Disclaimer: Trata-se de uma história cujo único propósito é entreter sem a intenção de infringir os direitos autorais das obras nas quais foram inspiradas ou auferir qualquer lucro.


Sentada ao bar do hotel onde acontecera o III Congresso de Jornalismo de Omaha, Lois tomava um martini enquanto terminava de ler suas anotações ao som do jazz tocado pela banda local. Assim como ela, vários outros jornalistas e estagiários de jornalismo de todo o país, sentados à mesas ou mesmo ao bar, acompanhavam as informações sobre a nevasca que apareciam nos noticiários transmitidos por todos os monitores de TV espalhados pelo salão. Por conta do mal tempo, estavam todos impedidos de voltar para casa após aquele enfastiante único dia de palestras.

Subitamente, o barman lhe trouxe um copo com suco de laranja. Ela então olhou para o copo, e depois para o sujeito encorpado e simpático que acabara de lhe servir a bebida.

"Você deve estar brincando, não é mesmo?" perguntou ela, séria.

"Uma de nossas especialidades em sucos" disse ele, com um sorriso orgulhoso.

"Não pedi suco" respondeu Lois, nada simpática, e voltando os olhos para as suas anotações. Estava visivelmente irritada com o fato de estar presa por causa da nevasca que tomava conta do meio oeste do país.

"É cortesia do cavalheiro ao final do bar" insistiu o barman, apontando com a cabeça.

"Pode levar o suco de volta, e diga ao sujeito que o pediu que hoje definitivamente não é o melhor dia para bebidas sem álcool" disse Lois indiferente, sem olhar para o barman ou mesmo para quem mandou a bebida, na medida em que verificava as chamadas no seu celular. "Se ele quiser, aceito uma taça de vinho branco, o que está longe de ser um convite para ele se sentar ao meu lado"

"Não posso fazer isso" retrucou o homem.

Lois parou o que estava fazendo e o encarou:

"Como assim não pode?" perguntou.

"Ele insistiu para que eu não lhe servisse mais bebidas alcóolicas" respondeu, apontando agora para trás de Lois.

Foi então que, sabendo de quem se tratava a pessoa que lhe mandou a bebida, Lois emitiu um pequeno e discreto sorriso, e se virou para finalmente ver Clark emergir ao seu lado.

"Eu devia ter imaginado" disse ela, debochada.

"Lois" disse ele com seu sorriso de bom moço e que tanto a tirava do sério.

"Smallville. Achei que não viesse" devolveu ela, sabendo que Clark estava no congresso desde parte da primeira hora da manhã em que começou, eis que o evitou o dia todo. Porém, certa de que ele já havia partido pouco antes do final, na medida em que o perdeu de vista entre um intervalo e outro, Lois acreditou que não o veria mais naquele dia.

Clark se sentou ao bar próximo da colega de trabalho no Planeta Diário e olhou para o suco e depois para ela.

"Vai lhe fazer bem com o tempo que está lá fora" disse, apontando para a bebida.

Lois sorriu, cínica, e se voltou para o barman, que lhe deu de ombros. Ela então ergueu a taça com o martini:

"Acredite Smallville, ainda vai demorar muito para eu me sentir tão bem quanto gostaria" disse, enigmática, quando então tomou a bebida de virada pensando como era bom ele estar ali, embora sofrível tê-lo tão próximo e ao mesmo tempo tão distante.

Clark enrugou a testa, sem entender, e olhou confuso para o barman, que novamente deu de ombros.

"Por favor, traga-me um vinho branco" ordenou Lois novamente, sabendo que agora mais do que nunca precisava de uma bebida urgente, enquanto depositava a vazia taça sobre o balcão. "E leve o suco embora" gesticulou em desfeita à oferta de Clark.

O homem olhou para Lois e depois para Clark, que levantou o dedo, como que advertindo-o para não trazer mais, e ela interveio:

"Isso é inegociável" disse ela para ambos.

O barman nada disse, olhou novamente para Clark e se afastou para preparar prontamente a bebida de Lois.

"Não devia beber tanto Lois" advertiu ele, sério. "Lembra da última vez?" perguntou, referindo-se à festa de noivado de Chloe e Jimmy.

Lois lhe lançou um olhar de reprovação como se a lembrança daquela noite fosse uma maldição, ainda que não recordasse os eventos que sucederam a terceira taça de espumante.

