Já estávamos lá há pouco mais de uma semana e era nosso último dia. Estavam sendo as melhores e piores férias da minha vida.

Minha amiga, Jéssica, ia viajar com os pais para a praia de Itapema em Santa Catarina e me chamou. Normalmente eu não tinha muita paciência com ela, mas éramos grandes amigas, o problema na verdade eram os pais dela. Mais especificamente a mãe, já que eu nunca ouvi o pai dela falar. Aquela era a mulher mais insuportável que eu já havia conhecido, além de não calar a boca, razão por eu nunca ter ouvido o pai dela falar, ela fazia questão de me lembrar de todos os meus defeitos e de todas as qualidades da filha dela, constantemente.

Fiquei completamente dividida com o convite, queria ir para lá de qualquer maneira, mas a noção de passar o Ano Novo com a mãe da Jéssica...

Meu pai me disse que eu não deveria ir, que só me irritaria e não me divertiria nem um pouco, já minha mãe fazia questão de que eu fosse. Talvez ela só me quisesse fora de casa, mas a verdade era que eu saia muito pouco, viajava menos ainda...

Acabei concordando e no decorrer da semana sempre que algo bom me acontecia, eu sorria pensando em minha mãe, e toda vez que eu me dava mal ou tinha vontade de socar a Jéssica, pensava no meu pai.

O Ano Novo foi um caso a parte, quando você viaja para uma das praias mais lindas que já viu para passar as festas, você quer o que? Festa. Ver gente diferente, certo?

Só sei que dez para a uma da manhã e eu já estava deitada e coberta no apartamento, uma rua de distância da praia ouvindo os gritos e risadas das pessoas do camping que ficava ao lado do prédio.

O dia seguinte com certeza foi o melhor de todos na viagem. Tudo bem, não só da viagem...

Havíamos acabado de conhecer um grupo de garotos que jogavam sinuca e rimos a tarde toda com eles, apesar de Jéssica estar especialmente irritada por não fazer tanto sucesso com os meninos quanto gostaria. Ela é mais baixa que eu, mas seu cabelo enrolado é tão armado que parecemos ter a mesma altura, é magra, mais do que eu, acho, e fala bobagem demais, a razão por eu ser meio impaciente.

Reparei que um dos meninos que jogavam estava olhando para mim e sorrindo. Ele havia acabado de roubar, empurrando uma bola para dentro da caçapa com a mão e eu abri a boca para falar, mas ele viu e encostou o indicador nos lábios, me fazendo ficar quieta. Agora riamos um para o outro e Jéssica me agarrou pelo braço e disse que deveríamos ir embora. Girei os olhos.

- Acho que vou voltar e falar com ele. – disse após alguns passos.

- Tem certeza? – Jéssica respondeu com tanta má vontade, como se esperasse que ele me desse o maior fora da minha vida. Me deu ainda mais vontade de voltar.

- Bom... O máximo que ele pode fazer é me falar que não! – exclamei dando meia volta.

- Encontrei o garoto indo em direção ao mar.

- Oi! – disse meio alto fazendo com que ele parasse.

- Oi... – ele respondeu sorrindo, os dentes brancos contrastavam com a pele morena, queimada de sol.

- Posso te perguntar uma coisa?

- Claro.

- Você tem namorada?

- Eu tenho... – eu dei um passo para trás, instintivamente – Mas ela não está aqui! – eu sorri, normalmente não fazia aquele tipo de coisa, mas queria tanto irritar a Jéssica.

- Então posso fazer uma coisa?

- Olha... – ele esfregou as mãos olhando em volta – Se for me beijar, eu não sei...

Não, não! Eu não poderia levar um fora dele! Eu já estava acostumada com os foras, mas dessa vez seria pior, a Jéssica estava olhando para mim, me fuzilava na verdade e eu sabia que ela estava torcendo pra ele me dar um tapa, sei lá.

Ela me irritava com essa inveja desnecessária. Eu não era nada demais! Nunca fui magrinha, com o modelo perfeito de corpo, Lauren, uma menina da escola insistia em me falar constantemente que eu era peituda e bunduda como se fossem defeitos horrendos, até hoje não tenho certeza se é ou não. Meu cabelo castanho é sem graça, estava com algumas mechas mais claras por causa dos dias de sol, mas ainda assim, sem nenhum atrativo especial, como meu rosto. Para piorar eu ainda usava aparelho e óculos! Mas só usava os óculos em caso de extrema urgência, me sentia uma nerd que ria roncando quando estava com toda a aparelhagem na cara.

Suspirei e sorri inclinando a cabeça de leve para o lado.

- Bom... Você me disse que sua namorada não está aqui – ele concordou com a cabeça – Você vai contar? Porque eu não vou!

- É verdade, né? – ele sorriu e antes que eu pudesse responder, ele já estava me beijando.

Estava me sentindo a garota mais persuasiva do planeta! Eu sei que nem sou tão bonita, sou comum demais, e não tenho coragem de fazer esse tipo de coisa. Sempre brinquei dizendo que tentava ser atirada, mas não conseguia. Acho que os meninos que não me conheciam, deveriam estar achando que eu sou algum tipo de vagabunda, mas eu não liguei. Era bem legal fingir ser sexy e alguém acreditar.

O beijo foi longo e bom, quando nos separamos pra respirar, ele sorriu acariciando meu rosto. Lancei um olhar rápido para onde Jéssica estava sentada com um menino, e os dois estavam boquiabertos.

- Tenho que ir! – disse tentando disfarçar o sorriso triunfante e sai andando.

- Espera! – ele chamou e eu parei, me voltando para ele – Qual seu nome?

Que vadia! Eu nem sabia o nome dele!

- Bella – respondi rindo de mim mesma – E o seu?

- Tyler.

- Tyler... – repeti e ele me olhou extasiado, acho que estava fingindo ser sexy tão bem que até eu mesma estava começando a acreditar – Tchau...

Eu falei já virando e ouvi ele murmurar um "tchau" de volta, mas não virei. Estava rindo demais pra conseguir disfarçar. Isso era tão não-eu.

