10. Ela (não) Disse Adeus

22/06/2007

10h01min

Severo... Por favor...

Draco simplesmente não conseguia tirar essas palavras da cabeça. Precisava desesperadamente conversar com alguém sobre aquele dia, mas nunca tinha realmente contado toda a história para ninguém. Enquanto procurava uma lareira para se transportar via flu (estava com medo de sua própria falta de concentração acabar em um acidente caso aparatasse) pensava no quanto gostaria de estar com Ginny e conversar com ela sem se preocupar com maldições, segredos e assassinatos. Gostaria apenas de ter 17 anos novamente e estar em um piquenique embaixo de uma cerejeira com ela meio bêbada.

Encontrou um bar bruxo disfarçado de loja de elástico para dinheiro. Já tinha ido lá algumas vezes e não era um bom lugar de se frequentar, mas eles tinham uma lareira e era só disso que ele precisava. Entrou e pediu para usar o banheiro. O senhor do balcão indicou a direção e Draco foi direto para dentro da cabine do vaso sanitário onde tinha um tijolo torto. Bateu com a varinha três vezes no tijolo e a porta para o bar se abriu.

Era um lugar sujo e cheio de bêbados. Algumas mulheres trabalhavam no local como garçonete e o que mais o dinheiro do cliente pagasse. Draco atravessou as mesas com a cabeça baixa para não procurar confusão, já tinha arrumado brigas lá antes e não estava precisando disso nesse momento. Chegou até o balcão e pediu um pouco de flu. O suficiente para uma viagem de ida. O atendente lhe passou o pó dentro de um saquinho de veludo e Draco o pagou com três sicles de prata antes de andar pelo corredor onde ficavam as lareiras. Jogou o pó dentro da lareira e entrou na fumaça verde. Fechou os olhos por alguns segundos e quando abriu estava no escritório de sua casa.

Besnique também estava lá.


22/06/2007

10h04min

"Ok, então o que eu faço agora?" Ginny perguntou enquanto Hermione lhe dava uma xícara de chá.

Hermione sentou-se ao lado dela e começou a adoçar o próprio chá pensativa.

"Acho que, antes de tudo, você deve se perguntar o que você realmente quer, Ginny..."

Essa não era uma pergunta fácil. Ela sabia – e a cunhada tinha feito um ótimo trabalho em pontuar – de todos os problemas que envolviam ficar com Draco. Seus filhos, sua família, a família dele, a mídia. Isso tudo ainda, se Draco realmente quisesse ficar com ela. Ela tinha, também, que descobrir o que poderia significar as perguntas que Draco tinha feito mais cedo para Hermione e o que ele queria dizer com ela estar correndo perigo, porque Snape estaria envolvido nisso?

"O que você acha que ele quis dizer com aquela história sobre Snape estar envolvido em algum tipo de perigo que eu corria?" Ginny precisava de uma luz. Qualquer coisa.

"Eu realmente não sei, querida" Hermione parecia genuinamente estar tentando ajuda-la "Como Snape poderia estar envolvido em alguma coisa depois de vinte anos?"

A última coisa que Snape poderia ter feito, se realmente ele tivesse feito alguma coisa, teria sido vinte anos atrás e ela não estaria mais em perigo à não ser que fosse...

"Talvez uma maldição?" Hermione completou seus pensamentos.

Uma maldição faria sentido. Uma maldição não morreria junto com Snape e poderia continuar pelo resto da vida de Ginny. Mas porque ele a amaldiçoaria? E porque ele contaria isso para Draco?

"Porque Draco não me diria então? Porque ficaria com esse segredo só para ele?"

"Talvez ele não possa Ginny." Hermione colocou uma mão sobre a mão de Ginny "Você sabe que eu jamais o defenderia, mas talvez ele até tenha tentado. Só não foi capaz."

Ginny lembrou-se da vez que eles estavam discutindo sobre ele ter deixado ela há vinte anos atrás e sobre como ele simplesmente desmaiou no meio de uma frase. Será que ele estava tentando contar alguma coisa para ela? Será que a maldição estava nele?

