Um Lugar Chamado Bishop's Cleeve

By Flavinha Greeneye


Bishop's Cleeve, Inglaterra. Uma pequena cidade simpática no interior do país. Um agradável lugar para se morar, calmo, pacífico, simples, quase rudimentar. A velha Harmony Evans só podia ter esperanças de que as coisas continuassem assim depois da chegada da sua neta.


- Bom dia, Harmony. – o homem gritou, erguendo seu chapéu em cumprimento. Em resposta, a mulher de cabelos brancos deu um sorriso que encheu de calor os olhos mais verdes que a cidade já havia visto.

Harmony Evans havia fixado residência em Bishop's Cleeve, a pacata cidade interiorana, após a morte do seu marido. A última coisa que queria era ser um estorvo para os filhos. Era madura, não velha, podia se virar muito bem por conta própria. Seguira o Almirante Evans por anos por diferentes países durante a guerra, bem que merecia escolher uma cidadezinha capaz de acolhê-la e lá passar o resto dos seus dias com calma e tranqüilidade. E foi o que fez.

Pelo menos até a chegada da sua hóspede. Dali a exatamente, conferiu no relógio, duas horas. Se bem conhecia seu filho, eles chegariam no instante em que o ponteiro chegasse ao horário combinado. Suspirou, cumprimentando a dona da quitanda com um aceno da cabeça, andando em direção aos legumes.


Edward Evans olhou de esguelha para a filha caçula. Lily havia se tornado uma moça muito atraente, percebeu. Não era só a combinação do belo corpo, com o rosto perfeito, um sorriso adorável, os cabelos acaju, os olhos verde-vivo. Edward sabia identificar bem demais aquele toque, aquele charme a mais. Lily não herdara apenas os cabelos flamejantes da mãe dela, herdara também aquele brilho nos olhos, aquela energia inesgotável que parecia vir do fundo do seu ser. Era o que o chamara a atenção para Rosemary. Ele estava acostumado a mulheres bonitas e ricamente vestidas, mas foi aquela moça de cabelos ruivos, sorriso estonteante e um simples vestido branco que fez seu coração disparar.

Petunia, a primogênita, era mais parecida consigo mesmo, ele sabia. Mais prática, mais pessimista, mais cabeça-dura, mais séria. Mas Lily era como sua preciosa esposa, possuíam um fogo interno inapagável. Por um momento, ele chegou a reconsiderar levá-la para a casa de Harmony Evans. Se ele conhecia alguém que poderia pôr Lily nos trilhos, era a sua mãe, e seria uma lástima, uma crueldade, apagar aquele brilho dos olhos da filha. Por outro lado, ele a conhecia bem – e conhecia a falecida mulher ainda melhor – para saber que, se havia alguém que poderia surpreender Harmony Evans, esse alguém era a ruiva ao seu lado.

Edward suspirou outra vez. Só o tempo diria se ele estava certo. Mas para o bem de todos os envolvidos, ele desejou estar.

Lily ainda não havia falado nada quando passaram pela placa que dava as boas-vindas à Bishop's Cleeve. Sua greve de silêncio começara desde o instante em que ela entrara no seu quarto, batendo a porta e quebrando trilhares de coisas no seu caminho, até agora. Sem contar as despedidas apressadas aos amigos mais próximos e aos empregados da Mansão Evans, é claro.

Ela estava agora morrendo de vontade de perguntar se havia um shopping em Bishop's Cleeve, um cinema, uma pista de carros, uma sorveteria, uma Dolce&Gabanna, que carro ela poderia usar, mas estava quase certa de que sabia a resposta a todas as perguntas. E essas respostas se resumiam a um "não".

Encostando a testa no vidro da Mercedes Benz CL65, perguntou-se se o pai deixaria aquele carro com ela. Suspirou pesadamente, sem precisar perguntar nada. Sabia a resposta.


Harmony soltou a cortina e se afastou da janela. Não sabia porquê se dera ao trabalho de ficar vigiando. Antes mesmo que seu filho e sua neta chegassem, sabia que a agitação nas ruas a alertaria. Afinal, seu filho era milionário e devia estar com um daqueles carrões caríssimos, potentes e idiotas, e aquela cidade era pequena, não tinham muito sobre o que comentar.