Nem percebi que Jéssica não estava ali até que ela me alcançou, claramente irritada com o meu sucesso.

Andamos em silêncio por um tempo, era o por do sol e tudo estava alaranjado. Lindo. Foi então que ela começou a pular animada do meu lado.

- O que foi?

- Olha ali! Olha que lindo!

Tentei enxergar o que ela apontava, mas só vi o cabelo castanho avermelhado, estava cor de cobre à luz do sol poente, e o calção azul.

- É bonito? Não enxergo daqui.

- É lindo! – ela suspirou.

- Vai falar com ele!

Ela me olhou com uma expressão de desdém estampada no rosto.

- O que?

- Ele está com os amigos! Você acha que eu vou entrar no meio do jogo de taco só pra falar para ele que achei ele lindo?

Respirei fundo para não responder nenhuma besteira. Tudo bem que na maioria das vezes em que eu era grossa ela não notava, mas vai que justo dessa vez ela resolve bancar a inteligente? Olhei para o grupo de amigos em volta do garoto de cabelo cobre e calção azul e reparei que um outro menino, loiro de pele clara e olhos azuis, estava sentado na areia, a uma distância segura, mas ria com os outros.

- Fala com aquele ali! – já começava a fazer planos, assim que ela conseguisse falar com o de calção azul, eu poderia ficar sentada ali com o loirinho. Agora que eu prestava mais atenção ele era bem bonito.

- Mas eu tenho vergonha! – ela gemeu.

- Do que, criatura? – eu girei os olhos, impaciente.

- Eu não sei o que falar...

- Quer que eu fale? – eu perguntei já sabendo a resposta.

- Quero! – ela estava tão animada que os olhos dela brilharam.

Eu caminhei devagar até o garoto, ainda não tinha certeza do que diria e fiquei meio sem graça, mas lembrei que aquele era meu último dia ali e eu poderia falar o que eu quisesse, ser quem eu quisesse que ele nunca mais me veria. Eu não tinha qualquer motivo para sentir vergonha. Ajeitei a canga em volta da cintura, fazendo parecer uma saia e continuei a andar.

- Oi! – disse quando parando em pé ao seu lado.

- Oi! – ele respondeu olhando para mim, sorrindo. Bem bonitinho mesmo.

- Olha... Eu sei que é meio chato, mas o seu amigo de calção azul ali – tentei ser discreta, mas como ele riu, acho que não fui – tem namorada?

- Não.

- E... você acha que ele ficaria com a minha amiga ali? – agora sim fui discreta, apoiei a mão no ombro e apontei rapidamente, não queria que ela corresse até lá caso a resposta fosse negativa.

Ele se esticou todo, desviando do meu corpo para olhar Jéssica, então sentou de novo, olhou para mim com um sorrisinho meio sem graça, mas ainda assim divertido.

- Acho que não.

Suspirei. Agora ela nunca mais calaria a boca! Tudo por que durante a semana, ela conversou por mim com um garoto que eu achei bonito. Eu não pedi para ela fazer nada, e ele só me deu um selinho na hora que estava indo embora! E ainda por cima, encontrei ele com a namorada dois dias depois, foi uma situação realmente desagradável. Mas ela não encarou dessa forma.

Como eu dei um selinho nesse menino, e depois ganhei um beijão do cara gracinha da sinuca, ela sentia que estava perdendo uma competição imaginária e tinha que compensar de alguma forma.

Pensei mais um pouco... Ainda estava me sentindo extremamente linda pelo meu triunfo com o Tyler e achei que deveria aproveitar antes que eu voltasse a ser... eu.

- E se fosse pra ficar com as duas? – eu nem tinha terminado de pronunciar as palavras e já notei o tamanho do absurdo. Agora não dava mais para voltar atrás.

- Claro que sim, né? – o loiro exclamou rindo.

Eu ri também, já me sentindo arrependida. Que proposta idiota! Bom... Eu daria um selinho bem rápido no tal de calção azul e voltaria pro apartamento mais cedo, tomaria um longo banho quente e fingiria dormir pra mãe da Jéssica não me perturbar.

- Legal! – respondi sentando do lado dele – Como é seu nome?

- Jasper! – ele ainda estava rindo – Você?

- Bella!

- Vocês não são daqui, não é, Bella?

- Como sabe? – fiquei meio sem graça, será que ele perguntou isso por eu estar parecendo ser tão fácil?

- Você fala diferente... Apressada, coisa de quem vive em outra cidade.

- Acertou! São Paulo! – eu ri só agora percebendo que ele falava meio cantado, quase suspirei, adoro sotaques.

- Ei! – Jéssica, eu havia me esquecido dela – Me espera, né? – ela falou irritada, afinando a voz, ficou tão ardida.

- Desculpa! Jasper, essa é a Jéssica! Jéssica, Jasper.

- Oi! – ela sorriu para ele antes de sentar na outra ponta, o deixando entre nós duas.

- Então vocês moram aqui? – voltei a puxar assunto enquanto a Jéssica ainda estava de cara fechada.

Ficamos conversando sobre nada e rindo, ele era muito divertido. Eles moravam em uma cidade izinha, muito pequena chamada Passo Fundo, como eles enjoavam de ficar o tempo todo no "vilarejo", como Jasper chamou, todo final de ano, iam para a praia, tirar as teias de aranha.

- E você tem namorada? – Jéssica perguntou e ele ficou instantaneamente sem graça

- Eu tinha, mas... – ele abaixou o olhar – Ela morreu num acidente de carro.

- Ai meu Deus! – eu exclamei, levando a mão para a frente da boca. Conte com Jéssica para fazer a pergunta que mais vai trazer constrangimento, incrível! – Desculpe... Você não precisa falar sobre isso-

- Não! – ele deu um sorriso fraco – Não tem problema. Todo mundo está me ajudando muito, mas ainda é meio difícil de acreditar...

- Vocês estavam juntos no carro? – lembra quando eu disse que às vezes queria socar a Jéssica? Então...