"Se ao menos houvesse uma maneira de descobrir se eu estou realmente amaldiçoada..." devaneou em voz alta.

"Bom..." Hermione deu um gole em seu chá "Talvez há uma forma..."

Ginny lhe olhou desconfiada.

"Já foi testado em humanos?"

"Não"

As duas se levantaram e pegaram suas coisas.

"Porque você faz isso, Hermione? Criar feitiços não é sua função." Estavam indo ambas para a lareira.

"Eu trabalho 15 horas por dia e tenho três crianças dentro de casa. Preciso de um hobby!"

"você só tem dois filhos" Ginny rebateu.

"Eu sou casada com o Ron!"

As duas pegaram um pouco de flu em um pote sobre a lareira e foram para o Ministério.


22/06/2007

10h07min

Draco subiu as escadas correndo e entrou no quarto de Scorpius. O menino veio correndo para seus braços quando o viu deixando os avós sentados na cama. Draco olhou para seus pais antes de fechar os olhos no abraço do filho.

Scorpius chorava em seu ombro enquanto apertava os braços ao redor de seu pescoço e Draco só queria que um buraco no chão os levasse para outro lugar. Como ela tinha tido a coragem de fazer aquilo com eles? Quão covarde ela tinha sido à ponto de deixa-los naquela situação?

Sentou-se na poltrona ao lado da cama de Scorpius enquanto ninava levemente o menino. Seus pais levantaram da cama e sua mãe veio lhe dar um beijo no rosto. Aproveitou para sussurrar em seu ouvido.

"Nós já estamos cuidando de todos os preparativos, apenas fique aqui com Scorpius"

E então os dois saíram fechando a porta atrás deles. Deixando-os sozinhos naquele quarto. Do jeito que seria para o resto de suas vidas.


22/06/2007

11h39min

"Faz quase uma hora e meia! Quanto tempo isso ainda demora para ficar pronto?" Ginny já estava impaciente e com um pouco de fome.

Hermione levantou os olhos para ela com o cenho franzido.

"Eu não sei!" respondeu enquanto voltava a olhar para a placa de vidro com a gota de sangue de Ginny "Eu só fiz isso com coelhos, amaldiçoados há menos de uma hora e nenhuma maldição proveniente das Artes das Trevas. Talvez nem sequer funcione!"

Ginny suspirou impaciente e recostou-se na cadeira enquanto voltava a folhar o Profeta Diário.

"Espera um pouco!" Hermione arfou surpresa "Achei alguma coisa, mas... bom... faria sentido."

Ginny viu a cunhada puxar um fio de purpurina roxa de dentro de seu sangue e colocar em outra placa de vidro ao lado. A purpurina se transformou em um líquido assim que encostou na superfície.

"O que é isso?" Perguntou inclinando-se para ver melhor.

"Parece algum tipo de poção do amor"

Hermione olhou para a cunhada e Ginny entendeu o que ela queria dizer. Ela não estava apaixonada por Draco. Estava amaldiçoada com uma poção do amor.

"Não. É diferente, Mione. Não estou sob efeito de poção do amor" ela rebateu na defensiva. O que ela sentia não era nem sequer parecido com uma magia. Era amor. Ela sabia disso em seus ossos.

"Ginny... faria sentido!" Hermione começou com cautela e isso irritou mais ainda a ruiva. "Você foi dormir apaixonado por Harry e acordou tão apaixonada pelo Malfoy que abriria mão de tudo pra ficar com ele! Uma noite, Ginny!"

"Não foi uma noite!" Ginny pegou-se gritando e sentiu-se envergonhada, mas não tinha mais como deixar a raiva para dentro "Foram dois meses! Foram horas de conversa, foram terapias de casal, foram piqueniques, jantares, compras. Ele me salvou de morrer afogada! Hermione, foi real!" ela queria tanto que a cunhada entendesse o que ela queria dizer. Por mais que soasse maluco, era imprescindível para ela que Hermione entendesse o que ela sentia. Não era uma poção do amor.