Andou até a porta e a abriu, a tempo de ver seu querido Edward, mais velho, mas ainda parecendo jovem, descendo do carro – que ela não identificava qual era, mas sabia que era caro e potente, pelos comentários dos vizinhos que podia ouvir.

Como esperado, as crianças que estavam brincando na rua haviam convergido para seu jardim, os vizinhos que estavam cortando a grama, aguando as flores, conversando sobre a cerca ou apenas aproveitando o sol do fim da tarde se aproximavam, curiosos, e as pessoas que estavam dentro de casa tinham ido até a janela dar uma espiada naquela agitação.

Então, completando a cena e dando a todos os moradores mais um pouquinho de material para fofocas, se não bastasse o carro elegante e o belo homem visitando aquela que nunca recebia visitas, Lily desceu do carro.

Harmony pensou que parecia cena de um filme, e lhe ocorreu que Lily sabia disso. A jovem colocara o par de pernas vestidas com jeans justas para fora, seus pés delicadamente tocando o asfalto, vestidos com sandálias de tiras de marca. O resto do corpo saiu em seguida, com uma elegância que Harmony reconheceu como nata, apesar de um pouco arrogante. E então lá estava ela, Lily Evans, em todo seu esplendor, olhando com interesse superficial para a cidade.

Edward Evans se aproximou da mãe, tirando-a de sua análise.

- Mãe. – ele falou, sério. Harmony se segurou para não rir, e respondeu séria:

- Filho. Fone. Casa.

Viu Edward revirar os olhos, um início de sorriso atravessando seus olhos, então gargalhou e lançou seus braços ao redor do grandalhão que seria sempre seu garotinho.

- Oh, Edward, faz anos que você largou a Marinha e ainda não perdeu essa rigidez toda? – comentou a mulher. – Venha, venha, vamos entrar, sim? Eu fiz chá e devo ter alguns biscoitos, e... Cadê sua filha? – espantou-se, procurando-a com os olhos.

Seu filho resmungou em resposta e falou, por fim:

- Sua neta? Vamos deixá-la sozinha um pouco, mãe. Não creio que ela possa causar encrenca em tão pouco tempo.

Com um único olhar, Harmony soube que isso era mentira, mas resolveu deixar para lá. De certo modo, não acreditava que houvesse muita encrenca a ser causada em uma cidade como Bishop's Cleeve.

Muito em breve ela repensaria seus conceitos.


- Qual é o seu nome? – o garotinho perguntou, jogando impacientemente uma mecha de cabelo loiro-sujo para longe dos olhos azuis. Lily o encarou por um instante. Conhecia garotas que achariam hilário responder algo como "Florisbertalvares" e fazer o menino de bobo. Lily achava isso babaquice, portanto respondeu:

- Lily. E o seu?

- Timothy. – ele respondeu, se esforçando para pedalar devagar o suficiente para andar ao lado dela sem cair da bicicleta. Afinal, seria terrível se ele fizesse algo tão idiota perto da garota mais linda que ele já havia visto. - Porque você veio visitar a tia Harmony?

A ruiva anotou mentalmente que ele a chamara de tia Harmony, e não Sra Evans. Não sabia bem o que isso significava, mas descobriria mais tarde.

- Ela é a minha avó.

Timothy deu uma guinada com o guidon, tamanho o espanto, mas logo retomou o rumo.

- Tia Harmony tem família?

Por um instante Lily se sentiu envergonhada, mas retrucou depressa:

- É, mas nós não somos muito chegados, sabe? Ela nunca quis muita proximidade comigo ou com a minha irmã depois que meu pai se casou.

- Sua irmã também vem? – ele perguntou, os olhos brilhando ante a perspectiva de outra mulher parecida com uma estrela de cinema visitando sua cidade.

- Não. Meu pai vai me deixar aqui sozinha, de castigo. – Lily respondeu, observando distraída o parque por onde estavam passando. Fora uma jogada de mestre o modo como ela aproveitou a distração do seu pai e de Harmony para fugir da enfadonha reunião familiar, imediatamente travando contato com uma das crianças próximas dali, mas agora não sabia para onde poderiam ir, ou sequer se conseguiria se distrair o suficiente para deixá-los esperando.