- Nós estávamos juntos, eu estava dirigindo... Já faz um tempo, mas... É difícil. – não brinca! Eu nem o conhecia, mas já admirava aquele jeito dele, ele parecia despedaçado quando falava, mas mantinha uma expressão serena. Acho que ele a amava muito – Então esses caras me fizeram vir aqui! – ele riu apontando para o grupo de garotos que ria histericamente enquanto um deles corria feito louco atrás da bola que havia caído no mar.

Eu fiquei olhando para ele pensando no que falar. Ele me contou a vida dele e eu nem tinha uma resposta pronta!

- Ei, pare de se preocupar comigo! – ele riu de verdade, me empurrando de leve com o ombro.

- Eu mal consigo imaginar a barra que você passou! Me desculpe! – disse isso lançando um olhar rápido para a Jéssica e de volta para ele, erguendo as sobrancelhas e ele riu mais ainda, entendendo o que eu quis dizer.

- Vocês não querem saber como ele chama não? – ele apontou pro garoto do calção azul, eu só conseguia ver que ele era bem pálido, seu cabelo agora estava bem vermelho sob a luz do sol poente.

- É mesmo, né? – eu disse cruzando os braços e Jasper gargalhou.

- Ele chama Edward!

- Edward – Jéssica e eu repetimos o nome quase ao mesmo tempo.

- Sabia que ele era do time de handball da cidade?

- Sério? – ela perguntou meio incrédula, mas seus olhos brilharam.

- Aham! E sabe... Ainda bem que vocês vieram aqui! Ele é muito tímido, mesmo se tivesse gostado de vocês, ele passaria a tarde toda aqui pensando no que fazer e acabaria não dizendo nada!

Eu ri. Normalmente era eu quem agia dessa maneira. Meu Deus, se a Jéssica contasse isso pra mãe dela, com certeza essa noite ela me faria ajoelhar no milho ou algo assim. Uma das piores pessoas que eu conhecia e ficava fazendo a pudica.

- Vou chamar ele pra vocês! – ele disse levantando – Se não a gente fica aqui conversando a tarde toda!

Fiquei meio triste por ele sair de perto da gente, normalmente eu sou meio desconfiada com as pessoas – eu apanhava no colégio. Mesmo. – mas simpatizei de cara com ele! Já arquitetava planos de dar um perdido em Jéssica e o ruivinho e conversar mais com Jasper quando ela me acordou dos pensamentos.

- Você acha que é sério essa história da namorada?

- Acho que ele não teria por que mentir pra gente! Mas é tão triste... – falei o final quase para mim mesma.

- Ah, não sei não!

- Se ele mentiu sobre qualquer coisa, eu acho que foi sobre o negócio do time de handball! Duvido que isso é verdade

- Acho que tem razão...

- Ei, Jess! Você ouviu o que eu disse para ele? – me lembrei do pequeno detalhe de que eu também ia ter que beijar o garoto do calção azul, Edward. Ele tem um nome! Tenho que me lembrar disso.

- Falou o que?

Eu abri a boca para responder quando vi os dois se aproximando, apesar de o por do sol ser uma das minhas horas favoritas, era a pior hora para uma míope, como eu enxergar. Eu identifiquei facilmente os traços de Jasper que ria, com a mão envolvendo o ombro do amigo, de um jeito cúmplice. Mas ainda não enxergava quase nada do tal Edward. Já que não podia mais explicar a história para Jéssica, eles estavam perto demais, decidi torcer para que ela tivesse ouvido e forcei a vista para enxergar os dois.

Sabe aquelas cenas de filme em que a gostosa sai do mar em câmera lenta, e a câmera sobe devagar dos seus pés, filmando cada milímetro das coxas, quadril, barriga, peitos, até o rosto? Foi exatamente desse jeito que eu enxerguei Edward.

É até estranho pensar que foi assim, mas foi! Eu estava olhando a areia e comecei a subir o olhar devagar, as pernas claras era fortes, talvez ele fosse mesmo atleta, o calção começava um pouco acima de seus joelhos, mas dava pra ver de leve o contorno de suas coxas, seu abdômen era chato, mas os contornos dos músculos eram proeminetes... Ele era obviamente musculoso, mas não era rato de academia com aqueles bíceps exagerados.

Quando meu olhar atingiu seu rosto eu prendi a respiração. Seus olhos eram de um verde alucinante e seu cabelo adoravelmente bagunçado era castanho cheios de mechas de cores diferentes, por causa do sol, como o meu tinha agora, mas ficavam muito mais atrativas nele. Assim, muito.

Eu tive que abaixar o olhar por que tinha certeza que estava corada, meu rosto queimava, e eu não queria que ele reparasse.

- Ele é lindo! – eu cochichei gritando, se é que isso é possível.

- Eu não disse? – Jéssica replicou sorrindo animada, só faltava bater palmas.

- Aqui está ele! – Jasper disse com um largo sorriso – E eu... vou... Ali! – ele exclamou a última palavra e saiu correndo em direção dos outros garotos e eu fiquei feliz por não enxergar tão longe. Se eu percebesse que eles estavam olhando para nós, eu morreria.

Ficamos em silêncio alguns instantes, eu estava ainda um pouco chocada com a beleza incrível daquele garoto. Arrisquei olhar para ele, com o canto dos olhos.

Eu já estava nessa praia há um tempo razoável, como não havia reparado nele?

- Bom – ele disse quebrando o silêncio, ele sorria, mas estava obviamente envergonhado – Eu sou o Edward!

- Bella! – sorri de volta, meio boba com o sorriso dele – Ela é a Jéssica!

- Prazer! – ele flexionou as pernas e apoiou os braços nos joelhos – De onde vocês são?

- São Paulo – eu respondi – tá tão na cara assim que não somos daqui?

- O jeito de você falar é diferente...

- O seu também! – eu não pude evitar o sorriso – eu acho tão lindo o seu sotaque... Você fala cantado!

