N/A: Só em casos extremos eu coloco uma nota no início, pq as pessoas querem ler e eu vou impedi-las com coisas menos importantes? Tia Jaque nunca faria isso, que coisa feia…

Uma obra não pode ser feita unicamente de inspiração, tem que haver hard work! E este me acompanhou como uma sombra durante o último cap… Uma sombra maligna! Mas no fim continuava uma porcaria, então não acho que tenha servido e.e'

Pois é, a minha demora foi porque nada decente saiu da minha caixola e poxa, este é o último cap, NÓS merecemos coisa boa! Mas Jaque, isso é só uma fic… Vc não tá ganhando nada c/ isso… Fuck it! Não importa o que for que vc esteja fazendo, sempre dê o seu melhor

Queria agradecer todas as reviews que recebi, algumas foram muito especiais e gentis e carinhosas e AMOV6!, e outras foram tímidas, muito duras até e outras me colocaram super pra baixo (ODEIOV6! -ê). E tudo faz parte, simplesmente por terem o trabalho de comentar… Mentira, vão pro inferno! HSUAHSUAHSAU

Cacto-sama é prova do qnt me senti culpada, inútil, imprestável, um cocozinho, um zero a esquerda e afins. Eu tentei e tentei, mas n saia nada (eita prisão de ventre maledita! ¬¬9).

Tá bom já, queimei o meu filme de-mais. Obrigada pela atenção e se possível, apóiem minhas outras estórias, ok? [=


It doesn't matter who's wrong or right

Memórias (parte VIII)

N/A: James - 18 anos; Lily - 14 anos.

Eu vivenciava aquele período da vida em que você já é grandinha demais para fazer besteiras e tolices, e apenas uma criança para sair e voltar um pouco mais tarde para casa.

A indecisão dos seus pais no início lhe aborrece e você clama aos céus por justiça e para que alguém, na terra, lhe entenda. Afinal nossas vidas giram em torno, basicamente, disso: procuramos ser compreendidos, por isso nos reunimos em panelinhas (ou tribos, ou grupinhos), em busca de sermos reconhecidos e aceitos pelo que somos, sermos entendidos.

E quando a fase de se irritar com o que seus pais vivem buzinando nos seus ouvidos termina, você se questiona se no fundo eles não possuem um tantinho (quase inexistente de tão micro!) de razão. Agora, isso só ocorrerá se você for uma pessoa com atestado de loucura pendurado na parede do seu quarto. O meu caso, infelizmente.

Você se questiona se é um rebelde, como eles dizem… E seria um rebelde como Uchiha Sasuke, ou como James Dean? Porém o que mais importa é que o seu organismo inocente e outrora saudável contraiu a famosa gripe dos seus pais. Prova disso é a constância com que a palavra "rebelde" lhe persegue.

Em nenhum segundo você foi rebelde porque questionou o horário que deveria retornar para casa, muito menos quando não concordou em trocar seu domingo com os amigos pelo aniversário daquela prima da tia do padrinho da sobrinha do avô da cunhada do seu pai!

Você não foi rebelde, você só… Cresceu e está formando sua opinião. Coisa que seus pais não aceitam com facilidade, pois eles são humanos e têm medos, assim como receios. Como a maioria da humanidade, mudanças causam resistências e você está atravessando a maior mudança da sua vida!

Do filho que acatava tudo que lhe era dito, do filho que via seus responsáveis como os heróis infalíveis, você se tornou alguém com poderes de julgar e expressar o que seu âmago clama e, cuja razão mais afinada é capaz de lhe apontar um segundo e terceiro caminhos. Não que existam caminhos errados, ou certos. Existe o mais adequado para cada realidade individual e familiar, cabe a você sentar com seus pais e achá-lo, alicerçados numa relação equilibrada e construtiva para ambos.

E isso não é fácil.

Resumindo, esta era a principal causa de meus problemas, não a única. Como se não bastassem os problemas em casa, na escola eu era a marca-encontros das garotas com James Potter. O que justificava a minha única expressão facial ser uma grande carranca medonha.

Que não me levem a mal, eu sou do tipo de garota que ajuda quem estiver precisando. Se estiver ao meu alcance, se eu puder fazer algo, farei o máximo possível! Contudo, isso já é demais!

E não que eu me orgulhe do que direi, e direi de qualquer forma. Acompanhar por mais de uma década como a vida desse… garoto é fácil, começou a ser mais um problema na minha lida diária.

- Oi Lily, carona? - a mão do dito cujo zuniu parcos centímetros acima da minha orelha e ao fincar suas garras no meu último pacote de biscoitos (sobre a penúltima prateleira do meu armário), ela sumiu no seu caminho de volta, raptando o que era meu.

Pensando no capeta...

- Devolva o meu biscoito - ordenei ao esquecer meu armário aberto, assim como os bons modos que minha mama me ensinou com delicado esmero através de chineladas, ao lhe voar no pescoço.

É completamente compreensível a minha agressividade.

Os biscoitos foram feitos com muito amor pela minha avó! Eles contêm sentimentos e votos muito valiosos entrelaçados aquele doce de forma tão especial para mim.

Além do que, eu sempre interpretava o capim, a árvore, o estábulo, o burrico e a pedra nas peças da escola… Precisa-se mencionar que o James era o protagonista, sempre?

E após todos esses anos de humilhações, sofrimentos, choros e juras de vingança, ele ainda rouba o meu biscoito?!

Há. Há. Há!

- Tudo isso por um pacote de biscoito? - ele estendeu o braço de maneira que o objeto (o qual era de minha posse, inteira e somente minha!) estivesse nivelado junto aos meus olhos.

Desconfiada, procurei por algum sinal de má intenção pela feição de Potter. Ainda cautelosa e cem porcento concentrada na operação de resgate ao meus deliciosos e macios biscoitinhos feitos pela minha vovózinha amada e querida, movi meus dedos lentamente e…

- A não ser que alguém tenha lhe dado isto… - o pacote estava longe de mim de novo.

Sabia!

Nunca as coisas se dão de um jeito fácil para mim.

- Foi aquele imbecil da sua sala? O…

- Não foi ninguém Potter! Pare de esfregar na minha fuça que nenhum cara se interessa por mim, okay? Eu sei que não sou atraente e pra que você precisa fazer isso toda vez?

Como se a vovó não fizesse biscoitos para ele, a quem ele pensa que engana? Era somente mais uma maneira que ele havia descoberto para pisar no meu já espatifado nome.

Um sorriso pintado com a convicção de vitória apagou o pouco de tensão que contraía o rosto de James, me deixando inquieta quanto a próxima frase pejorativa dele.

