EPÍLOGO

*** Sete anos depois ***

Fazia exatamente vinte e sete dias e onze horas que eu estava fora de casa. Só não poderia especificar os minutos e segundos porque o meu relógio tinha feito o favor de parar de funcionar durante o vôo. Mas mesmo se meu relógio não tivesse quebrado, teria ficado inútil agora, todo babado do jeito que estava.

- Brad, Bianca está babando meu relógio de novo. – eu resmunguei tentando afastar a boca da pequena no meu braço – Já achou o mordedor dela?

- Eu tenho certeza que eu coloquei aqui. – ele falava afobado enquanto revirava uma bolsa rosa com objetos de bebê – Thata, você pegou o mordedor de Bia?

- Porque eu pegaria, seu energúmeno? – ela respondeu sem se virar na sua direção – Meus dentes já cresceram. Matteo pare com isso. Comida não é brinquedo. – ela reclamava, tentando a todo custo fazer o pequeno comer alguma coisa do almoço servido a pouco pelas comissárias.

Estávamos eu, Brad e Thais e seus filhos Matteo de 3 anos e Bianca de seis meses no avião indo para Carmel. Eu tinha passado na Itália onde os dois moravam agora, depois que terminara o trabalho na minha primeira expedição ao Egito. Não que eu nunca tenha ido ao Egito antes, mas das outras duas vezes eu tinha ido como estudante. Essa tinha sido a minha primeira viagem oficial ao Egito desde que eu me formara. Mas eu já tinha ido a outros lugares. Era uma coisa boa isso de ser arqueóloga. Me dava a oportunidade de viajar bastante e conhecer lugares fantásticos. Dos lugares que eu já tinha conhecido, o que mais gostei foi Anatólia, onde eu conhecera o sítio arqueológico da cidade lendária de Tróia, e é claro, o Egito.

E, embora eu tenha apreciado demais essa viagem, eu não via a hora de chegar em Carmel. Sentia falta da minha família. Principalmente da minha mãe. Eu não a via pessoalmente há mais de dois meses já que fazia esse mesmo tempo que eu não ia a Carmel.

Pois é. Eu não moro mais com a minha mãe. Agora eu moro em Sacramento com Jesse. Nós já moramos juntos desde o dia que eu comecei a estudar na Universidade de Berkeley há seis anos atrás. Eu me formei no mesmo ano que ele terminou a parte básica do curso de medicina e ele já havia decidido se especializar em neurologia, então nos mudamos para Sacramento que é onde fica um dos melhores pólos neurológicos do país. E de uma coisa eu não me enganei: Jesse ficava simplesmente esplêndido como médico.

Muitas coisas mudaram nesses sete anos. Algumas já previsíveis, outras nem tanto. Confesso que o que mais me deixou surpresa foi quando Brad se mudou para a Itália apenas dois dias depois da nossa formatura no colegial. Mesmo Thais morando em outro continente, eles tinham continuado a se ver nas férias ou em qualquer feriado prolongado, mas ainda assim me surpreendeu quando ele anunciara para a família que iria viver com ela. Um ano depois disso eles se casaram. Agora, com dois filhos lindos, eles estavam indo comigo para Carmel onde seria celebrado o casamento de Jake e Gina. Como eu disse: muitas mudanças. Mas eu realmente pensei que Jake e Gina seriam os primeiros a casar. Até que demoraram. Tudo bem que eles já moram juntos desde que começaram a fazer faculdade, mas só agora resolveram se casar.

Mas quem sou eu pra falar essas coisas? Afinal, eu moro com Jesse há seis anos e nós ainda não nos casamos. Mas foi uma escolha nossa. Nós decidimos que não iríamos nos casar enquanto não resolvêssemos nossas pendências. Por pendências, entende-se "terminar os estudos". Mas Jesse agora estava no último ano da residência dele, faltando apenas quatro meses para concluir, então em breve seríamos nós a entrar na igreja.

Quando finalmente o meu irmão idiota achou o mordedor de Bianca – idiota porque ele tinha guardado o objeto na bolsa com as coisas de Matteo –, nós já estávamos apertando o cinto para esperar o avião pousar.

Depois que conseguimos retirar todas as malas da esteira, rumamos lado a lado para o portão de desembarque onde estava minha mãe, Andy e Gina.

- Amiga! – Gina gritou correndo para os meus braços e fazendo um estardalhaço tão grande que várias pessoas nos observavam com sorrisos nos rostos – Que saudade!

- Eu também estava morrendo de saudades. – eu falei lutando para não cair no chão com o impacto do seu abraço – Como você est...?

- Suze, você precisa me ajudar! – sua voz era urgente e nervosa.

- Oi?

- Você não tem noção do problema que surgiu. – ela falava rápido, quase sem respirar – A floricultura que eu contratei me deu o maior calote. Sumiram do mapa depois que eu paguei.

- Oi?

- Suze, acorda! Você precisa me ajudar!

- Tudo bem comigo, Gina. – eu falei num tom sarcástico – A viagem foi ótima. O Egito é maravilhoso. E você, como vai?

- Suzinha! – minha mãe veio me salvar do olhar cortante que Gina me lançou naquele momento. Tenho medo dessas noivas neuróticas – Que saudades de você, minha filhota linda.

Pelo menos eu sabia que a saudade dela era genuína.

- Oi mãe. Como a senhora está?

- Melhor agora. – ela me abraçou forte como sempre fazia quando eu passava muito tempo fora de casa e Andy praticamente teve que usar um pé de cabra para nos separar antes que ela esmagasse minhas costelas.

- Oi Andy. – eu o cumprimentei, abraçando-o também.

Depois que todos já haviam se cumprimentado eu não consegui mais escapar da Gina e do seu ataque pré-nupcial. Brad, Thais e seus dois filhos foram no carro com mamãe e Andy, e eu tive que ir com ela no seu carro.

- Suze, eu estou desesperada. De verdade. – sua voz era baixa e ofegante – Desculpa se eu não te cumprimentei direito, mas é que eu...

- Eu estava brincando, Gina. – eu a interrompi enquanto colocava meu cinto de segurança – É claro que eu vou te ajudar, sua boba.

- Ai, valeu amiga! – ela se jogou em cima de mim e me abraçou de qualquer jeito.

- Gina, você está dirigindo! – eu a lembrei segurando o volante para o carro não sair da pista.

Eu estava muito feliz por estar ali novamente. Feliz por rever a minha família. Ou parte dela. Jake não pôde ir porque estava cuidando das gêmeas e elas não puderam vir por estarem num ensaio para a apresentação do balé que as duas faziam. E Dave estaria chegando apenas na véspera do casamento, por conta da faculdade. Mas quem eu realmente queria ver não estaria ali hoje. Jesse iria chegar apenas no dia seguinte e meu coração já doía de tanta falta que eu sentia dele. Mas amanhã nós iríamos nos ver e eu já tinha planejado tudo para o nosso reencontro.

E foi só pensar nele que meu celular tocou com a música que eu tinha selecionado para quando ele me ligasse.

- Oi, meu amor. Eu já ia te ligar.

- Como foi de viagem?

- Tudo tranqüilo. Como você está?

- Com saudades.

- Eu também. – eu sentia meu corpo mole só de ouvir a sua voz – Morrendo. Seu vôo está marcado para chegar às 4:30 da manhã, não é?

- Sim, e a senhorita não vai me pegar. É cedo demais.

- Claro que eu vou te pegar.

- De jeito nenhum. Já falamos sobre isso antes.

- Mas Jesse...

- Sem "mas". Eu não quero que você dirija de madrugada até o aeroporto. Assim que eu chegar, eu vou direto te encontrar.

Droga! Lá se vai meu plano para o nosso reencontro. Eu sabia que não adiantaria insistir com Jesse. Eu sempre acabava fazendo tudo que ele queria mesmo.

- Mas você vai me acordar quando chegar, não vai? – eu perguntei com a voz dengosa.

- Se você quiser...

- É claro que eu quero.

- Tudo bem então. Nos vemos em algumas horas.

- Estarei contando os minutos.

- E eu os segundos, meu amor.

Depois de desligar eu liguei para uma floricultura de Sacramento que eu conhecia e que era muito boa. Expliquei o problema de Gina sobre a empresa que tinha deixado-a na mão faltando apenas cinco dias para o casamento e eles se prontificaram a entregar as flores sem falta na manhã da cerimônia. A encomenda era grande, mas eles prometeram que tudo daria certo.

- Pronto. Problema resolvido. – eu informei a Gina depois de passar todos os dados do local de entrega e disse que Gina iria enviar um e-mail com a relação das flores e onde deveriam ser colocadas, conforme tinha sido combinado com a outra floricultura.

- Mas agora eu vou ter que pagar tudo de novo. Bando de mau-caráter que brincam com a vida dos outros.

- Deixa que essa é por minha conta – eu a interrompi antes que ela acabasse tirando o carro da estrada, tamanho era o seu nervosismo. – Presente de casamento.

- Mas o seu presente já é a lua de mel para o Havaí.