Ele sorriu olhando para baixo, eu torci pra não ter parecido uma maluca, mas ele bagunçou um pouco mais o cabelo e sorriu ainda mais me olhando de volta, nos olhos.

- Seu sotaque também é lindo! – derreti. Peguem uma pá e me recolham, por favor.

- Quantos anos você tem? – Jéssica perguntou se metendo na conversa. Ela ainda estava ali?

- 17! E vocês? – ele perguntou para as duas, mas olhou para mim. Eu tentei fingir que não estava vendo, mas meu sorriso quase rasgava os cantos da minha boca.

- Eu tenho 15! – Jéssica gritou, me fazendo girar os olhos.

Ele percebeu e sorriu.

- E você? – perguntou de um jeito baixo, que fez a voz dele parecer de veludo.

- Também! Você já está na faculdade? – queria manter ele falando, só pra ouvir um pouco mais daquela voz tão macia.

- Faço direito!

- Uau! – exclamei.

- Eu vou fazer direito! – Jéssica estufou o peito quando falou a mentira. Quero dizer... era mentira em parte, ela queria mesmo era fazer nutrição, direito seria sua segunda opção – Se não der certo quero fazer nutrição!

- E você? – ele se virou para mim de novo. Eu estava tentando não me intrometer, nem deveria estar ali, era pra ser o cara da Jess! Mas eu não conseguiria me afastar nem mesmo se tentasse.

- Quero fazer medicina.

- Então você deve ser muito inteligente! – o sorriso dele quase me fez perder o rumo.

- Na verdade não muito. Jéssica que é realmente inteligente! Ela tira notas boas em matemática! Tem noção? Ela gosta de física!

Eu falei a última parte em tom zombeteiro, eu sempre odiei matemática com todas as forças do meu ser. E física. E química. E queria fazer medicina, logo vejam que meu ponto forte não é a coerência. Ele riu do meu jeito e se virou para ela que se preparava para falar.

- É mesmo? – ele perguntou e eu pude perceber o tom de riso em sua voz.

- Na verdade inteligente é ela! – ela cuspiu as palavras como se fossem um insulto – Ela tira notas melhores que as minhas e nem estuda! Ela dorme na aula!

Se eu pudesse, teria gritado para ela calar a boca! Ela era burra ou algo assim? Eu estava ajudando a retardada e ela me solta isso? Eu comecei a rir, balançando a cabeça, sem saber se deveria bater a testa na parede mais próxima ou fazer a Jéssica comer areia por ser tão múmia.

- É verdade? – ele olhava para mim agora, completamente divertido com a surtada da maluca ao lado dele.

- É... – eu ri um pouco mais – Eu só presto muito atenção na aula, aí depois não preciso estudar...

- É mentira! – ela exclamou – Ela fala a aula toda! Os professores ficam loucos com ela, mas como as notas dela são altas, nem podem fazer muita coisa.

- Nossa! – Edward exclamou rindo e eu comecei a sentir o rosto queimar, apesar de ainda não ter conseguido parar de sorrir.

Cala a boca, sua burra! Gritei em pensamento. Mas já não sabia o que falar, como você nega que é inteligente? Eu não me acho tão inteligente como ela falou, tenho mais é sorte na hora de chutar...

Apoiei o tronco nos braços esticados para trás e olhei as estrelas que começavam a despontar no céu escuro.

- O céu daqui é tão lindo... – murmurei.

- Aposto que não dá pra ver as estrelas assim lá em São Paulo! – ele disse olhando para o céu, mas logo seu olhar se voltou para o meu rosto.

- Não mesmo! Quero dizer... Até dá pra ver às vezes... Mas nunca desse jeito.

- Nossa! Tem um lugar que eu queria te levar! É perto da minha cidade, no meio do caminho daqui para lá, acho! O céu é forrado de estrelas, não existe nada igual! – eu olhei de volta para ele depois da animada descrição. Tenho quase certeza que meus olhos até brilharam.

- Queria demais ver isso-

- Eu também! – Jéssica gritou animada. Caramba, ela ainda estava aqui?

Ficamos em silêncio de novo por alguns instantes, e eu fiquei vendo as ondas quebrarem na areia branca. Amo o mar. Arrisquei uma nova olhada para Edward. Ele parecia uma daquelas pessoas que você vê na TV e tem certeza de que não existem, mas ali estava ele, do meu lado.

- Você está aqui há pouco tempo, né? – foi a minha vez de quebrar o silêncio.

- Por que?

- Você é tão branquinho! Eu estou aqui há uma semana e olha o meu estado! – indiquei meu próprio corpo, a pele morena, mas não queimada demais e nada vermelha. Tá, eu fui meio sacana fazendo ele olhar pra mim daquele jeito, mas eu sabia que estava bonita! E nem era por causa do episódio com o Tyler!

Como eu fugia dos pais de Jéssica, e ocasionalmente dela própria, acordava cedo, comia qualquer coisa e ia andar na praia. Eu andava das 10 da manhã até mais ou menos 7 da noite, conhecia tudo de ponta a ponta. E isso teve um efeito ótimo na minha silhueta, eu provavelmente não ficaria assim de novo tão cedo, tinha que aproveitar.

Ele deslizou os olhos pela minha pele.

- Ah, mas você nem deve ser tão clara assim.

- Mas eu sou! Olha só! – puxei a alça do meu biquíni cor de rosa.

- Eu também estou bronzeado! – ele disse rindo.

- Claro que não está!

Edward puxou o elástico do calção para baixo e eu pude ver a pele branquíssima da lateral do seu quadril e quase prendia respiração. Percebi naquela hora que haviam acendido as luzes da rua atrás de nós por que a pele dele ainda levemente úmida de suor estava quase brilhando.

- Eu também estou bronzeada! – ok, agora eu estava com pena de Jéssica.

- A pele dela é ótima! Fica morena sem se queimar! – também não era lá muita verdade, isso era a minha pele... Já a dela.

