Lugar seguro
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O que acha da expressão "lugar seguro"?
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Presente para Chibi Anne
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Hannibal e Mischa se aconchegavam na traseira da charrete. As mãos do garoto apertavam os dedinhos pequenos da irmã e num sibilo baixinho ela reclamava.
- Ai!
E, ao notar, ele os acarinhava cuidadoso, sorrindo quando possível, apesar da constante dor nas nádegas a cada novo balanço da carroceria.
Seus olhos castanhos brilhavam na direção das vidas sentadas nas calçadas. Vidas pálidas e com a desesperança do tempo estampada nos rostos. E com cheiro de bombas frescas que se aproximavam velozes pelo céu.
O Sr. Lecter olhou os filhos e a expressão do seu rosto dizia que ele lamentava ser necessário passar por ali.
Particularmente, Hannibal não via problema algum.
Mischa escorou o corpo no ombro do irmão e por cima da cabeça dele apontou uma velha senhora que chorava sozinha à beira da estrada.
- Anniba, olha!
Ele lançou um olhar rápido o bastante para captar a cena, mas não suficiente para sentir pena. Puxou a irmã pela cintura e a fez sentar de volta ao lugar.
- Quieta, Mischa! Daqui a pouco chegamos.
- Onde?
- Para onde o papai quiser.
- Onde?
- Um lugar seguro, certamente. Acalme-se.
- Elas também?
O dedo minúsculo ainda apontava a velha senhora, mas Hannibal sabia que não era só dela que Mischa perguntava. Guardou o sorriso para quando chegasse ao destino, limitou-se a apertar a ponta do dedo da menina e depois fazer o mesmo com seu nariz. Ela riu e aconchegou-se ao seu peito.
- Papai, - começou ele, envolvendo Mischa num meio abraço. - para onde estamos indo?
- Para um lugar seguro, filho.
Hannibal ficou feliz por não ter mentido para Mischa.
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Clarice Starling o olhava atentamente, como se pudesse extrair dos olhos vermelhos alguma resposta condizente com suas perguntas, segundo ele, mal elaboradas e vazias. O psiquiatra, esticado no chão, distanciou-se da conversa; foi para uma estrada velha da Lituânea onde, outrora, caminhara numa charrete incômoda ao lado da pequena Mischa.
- Dr. Lecter? Está aí?
- Onde mais, Clarice?
- Dr. Lecter, voltando às vítimas do Buffalo Bill...
- Esse assunto é deveras enfadonho, não concorda?
- De certa forma, mas...
- As vítimas - ou a vítima em questão, se for sua curiosidade atual - devem estar num lugar seguro.
Clarice ergueu uma sobrancelha. Olhou toda a extensão do corredor até que pudesse ver as pernas cruzadas do guarda Barney e depois tornou a olhar através das grades.
- Com um assassino à espreita? Um pouco contraditório, não é?
- Os assassinos atacam na hora certa, Clarice - E nessa hora sua voz pareceu se aproximar, como se ele rastejasse na direção dela, quase atravessando o vidro. - Digo por experiência própria.
Os pêlos da nuca de Clarice se arrepiaram, seguindo uma trilha gélida de calafrios até o pulso. Ela pigarreou e depois esboçou um sorriso.
- Não estou falando de assassinos como eu. - reiterou ele com um suspiro intercalando as frases. - Estou falando de assassinos como o Buffalo Bill. Desse tipinho bem orginário que mata por motivos fúteis. Assassinos como eu matam quando sentem vontade - ou fome.
- Posso considerar isso uma auto-análise sua?
O rosto do psiquiatra surgiu envolto de sombras no vidro, encarando Clarice com um sorriso quase beirando a diversão.
- Não. Se perguntar ao cretino do Chilton ele lhe dirá a mesma coisa. Se você tem calafrios ao ouvir a verdade sobre o Bill, tenho pena de imaginar sua reação ao saber a verdade ao meu respeito.
- É tão ruim assim? - perguntou ela, depois de um tempo perdida no labirindo vermelho dos orbes que lhe encaravam.
- Eu usaria o termo "bom demais para ser verdade", Clarice. Todavia, é uma questão de opinião.
