Naruto herdara seu dom. Ele era bom, muito bom, e, com o treinamento certo, poderia evoluir muito mais.

Ouviu uma batida na porta e levantou-se para abri-la, recebendo o sorriso de Minato em agradecimento. Ele provavelmente havia terminado sua aula e viera ver o que o filho estava aprontando, o que se confirmou quando Naruto virou-se para o pai como se já esperasse seu surgimento.

- Você demorou, velhote! - O adolescente exclamou, com um sorriso feliz apesar da implicância. - Eu estava aqui mostrando ao Itachi toda a minha habilidade, mas o repertório estava acabando!

O loiro riu, indo até o filho e o beijando na testa.

- Tenho certeza que os ouvidos do Itachi estão doendo agora. - Ele implicou, arrancando uma expressão indignada do filho.

Observou a troca entre ambos, sentindo um suave rancor pelo próprio pai não tratar Sasuke da mesma forma. Isso era algo que o irritava; não fazia questão que Fugaku lhe dirigisse a atenção, mas Sasuke sentia a distância e frieza com que seu progenitor o tratava.

Perdido em seus devaneios, sequer notou a passagem de tempo, e logo depois seu irmão e tio adentraram a sala. Observou atentamente a expressão de ambos, e sentiu seu coração acelerar ao notar a admiração nos olhos de Madara. Ele parecia quase assombrado, enquanto Sasuke ainda tinha um ar levemente inseguro sobre si.

- Minato, você não vai acreditar no alcance vocal desse pirralho. - Madara declarou, olhando para o amigo antes de apontar para Sasuke com o orgulho estampado em seu rosto. - Ele é muito melhor que eu era nessa idade. E se continuar assim, vai ser muito melhor que eu na vida.

Itachi ergueu as sobrancelhas em surpresa, algo que foi imitado por seu irmão. Naruto ficou ainda mais empolgado, correndo até o amigo e o felicitando com animação, mas Sasuke tinha apenas olhos para si. Sua total atenção estava voltada ao irmão mais velho, como se esperasse por sua reação ansiosamente, e Itachi pode ver a insegurança e medo que ele sentia naquele momento.

Sorriu abertamente para o mais novo, dando-lhe o habitual peteleco em sua testa para tranquilizá-lo.

- Estou orgulhoso de você, Otouto.

E tais palavras foram o suficiente para arrancar Sasuke dos sentimentos destrutivos que o assolavam, pois ele lhe retribuiu o sorriso com tanta felicidade que Itachi sentiu seu peito aquecer-se em resposta.

Percebeu, com o canto dos olhos, que Madara acompanhava a troca entre ambos com atenção, mas ignorou o tio no momento. Seu foco total estava em seu irmão mais novo.

- Obrigado, Nii-san. - Ele respondeu, corando um pouco de forma adorável.

- Vamos então decidir como isso vai ser feito. Quero vocês dois com aulas duas ou três vezes na semana, e nas férias a gente dobra isso. Itachi vai se responsabilizar pela teoria musical, então estejam preparados pois ele é um porre com essas coisas. - Madara interrompeu o momento, fazendo com que todos os presentes no ambiente voltassem a atenção para ele e Itachi rolasse os olhos para o tio. - Minato vai cuidar de você, Naruto, e Sasuke fica comigo nas partes práticas.

Os dois adolescentes pareciam felizes demais para se importarem com a carga horária a qual seriam submetidos e Itachi sentiu-se igualmente contente, tanto pela alegria de seu irmãozinho quanto pela possibilidade de ter ainda mais tempo com ele. Era doentio, sabia disso, mas o olhar de Sasuke em sua direção, exibindo claramente os mesmos sentimentos que ele próprio, o acalentava por saber que não era o único naquela situação.

...

A conversa no carro era animada. Cheia de perspectivas, de planos, de amor. Sasuke estava completamente extasiado. Nunca, em toda sua vida, vira seu irmão tão solto, quase não parecia o apático e distante Itachi. Não imaginou que a música fosse algo tão poderoso a ponto de retirar de seu irmão toda e qualquer inibição e sentiu uma ponta de ciúmes por tal fato.

