Velas
"Chrno?"
"Sim, Rosette?"
"Você não vai me deixar, vai?"
A chama da vela tremulou
"Não. Não vou a lugar nenhum."
X
Para contar a vida de Rosette Christopher, teria que começar muito depois de seu nascimento. Afinal, até seus catorze anos, ela não tinha vivido. Tinha respirado, andado, comido, bebido. Tinha sido uma boa criança, sem pais e sem amigo nenhum no orfanato. Unira-se ao convento por não saber o que fazer. Mas não tinha vivido.
A história da vida de Rosette Christopher começaria numa madrugada escura, enquanto uma porta batendo a mantinha acordada. Depois de se revirar horas na cama, levantou-se. Acendeu uma vela e começou a andar pelo corredor da área das noviças.
Achou que teria medo, mas não tinha. Os corredores escuros não pareciam ameaçadores: eram limpos, tranqüilos. A porta que dava para o jardim do convento estava entreaberta, e o vento a balançava.
Devia fechá-la e voltar para a cama, mas abriu, por curiosidade, uma fresta.
Não esperava que houvesse alguém lá. Mas havia. Era um garoto. Ou pelo menos ela achava que era. O último garoto que vira fora seu irmão, falecido há onze anos. Mas, pelo que sabia, não era normal garotos terem cabelos roxos. Ou orelhas pontudas.
Ou olhos vermelhos.
"Oi."
"Oi," Ela respondeu sem medo. "sou Rosette. E você?"
"Chrno." Disse. "Quer ver uma coisa?"
Rosette fez que sim, e o seu novo amigo a guiou até o cemitério, bem fundo no quintal do convento. A noite estava muito escura, mas a vela iluminava o caminho e Rosette perguntou-se porque sentia medo daquele lugar.
"Olha," Ele apontou uma sepultura. O nome já estava desgastado. "é de uma mulher que morava aqui. Um dia, ela viu o reflexo da lua no lago ao lado da torre. Ela queria as duas luas: a do céu e a do lago."
O vento fez a chama da vela tremeluzir. "E o que aconteceu?"
"Bom, ela conseguiu. Sua alma pegou a lua do céu; seu corpo, a do lago. Não é bonito?"
Rosette estava ficando com medo. Protegeu a vela para que não se apagasse.
"E esse aqui," Ele se voltou para o túmulo atrás de si. Era extremamente pequeno, apenas uma cruz de madeira. "esse é o meu."
Além de seus ouvidos, ninguém escutou—apenas a vela—, então ela correu.
Correu para dentro do convento e bateu a porta, respirando alto. Estava agitada demais para notar a base de prata escorregando de suas mãos, as chamas começavam a se espalhar no chão de madeira. Enroscou-se como uma bola. Esperou.
O incêndio da Ordem de Magdala foi grande o bastante para a cidade inteira ver. Ninguém se deu conta da falta de uma menininha quando evacuaram as noviças.
Tampouco acharam seu corpo ou tiveram notícias desde então.
Morrido, fugido para um lugar onde fogo não é problema, encontrado seu grande amor, ou tudo isso.
Ela desapareceu como a chama de uma vela ao ser soprada... A chama que ninguém sabe para onde vai depois que se apaga.
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Mais um para a gincana MDF! E o tema da vez era... (adivinharam?) Velas!
Essa fic contém uma menção a um famoso poema brasileiro do meio... adivinhe qual é e ganhe um cookie. Ei, peraí! Não eu! Outro cookie! Em alguns momentos ela também lembra a um certo conto de Neil Gaiman.
Eu estava escrevendo, toda contente, mega feliz porque achava que estava ficando bom quando me toquei, (lá pelo "esse é o meu.") que estava quase excedendo o limite de palavras!! Aí eu escrevi meus clássicos finais ENTÃO NESSE MOMENTO A PESTE NEGRA ASSOLOU A EUROPA E ELES MORRERAM (algo nessa linha). A Lila, revoltada, mudou meu final herege para esse. Tivemos que cortar muita coisa para caber!
Enfim, espero que tenham gostado.