- Mas eu sou sua Dama de Honra. O que me dá o direito de te dar dois presentes.

- Não dá não!

- Dá sim.

- Claro que não.

- Façamos o seguinte. A lua de mel fica como presente de Jesse para os noivos, e as flores ficam como o meu presente.

- Malandra!

- Obrigada.

- Eu é que agradeço. – ela falou soltando o ar pesadamente – Não sei o que eu faria sem você aqui, amiga. Eu já estou para enlouquecer com essa coisa de organizar casamento. Devia ter contratado um profissional, mas um profissional nun...

- Nunca teria feito as coisas do jeito que você quer. – eu completei. Já tinha perdido as contas de quantas vezes Gina tinha repetido a mesma frase. – Relaxa, Gina. Vai dar tudo certo.

Nesse momento nós já estávamos chegando em casa. Eu iria ficar na casa de Paul e Alicia enquanto estivesse em Carmel, mas tinha prometido jantar com a família essa noite.

Assim que desci do carro vi duas cópias de gente em tamanho reduzido correndo na minha direção.

- Suze! – as duas gritaram em uníssono descendo as escadas ainda com as roupas do balé e pularam em meus braços ao mesmo tempo.

- Larie! Tita! – eu exclamei abraçando-as de volta – Que saudade de vocês. Como vocês estão?

- Morrendo de saudades também. – Larie ou Tita respondeu – eu às vezes tinha problemas em identificar quem era quem – Aprendemos passos novos de balé. Quer ver?

- Claro, claro, mas me deixem entrar em casa antes.

- E aí, mana como está? – Jake chegou logo em seguida e me abraçou rapidamente.

- Bem. Com saudades de casa. E aí? Nervoso com casamento?

- Mais nervoso com a noiva. – ele falou baixinho para que Gina, que estava ao telefone, não ouvisse.

- O que Gina tem feito nesses dias? – eu perguntei no mesmo tom.

- Nada. Só me enlouquecendo aos poucos. Como foi o Egito?

- Incrível. Tirei muitas fotos.

Entramos todos juntos na casa, Jake lavando minhas malas e Gina ao telefone falando com alguém sobre o local onde será realizada a cerimônia. As gêmeas nos acompanhavam saltitantes fazendo seus tutus se moverem graciosamente. Andy estacionou logo depois e Brad e Thaís desceram do carro com ele carregando Matteo que dormia, e Thaís com Bianca nos braços que também dormia.

Passamos o resto da tarde conversando sobre as novidades sobre o que tinha acontecido no tempo em que ficamos separados. Inclusive sobre o fato de que Larie e Tita agora estavam com a mania de se vestir iguais e ficar nos confundindo o tempo todo. Andy disse que elas andaram fazendo maratona das gêmeas Olsen no último feriado e deram para falar e agir como elas durante o filme It Takes Two em que elas trocam de lugar.

- Espero que isso passe logo. – minha mãe reclamou enquanto observava as duas treinando uma coreografia do balé – Eu já recebi duas reclamações dos professores dizendo que elas respondem juntas às chamadas e vivem trocando de lugar durante os ensaios do balé.

E eu tinha que admitir que era difícil distinguir a identidade delas. Elas eram idênticas com seus cabelos castanhos lisos com o mesmo corte com franja. E vestidas assim com as roupas rosas do balé, tornava a tarefa impossível.

Um pouco antes do horário do sol se pôr, meu celular tocou e eu vi que era Jesse me ligando.

- Hermosa, eu tive uma idéia. – ele falou com a voz empolgada – O que acha de nos encontrarmos amanhã no penhasco às nove horas.

Às nove? Mas isso significava que eu ficaria ainda mais tempo sem vê-lo.

- Por quê?

- Porque nós já estamos há um tempo sem nos ver... – vinte e sete dias, eu pensei torturada – e eu queria te encontrar de um jeito mais especial. – eu também não achava nem um pouco legal ele me encontrar depois de tanto tempo quando eu estivesse com cara de sono e cabelos desgrenhados. – Preparar alguma coisa só para nós dois. Podemos ficar juntos um pouco. Fazer um piquenique, matar a saudade.

- Adorei a idéia. – afinal, o que são mais algumas horas? Eu também queria que esse momento fosse especial.

- Mas eu posso te pedir um favor?

- Claro.

- Você poderia ir até ao penhasco?

- Para quê?

- É que eu queria preparar tudo antes de você chegar, mas eu queria saber a cor das flores da árvore.

- Não são amarelas?

- Durante o inverno sim, mas na primavera muda de cor. E eu não lembro se ficam rosas ou brancas. Poderia ver isso para mim?

- Claro. Posso saber para quê?

- Surpresa.

Lá vinha Jesse com seus mistérios.

- Você sabe que eu não gosto de surpresas.

- Tenho certeza que você não vai se arrepender – sua voz estava um tanto empolgada demais, e isso só fez aguçar a minha curiosidade.

- Tudo bem. Estou indo lá agora.

- Certo. Me liga quando chegar lá.

- Ok.

Desliguei telefone e fui ao meu antigo quarto que agora pertencia às gêmeas. Tomei uma ducha rápida para me refrescar e vesti uma roupa leve. Apenas uma regata branca com uma saia verde e que ia até o meio das coxas e deixei meu cabelo ao natural. Peguei meu celular e avisei a todos que iria sair e que não e demorava. Estava tão distraída pensando no que Jesse poderia estar planejado para amanhã que nem notei a troca de olhares entre minha mãe e Andy.

Fiz tão conhecido caminho até o penhasco observando a beleza ao meu redor. A primavera tinha deixado todo o caminho florido, ficando ainda mais fascinante com o brilho alaranjado do sol poente. Já de longe eu via árvore e, conforme Jesse tinha dito, as flores realmente mudavam de cor durante a primavera. Eu estava acostumada a ver as flores amarelas, mas agora elas estavam em um tom claro de roxo, quase lilás.

Eu agora estava embaixo da árvore e já estava começando a discar o número para ligar para Jesse quando reparei que havia uma pequena caixa verde claro envolvida com uma fita branca em cima da raiz da árvore. Eu poderia até nunca ter comprado nada lá, mas como profunda conhecedora da moda e constante leitora da Cosmopolitan, eu sabia exatamente de onde vinha aquela caixa: Tiffany & Co.

Meu coração começou a bater descompassado enquanto eu me aproximava e pegava a pequena caixa nas mãos. Dentro havia um papel com meu nome escrito com letra caprichosa e eu sabia exatamente a quem pertencia aquela letra. Desdobrei o papel e nele havia escrito um apenas uma coisa: "Vire-se".

Me voltei rapidamente e me deparei com Jesse que estava parado segurando uma única flor da mesma cor das flores da árvore e me encarava com o olhar intenso.

- Jesse...

- Hermosa – ele se aproximava devagar e sem tirar seus olhos dos meus um só instante e parou há menos de um metro de mim. Meu coração batia ainda mais rápido e eu já sentia a minha respiração ficando falha. – eu senti sua falta – ele murmurou.

- Eu também. Muita – falei no mesmo tom.

Ele me estendeu a flor que estava em suas mãos, que parecia uma rosa, e retirou a caixinha das minhas. Dentro havia uma pequena caixa de veludo branco que ele pegou e voltou a olhar nos meus olhos.

- Suzannah – ele começou com a voz rouca –, você roubou meu coração no instante em que em nosso olhar se encontrou pela primeira vez. Antes mesmo do nosso primeiro toque, aquele que quase nos fez perder a cabeça, eu já sabia que você era a minha alma gêmea. – ele se aproximou ainda mais e eu podia sentir o seu cheiro inebriante. A vontade que eu tinha era pular no pescoço dele e não soltar nunca mais, tamanha era a saudade que eu sentia. – E agora você é mais do que isso. É minha melhor amiga, minha parceira, minha vida. E tenho muita sorte de ter ao meu lado. Sorte por você sempre ter me amado apesar do que eu era. Você me deu a vida hermosa. E não falo isso apenas porque você trouxe meu corpo para nosso tempo. Eu me senti vivo novamente muito antes disso. Eu voltei à vida quando te conheci. – eu sentia as lágrimas se acumulando em meus olhos e não me preocupei em contê-las – E mais vivo fiquei ao saber que você correspondia ao meu amor. Eu não posso viver sem você. Eu não quero viver sem você. Eu te quero ao meu lado para sempre. – nesse momento ele se aproximou de mim o suficiente para encostar nossos lábios levemente em um beijo terno e demorado, me prendendo pela cintura, como se ele não agüentasse mais essa distância, da mesma forma que eu me sentia. – Eu te quero como minha de todas as formas possíveis. – ele murmurou se afastando novamente e dessa vez, se ajoelhando à minha frente e abrindo a caixinha revelando a aliança mais linda que eu já tinha visto – Eu te quero como minha parceira pelo resto das nossas vidas. – seus olhos estavam ainda mais brilhantes, com lágrimas contidas – Suzannah Simon, você quer casar comigo?

