Melhor com o tempo

No dia seguinte ele aparece em casa na hora do almoço e, como em pouco tempo se inicia o período letivo, a senhora Evans me deixa substituir Coralee, uma garçonete que está grávida e com os horários todos malucos, portanto só entro a noite.

Passamos a tarde jogando vídeo game e ao anoitecer fazemos o jantar, quando Lily e a senhora Evans chegam tem lindas coxinhas de frango assadas com batatas e salada de vegetais. Admito que foi Sirius quem cozinhou quase tudo, eu só ajudei a cortar cebolas e a colocar a mesa. Quem diria que o playboyzinho nascido em berço de ouro saberia cozinhar.

Depois que jantamos, subo e me arrumo para ir pro pub, Sirius fica no meu quarto me esperando e quando saio do banho ficamos um bom tempo colados um no outro... até que ouço a senhora Evans chamar e, roxa de vergonha, tenho que arrumar meus cabelos e sair correndo para ir trabalhar. Quando volto de madrugada ele já se foi, mas sinto seu cheiro no meu travesseiro e durmo com um sorriso imbecil no rosto.


Nossa última semana juntos corre a semelhança desse dia que acabo de descrever, todos os dias no vemos e passamos ao menos uma hora juntos, só eu e ele. Posso dizer que somos amigos, além de... bom, além do que quer que sejamos entre peguetes eventuais e namorados. Gosto de conversar com ele, me sinto segura e a vontade e acredito que ele sinta o mesmo, seu sorriso pra mim é sempre honesto, seus olhos sempre risonhos e seus gestos muito gentis.

Ontem foi a final do campeonato e nunca na minha vida ouvi tantos palavrões ou vi tantos homens se beijando... no rosto, pareciam um bando de babuínos bobocas balbuciantes. Foram litros e litros de cerveja no chão e batatinhas esmagadas, muitas gorjetas polpudas nos intervalos e risadas sem fim. Não posso deixar de mencionar os berros ensandecidos de gol e o barulho das buzinas. Sim, o time deles venceu e por conta disso quase fiquei surda por causa da algazarra. O bom é que com esse dinheiro posso fazer uma viagem para Belfast, ou comprar uma máquina fotográfica ou guardar tudo, não importa, é tão bom ter um dinheirinho que é realmente meu! Se as coisas continuarem assim poderei me bancar sozinha, não serei mais um peso morto e mamãe poderá gastar todo seu dinheiro com o casamento.

Ou quem sabe posso ir visitar Sirius num fim de semana qualquer...hum, que pensamento terrivelmente delicioso!

Combinei com Lily de ajudá-la a fazer as malas, ela me pegou desprevenida, duas tardes atrás quando eu tinha acabado de pegar Sirius loucamente na lavanderia da casa dele e estava bastante absorta nas lembranças. Me fez prometer, disse que precisava de mim e que seria uma tarefa fácil, coisa de minutos.

Fui aviltantemente enganada, como ela tem tralhas! E eu digo tralhas, não são apenas roupas e sapatos ou maquiagem, são objetos que só Deus sabe porque ela quer levar, tipo: uma luneta, um telefone velho, luzes de natal, uma caixa de sapatos cheia de gravatas, entre outras coisas absurdas.

-Em nome de Deus, Lily! Porque está levando isso?!- Pergunto exasperada ao encontrar uma sacola cheia de chaves.

-Olha só, não me faça perguntas, está bem? Apenas me obedeça, eu sei o que estou fazendo. São matérias primas pro meu grupo de arte conceitual.- Ela retorque irritada e sem fôlego. Está sentada em cima de uma mala de lona azul e tenta desesperadamente amassar o conteúdo com o próprio peso para que então consiga fechar o zíper.

Okay, a pergunta que fica é: porque uma menina que está cursando medicina precisa fazer parte de um grupo de arte conceitual? Na verdade a pergunta que fica é: como ela arruma tempo? Eu com meio turno no bar mal consigo me obrigar a fazer qualquer outra coisa que não seja comer e dormir.

E pensar no Sirius, admito.

Conseguimos por fim acomodar todos os pertences de Lil em três gigantes malas e ela ainda vai levar emprestada minha carapaça colossal. Depois de toda essa agitação estou exausta, então decido ir comer algo na cozinha antes de começar meu turno no pub.

Sirius está no pé da escada, ele sorri quando me vê e sinto meu coração pular uma batida. Meu pé esquerdo deve se sentir muito atordoado também, pois tropeço no último degrau. Felizmente Sirius ampara minha queda, mas ri da minha cara e leva alguns minutos para conseguir ficar sério de novo.

Tenho de ajudá-lo a se recompor dando um soco em seu braço, o que parece não o ter agradado muito.

Ele senta comigo na mesinha dobrável da cozinha e começamos a debater sobre o filme que assistimos ontem: A encantadora de baleias. Eu afirmo peremptoriamente que o vi chorando, lágrimas corriam por seu rosto e seu nariz estava vermelho. No que ele nega firmemente dizendo que teve um ataque de rinite por causa do cobertor de lã.

-Há! Você estava chorando por Paikea! Admita.- Dou uma dentada no meu pão com nutella enquanto Sirius continua em negação. Não consigo evitar sorrir, ele é tão bonito e tão adorável em suas tentativas de se provar machão e insensível.- Vou sentir sua falta.- Digo antes que possa me conter, então, vermelha até a raiz dos cabelos me foco na minha refeição, engolindo rapidamente meu sanduíche. Mordo o lábio inferir um tanto quanto desconcertada com esse meu rompante.