Queria ser mais importante para ele que música, mas, aceitava incorporá-la em sua vida para ter aquela face de seu irmão somente para si.

- Você já pensou em escrever canções, Otouto? - Ele o questionou, fazendo com que tivesse que parar e pensar antes de respondê-lo.

- Não. Eu nem sei como faria.

Itachi sorriu,pousando uma mão em sua coxa e o acariciando lentamente.

- É só escrever o que você sente. Eu posso te ajudar. - Seu irmão declarou, fazendo o coração de Sasuke acelerar tanto pelo toque quanto pela proposta.

Ia estudar com Itachi aquilo que ele mais amava. Era uma concepção tão surreal que sequer conseguia conter a excitação que sentia.

- Parece que você vai realmente me ensinar muita coisa, não é, Nii-san? - Respondeu, sua voz tornando-se provocativa em um gracejo repleto de malícia.

A carícia em sua coxa virou um apertão e o mais novo percebeu que seu irmão prendeu a respiração, umedecendo os lábios com a língua inconscientemente enquanto se focava no trânsito. Aquilo, por algum motivo perturbado, o excitou.

- Você não faz ideia, Otouto. - Itachi respondeu, sua voz rouca enquanto virava-se para olhá-lo.

O foco em si foi mantido por pouco tempo, visto que seu irmão era um motorista bastante responsável, mas não se importou; a intensidade daquele olhar fora o suficiente para deixá-lo sem ar. Era quase como uma promessa das coisas que estavam por vir e Sasuke mal podia esperar por elas.

O restante da viagem seguiu-se com amenidades e toques suaves, e o mais novo rezou para que os pais não estivessem em casa quando chegassem. Seguiu as instruções do irmão, para entrar enquanto ele estacionava o carro, e abriu a porta da sala com ansiedade. Adentrou o aposento sem fechar a porta, e foi surpreendido pela figura do pai, que o fitava com tanta raiva que a alegria que antes dominava o interior de Sasuke foi imediatamente substituída por terror.

- Sasuke. - Seu pai sibilou, segurando-o pelo braço e o arrastando para o interior da casa.

- Otou-san… - Babulciou, sentindo-se trêmulo e apavorado.

- A escola ligou dizendo que você não havia ido à aula. Passei a tarde toda procurando por você e imagine minha surpresa ao entrar em contato com Minato e descobrir que você estava no estúdio de música! - Seu pai bradou, apertando seu braço com tanta força que o fez segurar um gemido de dor.

- Eu posso explicar… - Tentou, sua voz soando baixa, e sequer conseguia formar palavras direito.

- Eu não quero explicações! Eu não o criei para ser um vagabundo! - O mais velho rugiu, fazendo Sasuke se encolher e não mais conseguir o som de dor que irrompeu por seu lábios. Aquilo pareceu irritar seu pai ainda mais. - Você não merece ser chamado de Uchiha!

Aquilo o atingiu como um soco, e, em sua dor e indignação, puxou o braço que era segurado pelo pai e gritou para que ele o soltasse, o que apenas resultou em um tapa. Um enorme tapa que atingiu seu rosto, cujo som reverberou por toda a silenciosa casa. Um tapa que o quebrou por dentro e o fez soluçar, sem conseguir prender o choro que se seguiu.

- O que você pensa que está fazendo?! - A voz era imperiosa, com uma autoridade que não aceitava qualquer coisa além da mais pura submissão. Era a voz que mexia consigo desde sempre, a voz de seu irmão.

Itachi o amparou quando achou que cairia no chão, colocando-se a sua frente e tirando o pai de perto de si. O mais velho olhava para o pai com tanto ódio que Sasuke viu-se agarrando-lhe um dos punhos, sem saber ao certo o porquê.

- Sasuke estava matando aula! - O pai esbravejou, vacilando diante da fúria no olhar de Itachi.

- Ele estava comigo. - Seu irmão o enfrentou, dando um passo para cima do Uchiha mais velho e sendo impedido pela pegada de Sasuke, que tremia em pavor.

Aquela era uma cena que jamais esperara ver em toda sua vida. Achava, sinceramente, que Itachi era capaz de fazer algo muito ruim contra o pai de ambos pela forma como o olhava e se portava, e não sabia até que ponto poderia impedi-lo.