- Heey, calma estressadinha - dito e feito, muito confiante ele deslizou a porção dorsal de seus dedos, indicador e médio, pela minha bochecha.

- Eu não 'tô estressada Potter! - mandei a porcaria da calma para Marte, o meu berro completamente condizente com a minha afirmação - E quer saber? Eu desisto de tentar entender qual é a sua e pode ficar com a merda do biscoito.

- Peraí Lily! Precisamos conversar!

- Sobre seus encontros duplos e triplos? - voltei-me para ele a fim de que a minha ironia fosse bem evidente.

Palavras precisam de um olhar de desprezo, que significa: morra lixo!, para se fazerem mais eficazes.

- Que encontros? Eu não tenho saído com ninguém por quatro meses seguidos!

Momento para esconder o meu choque.

- Por que essas assanhadas continuam me procurando?! - medi-lhe com os olhos, aguardando atentamente a sua reação para pegar-lhe na mentira.

As orbes de James brilharam e ele ajeitou os óculos sobre o nariz.

Pronto, vinha bomba. Ele me diria que não tinha mais encontros, só algo como orgias na casinha da árvore do filho de três anos do seu vizinho!

- Em nenhum momento eu disse que você não era atraente…

Imagine alguém perdida no meio do tiroteio e acrescente cabelo ruivo, essa sou eu. Cada hipótese absurda que formulei para explicar o que ele me falara. A ganhadora era a de que as meninas usavam a desculpa de que queriam um encontro com James para provocar ciúmes em mim e ganhar um encontro comigo, ou simplesmente ter uma chance de falarem com a minha ilustríssima pessoa e alimentarem sua paixão ardente.

Não conseguindo apreender nada lógico do que meu primo dissera, automaticamente lhe segui até o carro e em estado alfa aceitei sua carona.

- Não entendi… - frustrada, admiti, quando meu cérebro cansou de cogitar possibilidades e não obter conclusão nenhuma.

Já estávamos em frente de casa.

Cérebro leeento. E inútil.

- Você é nova demais para essas coisas - ele retrucou, rapidamente correlacionando a minha frase com o último diálogo que tivemos.

Como se não bastasse os meus pais dizendo isso a toda hora.

Fiz uma careta e procurei por alguma peça íntima esquecida pelo automóvel, reacesa a minha cisma por provar a (suposta) mentira de James. Esse era um truque batido, muito usado pelas garotas que se aventuravam com ele (numa aventura muito depressiva, convenhamos). Elas usavam o próprio traje esquecido no carro para intimidar as outras (marcar território que nem cachorro faz xixi no poste), ou acreditavam (tristemente) que ao deixarem um sourvenir estavam sendo super ousadas e únicas, ou usavam como pretexto para um segundo encontro o retorno da peça para as suas mãos.

Elas surpreenderiam os professores de redação com as suas criatividades.

- Já lhe disse. Quatro meses - ele contra narrou a minha busca, não soando ofendido pela minha falta de crença no que ele nomeava, ilusoriamente, de conversão.

- Hum… Por que Carlo me disse que você está mais inquieto do que o normal? - sondei, evitando encará-lo para não mostrar o quão era importante essa pergunta para mim.

James relaxou no banco e repousou a nuca sobre as mãos.

- Inquieto? Diria tranqüilo. Pela primeira vez na minha vida estou vendo claramente.

- Te disse para ir no oftalmologista - retorqui, jocosa.

- Pode zombar, mas é a mais pura verdade.

- E qual o motivo dessa enorme e chocante mudança em sua vida? - ignorei o piegas na minha indagação.

- Tudo precisa de um motivo? - e até então James estava se saindo muito bem no meu teste, aparentava estar sendo sincero.

Droga…

- De uns tempos pra cá as garotas têm andado mais alvoraçadas do que posso agüentar e isso é inteiramente culpa sua, seja lá o que você estiver ou não fazendo - apontei-lhe o peito com minha lapiseira de coração - Ou seja, eu tenho direito de saber o que está acontecendo por aqui - inclinei-me sobre o vão onde se acomodavam o freio de mão e a marcha, aproximando-me de James ao invadir seu espaço.

Faz parte do meu plano de intimidação.

- A sua forma de intimidação nunca funcionou comigo Lily. E não será agora que irá - ele sorriu.

Espertinho...

- Não dói tentar - ajustei-me mais confortavelmente ao assento.

- Às vezes acho que deveria te ensinar algumas coisas… - ele falou, pensativo e sério.

Como se existisse seriedade em cogitar se tornar meu professor de taradices e perversões. Se eu fosse um garoto até que ia, James precisa se lembrar que eu sou uma menina e não me alegra ficar ouvindo essas coisas, fala sério!

- Coisas como tirar o sutiã de uma menina ainda vestida em dois segundos? - interpelei sardônica.

James assobiou agudamente - Como exemplo eu teria que pegar você - e piscou com um meio sorriso safado.

Alguém precisa dizer para ele que isso é pedofilia. Eu ainda sou uma criança e muito inocente, por favor.

- Quem precisa treinar sou eu, você que usaria o sutiã querido - rebati sem piedade.

Anos de convivência com esse sem vergonha.

Ele suspirou - Seria legal você me deixar ganhar as discussões de vez em quando…

Vê se pode?

- Okay James. Estou super envergonhada porque você vai tirar meu sutiã - revirei meus olhos e arrumei meus pertences sobre as pernas.

Ele riu - Não tem porque estar, não tem nada que eles segurem - e riu mais.

E dá nisso a minha compaixão por esse menino…

- Não sei porque eu tenho a leve, apenas leve, impressão que te abduziram quando bebê e trocaram o teu cérebro por o de uma lesma!

- A minha piada foi melhor - ele se gabou.

- E a mais velha. Tão velha que, alo-ou senhor sabichão, eu já tenho peitos - estiquei minha camiseta na região do busto.

- Isso não é enchimento? - ele pelo menos teve a decência de parar de rir e olhar para os meus seios.

Mesmo que isso não pareça muito decente.

- Você acha que a minha mãe me deixaria usar… Hey!!! O que você pensa que 'tá fazendo?! - pulei para longe de suas mãos ao proteger o que era meu.

- A única forma de saber se é enchimento ou não é tocando - ele comentou como se todo mundo fizesse esse tipo de coisa, tão naturalmente quanto se passa a mão na laranja do supermercado para comprá-la.

- Você não presta! Eu sou sua prima, esqueceu?! - enlouqueci, não deixando de defender meu busto.

- Quem começou? Você 'tava esticando a blusa e empinando suas tetas pra mim!

Tetas?! Meus seios novinhos foram chamados de tetas?! Que ultraje é esse!!

- Eu não 'tava me empinando! Se você entrou em celibato não é minha culpa!