Fez-se um breve silêncio em que a estudante folheou o formulário em mãos e se perdeu entre as perguntas. Desistindo da busca, segundos depois, ela voltou-se a ele, determinada.
- Dr. Lecter, sou obrigada a insistir. Eu preciso que me dê informações sobre as vítimas...
- Você está tentando me irritar? Sou um sujeito difícil de se irritar, mas se for o caso, posso mostrar-lhe as minhas presas como recompensa extra pelo seu empenho em me fazer perguntas tão obtusas.
- Eu não ousaria...
- O que acha da expressão "lugar seguro"?
Um instante de reflexão e a resposta saltou-lhe os lábios.
- Considero um lugar onde eu possa viver minha vida sem preocupação alguma.
- Até que um assassino sanguinário resolva aparecer e cortar seu pescoço?
- Esse não parece um lugar seguro.
- Parece que está começando a entender.
- Está tentando me dizer que ele está apenas aguardando a hora certa para matá-las?
- Não foi tão difícil, foi? Na verdade é o que eu digo desde a hora que você chegou. Não há lugar seguro, Agente Starling. Não quando você tem cheiro de um apetitoso jantar exótico ou a pele macia que um maníaco sempre quis ter. - ele fez uma pausa categórica e depois voltou a falar com a voz baixa, quase sussurrante. - Uma vez perguntei ao meu velho amigo Will se ele tinha sonhos. E você? Você tem sonhos, Clarice? Sente-se segura nos seus sonhos?
Clarice encolheu os ombros, percorreu o longo corredor mais uma vez com o olhar e depois tentou fixar-se nas grades que a separavam do Psiquiatra.
- Sonhos costumam ser cansativos, Dr. Lecter.
- Sim. Eu concordo. Faz tempo que parei de sonhar. Creio eu que eles eram consequência de uma má alimentação. Tente mudar de cardápio, Clarice. Funcionou comigo.
- Tem algo mais para me dizer sobre o Buffalo Bill?
- Não hoje.
- Doutor...
- Tenha uma boa semana, Agente Starling. Espero que seus sonhos sejam felizes.
Demorou muito até que Clarice resolvesse ir embora; talvez ainda provida de uma fraca esperança de que ele cooperasse. Quando o psiquiatra ouviu os passos dela ecoando e se chocando contra a parede, fechou os olhos por uma gota de tempo - lembrou das vidas nas calçadas - e se pôs de pé.
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Mischa reclamava de dor nas costas. Mamãe pedia que Hannibal a levasse no colo.
Pesada.
- Não durma aí, Mischa! Você pesa! - exigiu Mamãe, arrancando risos do menino que pouco se importava com o peso.
- Tudo bem, mamãe. Ela nem pesa tanto assim.
Mischa tirou uma madeixa de fios loiros que lhe caíam pela face. Riu e depois apoiou as costas no peito do irmão.
- Anniba?
- Sim, Mischa?
- O que é lugar seguro?
- Ah, Mischa, pense num lugar em que você poderia dormir a vida inteira - uma pausa. - Pensou? - um balançar de cabeça. - Então, aí está um lugar seguro.
- Oh!
Os olhos redondos e brilhantes pareciam maravilhados pela descoberta.
- Agora sabe o que é um lugar seguro, Mischa?
Novo balançar de cabeça. Aconchego nos braços do irmão, um fechar de olhos e a resposta.
-O colo do Anniba.
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- Não há lugar seguro, Clarice.
O psiquiatra não se importava se tal afirmação fora jogada nas grades que lhe prendiam. Sorriu e caiu num sono cego.
---x---
N/A: Ah, que maravilha. Toda vez que desço nesse fandom sinto que minha vida vai ser mais feliz. WAT/ Pois bem, o fato é que eu AMO o Hannibal com todas as forças do meu ser. E AMO a Mischa com todas as vísceras do meu coração prateado. *-* E agora que meu Litlle Hitsu, vulgo Anne, está lendo A Origem do Mal, acho digno que ela ganhe essa fic de presente, tendo em vista que ela já leu O Silêncio dos Inocentes. *-*
Anne, é tua. s2
Reviews, imploro.