- ME TIRA DAQUI!!! ME TIRA DAQUI!!!

Batia o mais forte que podia na porta, gritando. Sua voz estava rouca. No chão algo molhado.

Lágrimas.

- ME TIRA DAQUI!!! – e continuou batendo.

Não teve nenhuma resposta.

Nenhuma voz do outro lado da porta. Nada. Só o silêncio. E esse quebrado pelos seus gritos. Estava transbordando em muitas coisas. Ódio, ressentimento, medo, tristeza. Sentia-se acabada. Cada pedaço de esperança jogado fora. E continuava a gritar. E continuava sem ter resposta. Não ouvia a voz de ninguém ha algumas horas. A ultima voz que ouviu foi a dele. A dele. Ele já tinha a trazido para a tristeza antes. Agora trazia para ela o desespero.

Agora, mais do que antes, odiava Sasuke.

- M-me... tira... – e deixou-se cair de joelhos no chão, não sabendo mais como controlar o choro.

Podia chorar. Então choraria tudo que podia. Ninguém estava vendo. Ninguém iria sentir pena dela.

E chorou.

Apoiou as costas na porta. Continuou a chorar.

Os soluços travavam no meio da garganta. Os olhos ardiam. As bochechas pareciam ficar cada vez mais ressecadas a cada lágrima que escorria por elas. Seu rosto estava empapado e vermelho. E seus olhos estavam vermelhos. Seu cenho estava enrugado. Seus cabelos estavam assanhados. Sua blusa estava com manchas de lágrimas.

Mais atrás, antes de estar novamente trancada, ela se lembrava. Depois daquela dor ela tinha perdido as forças para lutar contra o estupor. O sono foi mais forte. Ela desmaiou. Antes de cair do galho, e levar uma queda que provavelmente lhe tiraria a vida, Sasuke a pegou. Quando acordou já estava naquele quarto. Na sua cela. E ele estava lá também. Uchiha Sasuke, ao vivo e em cores. Encostado à parede, como gostava de fazer. Ela levantou na mesma hora. Olhou ao redor.

- N-não. – e levou as mãos à boca. Os olhos arregalados.

E Sasuke continuou impassível. E impassível começou.

- Você achou mesmo que poderia fugir? – e riu, cínico.

Um nó se instalou no meio de sua garganta.

- Sasuke...?

E piscou. E ele estava perto. Perto demais. O suficiente para sua respiração roçar em seu rosto.

- Sabe esse selo aí? – e passou os dedos pela marca.

Um calafrio. Os dedos dele eram gelados.

- Não importa onde você esteja. Orochimaru tem total controle sobre esse selo.

Ela queria poder se mover. Não conseguia. Estava tremendo. Ansiedade e medo.

Medo?

Nunca tinha pensado o quanto poderia ter medo de Sasuke. A presença dele, a voz dele, os olhos dele, o toque dele... Tudo. Não era mais o Sasuke que ela tinha conhecido. Era... Diferente. E só tremia. E não sabia o que fazer. Os pensamentos pararam. Tudo parou.

- Ele vai forçar uma possessão do selo em você na hora que ele quiser.

E a voz dele entrou pelo ouvido dela, junto com o hálito quente. Outro calafrio.

- Como seu corpo não aceitou o selo por completo. Isso pode te matar.

E ele voltou para a parede. Rápido como veio, ele foi. Ainda não conseguia se mexer.

- Por isso é melhor não tentar nada estúpido. – e riu baixinho.

Então ele abriu a porta. Ela estava destrancada. E ele ia passar. Então os músculos dela destravaram. Não sabia o que fazer. Só queria sair por aquela porta.

- Espera!! Sasuke!!

E ela ia passar. Então sentiu como se algo passasse pela sua barriga. Ali doeu. Sasuke acabara de lhe dá um soco. E ela caiu de joelho, gemendo de dor, com os braços envolvendo a barriga. E ele riu de novo. Então passou. Ele fechou a porta. E ela ouviu o som metálico da porta se trancar.

- Não. – seus olhos começaram lagrimejar. – Não! – se levantou e começou a bater na porta.

As lágrimas caiam fartas.

E foi isso que aconteceu.

Sakura agora não está chorando. Está meramente soluçando. Os olhos fechados. Eles ardiam. Chorou tudo que podia.