"Nem existe uma magia que faça isso, querida..." a voz de dó dela deixava Ginny com mais raiva.

"Nem nenhuma das 452 magias que você criou nos últimos vinte anos e agora mais de 300 são estudadas em Hogwarts!" Ginny replicou enquanto se levantava da cadeira "Você realmente acha que Snape não seria capaz de criar algo novo, Hermione? Você realmente se acha tão boa que só você é capaz de criar uma magia do nada?" ela sabia que tinha sido maldosa, mas já não aguentava mais essa conversa. Queria sair de lá antes que a amizade das duas acabasse de vez.

Hermione levantou-se também.

"Agora você acha que o Snape realmente fez isso? Ouça a você mesma Ginevra!" ela também parecia irritada.

"E quem você acha que fez essa poção do amor, então?" Ginny gritou a plenos pulmões.

As duas pararam um segundo olhando uma para a outra. O que estavam fazendo? Não deveriam estar brigando, eram melhores amigas há anos. Ginny respirou e sentou-se novamente.

"Só tem um jeito de descobrir, Mione" ela disse mais calma tentando levantar uma bandeira de trégua "Me dê o antidoto. Se for realmente só por causa de uma poção do amor irá passar junto com todos os meus problemas"

Hermione sentou-se também e voltou a analisar a placa com a poção.

"Não é só uma poção. Tem algo mais aqui. Vou precisar criar esse antidoto direto dessa poção." Olhou para Ginny "Não vai ficar pronto tão cedo..."

"Quanto tempo?" Ginny precisava provar que não era só uma poção do amor.

"Uns três dias ou mais"

As duas ficaram novamente em silêncio e então se levantaram e se abraçaram. Nenhuma das duas precisava pedir desculpas porque ambas sabiam que isso estava implícito naquele abraço. Ginny beijou a bochecha de Hermione e deu um passo para trás.

"Preciso ir" disse enquanto pegava suas coisas "Você pode pegar as crianças para o almoço e deixa-las na casa da minha mãe?"

Hermione olhou-a com reprovação.

"Onde você vai?"

"Preciso falar com Draco"

E saiu sem olhar para trás. Ela precisava dizer a ele que sabia da maldição e precisava dizer que talvez fosse apenas uma poção do amor. Não, na verdade ela não precisava de nada disso. Ela só precisava vê-lo.


22/06/2007

11h59min

Ginny aparatou em frente à Mansão Malfoy e ficou impressionada com a quantidade de elfos-domésticos se movimentando pelo jardim. Não sabia que Draco tinha tantos empregados ou tanta coisa para ser feita à ponto de deixa-los todos realmente ocupados. Os portões estavam abertos e ela não via maneira de chamar alguém. Entrou no jardim e caminhou até a porta da frente onde tinha uma enorme serpente com um arco na boca. Ginny usou o arco para bater na porta que foi prontamente atendida por um elfo-doméstico.

"Você não está vestida apropriadamente" o elfo disse enquanto olhava para Ginny de cima abaixo.

Ginny olhou para suas próprias roupas e não viu nada que não fosse apropriado. Estava usando uma saia lápis azul escura e uma camisa branca de botões. Sapatos de salto azuis e uma meia-calça cor de pele. Era a roupa que ela tinha ido trabalhar mais cedo e ninguém nunca tinha lhe dito que não era apropriada.

"Sinto muito, eu não sabia que havia algum tipo de traj-"

"O que você quer?" o elfo-doméstico a interrompeu.

"Preciso falar com o Sr. Malfoy" respondeu ainda se sentindo inapropriada. O que tinha de errado com aquele elfo?

"O Sr. Malfoy está ocupado com os preparativos, mas posso chamar a Sra. Malfoy para você"

Astoria? Ginny não poderia falar com Astoria.

"Oh, não tem neces-"

E o elfo-doméstico bateu a porta em sua cara. Ginny não sabia se esperava ou se fugia. Ambas as coisas pareciam ridículas. Astoria provavelmente não sabia sobre ela e Draco então não era esperado que ela tivesse alguma reação ruim. Mas o que Ginny diria para ela? Vim avisar seu marido que provavelmente nós não estejamos apaixonados, mas apenas sob efeito de um diferente tipo de poção do amor. Soava esdruxulo e ela nem tinha dito em voz alta.