- Você não pode dizer isso moça do eu-tenho-peitos-grandes-pode-olhar-Jay-mas-não-toque! - ele afinou a voz e circulou o próprio mamilo com a ponta do indicador, ao me arremedar da pior maneira imaginável.

- Meus peitos não são grandes! - abri e fechei as pálpebras inúmeras vezes, abismada tamanha a audácia da criatura - E eu não fiz isso! - fitei-lhe dividida entre lhe arrancar a cabeça ou sair correndo para contar para o papai.

Nessas horas a regressão é inevitável.

- Uma coisa é ver - ele contemporizou, circunspecto como se fosse ele a determinar com quem eu teria meu primeiro amasso e agiu desse modo, porque com certeza não era ele que tinha os intocáveis (peitos) prestes a serem estuprados pelo primo tarado! - Outra medir - ele imitou uma balança antiga de dois pesos com as palmas das mãos.

- Sonha James - rosnei e apertei meus braços com mais ímpeto sobre meus preciosos e virgens seios.

- Você pode não ter feito desse jeito - ele prosseguiu ao repetir a sua péssima e infiel imitação da minha ação evidenciadora de meus duplos atributos torácicos e, eu revirei os olhos pela segunda vez, não admitindo que ele estava parecendo hilariamente ridículo fazendo aquilo - Mas que foi deste, foi.

Aí ele fez pior.

Um sorriso malicioso para dar inveja a prostituta mais ordinária, a famosa piscada sexy enquanto lambe a polpa digital do indicador e a encosta no mamilo, produzindo o som de chiado durante a evaporação da saliva ao encostar no seu corpo quente.

- Isso é um traveco! - ri.

- Pois é - ele voltou ao normal - Foi assim que você fez Lily - e bagunçou os cabelos, tendo sua dose de palhaçadas diária saciada.

- Que mentira! - continuei rindo.

Ele me assistiu até minha gargalhada morrer e as fisgadas dolorosas no meu flanco surgirem.

- Brincadeiras a parte, precisamos conversar - ele se desgrudou do espaldar do banco e se reaproximou de mim, a pose descontraída pertencia a outra pessoa, não a ele.

Demorou para que eu absorvesse as alterações no seu comportamento, já que o seu perfume me amoleceu os sentidos com a sua aproximação repentina, e seu rosto sério analisado assim de perto transpirava um ar que eu raramente percebia nele.

James estava adquirindo traços mais másculos e perdendo a aparência que restava de menino, exalando responsabilidade também.

Minha vontade de rir se pulverizou depois da minha constatação.

- Estou indo embora.

Esperei a continuação, a qual não veio.

- Indo embora? É pra eu sair do carro?

- Indo embora de Calenzano - ele especificou.

- Huh? - um monossílabo foi a única coisa que meu cérebro conseguiu articular.

E a primeira sensação que tive é que haviam me sugado para fora do meu esqueleto pelas costas e eu podia analisar nós dois dentro do carro, como um telespectador acompanhando a novela do conforto do seu lar.

A segunda era nada.

Eu não senti nada. Eu não acreditei em nada. Eu não quis acreditar!

- O que eu quero não 'tá aqui - ele prosseguiu me obrigando a agir, caso contrário ele poderia ir embora agora!

Ao menos era a sensação que tive. Então, eu precisava falar, eu precisava organizar os meus pensamentos caóticos para impedir essa loucura!

- Tá, peraí! - inalei o volume limite de fluido que minha caixa torácica comportaria, cerrei minhas orbes e expirei - O que você quer James? Como pode dizer que não 'tá aqui?! Você mesmo disse que nem sabia o que queria! - e eu precisei parar, porque não era humanamente cabível continuar.

Garras invisíveis e de unhas afiadas estavam se afundando em movimentos frenéticos sobre o meu estômago, a sensação de que uma corda estava se insinuando pela minha cabeça e se estreitando ao redor do meu pescoço era mais sólida do que a figura de James ao meu lado, tanto quanto a massa disforme e áspera que se arrastava pela minha garganta originando pulsos de dor pelo local e dificuldade para respirar.

- Eu quero mais Lily, eu quero oportunidades. Eu quero poder seguir um sonho, quero...

- E que sonho é esse James, ahn? Você não sabe o que quer, você nunca falou sobre essa idéia absurda comigo! O que é uma prova de quão inconsistente ela é!

Pausamos, eu não mais lhe olhando de tão possessa com essa decisão cheia de infantilidade e frivolismo e… e… fogo de palha! E ele...

- Nós nunca conversamos sobre isso porque eu sabia que você agiria assim - ele tomou as minhas mãos e as envolveu com as suas, depois de beijá-las carinhosamente enquanto que eu petrifiquei, com mil e uma emoções fervilhando na minha cabeça, bem ali, diante dele - Só que não dá mais pra adiar, viajo amanhã pra Londres.

A sua voz não fez eco, ao passo que eu permaneci estática, aguardando acordar na minha cama ensopada de suor e para sempre esquecer esse pesadelo. Nem vi a minha vida passar como um filme perante aos meus olhos.

Essa coisa típica de filme e livro, que não me acometeram. Nem direito aquele momento clímax da história da minha vida eu tive direito. A verdade é sim, nua e cruel.

Não conseguindo encarar James, pulsos anestesiantes subiam pelas minhas pernas e braços, e eu pensei: para quê me enganar? Eu já esperava que ele me dissesse isso. Logo, não era mais um choque. Para ser mais sincera, eu sabia cada letra que sairia por aquela boca. Porém, um pedaço ingênuo de mim se pregou na porcaria do banco, esperando miraculosamente que James não me dissesse isso.

Aí, com mais ódio por ter permitido esse pedaço idiota de mim comandar geral, saí chutando o que estivesse no meu caminho.

Saí do carro, abandonando cadernos e bolsa, e descrevi uma reta em diagonal para pular o portão lateral de casa.

James não me impediu. Nem me seguiu.

E fez o certo! Não sou o tipo de garota que diz uma coisa e quer outra. Foge porque quer que corram atrás dela. Se eu continuasse ali… Eu diria coisas sobre as quais me arrependeria… Na verdade, eu já disse algumas…

Eu disse que James não sabia o que queria. Eu o critiquei por querer crescer! Por querer amadurecer e se tornar alguém melhor. Por tentar ser feliz e abraçar oportunidades e mudanças e… Eu… Eu…

Que tipo de pessoa eu sou? Como pude fazer isso? Nada justifica… Nada justifica porque eu sou a primeira a lhe chamar a atenção e tratá-lo rudemente quando ele se comporta sem responsabilidades, sem preocupações.

Isso só prova quão hipócrita, falsa moralista e mente limitada eu sou.