Eu não sabia se ria ou se chorava. Minhas mãos tremiam. Ou era meu corpo inteiro que tremia por conta dos soluços do choro? Eu não sei bem. Só o que eu sei é que eu sentia como se meu coração fosse explodir de tanta felicidade.

- Eu... eu... – eu balbuciava, sem conseguir encontrar fôlego para responder.

- Você aceita? – ele perguntou com a voz esperançosa.

Eu respirei fundo para tentar controlar as emoções e finalmente consegui responder.

- Sim. Sim! – eu praticamente gritei antes de pular em seus braços e quase derrubá-lo no processo, já que ele continuava ajoelhado.

- Não chora, meu amor. – ele pediu gentil, acariciando meus cabelos.

- São lágrimas de alegria. – eu falei sem me desgrudar dele.

- Eu estava tão nervoso. – ele admitiu beijando meu pescoço e fazendo um arrepio percorrer todo o meu corpo – Pensei que você não quisesse...

- Meu amor – eu o interrompi, me afastando um pouco para encará-lo –, é claro que eu desejo me casar com você. Aliás, eu já sou sua desde o dia em que conheci o grande amor da minha vida.

- Eu te amo, hermosa.

- Eu te amo mais, Jesse.

- Não vamos discutir isso. – ele murmurou com um sorriso enorme no rosto perfeito. – Nunca chegamos a uma conclusão nesse assunto.

- É verdade. – eu falei acompanhando seu riso.

- Posso colocar a aliança no dedo da minha futura esposa?

- Deve! – eu exclamei rapidamente e ele me ajudou a ficar de pé, mas continuou ajoelhado enquanto deslizava a aliança no meu dedo.

- Meu coração é seu. – ele falou beijando a aliança e voltando a me encarar com seus olhos negros ainda mais brilhantes, as lágrimas agora escorrendo livremente. – Eu pertenço unicamente a você, Suzannah. Para sempre.

Ele ficou em pé e eu não perdi tempo em pular novamente para os seus braços, dessa vez envolvendo sua cintura com as pernas. Ele me abraçou de volta, rindo tanto ou mais do que eu. Ficamos girando no mesmo lugar como dois bobos apaixonados – o que nós somos mesmo – até que ele parou e puxou meu rosto delicadamente para juntar nossos lábios num beijo não tão delicado. Afinal, estávamos separados há quase um mês.

Quando já estávamos os dois quase sem fôlego, ele me afastou um pouco, enxugando minhas lágrimas e eu fiz os mesmo com as dele. Ficamos ali nos olhando, eu ainda pendurada em seus braços, por não sei quanto tempo, até que começou a escurecer e ele sugeriu que voltássemos para casa.

- Minha mãe vai enlouquecer quando souber. – eu comentei quando começamos fazer o caminho de volta.

- Ela já sabe. – ele pegou na minha mão e a apertou levemente.

- Sabe? – eu perguntei observando seu perfil maravilhoso, contornado pelo pouco brilho que ainda havia no céu – Como?

- Você não acha que eu iria te pedir em casamento sem antes falar com ela e com Andy, acha?

- Você pediu minha mão em casamento à eles? – eu perguntei atônita.

- Claro.

- Isso é tão... antiquado.

- Talvez hoje em dia não se faça mais isso, mas é quem eu sou.

- Eu sei. E não estou reclamando. Eu amo esse seu jeito cavalheiro e perfeito.

- Lá vem você com essa coisa de perfeição de novo.

- Outra discussão que nunca concordaremos. – eu o interrompi antes que ele começasse a dizer o quão "imperfeito" ele era – E o que eles falaram?

- Eles não se opuseram, graças a Deus.

- Eles jamais diriam não a você. – eu sabia o quanto minha mãe e Andy amavam Jesse. – Mas o que você faria se eles dissessem "não"?

- Eu teria te pedido em casamento assim mesmo.

Seguimos o resto do caminho rindo e conversando bobagens e, vez ou outra ele parava para me abraçar e girava comigo nos braços sem parar de sorrir um só instante.

- Quando foi que você falou com eles? – eu perguntei quando já estávamos chegando em casa. Meu rosto doía de tanto que eu sorria.

- Ontem à noite.

- Você chegou ontem?

- Sim.

- E todos estavam sabendo? – eu estava surpresa por não ter percebido nada.

- Não. Eu liguei para a sua mãe e pedi que ela e Andy me encontrassem em um restaurante no centro de Carmel. Fiquei com receio que as gêmeas acabassem falando algo sem querer.

- Elas com certeza falariam algo.

- E Gina anda muito estressada com o casamento, então eu preferi não contá-la também. Pra falar a verdade, eu estou com um pouco de medo dela.

- Por quê?

- Eu liguei ontem para saber como ela estava e ela desligou o telefone na minha cara quando eu tentei acalmá-la por conta de um problema que tinha dado com as flores.

- Ah, isso. Ela também me atacou. Mas o problema já está resolvido.

- Fico feliz em saber disso.

Quando entrei em casa de mãos dadas com Jesse minha mãe veio logo pulando em meus braços antes mesmo que tivesse tempo de falar alguma coisa. Era impressão minha ou ela estivera escondida atrás da porta?

Eu a abracei de volta para não deixá-la no vácuo, mas fiz isso às duras penas porque tive que soltar a mão de Jesse.

- Ah, Suzinha – será que quando eu tivesse cinqüenta anos minha mãe ainda me chamaria de Suzinha? Eu não duvidava – Eu estou tão feliz. Minha filhinha vai casar.

- Quem vai casar? - Jake perguntou descendo as escadas com os cabelos molhados do banho recém tomado.

- Além de você? – eu perguntei quando consegui me desprender da minha mãe – Jesse me pediu em casamento. – eu completei levantando a mão para que ele pudesse ver a aliança em meu dedo.

As gêmeas, que vinham descendo logo atrás de Jake, ouviram o que eu disse e logo se puseram a gritar vivas, comemorando mais o fato de que elas seriam daminhas de mais um casamento – elas seriam as daminhas do casamento de Jake e Gina –, do que o fato de que eu iria casar.

Jake também me parabenizou, assim como Andy, Brad e Thais que tinha acabado de colocar os filhos para dormir. Gina apareceu logo em seguida, saindo da cozinha, ainda ao telefone, mas parou ao ver todos a minha volta com sorrisos no rosto.

- Perdi alguma coisa? – ela perguntou depois de encerrar a ligação.

- Eu vou me casar! – eu falei entusiasmada e mostrei a aliança para ela.

Eu nem tive tempo de reagir e ela já pulava em cima de mim, gritando de felicidade, mais empolgada do que a minha própria mãe.

- Ah, Suze. Suze! Isso é fantástico. Perfeito. Maravil... – de repente ela parou de falar e ficou séria, encarando Jesse com quase fúria – Você bem que podia ter pedido ela em casamento antes, não era?

- Como? – ele perguntou sem entender a atitude dela.

- Assim nós poderíamos casar juntas. Seria tão legal. – então seu rosto assumiu uma nova expressão, quase doentia – Mas talvez ainda dê tempo. – seu sorriso sinistro causou um arrepio na minha espinha – Se eu alterar umas coisinhas ainda dá para casarmos no sábado. Eu só preciso...

- Ei, parou! – eu a interrompi sacudindo-a de leve pelos ombros – Hoje é terça. Eu não vou preparar meu casamento em quatro dias.

- Mas...

- Além do mais – eu a interrompi novamente – Eu quero desfrutar meu noivo um pouco.

- Mas... – seu olhar estava desolado e eu sentia que ela estava à beira das lágrimas.

- Esse dia é seu, Gina. É o seu casamento. – eu falei gentilmente envolvendo-a num abraço – Eu estarei lá apenas como sua dama de honra e melhor amiga.

- Chata.

- Eu também te amo.

Andy anunciou que o jantar seria servido no jardim da casa e nos dirigimos para lá.

- Será que eu vou ficar neurótica como Gina quando estiver preparando o nosso casamento? – eu perguntei a Jesse num tom baixo para que só ele ouvisse.

- Acho melhor contratarmos um profissional para evitar que isso aconteça. – ele respondeu no mesmo tom, envolvendo minha cintura e me conduzindo para a área externa.

Me surpreendi ao ver o jardim todo decorado com pequenas luzinhas brancas distribuídas pelos arbustos e plantas menores. As mesas estavam forradas com toalhas brancas, os pratos também brancos arrumados elegantemente junto com os talheres e as taças, os arranjos de flores iguais à que Jesse havia me dado e que permanecia na minha mão.

Eu encarei Jesse tentando imaginar como ele poderia ter feito tudo aquilo, mas ele parecia tão surpreso quanto eu. Minha mãe, no entanto, estava com um sorriso satisfeito no rosto, assim como Andy que estava parado ao seu lado, nos observando.

- Mãe, o que...?

- Eu não podia deixar de oferecer um jantar de noivado a minha filha. – ela respondeu simplesmente.

Depois de nos recuperarmos da surpresa, conseguimos agradecer aos dois que tinham preparado tudo aquilo em segredo.