"A última coisa que eu quero me lembrar Smallville, é do seu sorriso de satisfação ao me ver numa situação tão lastimável como naquela manhã seguinte" disse ela, fazendo menção ao fato de ter acordado de ressaca no sofá da casa dos Kent vestida apenas na camiseta dos Crows que Clark usava quando jogava no time do colégio.

"Não sei o que você quer dizer com isso, Lois" devolveu ele, cínico, equanto olhava atravessado para ela. "Afinal de contas, eu jamais me divertiria com a desgraça alheia"

"Hum. Melhor assim" disse ela, sorrindo orgulhosa e agradecendo o barman com um aceno quando este depositou a taça de vinho branco à sua frente.

E Clark a examinou pelo canto dos olhos. Ela ainda sorria ostentosamente, e ele então aproveitou para alfinetá-la:

"Por outro lado, foi engraçado você ter achado que nós... bem, você sabe" ele sorriu, divertindo-se com a situação.

Lois se virou para fitá-lo.

"Como assim, Smallville?" protestou ela, indignada. "É claro que não achei que aconteceu alguma coisa entre nós naquela noite! Foi apenas o mal entendido de uma manhã de ressaca!"

Clark riu, e ela continuou:

"Nem em seus sonhos mais maravilhosos uma coisa dessas aconteceria! Além do mais, eu posso não lembrar de uma coisinha ou outra, mas não seriam algumas poucas taças de espumante que me fariam cair aos seus braços!"

"Bom, considerando que você na verdade não se lembra de coisa alguma e que não foram apenas algumas poucas taças de espumante que tomou, não deveria ter tanta certeza disso" devolveu ele, cínico.

Lois se virou para encará-lo.

"Achei que não havia mais nada que eu devesse me lembrar sobre aquela noite" disse, séria e preocupada, imaginando se mais alguma coisa teria acontecido além do constrangimento de estar embriagada o bastante para chamar Clark de seu salvador na secretária eletrônica de Chloe e levar mais de uma hora para se trocar na cozinha da casa dos Kent.

Clark sorriu, e depois ficou sério.

"Como eu disse naquele dia, não aconteceu coisa alguma"

"Bom, nesse caso, sugiro que guarde suas gracinhas para quando não estivermos presos em meio ao nada durante uma nevasca" disse ela.

Clark sorriu.

Houve então um silêncio, constrangedor o bastante para fazer com que Lois se sentisse desconfortável, por mais que já tivessem esclarecido os eventos daquela noite, mas pelo fato de que Clark ainda se vangloriava da situação de tê-la visto tão frágil, e provavelmente soltando o verbo sobre qualquer coisa, possivelmente até mesmo sobre seus sentimentos, o que de certo modo a afligia, e com razão, mas que nem por isso a intimidava:

"Parece que estão todos estressados com os vôos cancelados" disse, mudando de assunto, e apontando para um sujeito ao fim do bar que discutia ao telefone com alguém da companhia aérea.

"É... quem diria que ficariamos presos aqui?" perguntou ele, virando-se para vê-la, sabendo que poderia ir embora quando bem quisesse com sua super-velocidade, tal como o fez instantes antes de terminar o Congresso quando recebeu um chamado de John Jones de Metropolis, embora estranhamente quisesse voltar a fim de não deixar Lois à sua própria sorte.

"Logo nesse fim de mundo!" exclamou ela. "Não acredito que deixei Jimmy me inscrever nesse congresso! Antes tivesse ficado em Metropolis!"

"Trabalhando em alguma matéria que eu não deva saber?" perguntou Clark, curioso.

"Não que seja do seu interesse Smallville, mas estou trabalhando num projeto pessoal" respondeu.

"É mesmo? Posso saber do que se trata?" indagou ele.

"Por enquanto, é melhor não" disse ela, misteriosa. "Mas quando estiver engatilhado, prometo que será o primeiro a saber"

"Pensei que fôssemos um time" disse ele.

"Digamos que ambos temos nossos segredos, garoto da fazenda" insinuou ela, dando uma piscadela, ao que Clark engoliu em seco.

