Red Nose

(um conto de Natal por Jasper Hale)

O céu está pegando fogo. Tons de rosa, laranja, azul e lilás se sobrepõem, formando uma espécie de cortina brilhante. Apesar de ser uma bela visão, não consigo deixar de me perguntar como, exatamente, acabamos nessa situação. Não que essa seja, realmente, uma pergunta difícil de responder. Uma palavra é todo o necessário para explicar a situação.

Emmett.

A idéia de passar o Natal na Lapônia, a princípio, parecia bastante promissora. Como não poderia ser, quando no período de inverno, o lugar está mergulhado numa noite profunda durante meses1? Tínhamos que tomar cuidado com Bella, é verdade - afinal, ela ainda era uma recém-nascida. Exatamente por isso, Carlisle alugara um chalé numa região remota o suficiente para que não precisássemos nos preocupar com vizinhos.

Quando foi exatamente que as coisas começaram a sair dos eixos? Acho que foi quando Emmett recebeu aquele folder para turistas na saída do aeroporto... e descobriu que, ao contrário da sabedoria popular, o escritório de Papai Noel era na Lapônia e não no Pólo Norte.

Este fato inicial foi que deu origem à bola de neve que terminaria comigo, neste exato momento, soterrado sob um monte de neve, observando a aurora boreal tomar o céu com sua miríade de cores em movimento.

Dizer a Emmett que Papai Noel é uma lenda não foi algo muito efetivo. Ele tinha, afinal, um bom argumento: vampiros também são lendas e, contudo, cá estamos nós. Assim, era perfeitamente possível que Papai Noel também existisse e ocultasse sua existência como forma de preservar a espécie.

Os safáris com huskys siberianos - muito populares nessa parte do mundo -, as observações da aurora e mesmo as caçadas pelos territórios cobertos de gelo a perder de vista perderam sua prioridade na "lista de coisas a fazer esse Natal".

Eu não teria achado isso tão ruim não fosse pela presente situação. Afinal, com Emmett arrastando todos para inúteis expedições em busca de pistas do bom velhinho, Alice mantinha-se distraída com todas as decisões malucas que ele tomava e suas conseqüências no futuro e não ficava monitorando minha busca pelo presente perfeito para ela.

Então, eu tinha minha própria missão a cumprir. Em anos anteriores, eu falhara fragorosamente. Afinal, o que dar para alguém que tem tudo que pode querer e, pior, como fazer uma surpresa para sua esposa quando ela sabe exatamente o que vai acontecer no momento em que você decide conscientemente surpreendê-la?

Cheguei até mesmo a cogitar a possibilidade de convidar um lobisomem para fazer compras comigo. No instante que essa idéia surgiu em minha mente, Alice se materializou à minha frente, com as mãos na cintura, dizendo que aquela era uma péssima idéia. Não pude deixar de concordar com ela.

Nesse meio tempo, Esme e Edward acompanharam Emmett ao escritório do Papai Noel na cidade. Rosalie recusara-se terminantemente a encorajar qualquer tipo de "busca" que o marido se propusesse. Alice preferira ficar com Bella e Carlisle, assim como eu mesmo.

É claro que Emmett voltou absolutamente desolado por descobrir que "St. Nick" era apenas um humano disfarçado. Isso, porém, não foi o suficiente para que ele se acalmasse.
Assim, depois de dois dias, era-me impossível ficar dentro de casa diante da excitação febril que vibrava de Emmett. A cada hora ele bolava planos mais absurdos, causando a Alice uma formidável dor de cabeça com todas mudanças de decisão.

Tivemos de sair, é claro. Expulsos de casa porque nosso irmão não sabia quando se controlar.

Quando se é um vampiro, não é um problema tão grande ser "expulso" de casa no meio do inverno, não muito longe do círculo polar. Afinal, não há riscos de morrermos de hipotermia.

- Ao menos é romântico. - Alice observou, divertida, enquanto caminhávamos de mãos dadas a esmo, sem qualquer objetivo definido.

Eu sorri, observando minha esposa se soltar de mim, dançando à minha frente com a graciosidade de uma fada, embrenhando-se em meio aos pinheiros do bosque por onde tínhamos penetrado.

- Alice...

- Vamos apostar uma corrida! - ela exclamou, sua risada ecoando como sinos no ar frio que nos cercava.

Mesmo que houvesse motivos para tanto, eu não poderia dizer não para ela. Como poderia? Minha própria existência só ganhou sentido no dia em que a encontrei me esperando - eu jamais poderia esquecer as palavras que ela me dirigira então: você me deixou esperando por muito tempo...