A porta abriu novamente e o mesmo elfo-doméstico apareceu.

"A Sra. Malfoy irá te atender Sra. Potter" disse enquanto abria caminho para que ela passasse pela porta.

Primeiro Ginny ficou sem entender como ele sabia quem ela era e então lembrou-se que era famosa. Mesmo depois de anos, ainda não tinha se acostumado à pessoas saberem quem ela era. Entrou na mansão e ficou admirada com a quantidade de elfos que trabalhavam lá dentro também. Mas o elfo tinha dito que Draco estava ocupado com preparativos. Provavelmente estavam recebendo um grande evento hoje. Isso explicaria também o porquê do elfo não achar sua roupa apropriada. Seguiu o elfo até o meio da sala onde uma grande escada subia em curva.

"Espere um momento, que a Sra. Malfoy já vem. Posso te servir alguma coisa?" perguntou com o mesmo tom que vinha usando até então.

"Não, eu estou be-".

E ele a deixou falando sozinha novamente.


Draco colocou Scorpius adormecido na cama e lhe beijou a testa. Saiu do quarto da forma mais silenciosa que podia e fechou a porta com cuidado para não acordar o filho. Por mais que tivesse prometido que não beberia mais firewhisky não conseguia evitar pensar em outra coisa. Sua mãe teria que lhe perdoar, mas essa tarde ele precisaria de muito firewhisky se quisesse chegar até o dia seguinte. Desceu as escadas com a cabeça baixa em direção à sala de estar onde ficava o bar. Quando estava na metade da escada levantou a cabeça e não acreditou no que viu.

"Ginny?" chamou sussurrando como se aquilo fosse uma miragem e ela desapareceria ao som de sua voz.

A ruiva estava em pé no meio de sua sala parecendo extremamente desconfortável e quando o viu seus olhos encheram-se de puro alívio. O que ela estava fazendo ali?

"Draco!" ela suspirou e subiu as escadas até ele.

"O que você está fazendo aqui?" perguntou sentindo que aquilo não era verdade.

Ela não respondeu de imediato e ficou olhando para ele como se não soubesse como falar.

"Preciso falar com você..." respondeu com insegurança na voz.

"Agora?" ele não poderia deixar de fazer essa pergunta. Não era o melhor momento para conversar com ela e ele nem sabia se deveria conversar com ela. Ela tinha lhe pedido para ficar longe e agora estava lá. "Pensei que não quisesse mais falar comigo..."

"Por isso você pediu demissão?" ela perguntou ainda insegura.

Ela não iria embora. E ele não poderia ficar falando com ela no meio do corredor de sua casa. Lhe parecia estranho ter uma Weasley dentro da mansão Malfoy. Pegou em seu pulso e começou a andar em direção ao seu quarto. Ela o seguiu sem fazer perguntas. Ao entrarem no quarto ele fechou a porta e trancou. Havia muitos elfos-domésticos na casa e ele não queria ser interrompido. Ficou alguns segundos encarando a porta antes de se virar e vê-la perto de sua cama.

"O que você quer?" ele perguntou um pouco seco. Não poderia lidar com Ginny hoje. Não hoje.

"Você foi falar com Hermione hoje cedo..." ela começou parecendo procurar as palavras e ele sabia que isso acabaria acontecendo. Teria ficado muito feliz se fosse em outro momento, mas ele não poderia se sentir feliz hoje.

"Ginny... eu não sei o que ela te disse, mas não posso lidar com isso hoje." Ele respondeu segurando o nariz com o dedo indicador e com o polegar.

"Eu estou sob efeito de algum tipo de poção do amor, Draco... você talvez esteja também..."

Ele olhou para ela assustado. Poção do amor? Era isso que ela achava que sentia por ele? Uma simples poção do amor? Isso resolveria seu problema, se fosse só uma poção do amor.

