Prólogo

O sol estava nascendo na terra de novo. A manhã era uma das minhas horas favoritas. Eu quase podia sentir a brisa fria da manhã soprando, enquanto eu assistia à aurora colorir o céu com espectros de cores vivas. Era uma hora calma para mim, uma hora pacífica. E todas as vezes em que me era permitido eu assistia o nascer do sol. Não sei se era a sensação de ver o brilho vívido do astro invadindo a terra que me dava a ilusão de que havia alguma coisa iluminando a minha alma também.

Era uma ilusão boba, minha alma estava trancada em sua própria madrugada eterna. Mas mesmo sem poder sentir o calor, ele me aquecia. Figurativamente, eu acho.

Ainda assim, o amanhecer me trazia uma carga boa, um dia que nasce de novo, todos os dias o sol morre no horizonte como uma chama simples que se apaga, mas ele nasce no dia seguinte com todo o seu brilho. É bom pensar que a vida das pessoas é assim também, isso faz com que o que eu tenho que fazer pareça menos horrível.

Porém este amanhecer não me seria permitido assistir. Ao invés disto eu tinha trabalho a fazer e mais uma vez isso parecia partir-me em um pedaço menor. Era difícil para mim, difícil demais, cumprir minhas obrigações.

Não exatamente pelo trabalho, mas porque eu sempre acabava sentindo demais, eu sentia os humanos em volta, aqueles que estavam sendo deixados para trás. E o que eles sentiam, era dor. Era o único sentimento que eu conhecia bem.

Quando eu cheguei ao quarto onde me esperavam, mais uma vez a dor tomou conta de mim. Eu tentei ignora-la, mas era impossível. Não olhei para nenhum dos outros humanos presentes no quarto, apenas para a mulher deitada na cama. Seu corpo cheirava a uma coisa amadeirada, como todos nessa hora, um perfume fúnebre e doce. Meus dedos percorreram a pele sem cor sem senti-la, era triste ter que levar alguém tão jovem. Pousei a mão sobre o topo de sua cabeça, os cabelos longos e negros escorriam em torno de seu corpo pequeno. Suas feições eram gentis, seus olhos semi-cerrados eram de um castanho puro e ainda brilhavam nos últimos instantes. Nem ao menos percebi quando comecei a cantar, a melodia tão conhecida fluía de meus lábios sem que eu quisesse, se eu tivesse a escolha...

Sua alma era pura, eu podia perceber. E eu fechei meus olhos quando o brilho dela começou a se tornar mais evidente: Ela estava partindo. Eu ouvi as vozes em volta se agitando, mesmo os humanos, muitíssimo menos sensíveis do que eu, podiam perceber quando uma alma partia, mesmo que não ouvissem meu canto ou vissem seu brilho.

E mais uma vez a onda de dor lancinante invadiu meu peito, de formas variadas, de pessoas diferentes. Sem poder evitar, abri meus olhos, sem conseguir me conter. Junto com a dor, nascia uma necessidade de saber a quem eu tinha machucado, mesmo sem a intenção.

Foi então que eu o vi pela primeira vez, encolhido no canto do quarto colossal da mansão vitoriana, estava aquela criança. Envolta ainda havia outra criança, pouco mais velha e um homem, mas minha atenção ficou presa no menino. A dor que eu sentia de sua alma era aterradora, o sentimento de perda e de solidão. Seus olhos violetados estavam marejados e eu podia ver na luz de suas lágrimas todo um espectro de cores tristes.

E pela primeira vez eu senti algo diferente de toda aquela dor e eu tive certeza de que aquele sentimento era meu e de ninguém mais. Um sentimento quente, forte. O menino olhava para mim, como se pudesse me ver. As crianças têm uma sensibilidade maior que a dos adultos, mas a daquela criança era impressionante.

Eu me aproximei dele cuidadosamente, e ajoelhei no chão, ficando da mesma altura dele de pé. Meus braços o enlaçaram para perto e seu choro ficou mais forte, eu sentia o que ele sentia, eu sabia que aquela era a mãe dessa criatura tão pequena, e eu queria poder confortá-lo.

E foi na primeira vez que eu o vi, a primeira vez que eu o amei, que eu o fadei ao seu destino.

Eu o fadei a ser sempre acompanhado pela morte.

OoO

Olá pessoas, sim isto é um prólogo, logo, sim, isto significa que existirão outros capítulos. Eu, pessoalmente, os estou chamando de partes.

Essa fanfic é um romance sobrenatural – eu estava com vontade de escrever um amor impossível há muito tempo, mas geralmente os motivos sempre me parecem idiotas demais! -, e sim, a personagem principal é a Kagome e como vocês puderam notar, ela é a morte.

Vale a ressalva de que a fanfic não possui humor ( apesar de isto ter ficado bem claro com o prólogo. ), eu pretendo dividi-la em três partes que faltam muito pouco para estarem completas, o gênero é o Romance, o Sobrenatural e o Drama. Mas como o drama fica um pouco mais em segundo plano, a fanfic vai ficar configurada como Romance/Supernatural.

Eu adoro abordar a morte. É sério, matar personagens é duro, é complicado, eu admito. Bom, pelo menos para esta pobre autora é. Mas eu gosto de imaginar a morte com uma identidade, e esta em particular, está se mostrando bastante interessante para mim.

Eu estou adorando trabalhar e desenvolver os conflitos e a personalidade de uma coisa tão banalizada, mas ao mesmo tempo tão insuportavelmente série como a morte. É um desafio muito, muito estimulante.

Para falar a verdade eu não acho que esta fanfic tenha o perfil da – maioria, ao menos. – dos meus leitores do . Se não agradar, desculpem, este projeto eu sou obrigada a admitir que foi muito mais para mim do que para vocês.

Eu simplesmente queria. E 'Destino sem Luz' nasceu.

Terminando por aqui, já que não há a mínima necessidade de uma grande nota, espero que vocês aproveitem e deixem reviews expressando suas opiniões! E muito embora não possua o menor direito de reclamar, confesso que fiquei um tanto magoada com a queda no número de reviews à República. Foi vertiginosa.

Mas acho que mereci.

Enfim, beijos pingüinzinhos, como sempre, eu me vou. Faniicat.