-Eu também vou sentir falta de você, Lene.- Ele me puxa e me coloca sentada em seu colo, passo meus braços em volta de seu pescoço e ficamos nos encarando.-Acho que sentia falta de você antes mesmo de te conhecer.-Meu coração derrete em poças de amor e ternura. -Quem está chorando agora?- Sirius pergunta rindo segurando meus pulsos quando tento sair de seu colo ao ouvir sua provocação, mas admito que meu olhos encheram de lágrimas.- A saudade fica melhor com o tempo.


Ontem foi nossa última noite juntos, depois que saí do Pub fomos pra casa de James beber vinho, dar risada, falar besteira, nos despedir e, o mais importante, comer porcaria.

- Lene vai ter que ir numa festa, acho apenas justo. Quem sabe ela não encontra um bom partido.- Remo provoca enquanto come pipocas carameladas deitado no tapete ao meu lado. E quase morre engasgado depois de Sirius, de vingança, virar a vasilha em sua cara.

- Eu irei, prometo. Estudo de vivência social.-

-Ah, vai é? Vem aqui que vou te mostrar uma vivência física.- Sirius ameaça me puxando pelo tornozelo e me fazendo cócegas.

-É um interesse puramente acadêmico, eu juro.- Consigo responder enquanto me contorço entre risadas e ofegos.

-Sirius, a Lene precisa de experiências de campo.- Lily se intromete, mas Sirius nem lhe dá atenção, pois estou praticamente berrando e implorando pra ele parar.


Depois de um tem Sirius e eu resolvemos ir embora, Remo dorme ligeiramente bêbado no sofá e James e Lil sumiram pela casa. Vamos de mãos dadas pelas ruas vazias, sinto meu rosto quente e o estômago um pouco embrulhado. Estou nervosa, afinal de contas nunca fiz isso antes.

Seus pais e seu irmão não estão, então Sirius me convida pra entrar e nós dois sabemos com o que estou realmente concordando ao entrar em sua casa. Ele me leva pela mão até seu quarto, coloca uma música baixinho, Frank Sinatra, meu corpo inteiro arrepia e fico com uma pontinha de medo. Mas quando ele me beija desse jeito é difícil lembrar meu próprio nome, imagine então lembrar do porque estava receosa.

Suas mãos são gentis ao desabotoar meu vestido, seus lábios fazem cócegas no meu pescoço e meus dedos estão trêmulos quando puxo a bainha de sua camiseta junto com o moletom azul marinho que ele usa.

Não leva muito tempo pra eu esquecer que estou nua ou que tinha medo, meu coração bate tão alto que tenho medo que ele escute e quando ele geme meu nome sinto que morro por dentro de puro contentamento.

Quando tudo acaba fico deitada entre seus braços enquanto ele acaricia minha espinha, não sei o que dizer e quando ele me pergunta se estou bem e o que achei fico roxa de vergonha e começo a rir descontroladamente. Embora Sirius realmente tenha um ar de tédio e superioridade para o resto do mundo, quando estamos a sós ele é doce, gentil e muito engraçado. Faz o possível para me ver feliz e é sempre atencioso.

-Menina esquisita, você.- Ele me dá um beijinho na ponta do nariz e se levanta me puxando com ele. - Agora não dá mais tempo de ficar envergonhada.- Diz com um risinho sardônico ao pegar a camisinha que estava no chão e jogar no lixo. Contenho um gemido de embaraço e me apresso em colocar minhas roupas de baixo, mas ao ajudá-lo a trocar o lençol noto manchinhas vermelhas no branco ofuscante e fico com tanta vergonha que acho que vou desmaiar.

-Estoucomfomevamoscomer.- Digo num rompante, pego o resto das minhas roupas rapidamente e me escondo no banheiro até ter certeza de que ele já levou as provas de nossas atividades libidinosas pra longe. Sei que fez isso porque sua risadinha vai ficando cada vez mais fraca. Deus, eu sou muito esquisita mesmo. Que coisa idiota pra se sentir vergonha.

Coloco a meia calça de qualquer jeito, fecho meu vestido até o pescoço e calço minhas botas. Lavo meu rosto profusamente, mas nada vai tirar esse brilho incomum dos meus olhos, a sensação quente e áspera, por causa da barba por fazer, de seus beijos da minha boca ou... esse chupão no meu pescoço. Jesus!

São cinco horas da manhã quando nos despedimos, ele me abraça tão forte que acho que que colapsou meus pulmões e eu me agarro a ele como se minha vida dependesse disso.

Pronto, essa é nossa despedida.

Volto pra casa correndo, tomo um banho quente e demorado, parece que fui espancada, estou verdadeiramente dolorida, mas, estranhamente, de uma forma boa. Isso ao menos faz sentido?

-Lily?- Bato na porta do quarto de leve antes de entrar, ela está sentada na cama arrumando a bolsa.

-Você estava onde, mocinha?- Diz num tom brincalhão sem levantar os olhos. Quando não respondo se digna a me encarar e ao me ver roxa de vergonha tem um ataque de riso histérico que traz a senhora Evans da cozinha, o que me deixa levemente em pânico. Mas ela não me faz perguntas, apenas insiste que desçamos logo para tomar café.

Belisco uma torrada e meia xícara de chá, pois já comi na casa do Sirius. Antes de ir embora Lily me abraça e diz no meu ouvido:

-Conversamos sobre isso depois, tá? Quero saber tudo.

-Okay.- Murmuro de volta e assisto ela entrar no carro com James e Remo, volto pra dentro antes que Sirius possa me ver ou eu a ele, ainda não estou pronta pra encara-lo. Subo as escadas, dou boa noite para a senhora Evans e me jogo na cama.

Durmo até quase o da seguinte.