E foi exatamente aí que percebi. Sendo imaturo e saindo com uma cambada de garotas era o que criava o elo entre nós, por mais que o elo não fosse nada mais do que ele pegando esporro de mim. Contudo, a chance dele moldar a si, de acordo com os padrões exigidos por mim, foi totalmente execrada sem receber uma segunda consideração minha…

Falsidade, quanta falsidade... Fui falsa, pois do que constantemente reclamei me veria livre enfim e agora eu… Arrependo-me de ter reclamado. Agora eu não tenho o mais importante.

Ele.

E se eu lhe amasse o mínimo que fosse, não lhe impediria. Não porque fomos feitos para estar juntos, ou porque é destino, ou porque eu sei que ele voltará. Não. Porque eu não seria feliz desse jeito. Porque eu sou egoísta, muito egoísta. Egoísta ao ponto de não falar o que sinto para que ele possa ir. Egoísta por achar válido ele ter direito de procurar o que quer fazer lá onde Judas perdeu as botas e me deixar aqui. Sozinha. Sem ele.

- Lily, me deixa entrar, por favor - James bateu pela quarta vez na minha janela.

Velhos hábitos.

Ignorei a certeza de que não teria mais isso.

Egoísta por almejar que pequenos detalhes da nossa rotina nunca mudassem só para me satisfazer.

- Lily.

- Eu 'tô bem, é sério. Só preciso de um tempo sozinha - sussurrei, lutando contra o mar de dor e lágrimas que me afogavam, impiedosamente.

Egoísta por mentir unicamente para o meu própria bem estar.

- Você não me deixou terminar de falar, lá no carro - ele continuou, sua sentença não retida pelas brechas nas dobradiças da minha janela.

Oh Dio… Tem mais!

Algo como: não pretendo voltar… Conseguirei um visto permanente através de um casamento.

Egoísta por não ouvi-lo porque não desejo, porque não quero me esforçar para fazê-lo.

- Você… Você não pode esperar? Realmente não… Agüento mais ouvir nada de você… - cada sílaba que se libertava de mim simbolizava dar adeus a cada memória que partilhei com ele, cada memória minha sobre ele.

- Entendo…

Não me afastei da janela, o sol de meio-dia fornecia claridade razoável para que eu pudesse visualizar a sombra de James, através da cortina.

Ele permanecia ali.

O silêncio nos juntando e separando.

- Eu te amo Lily.

Chorei, chorei como se minha vida dependesse disso. Chorei por mim, chorei por pena de mim mesma. Chorei por nós, chorei pelo futuro que inconscientemente havia construído para nós, juntos. Chorei por, simplesmente, tristeza. E tudo se fundiu, se perdeu num borrão claro. Depois se espraiou em escuridão, em incerteza, em confusão. E o que era mais fácil se figurou no mais atrativo nesse período muito doloroso para mim. Vedei meus olhos. Aniquilei minha visão para o que acontecia. Descobri que fingir era a solução milagrosa.

Facilmente, fingir. Fingir que não era comigo. Que eu não estava ali. E que aquele não era James.

- Você me ouviu? - ele insistiu e o que me restava sentir, ouvir, ver, saborear, pensar e tatear era a dor.

Uma dor que nunca havia cruzado a minha vida.

- Lily... Por favor...

E Egoísta somente mais uma vez, uma última vez.

Por não dizer… Eu também te amo James.

Fim das Memórias (parte VIII)


Dor de cabeça era elogio para o que acordei sentindo. Não que ao me levantar, usualmente meu humor seja radiante. Entretanto, ele não é pavoroso, é meio termo, coisa que hoje ele não é.

- Lily, seu café - Carlo estendeu uma caneca para mim e a recuou ao reparar no meu olhar, estremecendo - Captado, sem café hoje.

- Alguém parece estar com péssimo humor… - a frase de James acertou o traseiro do búfalo.

Explicação relevante: leia-se Lily onde está escrito búfalo.

A partir daí, o silêncio imperou e nos materializou na Espanha.

Eu era o touro.

James o pequeno espectador que caiu na arena, por acidente...

- E de quem será a culpa? - o ar fugia em lufadas quentes pelas minhas narinas.

Não que o fato dele ter me rejeitado (coisa totalmente correta e compreensível no ponto de vista da Marlene Judas!) tenha algo a ver com o meu humor. É mais claro que meio dia no deserto do Saara: fato sem conexão alguma!

Avancei mais aborrecida para cima dele, aborrecimento este causado pela formiga que estava no meu caminho. Formiga de cabelos arrepiados e sorriso cínico!

- Sua? Talvez… - ambos meus indicadores agiam como facas afiadas, escolhendo vários lugares para se fincarem na carne dele - Me diga James Potter, você se sente culpado?

Se antes ele fugia de mim, significava que ele precisava igualmente escapar de um desejo incontrolável. Essa hipótese louca teria um pouco de lógica. Porém, se ele já estava falando comigo e agindo como se o que aconteceu nem tivesse ocorrido, significa que não existe mais um insaciável desejo!

Ele nem desviava do meu contato! Por mais que seja mais sova do que algo sensual… Não importa. E pior! Ele nem deu uma checada no meu decote!!!

Ruiva entrando em desespero aqui, por favor.

Observei James suspirar e bagunçar os cabelos, desprendendo-me de minhas conjecturas negativas.

- Me desculpe, okay? - ele pediu, seus olhos transparecendo toda a verdade que seu tom continha.

- Ele é virgem Lily! - Carlo se intrometeu no meu momento.

- Cala a boca! - eu e James gritamos, obrigando o dito cujo a retornar para o seu cantinho, resmungando: "estressados".

Sei que uma parte de mim costuma debochar das pessoas apaixonadas que fazem besteiras. Contudo, bem dosado chega a ser bonitinho. Tipo, juntar as mãos em adoração, babar e chorar diante de um rompante fofuresco do que cara que você ama pode acontecer com as mulheres mais duras.

Não que eu estivesse agindo assim. Que isso!

Lily Evans é mulher que não se curva, ponto.

- Prometo que farei as coisas da forma certa - ele continuou e ao sorrir, me fez enxergar estrelinhas e coraçõezinhos e florzinhas e inúmeros inhos, me envolvendo num abraço delicioso.

- Estão gravando uma novela, é?

- Ignore - James sussurrou no meu ouvido, não se afastando um centímetro sequer de mim e despertando um arrepio gostoso pela minha espinha.

E mesmo que ele tentasse, meus braços estavam muito bem enrolados e alegremente acomodados pelo seu corpo, obrigada.

