Aviso: Esta long foi escrita para o projecto Three Chords, A Node (secção HHr do 6V) e é EWE, ou seja, desconsidera totalmente o epílogo.
Orgulho e Preconceito
por Ireth Hollow
Capítulo I
A biblioteca estava apinhada de estudantes, naquela tarde fria de Outono. A maioria era composta por Ravenclaws que faziam mais trabalhos do que aqueles que lhes eram exigidos, para grande espanto dos Gryffindors, Hufflepuffs e Slytherins que os observavam. Contudo, nem todos se limitavam à actividade de observação; havia, efectivamente, dois alunos que estavam mesmo a estudar.
Um deles era, obviamente, Hermione Granger, que regressara a Hogwarts para concluir a sua formação, ainda que tal não lhe fosse exigido, depois de tudo o que ela fizera para destruir Voldemort. Porém, ela gostava verdadeiramente de aprender, e além do mais, a ideia de não fazer os exames finais apavorava-a deveras. Estava sozinha, dado que nem Harry nem Ron tinham regressado ao castelo.
O outro estudante que parecia fugir à regra era Blaise Zabini, que também retornara à escola para repetir o seu sétimo ano, na medida em que considerava que o ano anterior fora totalmente inútil, em termos académicos. Também estava só, uma vez que nenhum outro Slytherin – incluindo Draco Malfoy – estava com disposição para estudar no fim-de-semana.
Não era a primeira vez que ambos protagonizavam aquela excepção: todas as tardes (e algumas horas de almoço), dirigiam-se às mesas da biblioteca, passando um pelo outro quase sem se aperceberem. Se, porventura, o estudo ainda não os tivesse absorvido ao ponto de não se reconhecerem mutuamente, abanavam a cabeça em sinal de reconhecimento. Era um simples gesto de cortesia, que, contudo, era difícil de se observar em qualquer outro Slytherin, à excepção, talvez, de Draco Malfoy. De facto, o loiro esforçava-se por alterar a sua conduta, ainda que não fosse muito bem sucedido: o sarcasmo não se deixava vencer facilmente pela certeza de que devia muito a Hermione e, assim, o que começava por ser uma saudação quase educada acabava numa troca de insultos, tal como nos velhos tempos.
A jovem já se questionara do porquê da nova atitude de Zabini. Ainda era a altivez em pessoa e a sua arrogância continuava a ser notória no seu porte, no entanto, algo mudara. Talvez tivesse sido o seu estatuto de neutralidade, durante a guerra, que o forçara a agir assim. Ou talvez tenha decidido que estava na altura de corrigir o erro de Salazar Slytherin e reaproximar a sua equipa das restantes. Qualquer que fosse a resposta, ela não podia deixar de louvar aquele comportamento.
Naquele dia, a invulgar afluência à biblioteca forçara-os a partilhar a mesma mesa de trabalho, no entanto, era como se estivesse a estudar cada um no seu canto. Após a saudação inicial e um "Posso sentar-me, Granger?", seguido de um "Claro", nada mais tinham dito. Verdade seja dita, nenhum deles tirava os olhos dos livros e pergaminhos que cobriam o tampo da mesa, tal era o estado de concentração em que tinham mergulhado.
Os minutos foram passando, por entre o arranhar suave das penas e o virar das páginas dos livros. A maioria dos alunos já tinha abandonado aquelas instalações, decidida a aproveitar o fim-de-semana de um modo mais divertido. Restavam, apenas, alguns Ravenclaws do quinto ano, todos reunidos numa mesa a alguns passos da que Hermione e Blaise partilhavam. De vez em quando, deitavam um olhar inquiridor ao estranho par, contudo, o silêncio em que os dois trabalhavam dissuadiu-os de esperar algo interessante.
Finalmente, o negro fechou o livro de Poções que estivera a folhear, enrolou magicamente os seus pergaminhos, arrumou tudo na mochila e ergueu-se, o mais silenciosamente possível. Deitou um olhar demorado à sua improvável companheira de estudo, antes de virar costas e dar alguns passos em direcção à saída. Imediatamente a seguir, estacou, como se se tivesse esquecido de algo, e regressou ao local onde Hermione ainda rabiscava algo muito depressa.