Logo em seguida a campainha tocou e Andy retornou com Paul e Alicia que haviam sido convidados, assim como Cee Cee e Adam que chegaram logo depois. Todos ficaram extasiantes com a noticia do meu noivado com Jesse e só faltou Dave e Maria para completarem a festa. Pena que eles não puderam estar presentes por estarem em semana de provas em Yale. Naly também chegou, que como "prima" de Jesse, não poderia deixar de estar presente e Thais fez a maior festa quando viu a amiga que não encontrava há mais de dois anos.

Andy encheu às taças de champanhe e brindamos juntos em meio às lágrimas da minha sempre emocionada mãe.

- Que flores são essas? – eu perguntei a Jesse quando já estávamos servidos e começamos a jantar.

- Lisianthus. – Jesse respondeu retirando uma do arranjo e quebrando um pedaço do caule para colocá-la nos meus cabelos. – Sua mãe ligou hoje pela manhã para saber se tinha alguma flor especial para o dia de hoje e eu falei a mesma que eu te dei mais cedo.

- Ficou perfeito. – eu murmurei observando tudo e todos ao redor.

O restante do jantar transcorreu maravilhosamente bem e até Gina conseguiu relaxar, esquecendo o telefone pelo resto da noite.

No meio da noite Stephanie apareceu olhando desconfiada para Gina e ao vê-la sorridente, relaxou. Ela se aproximou de mim para nos parabenizar e eu lhe perguntei o motivo do receio quando chegou.

- Gina está me dando nos nervos com esse casamento – ela admitiu pesarosa – Já perdi a conta de quantas vezes ela me mandou fazer a travessia nos últimos dias.

- Mas você sabe que ela não fala por mal. – o bom de ter tanta gente ali era que ninguém notava que eu estava conversando com o nada – Ela só está nervosa.

- Eu sei. E é por isso que eu estou evitando-a. Ela anda tão estressada que acaba influenciando minhas emoções. Fica difícil me controlar perto dela.

Gina e Jake ficariam ali em casa até o dia do casamento, e Thais e Brad ficariam por mais duas semanas aproveitando as férias conjuntas que conseguiram tirar. Por volta das onze horas, eu e Jesse nos despedimos dos que iam ficar e fomos para o carro dele que estava parado na entrada de carros. Paul e Alicia nos seguiram e nos despedimos de Cee Cee e Adam que também estavam de saída.

Jesse abriu a porta do seu carro, um Volvo XC60, cavalheiro como sempre e nós seguimos o carro de Paul até a casa deles. Jesse estacionou o carro ao lado do de Paul e entramos juntos na casa, que agora estava lindamente decorada e nem lembrava mais aquela impessoalidade e frieza anterior.

- O que acham de tomarmos uma taça de vinho antes de dormir? – Paul sugeriu e nós aceitamos de bom grado. Eu só havia bebido uma taça de champanhe durante o brinde então não havia perigo de misturar as bebidas.

Não estava com sono suficiente para dormir agora e fazia muito tempo que não via os dois. Da última vez que estivera em Carmel, Paul e Alicia estavam viajando na divulgação do livro de Paul que finalmente havia sido publicado a cerca de dois anos.

De início, a intenção de Paul era publicar o livro como uma espécie de revelação do que era verdade ou mentira a respeito dos fantasmas, mediadores e deslocadores. E ele chegara a concluir esse livro. Mas antes de apresentá-lo a uma editora, Paul fizera questão de mostrar ao pai tudo o que ele tinha escrito. Não posso dizer que tenha sido uma conversa agradável. Na verdade, se não fosse pela interferência de Alicia, sabe-se lá aonde aquela discussão teria parado. O resultado daquela conversa foi que o Sr. Slater foi parar no hospital com principio de ataque cardíaco. Não sei se o Sr. Slater acreditou nas palavras do filho, mesmo com as provas que Paul apresentou, mas Paul não fora visitá-lo no hospital e eles nunca mais se falaram.

A única coisa positiva desse encontro foi que Paul resolveu publicar suas descobertas de outra forma. Uma forma que não comprometesse nenhum mediador ou deslocador que ele mencionara nos seus textos e que, ainda assim, tornasse tudo real.

Ele resolvera transformar tudo aquilo numa história de aventura, supostamente fictícia, mas quem realmente entendesse do assunto veria naquelas palavras a verdade por trás do mundo sobrenatural.

Há dois anos ele publicara o primeiro livro da saga dos Caçadores de Fantasmas, sob o pseudônimo de Oliver Slaski, nome verdadeiro do avô de Paul, que o pai de Paul mudara para que as pessoas não soubessem do parentesco com o homem que vivia falando sobre pessoas que tinham a habilidade de falar com os mortos.

No começo desse ano, quando eu havia ido a Carmel, Paul estivera viajando para divulgar o segundo livro da saga.

Ficamos conversando por um longo tempo, os quatro se atualizando sobre as novidades uns dos outros em tons amigáveis e brincalhões. Vez ou outra Paul soltava alguma piada sem graça sobre me roubar de Jesse, mas era só Alicia dar um puxão na sua orelha ou cutucar "delicadamente" suas costelas que ele parava, lhe pedindo mil desculpas.

Alicia agora sabia toda a verdade sobre quem éramos realmente e podíamos conversar sobre absolutamente tudo.

Desde o momento em que sentamos lado a lado no sofá da sala e eu havia sido puxada de modo a ficar apoiada no peito dele, Jesse não parara de distribuir beijos no meu rosto, pescoço e ombro, me deixando cada vez mais arrepiada. E a combinação dos seus lábios com o álcool do vinho não estava fazendo nada bem à minha sanidade.

E, ao que parecia, Alicia, sentada à minha frente, se encontrava na mesma situação, já que Paul parecia estar imitando Jesse, descrevendo um caminho pelo maxilar dela com seus lábios.

Quando Jesse beijou um lóbulo, passando a língua no local discretamente, eu não agüentei mais e puxei seus lábios para os meus, beijando-o com certa urgência e mordiscando seu lábio inferior ao final. Um gemido baixo brotou de sua garganta e ele permaneceu de olhos fechados como se prolongando a sensação. Quando ele finalmente abriu os olhos eu vi puro desejo refletido na imensidão negra.

- Vem comigo. – ele sussurrou ficando pé devagar e me puxando pela mão para acompanhá-lo.

- Já vão dormir? – Alicia perguntou saindo do transe em que se encontrava com os lábios de Paul.

- Eles vão para o quarto, meu amor – Paul falou divertido – Mas duvido que para dormir.

- Boa noite Paul. – Jesse o cortou ríspido – Boa noite Alicia – ele falou com a voz mais calma.

Subimos as escadas de mãos dadas e meu corpo já tremia em expectativa para o que ia acontecer. Eu o abracei no instante que ele fechou a porta atrás de si, mas ele me afastou gentilmente pelos ombros.

- Eu estou com vontade de tomar um banho – ele falou num tom baixo – Me acompanha?

Como eu poderia recusar? Apesar de mal-humorada com sua recusa, eu o segui até o banheiro e esperei enquanto ele preparava a banheira para nos receber. Aproveitei enquanto ele estava concentrado ajustando a temperatura da água e revirei as gavetas da bancada da pia, achando rapidamente o que eu queria. Depois de distribuir as velas pela bancada e em algumas prateleiras, eu apaguei a luz deixando o banheiro iluminado apenas pelas chamas.

Jesse estava sorrindo quando eu terminei a minha tarefa e meu coração deu um salto quando ele me deu uma piscada e começou a se despir lentamente. Eu observava cada movimento seu como se estivesse hipnotizada. Na verdade, eu estava hipnotizada. Não me surpreenderia se começasse a babar a qualquer instante. Céus! Vai ser perfeito... aqui mesmo. Quando estava apenas de cueca boxer cinza escuro ele parou e arqueou uma sobrancelha de forma sexy, deixando meus olhos turvos de excitação.

- Posso saber por que você ainda está vestida? – ele perguntou sedutor, cruzando os braços sobre o peito.

- Er... Oi? – eu perguntei balançando a cabeça para clarear o raciocínio.

Ele se aproximou devagar e me puxou pela cintura até colar os nossos corpos.

- Você está vestida. – ele sussurrou no meu ouvido – O que é o oposto de como eu te quero agora.

Se ele não estivesse me segurando eu teria ido ao chão quando meu corpo amoleceu em seus braços. Ele riu com a minha reação, mas eu já estava acostumada com o meu corpo reagindo assim com ele por perto. Isso nunca iria mudar.

- E como você me quer agora? – eu perguntei com a voz vacilante.

- Você quer que eu fale ou mostre?

- Me mostra.

Eu mal tinha acabado de falar e Jesse começou a deslizar a alça da minha blusa pelo meu ombro, lentamente. No mesmo ritmo ele terminou de tirá-la e logo a saia seguiu o mesmo destino, caindo em cima da blusa no chão de mármore, me deixando apenas de calcinha.