"Então tomemos um antídoto." Respondeu com amargura.

Ela o olhou com decepção aparente. Se aquilo tinha sido algum tipo de teste ele não havia passado.

"Não é uma simples poção do amor. Hermione está trabalhando no antídoto, vai ficar pronto dentro de uns três dias" Ginny dizia seca e sem emoção.

Ele simplesmente não sabia o que fazer. Sabia que essa poção do amor não era realmente uma poção do amor, era uma maldição para que ela engravidasse de Voldemort. Mas não poderia dizer nada. Talvez Granger consiga tirá-la dessa maldição. Como saber se teria dado certo? Ele realmente arriscaria? Suspirou e andou até sua cama. Sentou-se e apoiou a cabeça nas mãos enquanto apoiava os cotovelos nos joelhos.

"Não é uma poção do amor, Ginny" ele disse sem olhar para ela "Não posso te dizer o que é, mas não é uma poção do amor. Pelo menos, não só isso..."

Sentiu a cama se mexendo e soube que ela tinha sentado ao seu lado. Levantou a cabeça e olhou para ela. Os olhos castanhos cheios de lágrimas.

"De qualquer forma haverá um antídoto" ela disse esperançosa.

"Eu não posso arriscar. Granger é a maior bruxa de todos os tempos, mas ela não sabe com o que está lidando"

Ela não disse nada e ele soube que ela o entendia.

"É irreversível..." ele sussurrou mais para ele do que para ela.

Ginny pegou em sua mão e ele sentiu que fosse desabar. Não Ginny, hoje não.

"Somente a morte é irreversível, Draco..." ela disse antes de se levantar e ir em direção à porta.

Ela mesma destrancou-a e saiu.

Draco jogou-se para trás e deitou-se na cama. Ela estava certa. Somente a morte era irreversível e essa era a única coisa que ele queria mudar hoje.


Ginny desceu as escadas e ia direto para a porta de saída quando ouviu uma voz vinda de trás dela.

"Não esperava ver você aqui, Sra. Potter"

Ginny virou-se e deu de cara com Narcissa. Ela ainda era bem parecida com a mulher que tinha visto há vinte anos atrás em Hogwarts. Tinha envelhecido muito pouco e continuava linda.

"Eu precisava falar com Dr- Malfoy" respondeu e voltou a virar-se. Queria sair de lá o mais rápido possível.

"Prestar suas condolências, eu entendo" a mulher andou em sua direção e parou em sua frente não a deixando opções além de ficar e conversar.

"Condolências?" Ginny perguntou curiosa. Por causa de um emprego?

"Sim, por Astoria..." Narcissa respondeu formalmente, mas era possível detectar sua voz intrigada.

Astoria?

Ginny olhou ao seu redor e as peças começaram a se encaixar. Rosas negras estavam sendo colocadas pela casa. O tapete da sala tinha sido mudado para um tapete negro com detalhes em verde. Os elfos-andavam para todos os lados levando bandejas e preparando uma mesa de buffet na outra sala. Narcissa estava com um vestido e um casquete preto na cabeça.

Astoria tinha morrido e Draco não lhe tinha dito nada. Aquilo era um funeral.

Ginny deu as costas para Narcissa e, sem pensar duas vezes, subiu as escadas correndo deixando para trás a boa educação. Correu pelo corredor e abriu a porta do quarto de Draco sem bater.

Ele estava deitado na cama com um braço sobre a cabeça. Quando a porta abriu ele olhou para ela e Ginny pôde ver lágrimas manchando seu rosto. Trancou a porta atrás dela.

"Oh, Draco!" ela disse enquanto andava para a cama "Eu sinto muito" e deitou-se ao lado dele.

Draco não respondeu nada, apenas a abraçou e chorou.


Eles ficaram deitados por pelo menos uns trinta minutos antes de Draco finalmente resolver falar alguma coisa.

"Eu sabia que isso aconteceria em algum ponto" ele disse como se tentando se consolar.

"O que aconteceu?" Ginny perguntou com a cabeça encostada em seu peito. Sentia o coração dele bater.