- Olha a aula, a menina vai ser reprovada…

- O que você quer, hein? - brandi meu punho para Carlo, minha artéria temporal pulsando de raiva - Um pouco disso, é?! - balancei freneticamente meu braço e James me segurou.

Ele não precisava usar as mãos para ter me calado e imobilizado, bastaria um olhar. E com um meio sorriso, orgulhosamente desfilando pelos seus lábios, ele encurtou a distância entre nossos rostos e me beijou.

Eu, literalmente, esqueci de tudo. Beijos não esperados são esplêndidos...

- Ai meus olhos… Vão pro quarto!

E são arruinados quando se tem um primo chato ao seu lado.

Quase sentindo dor, me afastei de James - Me dê licença, só um segundinho? - e ele anuiu, cúmplice e levemente sorrindo.

- Você, seu sem vergonha! Encontrei outra calcinha debaixo do sofá da sala! - acertei-lhe um coque na cabeça, enquanto ele tentava se desvencilhar de mais tabefes - E eu não tenho direito a um beijo em paz?! Seu hipócrita!

- Calma prima, calma… - ele contornou a bancada e se protegeu com a forma de bolo vazia, como se ela fosse um escudo.

- Vai pro quarto e só sai de lá quando eu mandar! - ordenei e ele prontamente obedeceu.

Não estou dizendo mesmo...

- Coitados dos nossos filhos… - James comentou, casualmente escorado no armário, cujos pedacinhos de menta brilhavam no achocolatado das suas orbes.

Claro que depois de ouvir isso eu me mantive seriamente calma. Imagina! Eu não estava me derretendo toda e muito menos tinha pulado em cima dele, lhe agarrando como um polvo pegajoso. Longe de mim!

- Por mais que esteja bom - ele me deu mais um selinho, acariciando meu ombro e braços, em volta do seu pescoço - Carlo está certo. Você precisa ir para a universidade e eu, para o trabalho.

Bem que podia ser feriado…

- Vamos, troque de roupa que eu lhe acompanho até o metrô - ele me incentivou e retirou minhas mãos de cima de si.

Soltei um muxoxo de desagrado - Mas eu já 'tô pronta - segurei a sua gravata, lhe puxando para mais um beijo.

- 'Tá brincando, né? - ele me impediu de beijá-lo ao se soltar do meu aperto - Você não vai mesmo com esse decote para Hogwarts - sentenciou, os pedacinhos de menta da sua íris soltando faíscas.

Pela primeira vez, eu cumpri uma ordem sua muito contente.


Nunca eu havia notado como os mendigos de Londres têm um bumbum tão sexy. Os passageiros do metrô, tão cheirosos e educados!

E Hogwarts então? Ela resplandece com suas milenares paredes cobertas de musgo e fuligem! Seus alunos sempre solícitos e esbanjando simpatia, falam com você embalados por uma melodia calorosamente harmoniosa.

E para receber todos nós em seus braços paternais, nos sorri da entrada, oferecendo conforto e amor, o bondoso senhor Filch.

Como a vida é bela. E meu dia apenas começou. Mal posso esperar pelo chá e beijo maternal da jovem e bonita inspetora Umbridge…

- Lily?

- Ahm? Quê?

- O que faz aqui? - Frank interrompeu a minha ligação astral com o ambiente ao meu redor, no principal corredor do prédio A.

- Vim pra aula, ué - ajeitei a alça da minha bolsa sobre meu ombro e me concentrei na figura do namorado da minha amiga, à minha esquerda.

- Bora pra cantina! - ele correu e me puxou junto, antes que eu pudesse me negar.

Será que ele precisa tão esfomeadamente de dinheiro emprestado para se alimentar?

- O que aconteceu??? - segurei desajeitada minhas coisas, temendo perdê-las na corrida desembestada que estávamos.

- Acho que Lice está encrencada. E não só ela, todas as amigas de vocês!

Quando alcançamos o local, uma grande roda de estudantes se amontoava no centro, cochichando entre si e berrando incentivos rudes, impossibilitando a nossa visão e audição de localizarem o alvo da confusão.

Empurrando e pedindo licença, atravessamos a multidão para ver Lice segurando uma descabelada Samara à direita e Aline, no lado oposto, uma estapeada Lene.

- Dio mío! O que vocês pensam que estão fazendo?! - gritei, enfim somando um mais um.

Era para o mundo ser belo, pacífico, hippie!

- Essa sua amiga violenta que começou! - Marlene se pronunciou sem uma boa fonética, os tapas deviam ter lhe causado dor o bastante para não conseguir articular direito a mandíbula.

- E teria repetido a dose, sua vaca! - Lice sofreu para conseguir conter Samy, esta se exaltando ao sacudir os punhos na direção de McKinnon.

Eita baixaria…

- Eu não acredito que tudo isso é por causa de Sirius Black! - exclamei, não querendo acreditar.

- Claro! - ambas me responderam.

Okay, tentar segunda abordagem. Alienação muito forte por aqui.

- Como assim: claro?! Ele não 'tá nem aí! E se vocês estiverem impossibilitadas de irem ao encontro com ele, aposto que ele arranja uma terceira sem piscar!

- Você quer dizer que ele já saiu com essa biscate?! - Samy me interpelou.

O-ou...

- Não disse isso! - exasperei-me.

- Há, engole essa Samara - Lene provocou, com um olhar triunfante, não que tenha surtido muito efeito com a sua cara inchada e vermelha.

- Ora, sua galinha depenada!

- Samara, calma! - Lice ainda mantinha controle sobre a nossa amiga fora de si, mas estava cada vez mais difícil impedir a briga de recomeçar.

Além da própria aparência da coitada, que era inocente. Depois ainda vem falar de mim, que andava como se tivesse sido eletrocutada na frente do Jay... Olha a cara de horror do Frank aqui!

- Me solta Aline, ela é capaz de me matar na próxima vez - ouvi Lene sussurrar horrorizada para minha amiga que a continha.

Aline não está tão mal assim... Como ela consegue?

O plano B era arrastar Samara dali, entretanto, nem eu estava querendo arriscar meu pescoço para intermediar e nessa indecisão, a pior coisa que poderia ter acontecido, aconteceu.

- O que está acontecendo aqui?! - Minerva surgiu perto de mim, buscando uma resposta através da expressão dos alunos ao redor com seu sexto sentido bruxo.

James, quero que você saiba que eu lhe amo, que eu tinha planos de ter cinco filhos mais um periquito com você, na nossa casa cor de rosa em Roma, e um fusca amarelo na garagem. Mas a vida injusta me impediu, eu te amo James! Pode nomear uma de suas filhas com alguma biscate de Lily, ou melhor: VIRE PADRE!

- Ela me atacou professora! - Lene prontamente quis escapar ao indicar Samara.