- Mas eu tive insolação! E nas primeiras noite tive que passar pomada nos ombros pra conseguir dormir. – com ela falando assim até parece que está tentando me ajudar – Ah... Mas com a Bella foi pior ainda! Um bicho picou a canela dela! Ficou inchado, horrível! – aí está! Essa é a Jéssica que eu conheço – Até antibiótico ela teve que tomar!

- É mesmo? – ele me olhou espantado, eu levei a mão automaticamente para a canela, estava bem agora, mas eu fiquei com uma cicatriz no lugar da picada. Bichinho filho da puta.

- Foi! Mas agora já estou bem, só tenho um sinalzinho... – estiquei a perna, apontando a marquinha branca.

Tive a impressão que o olhar dele estava subindo por minha perna, mas quando olhei pro rosto dele, seu olhar estava no meu. A luz dos holofotes que iluminavam a rua faziam os olhos dele brilharem, eram o verde mais intenso que eu já havia visto! Normalmente olhos verdes poderiam ser confundidos com azul, castanho... Não os dele. Eram profundos, pareciam um mar, e bem... eu amo o mar.

- Seus olhos são lindos – eu falei devagar, sem pensar, e mordi o lábio meio arrependida.

- Ele sorriu sem graça, mas não tirou os olhos dos meus.

- Os seus também... Nessa luz eles têm cor de mel... – ele respondeu meio pensativo – Nunca vi nada assim, são lindos.

Apesar de eu achar que era mentira – por que né? Por favor... Quem nunca viu olhos castanhos como os meus? – quase me joguei em cima dele nessa hora. Ele não fazia nada, ele só estava ali me olhando e eu quase não conseguia manter a respiração sob controle.

Não deixei o olhar dele nem por um instante e quando dei por mim, estávamos sorrindo.

- Meu olho também é castanho! – Jéssica falou fazendo com que ele se virasse.

- É... Eles parecem... Pretos. – ele respondeu, extremamente educado, mas não examinou com mais cuidado.

Eu estava me sentindo a mais sortuda das garotas, mesmo com Jéssica ali, mesmo sabendo que quem não deveria estar ali era eu.

Achei que íamos ser tomados por mais um momento de silêncio quando ele perguntou.

- Já ficaram com alguém nessa viagem?

Epa. Fiquei quieta, eu não fiz nada demais, mas se fosse tentar me explicar com certeza ia passar por vagabunda.

- Eu não – Jéssica começou – mas Bella já beijou dois caras!

- É verdade?

Olhei para ele meio sem graça, mas sorri, achava uma graça como ele sempre confirmava as informações comigo.

- É sim.

- Quando?

- Um no meio da semana... depois descobri que ele já tinha namorada! – acrescentei rápido, o que fez Edward abrir um delicioso sorriso. Ah... Ele sorri meio torto... Será que ele conseguiria ficar ainda mais lindo? – E outro hoje.

- Ah...

Ele ficou quieto e eu me senti completamente envergonhada.

- Então – ele voltou a falar e eu me acalmei um pouco – Vocês querem que fique 3x1 ou 2x1?

Eu quase ri, ele colocou tudo como placares! Parecia que sabia que Jéssica competia comigo na cabeça dela.

- Eu quero que fique 2x1! – Jéssica soou mimadinha e irritante.

- Mas isso não é justo! – eu exclamei.

- Por que não?!

- Você perdeu o BV antes de mim! – eu achava meio tosco falar BV, boca virgem e sinônimos, mas era mais simples do que falar "Você beijou pela primeira vez antes de mim! Não essa semana, a primeira, primeira vez mesmo!" – Eu ainda estou muito atrás em relação a você!

- Eu concordo plenamente! – Edward disse rindo demais pro meu gosto, extremamente divertido com a nossa discussão, mas eu o perdoei quando ele enlaçou minha cintura, me puxando tão perto que quase cai no seu colo.

Jéssica estreitou os olhos na minha direção enquanto eu sorria tanto que fazia meu rosto doer. Mexi os lábios na direção dela formando um "se fodeu!" sem som e comecei a rir, me aproveitando da minha posição apoiei a cabeça de leve no peito dele.

- Vamos entrar na água? – ele perguntou – Eu sei que já tá começando a esfriar, mas a gente só entra pra molhar as canelas.

- Então vamos molhar as canelas! – eu não pude deixar de repetir... Tão desesperadoramente fofo o jeito que ele falou! Com todos os "s" nos finais das palavras, com aquele sotaque cantado...

Quando ficamos em pé, percebi que era agora. Ele olhava de mim pra ela sem saber o que fazer direito, então virei de costas, como quem não quer nada e andei uns 3 passos para a frente, dando privacidade aos dois.

É eu sou uma péssima amiga, mas ao mesmo tempo sou ótima! Se ela não agisse de maneira tão estúpida eu ia acabar me sentindo obrigada a ir embora e deixa-lo só para ela, mas como eu poderia? Sobre o que eles conversariam? Nada!

Pelo menos eu torcia para que fosse assim.

Comecei a pensar no que eu deveria fazer enquanto eles se beijavam, já era noite então não poderia ir perambular muito longe sozinha e na verdade nem seria necessário. Eu ainda estava no meio do pensamento quando ouvi um "ai" envolvido num suspiro na voz de Jéssica.

Já estava me virando rindo, pronta para perguntar que tipo de pessoa fala "ai" depois de beijar, mas não tive tempo. Ele estava bem ali, atrás de mim, e eu tinha virado tão rápido que quase bati no peito dele. Achei que pudesse perder o equilíbrio com a quase-batida, mas ele envolveu a minha cintura com os braços e eu me senti completamente segura.

Edward tocou meus lábios levemente com os dele, deslizou na verdade, me deixando completamente arrepiada. Então me beijou, devagar, seus lábios macios apertados contra os meus, coloquei minhas mãos em sua nuca, afundando os dedos em seu cabelo sedoso. Percebi então que apesar de ter jogado taco com os amigos durante a tarde toda, ele cheirava muito bem! Eu vi o suor dele, sabia que ele tinha jogado, mas ele cheirava como se tivesse acabado de sair do banho.