– Devias descansar um pouco, Granger.
Surpreendida, a rapariga ergueu os olhos do seu trabalho para o fitar. Abriu a boca para replicar, no entanto, não lhe ocorreu qualquer réplica adequada. Em resposta, o negro franziu o sobrolho, quase aborrecido pela súbita mudez dela.
– Não sei os Gryffindors sabem ver as horas, mas já passa muito da hora do almoço – acrescentou ele, levemente trocista.
Com aquilo, ela já sabia lidar.
– Estou perfeitamente consciente disso, Zabini, mas obrigada pela informação.
Ele sorriu, satisfeito por ter obtido uma reacção daquele tipo. No entanto, ela não captou aquele sorriso, dado que já tinha voltado a sua atenção para o pergaminho parcialmente escrito que tinha à sua frente. Escreveu mais qualquer coisa, na sua letra pequena e bem desenhada, antes de também ela pousar a pena e arrumar o material. No instante em que se preparava para deixar a biblioteca, reparou que o outro não abandonara a sua posição, como se tivesse estado à espera que ela terminasse – o que, obviamente, era impossível.
– Ainda aqui? – não conseguiu evitar aquela pergunta ridícula.
Ele não respondeu, limitando-se a fitá-la inexpressivamente, antes de se virar e abandonar a biblioteca, num passo rápido. Ela seguiu-o, mais calmamente, ligeiramente surpreendida com o que sucedera. Seria impressão sua, ou o rapaz demonstrara uma espécie de… cavalheirismo? Não, não podia ser; afinal, ele era um Slytherin. Devia ser imaginação sua. Provavelmente, ele tinha estado a observar os muitos livros presentes nas muitas estantes e não dera conta da sua demora. Não seria a primeira vez que isso sucedia…
Quando chegou ao Salão, já um pouco vazio, o seu olhar foi imediatamente atraído para a mesa dos Slytherins. Sem surpresa, encontrou-o já instalado e a comer, junto de Malfoy e Nott. Não parecia estar a participar na conversa, mas estava atento ao que eles diziam.
– Hermione, aqui! – gritou Ginny, algures na mesa dos Gryffindor.
A morena avançou na direcção da amiga, com um sorriso sincero a desenhar-se-lhe no rosto. Desde que se vira sozinha em Hogwarts, Ginny (que também optara por repetir o seu sexto ano) tinha sido a sua companheira de eleição. Mais do que isso, a ruiva fora uma das poucas que compreendera o porquê do seu afastamento em relação a Ron.
Cada vez se convencia mais de ter agido correctamente. Apesar de ainda gostar muito de Ron, sentia que aquela relação não teria força suficiente para sobreviver à distância, nem ao choque das personalidades dos dois. E, verdade seja dita, o rapaz demorara quase sete anos para a beijar! Quem sabe quantos mais demoraria até conseguir pedi-la em namoro? Já para não falar em casamento… Não, o melhor seria adiar tudo, durante mais uns meses, e, depois, fazer uma nova avaliação da situação.
– Estiveste outra vez na biblioteca, não foi?
A pergunta de Ginny interrompeu o rumo dos seus pensamentos, deixando-a ligeiramente atarantada.
– Sim, consegui acabar tudo o que tinha pendente – respondeu, após uma curta hesitação.
Não viu o revirar de olhos da amiga, nem o olhar levemente invejoso de Parvati Patil. Também não reparou que Blaise Zabini a fitava, discretamente, com o mesmo sorriso que ostentara na biblioteca. Na verdade, mal ouvia a conversa que se estabelecera junto de si: toda a sua atenção estava focada no seu almoço. Detestava ter de admitir, mas o Slytherin estava certo ao afirmar que ela devia descansar um pouco.
N/a: Primeiro capítulo da minha primeira long em tanto tempo. E sim, eu do Blaise.
Para a Fla, porque criou o projecto.