Antes que Fugaku pudesse responder, porém, a presença de sua mãe praticamente se materializou na sala; Sasuke não fazia a menor ideia de onde ela surgira. Sentiu-se mais aliviado por tal fato, mas Itachi não parecia sequer ter percebido a entrada da mulher.

- O que está acontecendo aqui? - Mikoto questionou, expressando extrema preocupação, e aproximou-se da cena.

- Ele agrediu Sasuke. - Itachi sibilou, fazendo com que o Uchiha mais novo apertasse mais o pulso do irmão em uma reação automática.

- Sasuke não foi à escola! Foi matar aula no estúdio de Madara! - Fugaku replicou, com a voz alterada, deixando o filho mais velho ainda mais possesso.

- Ele estava comigo, eu já disse. E nada, nada, justifica! - Itachi replicou, seu controle se esvaindo visivelmente.

Mikoto se colocou entre pai e filho, e Sasuke podia ver que a mãe estava pálida. Ela o olhou diretamente nos olhos, vendo a grande marca vermelha em seu rosto e demonstrando uma indignação que equiparava-se à de seu irmão. Sentiu-a tocar seu rosto com delicadeza, analisando a marca por alguns segundos antes de virar-se para o marido.

- Itachi, leve seu irmão para o quarto. - A mulher pediu, sua voz firme e alta, e o irmão fitou-a, como se decidindo se deveria obedecer ou não ao seu pedido. - Vá. Eu vou resolver isso.

Sasuke puxou o braço de Itachi levemente, para atrair-lhe a atenção, e foi imediatamente atendido. Sem nada dizer, seu irmão desviou da pegada em seu punho, deslizando a mão para segurar a sua, e guiou-o para a escada.

- Como você pôde, Fugaku?! - Ouviu a mãe gritar com o pai, algo tão raro que Sasuke quis chorar novamente. - Como você ousou?!

Não testemunhou o resto da discussão, entrando no quarto do irmão e vendo-o trancar a porta atrás de si. Sem que nada pudesse dizer, foi abraçado com força por ele, retribuindo o gesto imediatamente e permitindo que novas lágrimas escorressem por seus olhos.

- A culpa é minha, Otouto. Eu não pensei na escola. Eu deveria ter ligado para eles. - Seu irmão se justificou, acariciando-lhe os cabelos compulsivamente. - Perdoe-me.

- Não, Nii-san… você não tem culpa de nada. Ele me odeia. - Respondeu, dando um pouco de distância entre seus corpos para que pudesse olhá-lo nos olhos. - Eu sei que ele me odeia.

- Fugaku é uma pessoa amargurada. - Itachi respondeu, sua expressão num misto de fúria contra o pai e carinho ao mais novo. - Não é culpa sua. Ele sempre foi assim.

- Não com você. - Declarou, ousando tocar os fios que se soltaram do rabo de cavalo do mais velho. - Você é perfeito. - Sua voz não possuía nenhum tom de raiva ou inveja, apenas constatava a realidade. Sabia estar certo, e isso não lhe causava dor; seu irmão era realmente perfeito em tudo o que fazia.

- Ele exige de mim o que ele nunca pôde fazer. - O mais velho explicou, levando-o para se sentar ao seu lado na grande cama de casal. - Eu não sou perfeito.

Os longos e elegantes dedos de Itachi tocaram a marca em seu rosto e conseguiu ver a raiva novamente brilhar naqueles intensos olhos negros, tão semelhantes aos seus. Deixou-o mapear seu rosto com as mãos, como se quisesse transparecer por meio do toque todo o amor que sentia, e aquele gesto o aqueceu por dentro. Suas lágrimas foram secas e seus lábios foram beijados com delicadeza, e aproveitou-se para aprofundar o gesto ao abraçar o pescoço do irmão para trazê-lo mais perto de si.

Queria esquecer completamente da existência de seu pai, afogando-se em Itachi e ignorando as vozes alteradas no andar de baixo. Aquele era para ser o dia mais feliz de sua vida…

...