Haviam se passado algumas horas. Ela ainda estava ali, sentada. Os segundos se arrastavam. Parecia cada vez mais lento. Então as palavras de Sasuke voltaram à memória. Aquilo era o máximo que podia agüentar. Desde o momento em que trouxeram-na para lá, sua chance de fugir era limitada à uma permissão. Sem o consentimento de Orochimaru, ela não podia fazer nada. E, se aquele selo tinha todo aquele poder, então não havia sentido tentar se defender. Agora era como se fosse subordinada a ele. Não podia contrariá-lo. Se o fizesse, poderia perder a vida.

...0o0o0o0...

...0o0o0o0...

- Um... Dois... Três... Quatro... – contava nos dedos – Quatro dias. – e fez quatro marcas no canto parede usando de uma kunai.

Há quatro dias estava lá. Mas podia jurar que tinha passado muito mais. Então olhou para a kunai. É. Foi muita ingenuidade. Se ela tivesse alguma chance de fugir, então teriam desarmado-a.

Isso já era o suficiente para provar que ela não representava uma ameaça. E os olhos tornaram a arder. Antes de a lágrima cair, limpou-a. Não queria chorar mais. E guardou a kunai na bolsa.

E ficou olhando a bolsa. Cheia de objetos cortantes. Que irônico, parecia mais que queriam que ela cometesse suicídio.

E entrou no banheiro. E, pela primeira vez dez de que pós os pés por lá, sentiu nojo. Ela estava sendo tratada como se fosse uma visita – fora pelo fato de que ela era, na verdade, prisioneira – por eles. Não tinha nada na comida desde o início. Seu sangue ferveu. Queria poder destruir tudo aquilo. Ligou a ducha. A água quente caiu, fazendo um barulho parecido com um chiado. O vapor subia. Despiu-se e entrou debaixo da ducha, sentindo sua pele arder por poucos instantes após entrar na água. Sua pele ainda estava suja de graxa e poeira. Seus cabelos estavam grudentos e gordurosos, tamanho suor da noite anterior.

Levantou o rosto, de olhos fechados, abrindo espaço para a água deslizar pelo seu rosto e pescoço. A água corria entre seus cabelos, agora tocando o couro cabeludo.

Um calafrio. Seus cabelos espetaram na raiz.

Sentou-se no chão do banheiro. Abaixou o rosto e a água começou a escorrer dele, pingando de todos os lugares. Nariz, cílios, lábios, queixo... Eram onde as gotas mais se acumulavam.

A água entrou em seus olhos, se misturando à substância viscosa que os untava. E dali começou a pingar. A água entrava. E ardia. Parecia chorar. E fechou os olhos. E prometeu a si mesma.

-"Não vou esquecer Konoha. Nunca."

...0o0o0o0...

...0o0o0o0...

Estava sentada na cama, de costas para a parede e abraçando as pernas. A mesma toalha que usou para tomar banho, e que tinha encontrado pelo banheiro, estava sobre sua cabeça, cobrindo os cabelos.

Havia tempo desde a ultima vez que encontrou sinal de vida. Seu estômago roncava alto. Dessa vez não foi porque ela rejeitou a comida. Simplesmente não lhe haviam entregado. E também não podia sentir o chakra de ninguém a uma distância considerável. Parecia regime de isolamento.

A mente vagava por um lugar distante, onde não estava presa. Podia imaginar a sensação do vento batendo no rosto, até mesmo o calor do sol. Fechou os olhos, prendendo-se a essa ilusão. Em sua mente, passaram várias imagens dos habitantes da vila. Neji, Naruto, Ino, Hinata, Lee, Tsunade. Todas imagens congeladas, como se fossem fotos em slides. Konohamaru, Chouji, Teuchi, Ayame, Kiba, Shino, Kakashi... E as imagens da mais variadas pessoas iam e vinham, numa velocidade absurda.

Um ranger metálico chegou aos seus ouvidos. Abriu os olhos, rápido demais, não vendo nada a principio, exceto um fino e trêmulo feixe de luz, vindo da porta. Os olhos, mais abertos do que ela pensava que poderiam ficar, seguiam as sombras que tampavam metade da luz. Levantou-se da cama num pulo, ficando tonta pela brusca liberdade na circulação sanguínea. Cambaleando, foi o mais rápido possível para a fresta da porta.

Quando tentou empurrar a porta, uma força contrária a impediu. A porta continuou no lugar.