- Castigo? Por que? – Timothy perguntou.

- Porque fui uma má menina. Você não entenderia. – Lily respondeu, desinteressada. Ao seu lado, o rosto bronzeado de Timothy adquiriu um tom vermelho, e sua voz saiu com uma fúria mal contida:

- É mesmo? Porque sou um garoto ignorante de uma cidade do interior e você é uma quase adulta?

A moça o encarou, espantada. Depois soltou uma gargalhada e voltou a andar.

- Você tem razão, me desculpe. Não há nada mais odioso do que alguém mais velho tentando ser superior, eu sei bem.

Timothy ficou quieto por um instante, surpreso. Não esperava que ela o entendesse. Imaginava que ela gritaria com ele, ou riria da sua cara, como os mais velhos geralmente faziam, e não que concordasse com ele. Perguntou outra vez:

- Então, por que está sendo deixada aqui de castigo?

- Eu realmente sou uma má menina, suponho. – Lily suspirou. – Apostei uma corrida com uns caras numa estrada de terra nos arredores de Londres. Aconteceu um acidente. Acho que foi a gota d'água para o meu pai.

- Bom, pelo menos ganhou? – perguntou o garoto, surpreso.

- A corrida, sim, a aposta, não. Ainda vou fazê-los pagar, você vai ver. – Lily falou, marota. – Vem cá, o que tem pra se fazer aqui? Não vamos passar a tarde toda dando voltas aqui, vamos? O que você faria se eu não estivesse aqui?

- Bem, - Timothy considerou. – tem o futebol no campinho no meio do parque, mas...

- Ótimo. – Lily o interrompeu, abrindo um sorriso. – Adoro futebol.


N/A: Capítulo super hiper curto, mas o próximo será melhorzinho, já que seremos apresentadas ao nosso querido James. Nada demais, quase só uma aparição, mas que já vai deixar uma marquinha na nossa ruiva.

Até lá, espero reviews. Falando nisso, obrigada pela paciência que vocês têm demonstrado comigo. Juro, significa muito.

Beijos, Flavinha.


Respostas das reviews do capitulo anterior:

Bellah: Abandonar está fora de cogitação, não se preocupe. Mas uns atrasos de vez em quando, quem sabe? Haha, beijos e continue acompanhando.

Tahh Halliwell: Diferente essa fic é com certeza! Haha, continue acompanhando. Beijos.

Thaty: Brigada, fofa. Continue acompanhando, beijos.

Mari lP.: Que bom que gostou! Infelizmente, sua curiosidade não será saciada tão cedo, já mencionei que eu sou mega enrolada? Haha, beijos.

Pati Evans: Pati! Que saudades dos seus comentários que saem devaneando sozinhos! Hahaha, minha única certeza quanto à essa fic é essa mesmo: ela é diferente. Beijos e continue acompanhando.

bruh prongs: Como você pode ver, elas não fugiram. Mas sabe que eu gostei da sua idéia? Haha. Segredinho: Marlene um dia irá visitá-la, e quem sabe nesse dia elas não fogem? Beijos, e continue acompanhando.

Mellani C. Hamilton: Estou mesmo tentando atualizar as outras fics, mas como essa é nova, ás vezes parece que me anima mais, sabe? Bom, mas espero que continue gostando. Beijos.

Paula: Que legal, você também estuda na UnB! Já pensou se a gente já se esbarrou pelo RU e não sabia? Hahaha. Então, veremos se correspondo às suas expectativas mais adiante, quando o nosso querido James aparecer. Mas se a Lily não é convencional, não espere que ele seja também. Beijos.

Luci E. Potter: Fran! Antes de mais nada, estou desesperada para ler (e comentar) suas fics. Sério, me envergonho disso. Mas enfim, as minhas fics terão, espero eu, atualizações em breve (não muito breve, meu breve é diferente do resto da humanidade, hahaha). Beijão, querida.

Verônica D. M.: Atualizada :) Haha, espero que continue gostando. Beijos.

Mari Black: Muito obrigada, Mari, e Maluca, eu? está com um capítulo enooorme no forno. Teremos atualizações em breve. Beijos.

Nossa, que terapia responder reviews... Adoro vocês :)