- E você estava me provocando, sua hiena!

Hora de correr pelo bem da minha futura família com James.

- Não importa, as CINCO vêm comigo, agora - McGonagall me paralisou com seu olhar de águia prestes a devorar a presa.

E lá vai Lily Evans Gaiardoni...

- Psst! Pst! - sussurrei para Samara, enquanto seguíamos na nossa fila da vergonha atrás da professora - O que deu em você, caramba?!

- Como o que deu em mim?! Defendi o que é meu! - ela andava de nariz erguido e arrumou as madeixas revoltas, a blusa esgarçada onde provavelmente Lene lhe agarrou.

- Ele não é seu - a Judas se intrometeu.

- E quem iria querer umazinha como você? - pronto, vamos recomeçar…

- Xiu vocês duas! - clamei.

- Estamos tão ferradas… - choramingou Lice, atrás de mim na filinha da vergonha, ainda em estado latismável.

Acho que ela perdeu o namorado...

- A Samy tem toda razão - Aline apoiou.

- Que razão o quê! Se ele fosse tudo isso elas não estariam brigando, ele seria homem o suficiente para deixar bem claro quem era sua companheira - afirmei ao chegarmos diante da sala do diretor.

- Óbvio que esse homem ideal e perfeito só pode ser o seu James - Lene disse falsamente meiga e não dei a mínima.

- Ainda restam dúvidas? - retruquei me sentindo por cima da carne seca.

- Aquele que se recusa a ir pra cama com você? - Samy debochou.

- Pois hoje de manhã ele me pediu desculpas, fiquem vocês sabendo - rebati vitoriosa e aumentei o volume da minha voz, pois McGonagall havia entrado na sala, nos deixando sozinhas.

- Desculpas por não querer você? - McKinnon despejou seu veneno e as quatro riram maquiavelicamente.

Belas amigas essas.

- Ele disse que a gente ia casar! - eu já estava praticamente suplicando por perdão, ao me ajoelhar e rogar também por um milagre.

- Quantos homens dizem isso?

- É vingança dele por você não ter o impedido de ir embora de Calenzano.

- Ele diz isso pra te abandonar depois.

- Lily, tem certeza? Ele podia estar de boca cheia enquanto falava e você entendeu outra coisa… - de onde a Aline tira essas idéias?

- Mas ele me ama!!!! - exasperação em pessoa berrando.

- Ele realmente disse isso?

- Ele mentiu, pfft!

- E você ainda acreditou?

- Com certeza ele é gay - Aline e suas conclusões.

De repente, os fatos se tornaram tão evidentes como nunca!

Quando McGonagall saiu do escritório do diretor...

- O professor Dumbledore está pronto para…! - ela se deparou com cinco garotas se abraçando ao chorar que homens não prestam.

É a vida, né?


E foi nesse clima ultra lúgubre que tive que cumprir minha aposta perdida para o professor Timothy. Um almoço na cafeteria Costa Coffee, não muito distante da universidade.

- Olá Lily - ele cumprimentou, ao me sentar na terceira mesa da esquerda, onde ele me aguardava pacientemente.

- Olá - fiz sinal para que um dos atendentes viesse até mim para anotar meu pedido.

- Ouvi a professora McGonagall comentar sobre o acidente de hoje cedo na lanchonete - ele ponderou suas palavras, observando minhas emoções, comedido.

Renasceu a sensação de depredar a infelicidade do carro da McGonagall, essa mulher...!

- Fui apartar a briga e acabei envolvida, fale em injustiça e julgamentos mal conduzidos… - desabafei após ter meus pedidos realizados.

- Espero que no fim tudo tenha se resolvido.

- No fim eu desejei não ter ido pra aula… - resmunguei ao brincar com um guardanapo.

Mega injustiça, e aquela velha caquética ainda se denomina professora!

- Timothy? - uma mulher negra e alta, aparentando praticamente a mesma idade que eu, com os cabelos presos num coque que lhe realçava os ângulos do rosto e com o uniforme da cafeteria perguntou.

- Oi Angela - ele se levantou para que pudessem se abraçar.

Eles pareciam velhos amigos. A conversa não durou muito porque ela estava em local de trabalho, ou eu não estava conseguindo me concentrar no que se desenvolvia ao meu redor após a confusão anterior, portanto minha medida de tempo transcorrido era falha.

Meu raciocínio só existia para encontrar meios de vingança contra Minerva, aquela marca de sabão barata!

- Perdida em pensamentos? - senhor Boardman apagou meus planos de vingança.

E não me tocando que poderia estar sendo indelicada, indaguei - Quem era?

- Minha ex-noiva.

Por pouco não cuspi meu café.

- SUA… - pausei para me recuperar do espanto - Sua ex-noiva?

- Isso, dois anos atrás - ele tomou um gole do seu capuccino, e eu engoli um litro de perplexidade de uma só vez.

Ele percebeu a minha cara de: "menino, me conta esse babado!" e sorriu, não demonstrando ter se ofendido.

- Antes de me formar, para pagar a faculdade dava aulas particulares. Uma de minhas alunas era Angela.

Vai ver que é por isso que ele é tão rígido em relação ao não envolvimento entre aluno e professor. Eu também seria! Quero dizer, assumindo que foi ela que desfez o compromisso…

- Os pais delas não aceitaram? - como eu sou discreta e respeito a privacidade dos outros.

- Não, não… Ela queria conhecer o mundo antes de ficar com um único homem para o resto da vida.

- Que legal da parte dela - comentei e rimos.

As feições jovens dele aparentavam sustentar anos de sofrimento, ele mexeu a esmo a colher na sua xícara. Permiti que ele levasse o tempo que quisesse para romper o silêncio.

- Talvez tenha sido melhor… - falou com o olhar perdido nos movimentos de Angela, ao carregar a bandeja com os pedidos dos clientes de um lado para o outro - Ela está mais feliz agora.

Como as pessoas que tanto amamos são capazes de nos fazer sofrer tanto? Eles eram noivos, um compromisso muito mais sério do que eu tive com James e mesmo assim, ela foi capaz de fazer isso?

A minha empatia pelo homem a frente de mim era muito grande. Eu poderia estar ali, no lugar dele, contando a minha história, sentindo a mesma dor, fingindo ter a mesma força, fingindo que eu realmente acreditava que do jeito que as coisas estavam era a melhor forma de terem acontecido e que não havia outra.

- Ou talvez não… - acariciei uma de suas mãos sobre a mesa e sorri, melancolicamente.

- É, ou talvez não - ele me sorriu de volta ao erguer a outra mão e afagar uma minha.

A vida, realmente, é capaz de estúpidas crueldades...