Acordar nos braços do irmão havia realmente sido uma experiência única. Itachi o abraçava como se ele fosse algo precioso, com cuidado e zelo, e parecia que cada centímetro de seus corpos estavam unidos. Suspirou, deixando que aquela sensação o dominasse por completo e aconchegando-se no calor do irmão mais velho.

- Bom dia, Otouto. - Ouviu a voz de Itachi sussurrar em seu ouvido, sonolenta, e quase se assustou por não saber que ele estava acordado. Virou-se para olhá-lo, tendo seus lábios tomados em um beijo antes que pudesse responder à saudação.

O beijo foi breve, porém, intenso o suficiente para fazê-lo perder o ar. Itachi o fitava com um olhar afetuoso, que se tornou pesado quando correu pela marca de mão que se formou em seu rosto. Quis escondê-la, mas não o fez e não se arrependeu por isso; os lábios dos mais velhos correram a pele magoada suavemente, mas de alguma forma aquilo era muito excitante para Sasuke.

- Eu nunca vou perdoá-lo por ter machucado e marcado você. - Seu irmão sibilou, e Sasuke pode ver toda a fúria da noite anterior retornar ao seu olhar. - Você é meu.

Aquela afirmação possessiva, juntamente com os toques suaves em sua pele machucada, o fez gemer baixo em excitação, surpreendendo Itachi visivelmente, algo que era expressado abertamente em seu rosto.

- É isso o que você quer, Sasuke? Ser meu? - Ele o questionou, sua voz se tornando rouca e sensual e deixando o mais novo impossivelmente mais excitado.

- Sim. Todo seu. - Respondeu, arfando.

Os lábios do irmão desceram por seu pescoço, arrancando-lhe suspiros de deleite. Itachi sabia manipular seu corpo com maestria, deixando-o completamente aceso e desejoso diante de seus toques e comandos.

Já era dele. Pertencia ao irmão desde o momento em que começara a existir, tinha plena certeza disso, apesar de tal teoria soar completamente insana em sua mente.

- Meu o que, Sasuke? - O mais velho sussurrou, enquanto beijava e mordia seu pescoço com avidez.

- Seu objeto. Seu brinquedo. - Replicou, pausadamente, olhando naqueles intensos olhos negros que agora o fitavam como se quisessem desvendar sua alma. E deixaria, de bom grado, se ele assim o desejasse. - Seu amante. Seu irmão… tudo o que você quiser.

- Otouto…

O beijo que se seguiu foi exatamente como se Itachi quisesse ter tudo o que lhe fora oferecido ao mesmo tempo. Ele praticamente o devorava, imobilizando seu corpo menor abaixo do dele e onfazendo sentir cada pedaço do corpo que tocava o seu. Suas mãos estavam presas ao lado de sua cabeça, impossibilitando-o de tocar o mais velho como desejava. Tal restrição serviu apenas para que o retribuísse na mesma intensidade em que era beijado, consumido, e deixando que pequenos sons de prazer e dor deixassem seus lábios.

Lábios estes que sabia estarem feridos pelo sabor de sangue que voltava a se espalhar por sua língua e que novamente fazia seu baixo ventre latejar de desejo.

A ereção de Itachi roçou na sua, arrancando-lhe mais um gemido e fazendo seu irmão sorrir em meio ao beijo.

- Isso, Otouto. Geme para mim. - Ele sussurrou, movendo os quadris em um lento e sensual movimento circular que fazia suas ereções se tocarem.

- Nii-san… - Arfou, obedecendo à ordem dada sem sequer pestanejar.

- Normalmente eu o mandaria me chamar de Senhor, mas no seu caso, você tem privilégios. - Seu irmão gracejou, movendo-se com mais intensidade e o fazendo fechar os olhos diante do prazer que sentia. - "Nii-san" é um bom título.

Sequer percebeu quando ele arrancou sua blusa, mas seus olhos se abriram quando os movimentos de Itachi pausaram abruptamente. Viu que ele fitava seu braço, onde o pai de ambos agarrara na noite anterior, e sentiu-se gelar por dentro ao ver a intensa cólera no rosto do mais velho.

A excitação de ambos morreu naquele instante e Itachi sentou-se na cama, passando as mãos no rosto em visível esforço para conter a gama de emoções que o atingia. Aproximou-se e encostou a cabeça em seu ombro, ouvindo-o suspirar pesadamente antes de lhe envolver em um abraço.

