Comentários sarcásticos ainda em falta. O melhor que consegui foi:
"Filosofia retirada de rótulo de famoso subproduto da carne".
Quarto Capítulo: Vontade
Shun estava congelando, tinha certeza. Mais fria do que o Cócito era a mão do imperador das trevas, e mais terrível do que a morte era seu aperto.
A morte... Sim, esse frio logo o mataria, sem dúvida alguma. Talvez fosse interessante esperar...
- Shun? Lute contra mim, Shun.
... esperar que o frio cumprisse sua ameaça....
- Shun? Vais morrer aqui? Pretendes morrer aqui, congelado? Lute contra o frio, Shun.
... e dormir.
- Não existem palavras para exprimir meu desprezo, Shun. Os mortais, abençoados ou amaldiçoados com a capacidade única de enfrentar seu destino, de sempre buscar algo além de seus limites... encontram em você o que existe de mais torpe em toda sua espécie.
Porque a maldita voz não se calava e deixava que dormisse?
- Você não deseja a violência, e isso é uma atitude louvável. Mas o fato de que não és capaz de sequer erguer a voz em protesto contra meu ataque...! Mais do que repugnante, é... inatural. O presente de Gaia é um desperdício na tua existência. É uma pena, mas... não vejo escolha.
A lâmina do mundo dos mortos se materializou na mão esquerda de Hades.
- O que desejas, Shun? Viver ou morrer? Se morreres pelas minhas mãos, nesse lugar fora dos círculos do mundo, sua existência será obliterada para todo o sempre. Se desejares viver, talvez ainda haja esperança para você.
- O que ... eu quero...?
- Sim. O que você quer? Como queres viver sua vida? Quais os desígnios reservados pelo céu para seu caminho e quais deles deseja trilhar?
Shun queria viver? Viver sob o estigma de ter sido um veículo pelo qual a destruição quase se espalhou por toda a Terra? Qual a função de uma alma maculada pelas trevas no mundo de luz criado por Athena? Nenhuma.
Então, porque relutava? Porque não dizia suas palavras derradeiras, agora que era questionado pelo senhor da morte? Simples, Shun não queria morrer.
Hades havia lhe perguntado o que desejava: Shun queria uma vida tranqüila. Não uma morte definitiva, mas uma vida tranqüila. Uma vida em que pudesse superar todos os problemas ocorridos em seu passado, e... viver em paz.
- Eu quero viver. – disse Shun, a voz quase inaudível.
A mão do imperador foi subitamente retirada do ombro do cavaleiro, como se Hades tivesse recebido um choque. O frio dissipou-se no mesmo instante, permitindo que Shun respirasse com força, como que enchendo novamente pulmões sedentos de ar.
- E eis que Shun de Andrômeda deseja viver. – disse Hades, olhando seu punho procurando ferimentos – Um começo excelente.
...
- Shun? Shun? Posso entrar?
Saori não estava pedindo, era apenas um aviso de que entraria de qualquer maneira. Provavelmente, Shiryu havia falado com ela.
- Você está bem?
O cavaleiro de Andrômeda sentiu vontade de rir. A alma do deus que queria destruir toda a vida na Terra estava dentro dele, podia ouvi-lo rindo algumas vezes ou escarnecendo de seus pensamentos e ela perguntava se estava bem! Levantou a cabeça do travesseiro com calma, e olhou diretamente para a face de Saori.
"Ela ao menos não hesita quando eu olho para ela". – pensou Shun.
- Sim, Athena. Tudo bem.
Não devia deixá-la preocupada, devia apenas protege-la, como Seiya havia feito. Ele deveria morrer por ela, não deixá-la apavorada com a certeza de que seu grande inimigo... ainda vivia.
- Gostaria de conversar sobre alguma coisa? Qualquer coisa?
- Eu... não sei. Preferia dormir, sinceramente.
- Shun, você está sendo evasivo. – disse Saori, adiantando-se e abaixando-se próxima ao cavaleiro – E seu cosmo está confuso, de uma maneira que nunca havia sentido antes em você.
- Saori... É... É ele. Eu... consigo ouvi-lo.
Para sua grande surpresa, o cavaleiro viu os olhos da deusa se enchendo de lágrimas; e isso foi a coisa mais terrível que poderia ter visto, pois se a própria Athena chorava... Significava que não havia mais esperança, não é?