O beijo se aprofundou, eu fiquei na ponta dos pés para um melhor alcance, as mãos dele percorriam minhas costas e eu ficava mais arrepiada a cada toque.

Nos afastamos brevemente para recuperar o fôlego, e quando eu abri os olhos, ele já estava me olhando, seu sorriso torto estampado no rosto, ele se inclinou e deixou a testa apoiada na minha. Então, minha melhor amiga do mundo, Jéssica, fez um barulho alto como se estivesse limpando a garganta e eu me afastei dele de vez.

- Vamos para a água molhar as canelas? – perguntei sentindo o rosto queimar, envergonhada por tudo. Por minha idéia maluca de que as duas poderiam ficar com ele, por Jéssica, pelo fato de que eu estava pronta para manda-la para o inferno e joga-lo sobre a areia e beija-lo até o amanhecer...

Ele concordou com a cabeça e me guiou para a água segurando minha mão.

- Esperem por mim! – Jéssica gritou com a voz estridente mais uma vez.

Quando ela se aproximou, ele soltou minha mão e espirrou um pouco de água nela que soltou gritinhos e me fez rir.

A água estava deliciosamente quente, mas uma vez que você se molhava, o ar ficava frio, já que ventava muito, então ficamos no raso, nem tirei a canga da cintura.

- A água ta muito boa – eu disse, me inclinando e deslizando os dedos pelas ondas.

- Pena que a gente não pode ir mais pro fundo! Se não ninguém agüenta de frio depois...

- Mas que dá vontade, dá! – eu disse fazendo ele sorrir.

Vi Jéssica se aproximando dele por trás, abri a boca, mas ela me fez sinal para que eu ficasse quieta. Achei que seria a vingança dela por ele ter jogado água nela e achei que tinha tudo para ser engraçado, resolvi colaborar e distrai-lo.

- Vocês vêm pra cá todo ano?

- Sim! Essa praia é bem sossegada então nós ficamos aqui e visitamos as outras praias de vez em quando, às vezes a gente até-

Edward não terminou a frase, por que Jéssica, como a especialista em sedução que era, em vez de espirrar a água como ele havia feito, ou deixar algumas gostas escorrerem por suas costas, sei lá, de todas as coisas que ela poderia ter feito, ela conseguiu escolher a pior.

Ela encheu as duas mãos de água, empurrando tudo para cima dele. Não sei como ela conseguiu fazer uma onda tão grande, só sei que ele ficou completamente ensopado. Claro que comecei a rir, quase cai sentada de tanto que ria.

- Você tá louca? – ele perguntou meio abismado.

Eu não sabia se ele tinha ficado com raiva ou não, na dúvida, continuei rindo. Jéssica ria por que eu estava rindo, e deu alguns passos para trás. Foi quando ele começou a correr atrás dela. Achei que ele ia afundar a cabeça dela na água, tá eu não achei, eu torci para que fosse isso, mas ele só a molhou como ela havia feito. Pensando bem, foi muito pior do que o jeito que ela havia feito.

Como eu não tinha nada a ver com aquilo e realmente só estava com as pernas molhadas, fiquei rindo e assistindo. Retomando sua genialidade infinita, Jéssica começou a correr atrás dele também, ainda soltando gritinhos indignados, ele desviou dela duas vezes, a driblando, como um jogador de futebol. Meu Deus, ele era perfeito demais!

E então ele veio na minha direção e eu arregalei os olhos, ótimo, agora iam me meter no meio.

Edward corria em volta de mim com Jéssia em seu encalço, não demorou muito até que eu começasse a rir de novo.

- Se você é mesmo tão inteligente – ele disse normalmente como se não estivesse correndo, e ela parou para ouvir, ofegante – e gosta de física e matemática – fiquei muito consciente de que ele estava parado atrás de mim, especialmente quando ele apoiou as mãos quentes e molhadas nos meus ombros e continuou falando com a boca próxima ao meu ouvido – não deveria saber que dois corpos que correm em velocidade constante, sendo que um é mais rápido que o outro, nunca vão se encontrar?

Arregalei os olhos e comecei a rir ainda mais, ele conseguiu sacanea-la sendo inteligente! Ele fez a maior piada de nerd do mundo parecer sexy! Ela bufou completamente irritada e cruzou os braços. Edward deslizou os dedos pelo meu pescoço enquanto caminhava até ficar na minha frente.

- Vamos mais para o fundo? – ele estava encolhido, com frio, seus lábios estavam arroxeados. Meu Deus, que lábios... O desenho deles era perfeito, o contorno bem marcado, definido, como se tivesse sido desenhado.

- Vamos! – Jéssica gritou animada e saiu quase correndo.

- Eu já vou! – desamarrei a canga da cintura e estava saindo para deixa-la junto com as nossas coisas, chinelos, óculos de sol...

- Vem logo, Bells! – ele chamou naquela voz deliciosa. Ganhei até apelido, desisti de sair e enrolei a coitada da canga e a arremessei para a areia. Fiquei com medo de que ela caísse na água, mas ganhou uma distância boa.

Me virei e fui correndo até eles. O mar agora estava bravo, apesar de estarmos com a água pelos joelhos, as ondas eram fortes o bastante para nos fazer perder o equilíbrio.

- Por que entrou na água de canga? – Jéssica me perguntou rindo.

- Eu achei que a gente ia só molhar as canelas! – Edward riu por eu estar falando como ele.

Joguei água nele enquanto também ria, ele me molhou de volta. Quando Jéssica se preparava pra entrar na brincadeira ele começou a rir mais ainda.

- Ah, não! Você não! – e empurrou uma tsunami na direção dela, que saiu correndo para o raso gritando – Vamos mais um pouco pro fundo? Eu ainda estou com frio!

- Claro! A água está boa demais, não ligo de ficar com frio depois! – com ele convidando eu escalaria até uma montanha. Como eu estou menininha, toda apaixonadinha... Eca.