"Ela se matou. Simplesmente se matou"

Ginny sentia o peito dele subir e descer enquanto ele respirava e a mão gelada dele fazendo um desenho abstrato em sua cintura. Sentia-se mal por estar gostando de estar com ele ali.

"E Scorpius? Como ele está?"

Draco colocou o braço que não estava abraçando-a na cabeça e Ginny achou que ele fosse começar a chorar novamente.

"Da forma que um garoto de onze anos estaria quando sua mãe morresse."

Ginny entendia perfeitamente isso. Não fazia um ano que Harry tinha morrido e deixado para trás os três filhos.

"Ele não sabe que foi suicídio." Draco continuou "Meus pais disseram que ela bebeu uma poção por acidente"

"É melhor assim, eu acho" Ginny abraçou o peito de Draco colocando seu corpo mais próximo do dele. Não queria sair de lá nunca mais.

Draco olhou para baixo e beijou o topo de sua cabeça. Parecia tudo tão certo. Parecia que os dois eram realmente um casal falando sobre a ex-esposa dele.

Poderia ser assim se Hermione descobrisse o antídoto.

"Talvez o antídoto funcione" Draco disse provando que estavam pensando a mesma coisa "Talvez seja irreversível"

"Talvez" Ginny concordou e o abraçou com mais força.

"Mas não sei se eu arriscaria..."

Ginny levantou-se e deitou de bruços sobre o peito dele.

"Draco..."

"Não Ginny..." ele a interrompeu "eu não posso arriscar. Você não sabe o que tem em jogo!"

"Não pode ser tão ruim assim, quero dizer. Se foi Snape quem fez!" ela precisava se convencer disso também. Mas Harry tinha lhe contado tudo. Harry confiava em Snape! Porque Snape faria alguma coisa tão ruim assim se ele estava ao lado de Dumbledore?

"Você realmente confia em Snape? Depois de tudo o que ele fez? Depois de matar Dumbledore, de transformar Hogwarts em uma extensão do quartel de Voldemort, depois de..." ele não podia continuar e Ginny sabia.

"Snape era agente duplo, Draco" sentou-se de pernas cruzadas ao lado dele "Ele matou Dumbledore à pedido do próprio e não porque Voldemort pediu. Ele matou Dumbledore, porque Dumbledore ia morrer de qualquer jeito e ele não queria que você o fizesse. Ele não achava que você pudesse se recuperar disso. Ele salvou Harry por tantas vezes que você não acreditaria. Snape não faria qualquer coisa que pudesse realmente me prejudicar! Eu nunca fiz nada para ele, porque ele faria isso?"

Draco a olhou sem responder e suspirou. Queria falar, ela sabia, mas não podia.

"Não sou só eu que estou em perigo, né?" ela perguntou começando a entender.

Ele não respondeu novamente, apenas a olhou.

"Você também?"

O silêncio dele lhe era confirmatório.

"Sua família?"

Nem uma palavra.

Ela deitou-se novamente em seu peito e ficou ouvindo-o respirar.

"Me conte mais sobre Snape." Ele pediu com a voz rouca "como você tem tanta certeza de que ele não estava traindo Dumbledore?"

Ginny sorriu. Pouquíssimas pessoas sabiam daquilo, mas ela não achou que estaria manchando a história de Harry se compartilhasse com Draco.

"Ele era apaixonado pela mãe de Harry. Lily." Ela pôde sentir Draco olhando para ela, mas não olhou de volta. Continuou apenas ouvindo sua respiração e seu coração "Eles se conheceram antes mesmo de entrar em Hogwarts e ele sempre foi apaixonado por ela. Snape jamais iria perdoar Voldemort por tê-la matado"

Draco abraçou-a com força.

"Você tem certeza disso?" perguntou com um fio de esperança impossível de disfarçar.

"Absoluta, porque?" ela respondeu olhando para ele. Será que ele tinha a resposta agora? "Você acredita que seja irreversível agora?"

"Não. Eu acredito que não precise ser"


NA: Pois é... reta final, minha gente. Estamos quase lá! ; )