- Você não vai à escola hoje. - Ele determinou, beijando-lhe o topo da cabeça antes de soltá-lo e levantar da cama. - Eu vou avisar Okaa-san e Madara. Vou ficar com você.

Assentiu em confirmação, não sentindo a menor vontade de sair do quarto do irmão, dos braços dele, naquele dia.

Era o único lugar onde se sentia amado e seguro de fato.

...

Desceu as escadas sem se preocupar se seus cabelos estavam soltos e se sua aparência não era das melhores; a fúria que queimava em seu peito não dava espaço para que se importasse.

Rumou direto para a cozinha, sabendo que sua mãe estaria lá naquele horário e não foi desapontado, já que ela percebeu imediatamente sua presença e virou-se para olhá-lo com visível preocupação. A expressão aberta e amorosa que a mulher sempre exibia não estava presente aquela manhã, sendo trocada por uma sombra em seu olhar que não combinava com as feições delicadas.

Sabia que ela estava sofrendo e pretendia usar isso ao seu favor.

- Sasuke não vai à escola hoje. - Declarou com a voz imperiosa, mas baixa. - O rosto e braço dele estão muito marcados.

- Como ele está? Com dor? - Ela questionou, como se lhe machucasse fazer tal pergunta, e Itachi não duvidava de que realmente fosse algo doloroso.

- Fisicamente, bem. - Respondeu, vendo-a assentir em entendimento pelas palavras não ditas.

- Ele estava com você ontem…

Não era uma pergunta, mas o questionamento existia no olhar que recebera de sua mãe. Sabia que era melhor que fosse convincente em suas explicações para evitar problemas futuros.

- Sim. Ele estava indisposto, não acordou bem, e passei o dia com ele. Levei-o ao estúdio na parte da tarde. - Explicou, seu tom impassível e sereno, exatamente como sua expressão.

- Sasuke está doente? - Sua mãe perguntou, a preocupação crescendo em seu olhar.

- Apenas uma indisposição. Ele não anda muito bem emocionalmente. - Declarou, sabendo que havia tocado numa ferida ao ver sua mãe se retesar. Ao invés de parar por ali, porém, sentiu-se impelido a continuar a pressionar tal ponto sensível, e assim o fez. - Você sabe disso. E ele pareceu melhor ontem comigo.

A expressão de sua mãe se aliviou um pouco, um pequeno e afetuoso sorriso surgindo em seus lábios.

- Você faz bem a ele. - Ela declarou, levantando-se para tocar o rosto do filho mais velho. - Vocês fazem bem um ao outro.

Não fugiu do toque, afinal, sua mãe não lhe causava a mesma repulsa que o pai, e o carinho dela não era algo que lhe era indiferente, mas suspirou imperceptivelmente; ela não fazia ideia do quanto aquela afirmação era verdadeira. E tal constatação vinda dela poderia ser extremamente útil no futuro, caso precisasse usá-la.

- Prometi passar mais tempo com ele e vou fazê-lo. Vou cuidar dele. - Comprometeu-se, vendo os olhos da mulher marejarem-se por mais que ela lutasse contra as lágrimas.

- Eu deveria ser uma mãe melhor e não deixar essa responsabilidade nos seus ombros, meu filho. Mas ninguém consegue alcançar Sasuke como você… - Sua mãe lamentou, respirando fundo para se controlar.

- Você é uma boa mãe. - Declarou, e era verdade. Mikoto sempre fora uma mãe afetuosa e tolerante com os filhos, a culpa de toda aquela confusão não era dela.

Por algum motivo, seus filhos haviam sido amaldiçoados com um amor proibido um pelo outro, e, para sanidade dela, seria melhor que tal fato permanecesse em segredo. Não sabia se sua mãe seria capaz de aguentar caso descobrisse.

- Ah, Itachi… às vezes sinto falta de quando você cabia no meu colo. Mas você nunca foi meu, não é mesmo? Sempre tão dono de si… - Mikoto replicou, voltando a tocar o rosto do filho e acariciar seus longos cabelos negros. - Sasuke também não foi meu por muito tempo. Ele preferia o seu colo que o meu.