- Lily! Você por aqui?! - Sirius parecia ter nascido da brecha do piso como no conto de João e o pé de feijão, efusivamente alegre e exagerado, me assustando com a sua falta de naturalidade - E você, você é… - ele estendeu a mão para Timothy.

Tudo parecia estar acontecendo numa velocidade absurda e não em tempo real.

- Timothy Boardman, professor… - Black estremeceu -… da Lily - e mais uma vez - Como vai? - meu professor estendeu a sua mão para apertar a de Sirius, mas este recolheu a própria rapidamente e me empurrou para o canto, sem educação nenhuma, ao se convidar a sentar na nossa mesa.

- Hey Remus, olha quem 'tá aqui! - e ainda berrou no meu ouvido.

- O que você pensa que está fazendo? - pisei no seu pé ao sussurrar-lhe por entre os dentes, num sorriso para Timothy que estava tão perdido quanto eu, e virar minha cabeça na esperança que o zumbido sumisse.

- Animando seu dia, priminha! James anda muito preocupado com você. James nem dorme direito pensando no seu bem estar, pobre James!

Mas o que…

- Quem é James? - Timothy questionou.

- É O MARID… - Sirius estufou o peito para explicar.

- Lily!!! - e Tonks lhe impediu ao pular de júbilo em me ver, não deu tempo de pensar se eu deveria agradecer ou não.

- Oi Tonks… - a minha animação não era a mesma que a dela, muito árdua a minha recuperação desde o nosso último encontro.

- Oi Lily - um Remus que parecia ter um tomate no lugar do rosto se manifestou, com uma Nimphadora pendurada no braço esquerdo.

Nem vi o brinde em formato de homem quase morrendo de vergonha, que Tonks ostentava com imenso orgulho.

- Vocês estão juntos? - não resisti e tive que atormentá-lo.

- Quem disse isso?! - quase que eu colocava a minha xícara de café em cima da sua cabeça para ficar mais quentinha.

- Ele prometeu que não vai mais sair com ninguém até eu completar dezesseis anos, né lindo? - ela era só sorrisos e eu não pude suprimir uma risada, com o elogio ele havia abaixado a cabeça e encarava o próprio sapato de tanto embaraço.

- Quanto açúcar… - Sirius sacudiu os ombros como se temesse que fosse contagioso - E vocês, o que fazem por aqui?

- Almoçando - Timothy respondeu, ainda perdido.

- Por que não aproveitamos e chamamos James? Todo mundo reunido, James vai adorar! - esse cachorro do Sirius está pensando o quê? - Vou ligar agora para o James, aproveite e dê um olá para James, Lily! James te ama tanto, oh pobre James...

- E quem é Jam… - Timothy insistiu e eu joguei meu café descaradamente no colo do Sirius.

- PUTA MERDA! - bem feito.

- Timothy, chame a Angela, por favor - pedi, encenando estar muito aturdida e morrendo de preocupação, e ele me atendeu entre desconfiado e solícito.

- Vou repetir: o que você pensa que está fazendo?!

- Puta merda Lily, por quê? Por quê?! Quase que você amputava meu filhotinho!

- Você mereceu - Remus falou relativamente recuperado da crise embaraçosa que eram as manifestações de afeto da Tonks, até ela enfiar um croissant na sua boca e beijá-lo na bochecha ao cantarolar "eu te amo Aluadinho", aí ele soltou fumaça pelas orelhas.

- Quem manda bancar o intrometido - justifiquei minha ação violenta - Ele é meu professor e merece respeito. Diferente de você que estava saindo com a minha melhor amiga e não me disse nada!

- A Samy? - Six entremeou sua sentença com caretas de sofrimento - Ela pediu segredo, disse que queria fazer uma surpresa, não é minha culpa!

- E ainda por cima está com a minha outra amiga! Você não se manca, não?! - coloquei a bolsa de água fria, que Angela acabara de trazer, no local onde havia atirado o líquido morno.

- Que outra amiga? - ele relaxou as linhas de tensão do rosto, devido ao efeito da bolsa gelada - Eu só estou saindo com a Samy, hoje eu iria pedi-la em namoro! Agora não vou mais!

- Por que?! - pirei, a Samy me mataria! - Você vai sim!

- Como você quer que eu vá a um encontro se não consigo andar e nem colocar uma calça, sua ruiva louca?!

- Se vira mané!

- Crianças, acalmem-se, por favor, estamos num lugar público - Remus pediu, já recomposto do vexame que sua amada Nimpha o fez viver.

- Olha quem fala, 'mó infantil só porque a Tonks pega na sua mão - Sirius provocou, com um sorriso cruelmente sarcástico.

- Que mentira! - Lupin enrubesceu de novo, tão rápido quanto um cometa cruza o céu.

- E não posso nem mencionar o fato que fica mais vermelho que o cabelo da Lily - Black completou, vencedor na sua encarnação.

- Não fica assim, fofinho - Tonks o abraçou ao sorrir um milhão de vezes mais contente e Remus voltou a abaixar a cabeça e, fixar o olhar nos próprios sapatos.

- Ele é demais, não é? - ela disse baixinho para nós, muito orgulhosa de si.

- É, muito kut kut! - ajuntei, também querendo importuná-lo.

Remus quis cavar sua cova ali mesmo.


- Ô de casa! - exclamei ao entrar no apartamento.

Parei, ainda na sala, ao retirar um pequeno espelho da minha bolsa e verificar se a minha aparência estava boa, para uma conversa muito séria com James eu teria que estar, no mínimo!, apresentável. Abafei meu riso ao lembrar da maneira que Tonks arrastava Remus para tudo quanto é canto, e Sirius que se não tinha opção a não ser acompanhá-los com aquele jeito mega estranho de caminhar.

Ah, tenha dó! Ele provocou. Não me sinto nem um pingo culpada... A não ser que ele me dedure para a Samara... Amiga pavorosa essa minha. Nhá, mais tarde eu me preocupo com isso.

- Prima? - na penumbra foi quase impossível reconhecer Carlo, mas pelo timbre era ele.

Não compreendi porque ele estaria na sala, com as luzes apagadas e bizarramente inclinado para a frente como se escondesse algo ou alguém de mim.

Meu cérebro estralou quando entendi a razão.

- Não acredito! - acendi as luzes e ele estava vestindo unicamente a cueca e acobertando uma garota às suas costas - Não acredito! Eu disse pra você não fazer mais isso, seu sem vergonha!

Tapei meus olhos e esperneei.

- Não é só você que mora aqui, caramba! Você tem um quarto! Dio mio!!!!

- Calma, Lily, calma. Eu posso explicar…

- Explicar o que, caspita! Some daqui! Some!