- Está quase do jeito que eu quero. – ele murmurou com a voz rouca e depositou um beijo em cada mamilo túrgido.

Logo em seguida eu estava completamente livre da última peça e ele me conduziu até a banheira e me ajudou a deitar ali. Segundos depois ele já se livrara da sua cueca e entrava também, sentando de frente para mim.

Jesse pegou o sabonete e começou a passá-lo em mim, começando por meus pés, lentamente massageando o meu corpo, do dedo do pé, passeando pelo calcanhar, acariciando suavemente, depois subindo por minha perna e coxa. Eu fechei os olhos e gemi de prazer. Ele não se apressou na tarefa, como se desejasse aproveitar o que estava por vir sem perder nenhum detalhe.

Jesse ensaboou minuciosamente minhas pernas e pés e agora ensaboava as minhas partes intimas. Nossos olhares se cruzaram e sua mão lentamente me lavava em minha intimidade. Depois ele ensaboou minha barriga e os seios, os ombros e as costas. Então deixou a água escoar da banheira e ligou a torneira para me enxaguar. O banho foi tão bem conduzido que meu coração batia acelerado e todos os meus sentidos estavam despertos. Não foi um banho dado por um amante impaciente, mas por alguém com amor para dar. Eu fiquei em pé e saí da banheira, enquanto Jesse pegava uma toalha grande para secar o meu corpo. Eu observava seu rosto enquanto ele cuidadosamente enxugava minhas curvas, dando atenção especial ao espaço entre minhas pernas, com maior suavidade, mas uma meticulosidade que me deixava sem ar.

Depois ele dirigiu sua atenção às minhas pernas e pés, ajoelhando diante de mim e pousando um pé de cada vez sobre sua perna para secar meus dedos. Subitamente, Jesse largou a toalha e começou a me acariciar com os dedos. Ainda de joelhos, ele acariciava a minha pele sensível pelo banho. Ele me abraçou com todo carinho e beijou minha barriga, enquanto suas mãos percorriam as minhas costas, num abraço firme, porém amável, e eu tremi.

Segurando meus quadris, Jesse virou o rosto para beijar meu abdômen repetidamente, depois mais abaixo, no calor entre as minhas pernas, mergulhando a língua em busca da minha região mais sensível.

Ele lambia com firmeza, fazendo movimentos hora rápidos, hora lentos, passando-a por todos os lugares sensíveis pelo caminho. Por fim ele encontrou o que estava procurando e começou a busca implacável pelo meu prazer. Ele lançava a língua em golpes e a circulava ao redor do clítoris, de maneira lenta e minuciosa. As minhas mãos instintivamente foram para a cabeça dele e meus dedos se embrenharam em meio aos fios escuros. Eu fazia um esforço surpreendente para me manter em pé enquanto os tremores tomavam meu corpo. De vez em quando ele mergulhava a língua no local mais profundo do meu corpo, saboreando o líquido que escorria. Isso fazia com que ambos gemessem de prazer.

Mas eu, subitamente, desejei que meu noivo me acompanhasse no prazer que eu sentia. Então eu o peguei pela mão e o conduzi para fora do banheiro e então para a cama. Eu me posicionei ao lado dele de forma que não deixasse dúvidas sobre o que eu pretendia. Tomei a sua rigidez na boca, ao mesmo tempo em que ele enlaçou meus quadris e me puxou para o seu rosto, colocando a língua no centro do meu prazer, voltando a me lamber.

Eu simplesmente saboreava seu membro com os lábios e língua, deixando por conta dele o movimento de entrar e sair da minha boca como quisesse. Os arrepios percorriam o meu corpo quando suas estocadas me forçavam a abrir mais a boca, ou quando o sentia pressionando no fundo da minha garganta. Isso estranhamente me fazia sentir extremamente sensual. E durante todo o tempo ele jamais parava de me lamber, fazendo com que eu quase me perdesse em meio às sensações de tê-lo preenchendo minha boca. E eu simplesmente perdi a consciência de tudo que não estivesse relacionado à Jesse ou ao meu próprio prazer.

Lábios e línguas lambiam e chupavam. Cada parte, cada célula parecia gritar com uma pressão acumulada para alcançar o fervor da liberação. Nesse momento, isso era o nosso motivo de viver.

Mas então, tão rápido que eu nem pude perceber, Jesse me puxou para cima, me tirando bruscamente do seu membro.

- O que é isso agora? – eu reclamei, mas o protesto logo desapareceu ao sentir seu corpo firme embaixo de meu.

Não houve necessidade de resposta. Ele inverteu a posição dos nossos corpos, ficando por cima e seus lábios já estavam procurando os meus com um beijo suave. A empolgação continuava presente em meu corpo enquanto eu colocava meus braços ao redor do seu pescoço. Sua pele estava tão quente que eu não conseguia evitar roçar minha nudez contra a dele. Jesse me beijava com destreza, mordiscando meus lábios e me provocando com a língua. Enquanto ele me beijava, suas mãos gentilmente vagavam ao longo do meu corpo, me deixando completamente arrepiada, enrijecendo meus seios. Depois as mãos se moveram para os seios, onde ele desfrutou ainda mais.

Com as pontas dos dedos, ele apertava e contornava os mamilos. Eu estava ofegante pela doce tortura. Jesse ia devagar, sem pressa, nada de agarrões desesperados, mas manuseando prazerosamente os meus seios, até que eu quase pudesse morrer se ele pegasse em outro lugar.

Por fim, quando eu pensei que fosse perder a cabeça, ele finalmente desceu a mão, mas parou em minha barriga, até que eu ergui os quadris da cama e os posicionei em sua mão. Jesse riu com minha impaciência óbvia e sussurrou:

- Calma, amor.

Essa provocação criou uma dor que contorceu o meio das minhas pernas e uma sensibilidade imensa em minhas terminações nervosas, e eu me senti carente, desesperada, irritada, tudo de uma vez só. Eu ergui os quadris e os empurrei vorazmente contra a mão dele, silenciosamente amaldiçoando o seu controle. Quase gargalhando do meu descontentamento óbvio, ele continuou acariciando a minha pele com cruel gentileza, fazendo carícias suaves entre minhas pernas, logo saindo dali para percorrer os quadris, barriga e coxas, depois voltando à minha intimidade.

Eu estava cada vez mais ansiosa, minha necessidade se tornando cada vez mais voraz, e os pequenos toques provocantes, apesar de eficazes, tinham um efeito de curta duração e não chegavam nem perto de me satisfazer. Eu gemia de agonia e movia os quadris em busca de sua mão. Eu já estava a ponto de gritar de raiva.

Sentindo o estado em que eu me encontrava naquele momento, suas mãos lentamente abriram caminho subindo pelas minhas coxas, mantendo-as bem afastadas. Jesse beijou ali no meio, enquanto deslizava uma das mãos para baixo. Sua língua lentamente trilhou um caminho de prazer, enquanto um dedo serpenteou entre a abertura e pousou ali. Eu estava estarrecida demais para me mover. Minhas pernas permaneceram totalmente abertas para ele e meus dedos se agarraram aos lençóis na tentativa desesperada de raciocinar. Cada molécula gritava em mudez, mas esperando pacientemente pela libertação. Minha respiração era ofegante em meio aos gemidos.

Jesse continuava brincando com a língua em meu sexo, friccionando a língua sobre a área sensível com a pressão exata para causar arrepios por todo o meu corpo, depois parava subitamente para engolir o líquido que escorria. Enquanto isso seu dedo continuava a provocar na minha entrada, e até me penetrava de vez em quando, cada vez mais fundo.

Quando eu já não agüentava mais de desespero e estava quase atingindo o ápice, Jesse se afastou e se recostou na cabeceira da cama.

- Venha pegar. – ele murmurou com um sorriso malicioso.

Nem precisou pedir uma segunda vez. Eu fui cobiçosa para o seu colo e gemi ruidosamente enquanto pousava o corpo sobre o dele. Era uma sensação tão boa tê-lo finalmente deslizando para dentro de mim. Ao menos a dor entre as minhas pernas começara a diminuir um pouquinho, enquanto eu me balançava para cima e para baixo, tentando sentir tudo da melhor forma.

Jesse brincava com meus seios e os beliscava, mas quando os meus movimentos se tornaram mais frenéticos, ele passou a me ajudar, segurando meus quadris e movendo-os mais rápido. Nós arfávamos e gemíamos juntos. Nossos corpos suados movendo em perfeita sincronia em busca do prazer maior que não tardou a vir.

Juntos, chegamos ao orgasmo extasiante, nossos corpos tremendo loucamente, e Jesse me beijou com sofreguidão, abafando o gemido lânguido que brotou da minha garganta. Ele me agarrou firmemente enquanto os espasmos se dissipavam e tombamos na cama, satisfeitos, e logo adormecemos abraçados, como há muito tempo não fazíamos.