Edward era o mais rápido em nossa família, mas Alice não ficava muito para trás em questões de velocidade. Não demorou para que eu a perdesse de vista, encontrando-me, por fim, sozinho em meio à clareira.

Se eu quisesse pegá-la, teria que confiar em outros instintos. Primeiro, claro, o cheiro. O perfume de Alice era algo inconfundível e, para mim, exercia um fascínio sem igual - não era floral, mas cítrico, com um toque de algo doce, que eu não sabia exatamente precisar o que era.

Depois, a irresistível atração que ela tinha sobre meu ser, a sensação de completude que eu só alcançava quando estava em sua presença. Cerrando os olhos, eu podia ouvi-la correndo, sua respiração tranqüila, o riso leve ainda escapando de sua garganta.

Eu comecei a correr.

Meu primeiro erro foi ter saído de casa. O segundo foi ter me deixado levar pelo que sentia e esquecido meus outros instintos de alerta. O terceiro foi ter deixado que Alice me desafiasse.

Uma árvore surgiu do nada à minha frente. Outra já seguia em minha direção quando eu desviei da primeira e, quando me dei conta do que estava acontecendo, já tinha começado a rolar colina abaixo, formando uma pequena avalanche em minha descida.

E assim, chegamos à minha posição atual, soterrado por um monte de neve, observando a aurora boreal.

O som de passos - cascos, para ser exato - soou em meus ouvidos. Um rosto apareceu em minha linha de visão - ou, deveria eu dizer, um focinho?

Era uma rena. Uma rena de nariz vermelho.

Antes que eu pudesse começar a pensar na rena como minha próxima refeição, uma voz que me fazia lembrar risos, fogueiras e abraços soou do outro lado do meu túmulo de neve.

- Você está bem, meu rapaz?

Eu estava bem. Poderia ter me levantado sem esforço antes, mas me deixei ficar conjecturando sobre os infortúnios natalinos causados pela busca de Emmett pelos lendários fundilhos de St. Nick.

Agora eu não poderia me levantar sem ajuda, sob pena de assustar o homem que acabara de aparecer.

- Apenas preso. - eu respondi - Mas não me machuquei. A neve está fofa.
- Foi uma queda considerável. - a voz observou mais uma vez - Espere aí um instante que vou ajudar você. Qual o seu nome?

- Jasper. - respondi e, só nesse instante registrei o fato de que ele estava falando inglês comigo.

Não era algo tão difícil de acontecer. A região era extremamente ligada ao turismo. Talvez fosse um guia de cães.

- JASPER!

Essa voz eu podia identificar sem dificuldades: Alice.

- Eu estou bem, Alice. Não se preocupe, não me machuquei.

Eu sabia que ela não estava preocupada, mas precisávamos manter as aparências. Ela rapidamente se aproximou, tomando o lugar da rena de nariz vermelho para me encarar, um pequeno sorriso agraciando seus lábios.

- Obrigada por ajudá-lo. A culpa é minha por ele ter caído. Estávamos apostando corrida, não pensei que haveria uma descida tão abrupta por aqui. A propósito, eu sou Alice. E o senhor?

- Você pode me chamar de Nicholas, Alice. - ele respondeu, simpático.

Com a ajuda dela, não demorou muito para que eu estivesse livre da neve, e o tempo todo, os dois conversaram comigo para que me "distrair e assim não perder a consciência" o quê, nessas paragens, era algo muito perigoso.
Engraçado é que o homem me passava uma sensação estranha de conforto... de alegria... Devia ser uma pessoa bem simples, completamente satisfeita com a vida. Ele irradiava contentação.

Só pude analisá-lo quando me vi novamente em pé. Era um homem velho, embora eu não pudesse precisar realmente sua idade. Havia qualquer coisa de estranha em seus olhos, que irradiavam uma aura de... bondade.

Ele sorriu ao perceber que eu o encarava e, tirando o gorro escuro que usava sobre os cabelos - pequenos cachos de algodão, tão brancos quanto a neve que nos cercava -, fez uma ligeira mesura.

- Meu trabalho aqui está pronto. Cuidem-se para que não aconteçam outros acidentes como esse. - ele piscou um olho para Alice - Tenham um bom Natal, crianças. Rudolph, vamos indo!

Rudolph, a rena de nariz vermelho, acompanhou o velho Nicholas. Eu me voltei para Alice, estreitando os olhos.

- Isso foi uma coincidência, não é?

Alice sorriu em resposta.

- Não existem coincidências. - ela piscou um olho - Vamos para casa. Emmett vai ficar tão desapontado...