- Err… Você poderia ao menos virar de costas para que a gente possa… Você sabe… - ele requisitou, constrangido.

- Arght! Você vai se ver comigo depois - ameacei e me apressei em direção ao meu quarto.

A que ponto esses homens chegaram? Está certo que vivemos no século XXI. Contudo, isso não é desculpa!

- Lily, pode sair - ele bateu na minha porta ao avisar.

Encostados no balcão da cozinha estavam ele e a namorada, mais uma ruiva para a família (imagina as crianças correndo pela casa da vovó, bando de fósforos... Tacando fogo na fogueirinha que será o rebento loiro da Túnia!), e James Potter com um enorme sorriso de escárnio, comendo pipoca e abancado numa cadeira, confortavelmente se divertindo.

- Muita pornografia para os seus olhos? - ele me perturbou, se achando o cara mais engraçado da face da terra.

- Você que armou isso? E sabia o que estava acontecendo? - inquiri, o meu sangue borbulhando pelas veias e artérias.

- Eu? - ele se fez de vítima - Acabei de chegar, ruivinha - piscou para mim e pescou uma pipoca da vasilha, como se tivesse acabado de falar a coisa mais encantadora do universo.

- É verdade, ele acabou de chegar - Carlo confirmou, a entonação indicando que não estava à vontade por ter sido pego em flagrante - E James, não piora as coisas pra mim, bro! - acrescentou em apelação.

Potter ergueu os ombros - Seria estranho você falar de moralidade quando está saindo com dois caras ao mesmo tempo - mais uma pipoca atirada para o alto e aparada, sem margem de erro, pela sua boca.

- Eu não 'tô saindo com dois caras! - a indignação estrangulou o meu esôfago.

Se havia alguém que não valia um centavo aqui, era James Potter! Ele que me abandonou no passado, quem garante que ele não fará igual no presente?

Ele repetiu o gesto de: "eu não sei…" com os ombros - Se a carapuça serviu… - mais uma pipoca.

- Qual é a sua, hein? - perguntei, arquitetando algo que pudesse atingi-lo na intensidade que a sua pose descontraída, quando um assunto gravíssimo está sendo discutido, me atingia - É tão indiferente assim pra você se eu 'tô lhe colocando um par de chifres?

A pipoca errou a sua boca por uma grande diferença. Carlo assobiou baixinho.

Sorri satisfeita por ter minha vingança e rumei para a geladeira, hora de degustar da minha comida saborosa. Senti o olhar de James pregado na minha costa.

- Vamos Bárbara, mais tarde eu te apresento - Carlo convidou sua parceira para se retirarem.

Escutei a porta sendo fechada e os passos de James se aproximando, até lhe trazerem para três palmos atrás de mim.

- O que você estava fazendo na Costa Coffee com outro loiro azedo? - ele aguardou que eu fechasse a geladeira.

- O que você acha… - organizei os ingredientes nos meus braços e assoprei no seu ouvido ao comprimir os lábios com malícia -… Jay?

Esperei ele realizar mais uma pergunta, ou tirar sarro, ou ficar enfezado. No entanto, não obtive qualquer espécie de reação sua. Afastando os legumes cortados para a frigideira e cansada de esperar, encarei meu primo.

Suas orbes não tinham fulgor algum, fitá-las era mergulhar num oceano onde grandes amantes haviam se afogado em nome de um amor sem cura, sem saída e sem um final feliz. Seus punhos rijos ladeando o corpo de tônus semelhante, imóvel.

- Ja-James?! - ele desviou seu olhar e escondeu sua face de mim - É mentira, pelo amor de Deus, eu 'tô brincando! - tentei abraçá-lo e ele me afastou.

- Era o meu professor! - mais que depressa expliquei - Não tem nada entre a gente, na verdade nós fomos na Costa Coffee, porque é onde a noiva dele trabalha - estiquei minhas mãos para tocar seu rosto e ele as rebateu - Você 'tá me ouvindo? James!

Enfim consegui içar sua face e meu coração se partiu.

Ele estava chorando.

- James, por favor, me perdoa… Dio mio, eu não fiz por mal, por favor… Mi dispiace… Ti amo, não chore… Ti amo… - supliquei ao conseguir aquecê-lo com meu abraço e afundar meus arrependimentos no seu peito.

Tranqüilizei-me quando senti ele corresponder o abraço.

Se arrependimento matasse... Meus medos não eram nada perto de vê-lo sofrendo, nada! E se era para vê-lo feliz, se era por ele eu teria coragem para seguir em frente, para fazer dar certo esse relacionamento. Afinal, não era só a felicidade dele, ou só a minha que estava em jogo. Era a nossa felicidade.

- Então… Você me ama, é? - com uma mão ele arrepiou os cabelos, sua frase permeada por modéstia.

- Claro! - não hesitei em confirmar, vê-lo chorando era infinitamente pior do que aturar esse orgulho besta - Você não presta mesmo… - cutuquei-lhe o flanco e ele riu.

Muito melhor agora.

- Só espero que você não invente de ir pra Lua, "porque lá tem oportunidades" - remexi na sua blusa, lembrando do que vivencíamos durante a adolescência e essa frase maldita dele.

- Se eu for, levo você junto. Com certeza lá não têm loiros - e me acariciou as costas, cerrei as pálpebras, aproveitando o carinho e…

Senti um cheiro estranho!

- James… 'Tá sentindo esse cheiro? - reabri os olhos, em alarme.

- Que cheiro? - ele me estreitou mais em seus braços.

- Esse… Meu macarrão 'tá queimando! - desvencilhei-me dele e embarafustei para o fogão - Ah não…! Até o tomate... - fitei desolada a panela cuja água havia esquecido de colocar junto ao macarrão, o qual jazia duro e queimado, e na frigideira os tomates picados, que eram o meu tempero secreto, também jaziam chamuscados.

Pior que eu teria que comprar mais, devido à turbulência que havia sido o meu dia-a-dia nos últimos tempos nem as compras eu havia realizado...

E para multiplicar a desgraça, minha mãe estava ligando no celular. Algo me dizia que tinha dedo de pervertido de Carlo nisso...

- Deixa isso pra lá - ele me enlaçou por trás e cobriu de beijos o meu pescoço - Vamos para o quarto antes que todos cheguem…

- Todos… quem? - meu cérebro já não estava funcionando direito.

- Os marotos disseram que viriam… - ele começou a morder e uma mão deslizava vagarosamente pela minha cintura -… e Carlo saiu sem a chave, dizendo que voltaria logo… - enquanto a outra roçava a curva lateral do meu seio, me fazendo engolir em seco - Isso importa?

Quem diria que isso importa? Tomates e macarrão que esperem.

-Alla fine-