Prólogo

ou The One Where Marlene Arrives

A estação estava lotada, com muitas pessoas desembarcando, e encontrando familiares e amigos que os esperavam na estação.

Mas não ela. O único que a estava esperando era o motorista da família. Mas já havia se acostumado com isso. Com pais ocupados como os dela, quem mais a buscaria na estação?

Tudo bem, ela pensava. Conhecia William, o motorista, desde criança, e sempre fora ele que a levava para todos os lugares, e com isso, já se tornara um grande amigo. Apesar de ser quase um velhinho de setenta e poucos anos, conhecia Londres como a palma de sua mão.

Colocou sua bagagem xadrez da Burberry no chão, tirou seus óculos escuros e olhou para William, esperando que viesse buscar suas malas.

É claro que não o deixaria levar todas sozinho. Mas Marlene sempre fazia isso quando voltava de viagem, apenas para brincar com ele. Will, como ela o chamava, sempre ria. Típico dela, pensava.

Foi até ela e levantou sua mão para cumprimentá-la. Marlene correspondeu, mas começou a agitar mais forte, até começar um aperto de mão complicado com direito a pulos e tudo mais, daqueles que quando amigos fazem, chamam de "secreto".

- Vejo que não se esqueceu, Will. – ela disse educadamente.

- Como poderia, srt.ª McKinnon? Depois de tanto tempo praticando? – a garota revirou os olhos. Odiava quando a chamavam de srt.ª McKinnon. Para ela, era Marlene ou só Lene. Mas a parte do treino era verdade. Marlene fizera William praticar aquele aperto de mão desde que era pequena até que ficasse perfeito. E ficou surpresa ao ver que ele não havia esquecido do aperto de mão.

A garota pegou duas de suas três malas, e seguiu o motorista até o carro. Will abriu a porta para ela, e ela, agradecendo, entrou.

- Direto para casa, senhorita?

- Será que antes, você poderia passar naquele mesmo lugar de sempre? – ela disse sorrindo, esperando que ele lembrasse. Fazia anos que não ia para lá.

William sorriu: - Como quiser, srt.ª. Ainda me lembro de como chegar lá como se fosse ontem.

Marlene abriu um sorriso ainda maior e colocou seus óculos escuros de novo. Virou-se para olhar pela janela a cidade onde nasceu. Nada mudara desde que estivera lá. Fazia dois anos, que não passava as férias em casa, desde que sua família a mandou para um internato na Escócia, e tudo era como ela se lembrava.

Suspirou ao ver que haviam chegado. Aquele havia sido seu refúgio do mundo, desde criança, aquele parque, onde sempre passeava com seu irmão Robert, e seu primo James.

Ah James! Não o via há dois anos, e queria vê-lo, afinal era seu melhor amigo! O mesmo com seu irmão. Desde que ele saiu para viajar pelo mundo, vê-lo era quase impossível.

Saiu do carro antes mesmo que William tivesse a oportunidade de abrir a porta, e andou até o parquinho de areia, tirou seus sapatos de salto alto, e se sentou no seu balanço. Sim, era seu pois há alguns anos, escrevera suas iniciais, nele.

Começou a balançar olhando para o céu nublado de Londres. Como sentira falta daquele céu, daquele ar com cheiro de chuva, e de enterrar seus pés naquela areia fofa e fria do parque.

Olhou seu relógio Dior – por força do hábito, por que, se pudesse, ficaria lá o dia inteiro – e viu que já eram quinze para seis. Suspirou entediada. Deveria estar em casa até as seis.

Se levantou com pesar, e foi andando até o carro descalça, onde William a esperava no banco da frente lendo um jornal. Nunca reclamou de ter que levá-la e esperá-la, sabia o quanto aquele lugar era especial e, que todas as suas "energias negativas" – como a garota costumava chamar – eram descarregadas quando ia para o parque, assim como sua mente, que relaxava.

Entrou no carro sem dizer nada:

- Para casa, srt.ª? – William perguntou a olhando pelo retrovisor.

- Sim. Está na hora de voltar para casa. – disse recolocando seus óculos escuros.