Os dias seguintes transcorreram sem problemas. Isso sem contar o fato de que Gina estava ainda pior. E quando eu digo pior, eu quero dizer insuportável. E não falo isso da boca para fora. Ela gritava por qualquer coisa, já tinha quebrado dois celulares jogando-os no chão ou na parede, e fazia isso com qualquer pessoa. Nem as gêmeas chegavam mais perto dela de tanto medo. Chegara ao ponto em que Jake tivera que dar remédio para ela dormir no dia anterior ao jantar de ensaio. Não que eu aprovasse isso, mas eu tenho certeza que Gina não iria gostar de ficar com cara de zumbi durante a festa. E era um remédio natural, que não lhe faria nenhum mal.

Era manhã de sexta feira, véspera do dia do casamento, e como ela ainda estava dormindo, eu fui sozinha para Monterey pegar os vestidos. As atendentes suspiraram aliviadas ao verem que Gina não estava comigo e me atenderam cheias de sorrisos.

O vestido de Gina era lindo, elegante e sem exageros. Bem justo ao corpo com pequenas pedrinhas ao logo do vestido. Os vestidos idênticos de Larie e Tita seguiam o padrão das cores da decoração do casamento: branco e vermelho. O meu vestido era num tom de verde com o final em renda branca. Mas o que eu mais gostava da minha roupa eram os sapatos Jimmy Choo pretos. Lindos de morrer.

Cheguei em casa perto da hora do almoço e tive vontade de sair novamente. Gina estava acordada e gritava alguma coisa com Jake que mantinha os olhos presos na tela da televisão.

- Você não poderia ter feito isso. – ela esbravejava – Não poderia ter colocado remédio no meu suco.

Ah, ela descobrira.

Tentei fazer o mínimo de barulho possível. Talvez eu conseguisse subir as escadas sem ser notada. Mas isso era meio difícil já que eu estava carregada de caixas e capas com os vestidos.

- E você, Suze! – ela gritou apontando um dedo para mim – Como você pôde ir à loja sem mim? Que tipo de amiga é você?

- Do tipo que deixa a amiga dormindo para ficar mais relaxada? – eu arrisquei tentando não irritá-la mais.

- Eu odeio você! – ela gritou ainda mais alto, chegando a machucar os meus ouvidos – Os dois.

- Mas é comigo que você vai casar! – Jake esbravejou levantando de um salto do sofá e encarando-a irritado – Eu já estou cansado desse seu comportamento, Gina. Esse era para ser um dia feliz, mas você não está permitindo que isso aconteça.

- Eu estou me matando para deixar tudo perfeito enquanto você fica aí grudado na televisão sem fazer nada.

Eu não gostava nada de ficar no meio da discussão dos dois, mas Gina estava parada no início da escada, impedindo a minha passagem. Então tudo que eu poderia fazer era ficar quieta e fingir que não ouvia os gritos dos dois.

- E daí se eu não me importo se as flores não chegaram, ou se a orquestra é desafinada. Por mim eu casava descalço na praia ao pôr do sol.

- Como é? – Gina perguntou esganiçada.

- É isso mesmo. Eu só quero casar com você, tá legal? – ele bufou impaciente. – Eu estou pouco me lixando para perfeição ou não. Eu só quero casar com a mulher que eu amo. O resto não importa.

Isso foi o suficiente para desarmar qualquer argumento que Gina poderia ter.

- Jake, eu...

- Esquece. – ele a interrompeu dando-lhe as costas – Eu vou para a praia um pouco. Ver se eu consigo um pouco de paz. Já que isso é impossível aqui dentro.

Eu o observei enquanto ele saía sem falar mais nada e quando voltei meu olhar para Gina ela estava chorando.

- Ele não quer mais casar comigo. – ela choramingou.

- Claro que não é isso, Gina. – eu também estava impaciente com ela, mas ela era a minha amiga. Eu não poderia simplesmente ir para a praia – que era exatamente o que eu queria fazer – e deixá-la ali em prantos.

- Eu não entendo. Eu só quero que tudo fique bonito. Como eu sempre sonhei.

- Eu sei, Gina, mas você precisa se acalmar. Ficar gritando com todo mundo não é legal. Nós só estamos tentando te ajudar.

- Como ele pode querer me ajudar colocando remédio no meu suco e me fazendo dormir por mais de doze horas? Tudo que eu poderia ter feito nesse tempo.

- Não tem mais o que fazer. Eu já peguei os vestidos e Jake vai à loja na parte da tarde pegar os smokings. Amanhã é o seu casamento. Você precisa mesmo descansar, Gina. Deixa que a gente faz o resto.

- Mas eu... eu... – e então, para minha surpresa, ela sentou no degrau da escada e se pôs a chorar copiosamente.

Eu olhei ao redor sem saber o que fazer. Tudo que eu queria era que a minha mãe estivesse ali para me ajudar naquela situação, mas eu sabia que ela tinha ido pegar David e Maria no aeroporto e só chegaria depois do almoço.

Eu coloquei os pacotes em cima de um sofá, tomando cuidado para não amassá-los e sentei ao lado de Gina, puxando-a num abraço gentil.

- Por que ninguém me entende? – ela perguntou por entre as lágrimas – Por que é tão difícil entender que eu quero que tudo saia perfeito?

- Porque você não está permitindo que isso aconteça, Gina. – ela me encarou com o rosto banhado pelas lágrimas – Como você quer que tudo fique perfeito se você não está bem?

- Mas eu estou bem.

- Claro que não está. – eu falei tornando a puxá-la para os meus braços – Você está nervosa, cansada, emotiva. Está se estressando com tudo. Chorando por qualquer motivo. Você está parecendo mais uma mulher grávida, com essas alterações de humor. – eu tentei fazer graça, mas fiquei surpresa quando ela ficou rígida de repente.

Eu a afastei devagar e a encarei.

- Gina? – ela evitava olhar em meus olhos, mas eu a forcei a me encarar – Gina, você está...?

- Grávida? – ela completou, dessa vez sem desviar o olhar. Ela respirou fundo antes de responder. – Sim.

Eu fiquei um tempo a encarando sem saber o que falar. Como se reagia quando sua melhor amiga, que estava a um dia de se casar, lhe dizia que estava grávida? Oh, meu Deus. Gina está grávida. Gina está grávida!

- Ah, meu Deus! – eu gritei e pulei nos seus braços – Isso é incrível. Você está... Você está...

- Grávida, Suze. – ela ria – É tão difícil assim falar essa palavra?

- Não. Claro que não. – eu me afastei novamente para poder olhar em seus olhos marejados – Grávida. Você está grávida.

- Tá. Tá. Mas não fala muito alto. – ela pediu olhando ao redor para se certificar que não havia ninguém por perto.

- Jake não sabe?

- Claro que não.

- Por que não? – será que ele não era o pai? Pensamento idiota.

- Eu quero contar depois do casamento. – ela explicou dando de ombros. – Na festa, ou na lua de mel.

- Por quê?

- Porque ele não vai me deixar fazer mais nada se ele souber.

- E ele estaria certo se fizesse isso. Você está grávida e não pode ficar se estressando desse jeito.

- Lá vem você. – ela bufou revirando os olhos.

- Eu estou falando sério, Gina. Eu não entendo muito de gravidez, mas eu lembro que quando a minha mãe estava grávida, o médico recomendou que ela evitasse se estressar. E isso é o oposto do que você está fazendo. Você está um poço de nervosismo.

- Talvez.

- Talvez? – eu levantei da escada e a encarei com uma sobrancelha erguida – Ok. Vamos fazer o seguinte: você não quer que Jake saiba que você está grávida, e eu não pretendo contar.

- Valeu.

- Mas eu vou contar se você não me obedecer.

- Como é? – ela também se pôs de pé e me encarou nervosa.

- Isso mesmo. – eu fingi uma calma que não tinha. Gina era mais alta do que eu e mais forte também, mesmo estando grávida. – Você vai fazer tudo que eu mandar. Do contrário, eu conto para ele.

- Por que você faria isso?

- Porque eu quero o seu bem. – ao ouvir isso ela relaxou um pouco – Então, vai fazer o que eu quero?

E eu adorei quando ela suspirou derrotada. Mas era uma derrota que lhe faria bem.

- O que você quer que eu faça?

- Nada. – respondi com um sorriso – Simples assim.

- Como é?

- Eu quero que você deixe tudo por minha conta e aproveite para descansar e fazer as pazes com o seu futuro marido.

- Mas...

- Nada de "mas". É pegar ou largar. Ou você não confia em mim para cuidar do seu casamento?

- Claro que confio.

- Então?

Novamente o suspiro derrotado.

- Ok. Você venceu.

- Ótimo. Agora vamos para o quarto porque eu preciso pendurar esses vestidos.

Subimos juntas as escadas e eu fui boazinha e deixei ela levar o próprio vestido. Eu posso ser boazinha quando eu quero. Guardamos tudo nos seus devidos lugares e assim que terminamos, eu pulei em seus braços novamente.

- Um bebê. – eu falei extasiada – Você vai ter um bebê.

- Eu sei.

- Você não parece nervosa com isso.

- Acho que não.

- Espera aí... – essa calma toda não era nem um pouco típica de Gina – Há quanto tempo você sabe?