- Não empurre! – uma voz, do outro lado da porta, sussurrou baixinho, num tom de reclamação.

Antes que pudesse contestar, um objeto arredondado e vermelho passou pela fresta. A pouca luz oscilava e refletia na superfície do objeto, que depois ela reconheceu como uma maçã.

Ficou olhando para a maçã, ainda não tendo digerido a idéia de o que acontecia. Então ele empurrou a maçã para as mãos dela, vendo que ia demorar a ter alguma reação. Ela foi forçada a fechar as mãos ao redor da fruta, sentindo o estômago reclamar baixinho.

Por um momento, teve chance de olhar quem era do outro lado, sem mesmo lembrar de quem pertencia àquela voz. Ela levantou vagamente os olhos, curiosa, porém, ansiosa. O olhar chocou-se com o dele, pairando em orbes brancos.

Suigetsu.

- Come.

E antes que ela pudesse responder, a porta fora fechada, levando embora a pouca luz que entrava. Novamente estava sozinha no escuro daquele quarto.

Olhou para a maçã, entorpecida pela fome. A cor da fruta parecia muito mais tenebrosa naquela escuridão do que poderia um dia vir a ser. Era um vermelho escuro, quase vinho, que naquele silêncio e escuro, parecia vermelho sangue.

Levou-a aos lábios, dando uma mordida pequena. Dentro de sua boca, o suco da polpa a livrava do gosto ácido de sua própria saliva. Algo com aquilo a fez sentir mais fome, dando outra mordida ainda maior. A textura da maçã, que necessitava que mastigasse bem para poder finalmente engolir, roçava no céu da sua boca, enquanto a quantidade de saliva crescia debaixo de sua língua.

Em pouco tempo estava somente com o miolo da maçã, apesar de ainda mordiscar o pouco que ainda dava para mastigar. A barriga, agora preenchida por algo, havia parado de reclamar. Demorou pouco para notar que já tinha terminado, e que sua boca, e ao redor, estava melado.

Não havia qualquer tipo de lixeiro ali e não podia deixar pelo chão. Não vendo alternativa, dirigiu-se ao banheiro, levantando a tampa e jogando o que sobrou da maçã ali. Deu a descarga. Olhava sem enxergar o vaso descarregar toda aquela água, enquanto refletia o que acabara de acontecer.

Estava fora dos padrões, aquela refeição, se assim podia ser chamada. Todas as vezes que viam ao seu quarto para lhe entregar uma de suas três refeições diárias, era sempre algo que ela sabia que encheria sua barriga. Mas, desde quando uma única maçã pode ser algo que encha um estômago e acabe com a fome?

Ironicamente, sua mente se voltou para um tipo de castigo, por ter tentado fugir. Pequeno demais para ser algo vindo de Orochimaru. Substituir as refeições diárias por uma maçã?

Ridículo.

Abaixou a tampa do vaso, depois de, finalmente, notar que ele já havia feito seu trabalho. Saiu do banheiro, cambaleou até a cama e se atirou sobre ela, ouvindo o ranger das molas sob si. Os lençóis ralos do colchão, ásperos como eram, estavam irritando a pele de suas bochechas, fazendo-a querer coçar o lugar. Seria o colchão pior, ou melhor, sem o lençol? Virou a costas, apoiando-as na cama, olhando fixamente para o teto, sem nenhum pensamento fixa. Apenas viajando pelas suas memórias.

Será que Konoha estava mudando em algo durante sua ausência? Então lembrou de seus dias como pupila da Hokage. De hora em hora Shizune começava a chamar a atenção de Tsunade, que dormia, bebia, jogava cartas em pleno horário de trabalho. E toda manhã Sakura tinha que arranjar um esconderijo novo para a garrafa de sakê, que era ameaçada de ficar vazia até o fim do dia. Sempre havia a opção da tábua solta no chão.

E era arrastada pela própria mestra para um lugar – onde ela não devia estar, lógico – onde Tsunade provavelmente ficaria bêbada e apostaria fortunas em jogos que nunca ganharia. Não conseguiu evitar sorrir brevemente com a lembrança. E no lugar do sorriso, seus lábios se curvaram para baixo, ao lembrar que talvez não pudesse mais ver sua mestra se embebedar e jogar, e perder logo em seguida, resmungando como uma pata.

...0o0o0o0...