Sorriu, por mais que tal declaração soasse irônica diante dos fatos atuais. A inocência de sua mãe lhe lembrava a de Naruto, e quis abraçá-la por tal fato. Ela não merecia o marido que tinha, não merecia sofrer o que sofria, e nem ter dois filhos perturbados e doentios. Mas a vida não era sobre merecimento, e sim sobre fatos.

- Isso não mudou. - Gracejou, arrancando um riso baixo da mulher, que sequer podia entender a malícia da situação.

- Do que vocês dois estão rindo? - A voz de Sasuke se fez presente no recinto, interrompendo a troca e fazendo com que ambos olhassem em sua direção.

Percebeu que os olhos de sua mãe voltaram a marejar quando ela viu a marca no rosto do mais novo, bem como o hematoma que se formava em seu braço. Sasuke optara por não vestir uma camisa, algo que agradeceu mentalmente; isso ajudaria sua mãe a não contestar o que havia lhe dito anteriormente.

- De você, Otouto. - Disse, tentando aliviar o peso do silêncio que se formou na cozinha. - Eu vou avisar a Madara que não irei ao trabalho hoje. Você pode voltar para a cama e dormir mais um pouco.

O mais novo assentiu, recebendo um demorado abraço da mãe e lhe retribuindo imediatamente. Deixou-os na cozinha, voltando para o quarto em busca de seu telefone celular. Discou o número do tio de cabeça, aguardando que ele atendesse pacientemente.

- Itachi? Aconteceu alguma coisa?

Quis rir, mas não o fez; o fato de estar ligando era tão raro que não julgava o mais velho pela preocupação.

- Sim. Fugaku agrediu Sasuke, vou ficar com ele hoje. Cancele as minhas aulas. - Explicou, mantendo a voz impassível apesar da raiva que o consumia.

Não poderia nunca perdoar o pai por macular o que era seu. E Fugaku ainda sofreria por isso.

- Ele o quê?! - O Uchiha mais velho questionou, claramente escandalizado pela situação. - Diz pra mim que você está brincando, Itachi!

- Não estou. Eu explicou melhor a situação depois, mas hoje vou ficar com Sasuke.

- Sim, claro. Me mantenha atualizado. Ah, você recebeu uma proposta extremamente interessante.

Adorava o fato de Madara o conhecer o suficiente para respeitar seu espaço e confiar em suas palavras. Era o único membro de sua família, tirando Sasuke, que sabia quem ele realmente era.

- Qual proposta? - Questionou, sua curiosidade atiçada.

- Composição de trilha sonora de um filme. A trilha inteira. A produção do filme ficou muito impressionada com seu último concerto. Eles já vinham acompanhando seu trabalho há um tempo, na verdade.

Sentiu seu coração dar um pequeno salto de alegria e permitiu-se sorrir. Aquele era um dos principais passos para trilhar o caminho que sempre sonhara em sua carreira desde que terminara a faculdade, no ano anterior.

- Eu aceito.

- Eu sei que sim. - Madara declarou, rindo ruidosamente com presunção, algo que fez Itachi rolar os olhos. - Vou mandar o roteiro para você por email, junto com os prazos e afins. Deseje melhoras ao pivete por mim, se quiser trazê-lo mais tarde, acho que seria uma boa ideia para distrair a mente.

- Vou conversar com ele. Obrigado.

Desligou o telefone, ouvindo os passos do irmão aproximarem-se antes que o mais novo entrasse no quarto. Recebeu-o com um sorriso ainda maior, e viu-o fechar e trancar a porta antes de se sentar ao seu lado.

- Vou compor trilha sonora para um filme, Otouto. - Disse, olhando-o nos olhos, e percebeu a admiração tomar-lhe as feições.

- Um filme?! Nii-san, isso é enorme! - Ele respondeu, animado, e Itachi tomou-o nos braços sem conseguir se conter.

Queria dividir aquele momento de intensa alegria com seu irmãozinho; na verdade, queria dividir todos os momentos com ele e mantê-lo em seus braços para sempre.

Estava feliz, verdadeiramente feliz e completo, vivo, pela primeira vez em toda a sua existência.