"Eu a chamei durante o intervalo das palestras" desconversou ele mais do que depressa, e sem desviar o olhar. "Havia um bom lugar vago ao meu lado, mas você não me viu"

"Eu devia estar distraída pensando nos preparativos do casamento de Chloe e Jimmy" mentiu Lois, que fingiu não ter visto Clark justamente para ficar o mais longe possível dele. "Afinal de contas faltam duas semanas"

"Duas semanas" repetiu ele, sorrindo. "Quem diria!"

"Adorei que eles tenham me escalado para organizar os preparativos, assim me mantenho ocupada... e longe de alguns pensamentos" disse ela, quando então tomou um grande gole do vinho ao perceber que falou mais do que devia.

Clark a observou por um instante. Sabia que havia alguma coisa errada com Lois nos últimos dias, mas nunca teve a chance de indagá-la, pois ela sempre se esquivava, de modo que tentou novamente:

"Algum problema, Lois?"

Ela se virou para vê-lo, surpresa com a abordagem.

"Como assim?" perguntou, fazendo-se de desentendida.

Clark deu de ombros.

"Eu não sei. Você anda cheia de mistérios e agindo de forma diferente nos últimos dias. Parece que algo a aflige"

Lois sorriu.

"Estou apenas me mantendo ocupada, Smallville" explicou ela, tomando mais gole de vinho.

Clark a observava, e Lois evitava qualquer contato visual com ele. Imaginou, então, que ela ainda devia estar sofrendo por conta do fim do relacionamento com Oliver. Lembrou do dia em que ela foi designada para escrever um artigo sobre o atentado ao bilionário, e como isso a incomodou. Lamentou não saber o que dizer, sabendo que Lois refutaria qualquer tentativa de consolo.

"Precisando de ajuda, sabe que pode contar comigo" disse ele, então.

"Claro que sei" disse ela. "Mas não preciso. Afinal de contas, que tipo de repórter seria eu se precisasse da sua ajuda Smallville?"

"Eu quis dizer que pode contar comigo para qualquer coisa, Lois. Não apenas para trabalho" corrigiu ele.

Lois o encarou. Um pequeno sorriso surgiu no canto dos seus lábios, e Clark o retribuiu.

"O dia em que eu precisar da ajuda de Clark Kent e suas inabaláveis camisas de flanela seja para trabalho ou qualquer outro assunto será o dia em que certamente terei perdido a razão. E acredite, isso está longe de acontecer" devolveu ela, com escárnio.

Clark sorriu. Era a Lois Lane de sempre falando, de modo que teve a certeza de que estava tudo bem, a menos que ela fosse uma excelente mentirosa, coisa da qual já não duvidava mais depois de terem sido submetidos ao teste do polígrafo com o joalheiro psicótico.

"Conseguiu se hospedar?" perguntou ele, mudando de assunto.

"Não" respondeu ela. "E o pior é que a nevasca só vai passar pela manhã" disse, apontando para o noticiário.

Lois e Clark ficaram em silêncio, e quando se viraram para ver um ao outro, sentiram-se visivelmente desconfortáveis. Foi então que o vocalista da banda que se apresentava pegou o microfone e começou a falar com a platéia:

"Pode estar frio lá fora, mas acho que podemos nos aquecer com um pouco mais de música, e essa é das minhas favoritas... Kokomo" anunciou antes de começar a cantar.

...

Aruba, Jamaica ooo I wanna take you

Bermuda, Bahama come on pretty mama

Key Largo, Montego baby why don't we go Jamaica

...

Clark sorriu com a desenvoltura do vocalista, e Lois rolou os olhos, enquanto tomava mais um gole de sua bebida.

"Ele é bom" comentou ele, observando a performance do músico.

Lois forçou um sorriso.

"Ele é péssimo, Smallville!" sussurrou ela.

Clark sorriu ao comentário de Lois.

"Ora, não é totalmente ruim" insistiu ele.

"Imagina! Pior que isso são as músicas tocadas na festa do milho de Smallville!"

Clark enrugou a testa e sorriu enquanto a observava fazer caras e bocas para a banda, enquanto a música continuava.

...

Off the Florida Keys

There's a place called Kokomo

That's where you wanna go to get away from it all

Bodies in the sand Tropical drink melting in your hand

We'll be falling in love To the rhythm of a steel drum band

Down in Kokomo

...


N/A: Para quem não sabe, a fic foi inspirada em ER, e por conta da falta de criatividade acabei usando o mesmo título do episódio do qual foi extraída a ideia para a história, "Let It Snow" (#15.09).