...0o0o0o0...

Os dias passavam com a lentidão que jamais Sakura havia pensado que eles poderiam ter. Á um canto do quarto, várias marcas enchiam-se de poeira e teias de aranhas. As marcas que contavam os dias. Não havia luz em lugar nenhum para que ela soubesse que horas eram, ou quando passava, mas havia um horário definido para sua alimentação, ela supôs. Espremida entre suas mãos, a carta que escrevera para Sasuke pareci cada vez mais frágil. A carta e sua bandana de Konoha eram suas únicas provas de que Konoha não passava de um sonho furtivo. Semanas estavam passando, e logo faria um mês naquele isolamento. Depois das visitas peculiares de Suigetsu entregando-lhe somente maçãs durante quatro longos dias, a sua alimentação normal retornara.

Lembrava-se perfeitamente de como salivara assim que viu o que estava na marmita. Sua boca, com um gosto amargo da casca da ultima maçã que comera, e seus lábios começaram a tremer. Comera o mais rápido que conseguira.

Agora estava deitada no chão, já nem preocupada mais que suas roupas estão tão sujas.

Ouviu batidas na porta, e na mesma hora levantou, sentindo uma tontura por ir tão rápido. Tinha que ser rápida. Cambaleou até a porta, batendo duas vezes. Então, ao contrário do normal, a porta se abriu rápido e uma mão a puxou para fora, cega pela luz. E antes que pudesse se recuperar do susto, já estava sendo arrastada pelo corredor, tropeçando nos próprios pés.

- Rápido! – resmungou uma voz masculina à sua frente.

Quando já estava acostumada à claridade, confirmou a quem aquela voz pertencia. Suigetsu. Ao que notou esses dias, ele era seu responsável.

Tão irônico...

Permaneceu calada. Lembrava vagamente da ultima vez que utilizara sua voz. Os resultados não foram algo que ela tivesse gostado.

Deixou-se guiar pelas mãos ásperas dele, tentando acompanhar seu ritmo. O que era algo até certo ponto desgastante, já que ficara tanto tempo presa e parada, além de as pernas dele, tão longas, podiam dar passadas relativamente mairores que as dela. Fato que a fazia dar dois passos a cada um dele.

O tempo passava devagar, talvez para torturá-la. Ao decorrer do caminho todas as perguntas que ela gostaria de fazer entalavam em sua garganta e lhe presenteavam com um nó na língua. As batidas de seu coração tornando-se mais aceleradas, como se estivesse sob pressão.

Suigetsu levou a mão livre à cintura, pegando um de seus copos de refrigerante e levando o canudo aos lábios, produzindo um som estranho ao beber o refrigerante quase acabado.

- Não pense em fazer algo como da ultima vez. Hoje será só um teste. – falou Suigetsu, quebrando o silêncio perturbador, ao devolver o copo ao seu lugar. Seu cenho estava franzido, como o de uma pessoa preocupada.

Uma interrogação voltou-se para Sakura. O que diabos ele está falando? Distraída demais com a pergunta que não verbalizava, não viu que o corredor chegava ao fim. E em seu lugar surgia uma saída. Pela primeira vez em muito tempo, voltou a sentir a luz do sol arder em seus olhos e causar-lhe tonturas.

Havia árvores e mais árvores em qualquer lugar que olhasse. Uma floresta talvez, já que não acreditava poder ver qualquer coisa que estivesse a mais de três metros de distância. Sentia-se estranha. Como se fosse a primeira vez que visse algo diferente daquele cubículo onde foi aprisionada. O vento fresco balançava de leve seus cabelos e fazia-a esquecer de como era abafado e quente. As árvores, altas demais para dar-lhe o luxo de ver o céu, pareciam mais secas do que ela se lembrava. Mas dava para saber que não era de tarde, a julgar pela posição das sombras em relação à pouca luz do sol que escapava.

Não houve tempo para concluir seu raciocínio, que Suigetsu voltava a guiá-la. Quase tropeçou de verdade, se não fosse por ele que a apoiou o suficiente para que recuperasse o equilíbrio.

O silêncio prosseguiu, mas já não parecia mais tão perturbador.

Mais ao longe podia ver ainda mais luz atravessando os troncos grossos das árvores. Ao chegar lá, confirmou sua teoria. Havia pouco tempo que o sol tinha nascido. Ainda era possível sentir o frescor da manhã, assim como as gotas de orvalho.