- Pouco mais de um mês.

- Um mês? – foi a minha vez de ficar irritada. – Como assim, você está grávida de mais de um mês e não me contou nada?

- Na verdade, eu...

- O quê? – eu insisti quando ela não continuou.

- Eu estou com três meses.

- Como é? – como ela poderia ter escondido isso por tanto tempo?

- Eu demorei um pouco para descobrir porque pensei que o atraso era por conta do estresse do casamento – ela explicou calmamente –, mas eu resolvi fazer um exame de farmácia só por precaução. Quando deu positivo eu fiz um de sangue. E novamente deu positivo.

- Ai meu Deus.

- Eu também já sei o sexo do bebê. – ela falou com um sorriso enorme no rosto.

- Sério?

- Uhum. É uma menina.

- Ai meu Deus. – ok. Eu sabia que estava ficando repetitiva, mas eu não conseguia pensar em outra coisa. – Uma menina.

- Eu vou chamá-la de Stephanie. Não sei se ela vai gostar, mas eu não quero saber. Tem que ser assim.

- Eu não me importo.

Nós duas nos viramos ao ouvir a voz dentro do quarto e nos deparamos com Stephanie nos observando com as lágrimas rolando pelo seu rosto pálido e bonito. Ela estivera nos observando todo esse tempo.

As duas ficaram se encarando por um longo tempo sem falar nada. Stephanie deu uns passos na direção de Gina e chegou a erguer os braços como se quisesse abraçá-la. Eu vi a aflição passando pelo rosto das duas e me senti mal por elas. Por elas não conseguirem executar um gesto tão simples como um abraço. Mas, pela expressão das duas agora, de pura alegria, talvez aquilo não fosse necessário. O relacionamento das duas estava muito além daquilo. Elas nem sequer precisavam se comunicar com palavras para saber o que ia na mente uma da outra.

Mas então a expressão de Gina começou a se alterar gradativamente, o sorriso sumindo por completo do seu rosto. Só quando eu parei para prestar mais atenção em Steph foi que eu entendi a razão. Stephanie estava indo embora.

- Não. – Gina gritou olhando para o corpo da irmã que ficava cada vez mais transparente – Você não pode ir.

- Agora eu posso.

As duas estavam com lágrimas nos olhos e eu sequer notei que o mesmo acontecia comigo.

- Não! Você disse que nunca me deixaria sozinha.

- Você não está mais sozinha.

- Eu não quero que você vá – Gina insistiu quase gritando – Então você não deveria ir. Não foi sempre assim?

- Acho que nós nos enganamos a respeito disso. – Steph falou com a voz mais calma e a expressão mais serena que eu já a vi usando.

Ela tinha aceitado que tinha chegado a hora dela seguir em frente.

- Não, Steph.

- Está tudo bem, Gina. Agora eu sempre estarei com você. – ela murmurou com a mão quase encostando na barriga de Gina, mas sem tocá-la realmente.

- Steph...

- Eu te amo, irmã.

- Eu também te amo.

- Cuida da minha sobrinha direitinho, tá? – ela pediu com a voz ainda calma.

- Tá.

- Adeus, Suze. – ela se voltou rapidamente na minha direção e eu tive que me controlar para manter o soluço preso em minha garganta – Dá um abraço em Jesse por mim.

- Pode deixar. – eu consegui falar com a voz embargada.

Seu corpo agora estava quase completamente invisível e ela gastou o resto do "corpo" que ela tinha para acariciar o rosto de Gina antes de finalmente partir. Dessa vez para sempre.

Quando Gina desabou no chão, chorando mais que nunca, eu já estava ao lado dela consolando-a.

Quando Jake entrou no quarto alguns minutos depois e viu Gina naquele estado, ele entrou em desespero. Ele começou a pedir desculpas por ter gritado com ela, mas eu o cortei rapidamente e lhe expliquei o que tinha acabado de acontecer. No mesmo instante ele assumiu o meu lugar e eu os deixei a sós.

Fiquei um pouco no corredor para me recompor e desci as escadas no mesmo instante que minha mãe entrou em casa seguida de Maria, Dave e Andy. Maria correu para me cumprimentar e me parabenizar pelo noivado e Dave fez o mesmo. Aí está um namoro que eu jurava que não daria certo. Bem, de certa forma, não deu mesmo. Eles até ficaram juntos por um tempo na adolescência, mas foi só entrar no colegial que o namoro esfriou. Apesar de ser dois anos mais velha do que David, eles acabaram fazendo o colegial juntos, já que Dave – sendo o CDF que ele era – tinha conseguido pular uma turma e se igualara a ela. Mas, mesmo estudando juntos, eles não namoraram mais. Só foram ficar juntos novamente quando entraram na faculdade. Agora os dois estavam no último ano do curso de robótica experimental em Yale como perfeitos nerds e dividiam um apartamento no campus da universidade.

Eu passei o resto da tarde resolvendo os últimos detalhes do casamento e do jantar de ensaio e, ao final da tarde eu comecei a me arrumar para ir para o restaurante que havia sido reservado inteiramente para o jantar. Seria no Bistrô Giovanni, o mesmo em que eu e Jesse jantamos pela primeira vez quando ele voltou a ser humano. Os pais de Gina, que estiveram viajando pela Europa no último mês, já deveriam ter chegado de viagem há essa hora e iriam direto para o restaurante.

Jesse chegou pontualmente às 19h e fomos juntos para o restaurante. Ele estava lindo com a calça social cinza chumbo e a camisa branca e terno da mesma cor da calça. No jantar não seria necessário a gravata, mas amanhã seria totalmente formal, com direito a gravata borboleta e tudo mais. Essa noite eu usava um vestido preto simples tomara-que-caia que ia até os joelhos e uma sandália de salto da mesma cor. Tinha colocado apenas uma maquiagem básica e totalmente à prova d'água. Tudo que eu não queria era ficar com a maquiagem borrada depois dos discursos.

Quando chegamos ao restaurante Gina e Jake já estavam lá na porta recepcionando os convidados. Ela estava linda no vestido vermelho frente única. E não sei se era porque eu sabia que ela estava grávida, mas eu achei que seus olhos estavam mais vivos que o normal. Eu sabia que ela ainda estava triste por sua irmã ter ido embora, mas agora, com aquela pequena menininha crescendo dentro dela, eu tinha certeza que ela ficaria bem.

Eu estava cumprindo minha promessa de não contar nada sobre a gravidez para ninguém, mas eu não consegui resisti e passei a mão discretamente em sua barriga quando a cumprimentei.

Uma recepcionista contratada nos levou à nossa mesa e no caminho vi Larissa e seus pais. Minha mãe tinha falado que eles talvez não fossem estar presentes no casamento e eu fiquei feliz por vê-los ali. Principalmente Larii. Mas, apesar de sentir falta dela, eu preferi deixar para cumprimentá-la em outro momento. De preferência quando ela não estivesse com a língua dentro da boca de um certo carinha de cabelos negros longos presos em um rabo de cavalo e aparência indígena.

Chegamos à mesa que dividiríamos com Paul, Alicia e os noivos. Minha mãe estava na mesa ao lado com os pais de Gina, Brad e Thais – que tinham deixado os filhos ao cuidado de uma babá. E do outro lado estavam Dave, Maria, Cee Cee, Adam, Naly e seu noivo misterioso com cara de mafioso, mas que eu sabia que era enfermeiro. As gêmeas estavam em uma mesa apenas com crianças ao lado da mesa da minha mãe. E, para variar, usavam o mesmo vestido rosa e tinham uma expressão de quem iriam aprontar.

Para variar, Cee Cee e Adam estavam discutindo. Não que fosse uma discussão para alguém se preocupar. Era o motivo de sempre: Adam queria casar e Cee Cee não. Os dois moravam juntos há algum tempo, mas Cee Cee se recusava a firmar compromisso.

- Que diferença isso vai fazer? – ela dizia. Não que ela estivesse falando alto, mas as mesas eram quase coladas e era impossível não ouvir – Nós já estamos juntos mesmo. Não é uma aliança que vai mudar isso. Eu gosto das coisas do jeito que estão.

- Mas meu amor...

Eu deixei de ouvir a partir daí. Eu já tinha presenciado aquela discussão algumas vezes para saber que isso não levaria a nada. Eu sabia que Cee Cee queria casar. Ela mesma já me confidenciara isso uma vez. Só não aceitava os pedidos de casamento de Adam porque estava esperando um pedido romântico. O problema de Adam era que ele sempre abordava o assunto quando via alguma cena de casamento na televisão ou quando algum conhecido casava. Então ele chegava para Cee Cee e soltava: "Vamos fazer isso também. Parece legal". Romantismo zero. Talvez ele também precisasse de umas aulinhas com Jesse. Isso dera tão certo com Jake.

O jantar transcorreu com muitas emoções e alegrias. Eu ri e chorei, como já era esperado, e Jesse estava lá com um lencinho para enxugar minhas lágrimas.