Começamos a ir mais pro fundo e quando a água já passava das minhas coxas, veio uma onda mais forte que as outras, me fazendo perder o equilíbrio. Apoiei no ombro de Edward para não pagar o mico de levar um caldo quando ainda estávamos tão raso.

Ele percebeu e me segurou pela cintura, me levando pra perto. Olhei de baixo para cima na direção de seu rosto e ele sorriu torto, aproximando os lábios dos meus.

- Me espera, gente! – Jéssica gritou, acenando enquanto voltava na nossa direção.

Eu continuei segurando no ombro dele, era uma ótima maneira de unir o útil ao agradável, não caia e podia ficar bem perto dele. Os dedos dele deslizaram pela minha cintura, suas mãos estavam frias por causa do vento, mas seu toque deixou minha pele queimando.

O que era isso? Eu mal conheci esse garoto, e já sinto a pele queimar ao seu menor toque!

Não me virei para ele, com medo de estar corada, continuei olhando a caminhada de Jéssica dificultada pelas ondas. O que aconteceu a seguir pareceu mentira, algum tipo de pegadinha de um programa de televisão classe B, mas não!

Jéssica deu um passo mais largo, e uma onda especialmente forte bateu em suas pernas e ela caiu! Não só caiu, isso já seria o bastante na minha opinião, mas não. Ela caiu com as duas pernas para cima e saiu quicando na areia, só as pernas para fora da água.

Preciso dizer que achei que teria uma síncope? Eu ria descontroladamente, escandalosamente, me inclinei pra frente, tendo que apoiar as mãos nos joelhos, minha barriga doía e eu não conseguia parar.

Edward parecia um desenho animado ao meu lado, indo e voltando com o olhar de mim para Jéssica, que aparentemente já havia chegado na areia seca. Acho que ele tinha algum tipo de intenção de ir ajuda-la, mas acabou sendo vencido por minha gargalhada histérica. Quando percebi, ele também ria tanto quanto eu, sua mão apoiada em minhas costas curvadas pelo riso.

Me endireitei, e esfreguei os olhos que começaram a lacrimejar, eu sempre paro de rir falando "aaaiii...".

Ele olhou para mim sorrindo e me puxou pra perto de novo. Nessa hora Jéssica chegou.

Nos afastamos e começamos a jogar água uns nos outros rindo de tudo até que ficou frio demais para continuar no mar.

Edward passou a mão em volta das nossas cinturas, nos puxando para perto dele, rindo, uma de cada lado.

- Se você me afundar na água eu te mato! – eu falei meio gritando, meio rindo.

- É, eu também! – Jéssica falou, num tom irritado.

Saímos e eu comecei a ficar triste percebendo que era a hora de ir embora. Eu nunca mais o veria depois desse dia.

- Acho que está na hora de ir... – ele disse olhando para cima, o céu estava muito mais escuro, coberto por nuvens, não dava mais pra ver as estrelas.

- É... acho que sim – Jéssica concordou e também olhou para cima, o imitando.

Eu não disse nada, não queria ir ainda.

Quando percebi que a mesma situação de antes de repetia, peguei minhas coisas e virei de costas e me afastei mais uma vez. Amarrei a canga molhada e suja de areia na cintura e fiquei segurando o chinelo nas mãos, envolvendo meu tronco com o outro braço, tentando espantar o frio.

Mal tive tempo de dar dois passos e ouvi Jéssica dizer em sua voz mais estridente.

- Tchau! – e passar correndo por mim em direção ao nosso prédio.

Comecei a virar, apontando na direção que ela havia ido, achando a coisa mais engraçada do mundo alguém que pudesse beijar um cara perfeito como o Edward e soltar um "tchau!" numa voz tão fina que era digna de algum desenho japonês e sair correndo, mas dessa vez, eu realmente bati no peito dele, de tão perto que ele estava.

Ele era ainda mais rápido do que ela!

Começamos a nos beijar urgentemente, mas como uma idiota eu não soltei o chinelo. Eu nem pensei nisso na verdade. As mãos dele subiam e desciam pela curva da minha cintura, meus dedos corriam por seu cabelo.

Até o cabelo dele era incrível! O meu estava todo duro pelo ar úmido e pela areia e o dele era macio e sedoso.

Senti os primeiros pingos de chuva batendo nos meus ombros e ele se afastou. Senti meu rosto cair, droga de chuva! Ia fazer ele ir embora!

Mas pra me surpreender ainda mais do que já havia feito a noite inteira, ele olhou pra cima e sorriu, me puxando ainda mais perto, me colando no corpo dele, voltando a me beijar. Ele mordeu meu lábio e um arrepio percorreu minha espinha. Edward não só percebeu como sorriu com isso, aquele sorriso me deixou louca e eu fiquei na ponta dos pés, e puxei o rosto dele pro meu.

Ficamos nos beijando pelo que pareceu horas, estávamos completamente sem fôlego, mas parecia impossível parar. Edward se afastou mais uma vez, agora para me olhar, eu viajei naqueles olhos verdes, que me espiavam por trás das mechas de cabelo que caiam molhadas sobre sua testa. Ele me beijou de novo e eu soltei um gemido baixinho fechando os olhos.

Não sei o que me fez abrir os olhos, mas quando o fiz, encontrei os dele, também abertos, olhando de volta pra mim. Sorrimos no meio do beijo.

Continuamos com aqueles beijos perfeitos, ora doces, ora urgentes, de olhos abertos, assistindo a reação um do outro. Nunca imaginei que encontraria alguém que me faria querer beijar de olho aberto para não perder nem um detalhe de seu rosto.

Mais uma vez nos afastamos, mas só nossas bocas, ficamos com os rostos colados, a água da chuva corria por minha bochechas e ele começou a fazer o mesmo caminho, me acariciando com o próprio rosto. Deslizou o nariz pela minha bochecha, até a base do meu pescoço me fazendo arrepiar de novo, aspirei o perfume delicioso que emanava dele, enquanto sentia o nariz dele passando de leve pela minha bochecha.