Atrás das árvores, ou da floresta, ela não sabia definir, havia um campo vasto. A grama, curta e rala, parecia mais que era aparada peridioticamente. Porém, pouco mais ao longe, pedras empilhadas dificultavam a passagem. Algo como uma muralha. Poderia dificultar, mas não evitaria que alguém escapasse.

Enquanto divagava em suas chances – quase nulas, por sinal – de escapar, Suigetsu foi mais à frente, deixando-a para trás. Parou quando estava debaixo de uma árvore.

- Ei, Sasuke. – falou Suigetsu, olhando para o moreno deitado acima, em um dos galhos grossos da árvore.

O moreno virou o rosto preguiçosamente, olhando de soslaio para Suigetsu, que estava mais abaixo.

- Sua vez de bancar a babá. – resmungou Suigetsu, alto o suficiente para que Sasuke ouvisse.

Suigetsu pos a mão na cintura, pegando novamente o refrigerante e bebendo. O gole foi longo e barulhento enquanto fechou os olhos para melhor apreciá-lo. Devolveu o copo ao seu lugar, enquanto suspirava fundo, em sinal de prazer pelo quão gelado estava o refrigerante descendo sua garganta. Então se virou, dando de cara com um Sasuke caminhando em direção a Sakura. Deu de ombros sentindo-se satisfeito que tenha acabado o serviço. Andou por entre as árvores, imaginando uma cama onde pudesse dormir o resto da manhã.

O cenho franzido. As memórias de tudo que ele já havia lhe feito estavam provocando ma repulsa nojenta demais para verbalizar. Sua maior vontade, diante dos olhos de Sasuke era cuspi-lo. A raiva refletida em seus olhos profundos e claros demais, só os fazia parecer mais sombrios do que o tempo de isolamento já havia feito.

Ele parou poucos passos há distância. Os lábios curvados para baixo e comprimidos, em sinal de desagrado. Olhava nos olhos dela. Palavras de baixo calão ecoaram na cabeça de Sakura, berrando insultos pelo atrevimento dele de manter o contato visual. Naquele momento, qualquer palavra que dissesse só estaria a poucos passos de qualquer palavra que pensava.

...0o0o0o0...

...0o0o0o0...

Escondia-se atrás de uma árvore. Arfava mais do que se lembrava que podia. Todo aquele tempo que passou confinada a havia feito esquecer como era estar viva. A sensação de segurança que ela tinha toda vez que desviava da lamina de Sasuke lhe dava confiança para continuar.

O tronco da arvoro fora cortado ao meio, mas antes que a lamina raspasse em suas costas, já havia pulado para um ponto alta nas árvores. Ele pulou atrás dela. Seus olhos mantinham-se mergulhados em negridão. Em seu corpo não havia sequer um arranhão, da mesma forma que sua roupa permanecia limpa. Sakura continuou pulando entre os galhos das árvores, esperando despistar seu inimigo.

Em um momento, quando soube que o chakra – o mesmo a manteve assustada alguns momentos antes. Parecera que havia se multiplicado desde a ultima vez que o viu. – já não estava tão perto - ele estava indo mais devagar de propósito. Não havia um grama de chakra nas pernas e ela já havia visto a velocidade que ele era capaz de assumir – quanto antes. Pulou em queda livre em direção ao solo, pronta para correr.

A luz do sol, já alta no céu, abafava o ar e levava embora o orvalho e o frescor tão frios que a noite trouxe. O vento balançava os cabelos de Sakura enquanto ela corria. Logo atrás estava Sasuke, já se aproximando. Novamente ela se escondeu atrás de uma árvore, já cansada de correr. O coração parecendo que ia quebrar seus ossos a cada batida forte demais.

Mas antes que ele passasse direto pela árvore, segurou o pulso de Sakura e a jogou contra outro tronco. Ela gemeu de dor. Sasuke ia enfiar a katana em seu ombro, mas ela conseguiu sair do caminho a tempo. Enquanto ele puxa a katana de volta – ela havia ficado enfiada o tronco da árvore – Sakura tomou impulso no cotovelo e ia dar um soco no abdômen dele – mais especificamente, na boca do estômago. Largou a katana e se abaixou, deixando que o punho pairasse sobre sua cabeça. A sola de seu pé raspou no chão, dando uma rasteira em Sakura. Ela, ao cair, bateu a cabeça no chão e ralou as palmas das mãos e dos cotovelos – que usou para amortecer a queda.