No dia seguinte eu acordei uma pilha de nervosismo. Era o dia do casamento. Não era o meu casamento, mas eu acho que estava mais nervosa que a noiva. Mas eu suspeitava que Jake tenha colocado alguma coisa no suco de Gina novamente. Embora ele tenha negado isso até a morte.

O casamento seria às 20h então eu passei o dia inteiro com Gina no salão, começando pelas massagens, banhos de sais, depois fizemos às unhas, os cabelos e, finalmente a maquiagem. Às 17:30 já estávamos em casa e fomos direto para o quarto. Ainda faltava um pouco para que precisássemos nos arrumar, então ficamos apenas jogando conversa fora como nos velhos tempos, sentadas no assento da janela.

Depois eu a ajudei com seu vestido de noiva que ficou maravilhoso no seu corpo delgado.

- Fiquei com medo de engordar por conta da gravidez. – ela comentou se olhando de todos os ângulos no espelho de pé do meu antigo quarto.

Resolvemos nos arrumar lá por ser mais espaçoso. As gêmeas estavam com minha mãe no quarto dela. Eu também me vesti e quando os pais de Gina chegaram para levá-la à igreja, todos já estavam prontos.

Minha mãe e Andy já tinham saído com Larie e Tita, e Brad e Thata saíram um pouco antes de mim com seus filhos que mais pareciam pequenos anjos nas roupinhas pequenas, e Dave e Maria foram com eles no carro. Eu deixei Gina com os pais e segui para a Igreja com Jesse vestido com seu impecável smoking preto.

Céus, se não estivéssemos indo para o casamento da minha melhor amiga, eu juro que eu o faria encostar esse carro e só descansaria depois de remover cada peça da roupa que ele vestia.

- Hermosa – ele me chamou de repente, sem tirar os olhos da estrada – se você continuar me olhando desse jeito, eu não respondo pelos meus atos.

- Ops. – eu ri e desviei meu olhar do seu belo físico coberto com tanta elegância. Estava tão na cara assim que eu estava devorando-o com o olhar?

Quando ele parou o carro, ficou bem claro que ele entendera o meu olhar sobre ele.

Jesse me puxou para o seu colo e me beijou sofregamente, e eu nem me importei que isso removeria todo o meu batom. Correspondi o beijo com a mesma intensidade e em questão de segundos estávamos arfando. Sua mão deslizou ousada pela minha coxa, subindo cada vez mais.

- Eu já te falei que você está linda? – ele murmurou interrompendo o beijo por um instante.

- Acho que não. – eu estava quase sem fôlego e aproveitei aquela pausa para respirar fundo.

- Linda. – ele falou num tom rouco, beijando meus lábios novamente e deslizando para o pescoço – Macia – seus lábios percorriam todo o caminho entre o maxilar e os meus ombros. – Seu cheiro é inebriante. Eu tenho vontade de... – ele parou de falar e respirou fundo. – É melhor sairmos logo daqui antes que eu acabe fazendo uma loucura.

- Talvez eu queira fazer essa loucura. – eu estava indo aos céus só com os seus lábios em minha pele, aquecendo todo o meu corpo.

- Mas eu acho que Gina não ficaria nada feliz se entrasse na Igreja e você não estivesse lá.

Jesse e sua lógica inquestionável.

- É. Acho que você tem razão.

Com muito esforço eu saí do colo dele e, enquanto ele se recompunha fisicamente falando, eu retoquei a maquiagem e saí do carro. Ele veio logo depois e me abraçou. Eu tinha sorte do tecido do vestido ter a aparência de amassado ou ele estaria terrível agora.

- Logo seremos nós a entrar nessa igreja para nos casarmos. – ele falou com os lábios próximos ao meu ouvido.

- Ansioso?

- Muito. Por mim eu casaria hoje mesmo.

- Não tão rápido assim. Acho que devemos depois que você se formar. Assim eu tenho tempo de preparar tudo.

- Tudo bem. Eu espero. – ele sussurrou me abraçando mais forte – Eu te esperei por quase dois séculos. Uns meses a mais não fará diferença.

A cerimônia foi uma das mais belas que eu já vi. Eu não sei quem chorava mais naquele casamento, se a mãe de Gina ou a minha. Acho que uma caixa de lenços não seria suficiente para elas. Foi no fim da cerimônia, depois do "pode beijar a noiva" que Gina contou para Jake sobre a gravidez. Não que ela tenha feito isso em voz alta. Ela apenas sussurrou no seu ouvido, depois de interromper o beijo. Eu nem saberia o que ela tinha falado se não fosse pela reação de Jake.

Depois de abraçá-la por não sei quanto tempo, ele gritou para toda a igreja ouvir, com um sorriso de dar câimbra do rosto:

- Eu vou ser pai!

Daí para frente foi tudo uma loucura. O cerimonial enlouqueceu para organizar todos que queriam cumprimentar os noivos e futuros pais ao mesmo tempo. Levou cerca de uma hora para finalmente conseguirmos sair de lá e ir para o local onde seria a recepção.

Os cumprimentos prosseguiram por lá, mas dessa vez, bem mais organizado. Os fotógrafos faziam seu trabalho registrando cada momento, e eu observava tudo maravilhada. Ou melhor, observava meu futuro marido conversando com Naly. Não importava quanto tempo passasse, cada vez que eu olhava para Jesse eu o achava mais bonito e ficava ainda mais apaixonada.

E pensar que eu não queria vir para Carmel quando minha mãe fora me pegar no colégio interno. Agora eu me sentia a mulher mais feliz do mundo, ao lado das pessoas que eu amava e que completavam minha vida.

Meu celular tocou e eu não reconheci o número. Atendi sem deixar de observar o homem mais maravilhoso do mundo, e dei pouca importância ao que falavam.

- Senhorita Simon – uma mulher com sotaque italiano falava alto para que eu pudesse ouvi-la em meio à balbúrdia da festa – O resultado do seu exame saiu.

Exame? Que exame? Depois de forçar um pouco a minha mente, eu lembrei vagamente de ter feito um exame quando estava na Itália por não me sentir muito bem nos primeiros dias que estivera lá. Tivera receio de ter pegado alguma doença enquanto estivera do Egito, mas depois que eu melhorara, eu esqueci completamente do tal exame.

Foi nesse momento que o meu olhar se encontrou com o de Jesse e eu deixei a mulher ao telefone em segundo plano. Eu ainda podia ouvi-la e entendê-la, mas era como se o meu cérebro estivesse processando o que ela falava com lentidão exagerada. Esse era o efeito de Jesse sobre mim. Mesmo a metros de distância, ele conseguia me deixar aérea e ofegante. Eu percebi que a mulher havia desligado o telefone e deixei o celular em cima da mesa, indo de encontro ao meu amado.

Dançamos juntos pelo resto da noite e na hora do buquê, Gina mirou propositalmente em mim antes de lançá-lo. Eu nem precisei de muito esforço para pegá-lo e sorri para Jesse que estava parado me observando atentamente.

Quando chegou a hora dos noivos irem embora, nós fomos juntos para a entrada do salão. Me despedi brevemente de Gina e Jake e lhes desejei uma excelente lua de mel. E foi enquanto observa os dois acenarem porta da limusine, que meu cérebro finalmente compreendeu as palavras da mulher que me ligara.

Eu fiquei brevemente em choque, mas os braços ao meu redor foram o suficiente para me fazer relaxar.

- Jesse – eu me virei de frente para ele e envolvi seu pescoço com os braços.

- Diga, mi hermosa.

- Você se incomoda se nos casarmos dentro de dois meses?

- Claro que não. – ele estava com o cenho franzido, mas havia um sorriso satisfeito em seus lábios – Mas eu posso saber o motivo da mudança?

Como eu diria aquilo? Acho que de uma vez era melhor.

- Porque eu não quero estar com a barriga muito grande quando entrar na igreja.

O sorriso sumiu automaticamente do rosto dele e seus olhos se arregalaram de surpresa. Aos poucos a compreensão foi dominando seu semblante e sua sobrancelha com a cicatriz arqueou ligeiramente.

- Você está dizendo que...

- Bem, acho que dois meses serão suficientes para preparar tudo. – eu tentava manter a voz equilibrada, embora por dentro eu estivesse gritando de alegria – E como eu ainda estou com cinco semanas, vai dar tempo de usar o vestido que eu quiser, então...

Mas eu não tive tempo de falar mais nada. Os lábios de Jesse me impediram de proferir qualquer frase e seus braços me envolveram com firmeza, retirando meu corpo do chão e girando comigo no ar, assim como ele tinha feito quando me pediu em casamento.

Tudo que eu tinha agora, tudo o que eu sou, eu só poderia agradecer ao homem que me abraçava naquele momento. Jesse tornou as coisas reais para mim. Ele ensinou o meu coração a falar.

E, mesmo parecendo impossível, eu me sentia mais feliz que nunca. Meu coração parecia que ia transbordar de tanta alegria. Eu perdi a noção de onde estava. Naquele momento éramos só nós dois. E aquele era o único lugar em que eu queria estar.

*** FIM ***

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