A chuva começou a aumentar e ele me puxou para baixo de uma arquibancada pequena que estava atrás da gente. Sorrimos um para o outro por alguns instantes que antes que a pegação começasse novamente. Pegação... Parece uma coisa ruim? Suja? Não era... Estávamos só deslizando os dedos pela pele um do outro, como se quiséssemos memorizar cada detalhe enquanto nos perdíamos em beijos.

Infelizmente mais cedo ou mais tarde teríamos que nos separar. Se me perguntar, acho que essa hora chegou cedo demais.

Quando a chuva começou a ceder, saímos debaixo da arquibancada e nos olhamos.

- Bella. Faça. Uma. Boa. Viagem. Amanhã. – ele pontuou todas as palavras com beijos, sendo que o último foi intenso.

Ele começou a se afastar e eu não pude deixar. O puxei pela mão e dei um último beijo, o mais intenso de todos, fiquei mais uma vez na ponta dos pés para alcança-lo melhor, mas acho que devo ter exagerado só um pouquinho na intensidade, por que o jeito que ele correspondeu foi tão... enlouquecedor.

Edward me apertou contra ele com tanta força, que estávamos mais unidos do que nunca, se ele somente pensasse em me soltar eu cairia mole no chão.

Se ele tivesse tentado qualquer outra coisa comigo naquele momento, eu o impediria, na verdade eu o encorajaria. Mas como um perfeito cavalheiro ele não fez nada.

Nos afastamos sem fôlego por uma última vez, e encaramos os olhos um do outro. Ele acariciou meu rosto com as costas da mão. Sua mão livre segurava a minha com força.

- Tchau... – ele murmurou, fazendo parecer que ir embora era tão difícil para ele quanto era para mim.

- Tchau...

Nós íamos para lados opostos, mas nossas mãos se seguraram até que a distância ficasse grande demais.

Eu quase morri, mas não olhei para trás.

Caminhei devagar, sentindo as pernas moles e encontrei Jéssica sentada na guia. Não acredito que a burra ficou ali aquele tempo todo!

- Vamos? – perguntei displicente.

Ela não respondeu e apenas se levantou e começou a andar do meu lado.

- Você conseguiu acreditar naquilo? – eu sabia muito bem do que ela estava falando – Aquele garoto era perfeito demais!

Continuamos falando da perfeição dele enquanto caminhávamos de volta para o apartamento.

Antes de atravessarmos a rua, avistei a mãe de Jéssica com uma toalha em volta do pescoço gritando, completamente histérica. Eu teria rido se Jéssica não estivesse do meu lado, fingi que aquilo era normal.

Quando a velha maluca nos viu começou a gritar conosco.

- Onde vocês estavam?! Estão loucas? Sabe que horas são?!

- Oito? – arriscamos juntas.

- São dez e meia! DEZ E MEIA! Vocês sabem o nervoso que eu passei esperando por vocês aqui! Jéssica! Seu pai foi para a delegacia! E você Bella! Se tivesse acontecido alguma coisa com você como eu poderia avisar os seus pais?

- Mas nós estávamos bem aqui! – Jéssica apontou para a praia exatamente na nossa frente, há alguns metros de distância enquanto eu girava os olhos e cruzava os braços.

- Nós passamos por lá e não vimos vocês! O que acha que nós pensamos?!

Eu teria medo, na verdade eu estava com medo da velha demente, então fiquei perfeitamente calada, Jéssica por outro lado começou a gritar "Tá, mãe! Tá bom!" enquanto se afastava para o interior do prédio. Ela poderia ser bem burrinha, mas era bem corajosa.

Subimos e tomamos banho, depois jantamos em meio a um enorme sermão da mãe biruta dela. Lavei a louça para me sentir útil e também para encerrar a conversa, enquanto me via trabalhando a velha não me perturbava, por que também não queria fazer o serviço.

Jéssica puxou uma cadeira e se sentou ao meu lado enquanto eu estava na pia.

- Será que vamos vê-lo de novo?

- Não, né. Ele só sabe nossos primeiros nomes e nós não trocamos nem um telefone. – por que diabos nós não trocamos nem um telefone?

Me lembrei que era porque eu mal conseguia pensar perto dele.

- Imagina se amanhã quando a gente tiver indo embora, a gente vê ele de novo? – ela disse sonhadora.

- Isso não vai acontecer – respondi cética, enquanto secava as mãos.

Eu sabia que não havia possibilidade de isso acontecer, mas não fazia mal algum desejar em silêncio, certo?

Fui me deitar e sonhei com aquele sorriso torto e olhos verdes brilhantes.

xX0Xx

N/A.:. Olá, minhas violetas! Fic nova BASEADA EM FATOS REAIS! Pode falar, ficou muito mais interessante agora!

Os nomes foram alterados somente para a minha própria proteção, se os envolvidos me pegam, lá se vai meu couro... Que está comigo a tanto tempo... Eu gosto dele! [/edward-fascination]

Somente poucos diálogos e fatos foram omitidos pelo mesmo fato mencionado acima! Os locais são todos verdadeiros, então se você, que mora em Passo Fundo conhece um rapaz que vive se gabando por ter ficado com duas meninas no começo de... 2006 se não me engano, tenho que checar, pode parar de chamar ele de pescador porque é tudo verdade!
Diga também pra ele entrar em contato, aposto que a "Bella" morre.

Sei que esse primeiro capítulo tá até sem graça de tão gigante, mas eu não podia cortar pq a partir de agora, é tudo inventado! A "Bella" e o "Edward" da vida real nunca mais se encontraram... Triste, né? Então estou fazendo essa fic em homenagem ao amor de um dia de verão deles!

A partir do segundo cap além de mais curtos os capítulos vão ter POVs da Bella e do Edward! Nesse primeiro não teve pq eu só sei o ponto de vista da "Bella" e não quis mentir!

É sério gente, é tudo de verdade!

COMENTE!! por favor, claro! Pra eu saber se devo continuar!

Ps.:. Não quero ver ninguém chamando a Bella de vadia, vagabunda e derivados pq todo mundo aqui faria igual ou pior pelo Edward que eu sei!