Havia fechado os olhos involuntariamente, impedindo-a de ver Sasuke se levantar e arrancar a katana do tronco. Quando abriu os olhos pode ver seu reflexo no metal platinado na ponta da arma. Arregalou os olhos, supondo a idéia de seu pescoço degolado. O suor pingava de seu rosto e arfava bastante. Atrás da cabeça latejava, assim como o selo amaldiçoado e seus arranhões.

Não se surpreendeu ao ver Sasuke guardar a lamina em sua bainha, mas não imaginava isso.

Levantou-se. Não estava pronta para abaixar a guarda assim tão rápido. Ele, porém deu as costas e começou a se distanciar.

Ela se levantou, confusa.

- Não vai terminar o que começou? – mordeu seu lábio inferior, angustiada.

Ele não parou de andar, mas olhou para trás, por cima do ombro. Os olhos negros demais para haver qualquer reflexo. Um calafrio percorreu a espinha de Sakura. O medo novamente controlou sua pulsação.

- Talvez eu vá terminar mais tarde. – e voltou-se novamente para frente.

Esquecendo-se do medo, deu-lhe lugar à raiva a irritação. Suas feridas – abertas durante algum momento de distração durante a luta – ardiam, cheias de terra. Então, a completo contragosto, o seguiu, mentalizando limpar as feridas e poder descansar. Não havia percebido o quanto tornara-se inativa.

Durante todo o caminho, estivera alguns metros atrás, olhando para frente. O punho cerrado. O nó em sua garganta ardia e as passadas eram fortes demais. Os calos nos pés – ela pisava com muita força nos galhos, e, sem o chakra que geralmente usava para amortecer o impacto acabou por inçar a sola dos pés – doíam. Seria pedir demais poder diminuir o espaço de tempo para que pudesse descansar logo?

Entrou em seu quarto. Sasuke a olhava desaparecer na escuridão do aposento. Fechou a porta. Não ouve tranca. Podia abrir a porta na hora que quisesse. No entanto isso deixara de se tornar uma opção válida depois de sua tentativa de fuga.

Não tinha como fugir dali sem que alguém soubesse.

Do outro lado da porta podia-se ouvir os sons de passos se afastando. Sakura, suada, puxou o zíper da blusa, expulsando-a de seus ombros. Abriu a porta do banheiro, tirando as sandálias ninja com a mão livre. A armadura de aço, tão semelhante a grades muito finas, perdia seu calor. Afrouxou a única alça que segurava a armadura. As redes de aço, quase arranhando sua pele no processo, escorreram por seu corpo até parar aos seus pés.

...0o0o0o0...

...0o0o0o0...

Novamente estava na floresta. As estrelas da noite sem lua não eram suficientes para iluminar seu caminho. Arfava menos do que da primeira vez, sentindo-se recuperada. Um buraco ardia em seu peito. Os fantasmas de suas memórias lhe assombravam. Ao seu redor podia ver os vultos das pessoas que ficaram para trás. Uma palavra ecoava em sua mente, nebulosa demais para ver o que era. Havia cheiro de sangue para todos os lados, deixando-a enjoada. A floresta então desapareceu, dando lugar a outro cenário. Não havia uma nuvem sequer no céu. No topo de sua cabeça, algo quente escorria. Pedras cinzentas e claras tomavam lugar na escuridão. O reboar das folhas das árvores reproduzia gritos torturantes. Aproximou-se de uma das pedras. A poeira grossa sobre ela tomava alguma forma mais funda na pedra. Passou os dedos ali, esfregando contra a terra e o lodo. Os olhos se arregalaram. Naquela pedra estava escrito um nome.

"Haruno Sakura"

Algo quente começou a escorrer por seu rosto. O gosto salgado das lágrimas penetrou entre seus lábios semi-abertos. Um gosto horrível, ela diria. Então, alguém a chamou. Uma voz, suave como veludo e rouca como o ronronar de um gato manhoso chamou seu nome. Levantou o olhar. Na escuridão enxergou seu reflexo nos orbes negros.

...0o0o0o0...

...0o0o0o0...