Mas então ele sentiu a mão da deusa deslizar por seu braço, tentando confortá-lo. E Shun teve que lutar bravamente para não estremecer com aquele toque.
"Impura. Blasfema. Matadora de deuses!"
- Saori!!! Não, por favor! Não... me toque. Ele, ele... Ele...
"Pode acabar ferindo você? É isso, Andrômeda?"
O cosmo de Shun subitamente elevou-se e Athena recuou. Ele não parecia capaz de fazer qualquer coisa contra ela, mas...
- SAIA!!! SAIA!!! SAIA DAQUI!!!!
...
- Um começo?
- Exato, Shun. Afinal, eu preciso de sua ajuda.
Shun bufou, impaciente.
- Precisa da minha ajuda para que? Recuperar seu corpo divino e voltar a ameaçar a Terra e Athena? Se for isso, pode...
- Não. – Shun parou imediatamente de falar, quando Hades ergueu uma das mãos para silenciá-lo - Não, não e não, Andrômeda. Minha vontade não é mais destruir a vida na Terra ou lutar contra Athena.
- Não... é?
O cavaleiro quase viu o deus revirando os olhos para sua dúvida. Quase, pois era óbvio que se o deus fosse um humano, teria sido exatamente o que teria feito.
- Desculpe-me se pareço exasperado com tua dúvida, Andrômeda, mas o fato é que, para um deus, esse tipo de pergunta é terrivelmente desrespeitoso. Um deus se define de acordo com sua vontade, é uma blasfêmia sem tamanho contestar isso.
Shun piscou, sem conseguir entender perfeitamente o que Hades dizia.
- Mas... Você lutou contra Athena por nove guerras santas! Isso são quase dois mil anos! E agora... você diz que não quer mais destruir a Terra? É difícil de acreditar.
De maneira quase imediata, Shun sentiu um peso ser retirado de seu coração. Se Hades não desejava mais a destruição da Terra e de Athena, isso significava...
Hades fechou os olhos e expirou com força antes de responder.
- Como eu disse, blasfemo ao extremo. Dois mil anos não são nada para mim, Shun. Eu sou muito mais velho que a raça humana, sou o mais velho dentre os cinco olimpianos: dois mil anos e a morte de 23.826 cavaleiros, soldados, aprendizes e espectros não representam nada para mim. E, além disso, minha vontade não é essa!
- A vontade de um deus o define por excelência, Andrômeda. – continuou Hades, ao ver a expressão de pasmo no rosto do cavaleiro – Um deus não pode... Contrariar sua própria vontade, é algo... anormal para nós. Como um ser humano que não respire.
- Mas... ninguém pode contrariar sua própria vontade. É... vai contra a próprio sentido da palavra.
- Concordo, Andrômeda. Mas então, o que leva uma estudante a sair com os amigos quando devia estudar para seus testes? Não é a vontade dela se tornar uma médica, uma professora? E, no entanto, ela não está indo contra sua vontade? Deuses não podem fazer isso.
...
Ele havia gritado com Saori e a feito chorar.
Ele, que devia proteger Athena, a estava fazendo sofrer.
"E pensar que eras a alma mais pura da Terra."
Shun cogitou a idéia de sair pela janela e fugir de tudo o que estava acontecendo. Correr para sempre, sem pensar em mais nada e sem ouvir mais voz alguma. Talvez devesse fazer isso! Talvez sair de perto de seus amigos fosse a solução!
Ele era um monstro e não submeteria seus amigos e sua deusa a provação de ter que lutar contra ele.
Daria cabo de si mesmo antes disso.
"Se fosses corajoso para tanto, claro. Pena que não o és, Andrômeda."
...
- Isso é o que chama-se livre arbítrio. A faculdade que apenas os homens mortais possuem. Porque os deuses, ah, os deuses, não podem escapar de seus destinos.
- E... qual a sua vontade, agora?
Era surreal imaginar que alguém pudesse sorrir num lugar como aquele, a crosta do Tártaro, o lado de fora do universo. Mas foi o que Hades fez e por um instante, os ventos que sopravam leves, pareceram se tornar carregados de eletricidade.
- Mudar isso, é claro.
Sabe, foi um alívio constatar que não houve uma cena de sexo no quarto (capítulo). Haha, sacaram? Quarto. Sexo.
Ignorem.