Levantou da cama num sobressalto. Seu rosto estava quente, mas o suor estava inacreditavelmente frio. O peito subia e descia rápido. Os olhos, esbugalhados de medo, viam a escuridão mais profunda do que se lembrava. Passou as mãos nos cabelos, assanhando-os numa tentativa inútil de se acalmar. Sentia o coração bater forte contra suas costelas, ameaçando quebrá-las. Levantou da cama, pisando no chão frio. Cambaleou até o banheiro. Abriu a torneira. O som peculiar da água sob pressão lhe lembrou novamente dos sons das árvores de seu sonho. Juntou as mãos debaixo da água. Quando suas mãos estavam quase transbordando levou-as ao rosto. O suor frio foi substituído por uma sensação mais agradável. Olhou-se no espelho. Algumas mechas do cabelo acabaram se molhando e grudando no rosto suado e quente. Estava pálida e as olheiras sob seus olhos eram escuras e fundas, dando-lhe um ar fantasmagórico. Fechou a torneira.

O sono a abandonou. Não conseguia mais. Desistindo da idéia de voltar a dormir, despiu-se e se dirigiu até ducha, desejando que a água fria a fizesse se acalmar.

...0o0o0o0...

...0o0o0o0...

As sombras dançavam lentamente. As velas, espalhadas pelo cômodo, tremulavam ao ritmo do vento que entrava uivando pelos tubos de ventilação. Em um dos cantos do quarto, uma cama mantinha um certo volume sob seus lençóis. Metade do corpo de Orochimaru mantinha-se descoberta dos lençóis. Duas batidas na porta o tiraram de seus pensamentos.

- Entre. – a voz doentia e cavernosa saiu fraca.

A porta abriu, obediente à ordem dada. Os olhos negros reluziram na luz das velas. Adentrou o quarto, silencioso, fechando a porta atrás de si. O rosto pálido como giz e com uma aparente resistência marmórea. Lindo como uma estátua de museu. Um rosto sem expressões.

- Ora. – abriu um sorriso longo e fino, dando-lhe um semblante sinistro – Enfim chegou, Sasuke-kun.

O moreno nada dissera. Seu mestre ajeitou-se sentado na cama. Os orbes amarelos, tão semelhantes às cores que uma cobra geralmente teria, tremularam por um instante.

- O que achou de nossa hospede? – continuou, indiferente ao silêncio de seu aluno. Apoiou o rosto em uma das mãso, num gesto de total interesse.

O cenho de Sasuke – Orochimaru não havia notado antes – franziu-se ainda mais do que quando entrou. Uma expressão de desgosto.

- Ela foi alimentada.

O sorriso de Orochimaru se desfez, curvando-se para baixo. O cenho franziu e deixou rugas fundas em sua testa.

...0o0o0o0...

...0o0o0o0...

- Ele não veio.

O sussurro ecoou pelo quarto. Levou a mão à testa. Estava fervendo. Retirou os lençóis de cima de si, sentindo o calor tornar-se insuportável. Abriu o zíper da blusa, deixando o bafo quente de seu corpo se dissolver com a brisa que entrava pelas frestas da porta. Ainda estava abalada pelo sonho. Nunca havia tido um pesadelo tão perturbador. Era como se não tivesse sido ela a sonhar aquilo. O cenário era conhecido – conhecido até demais, diria -, mas nada daquilo parecia fruto do que cultivara em sua mente. Não estava exatamente com medo de morrer. Já havia convivido com várias mortes em suas ajudas constantes do hospital. No entanto, de certa forma, aquilo lhe lembrava sua infância. Mais especificamente, quando esteve em depressão, ao ter de encarar uma realidade horrível – ver seus amigos em estado de quase morte por causa de Sasuke.

Sonhos assim eram mais comuns naquela época. Trancada naquele quarto, sem querer comer e evitando tudo que se lembra do Uchiha. Sentiu-se bastante morta para enfiar uma agulha no dedo e não sentir nada. Suspirou aliviada ao lembrar que já não estava definhando por causa do Uchiha.

Mesmo assim, mesmo sem ser mais tão ligada àquele tempo de sua vida, não sabia dizer porque a expressão triste dele era tão bem vinda. Aquele era seu tumulo e Sasuke estava lá, no meio do nada. Não havia cabimento para o masoquismo que ela praticava inconscientemente.

Aos poucos, o estomago roncava mais alto, reclamando da ausência da comida que Suigetsu trazia. Ele compartilhava das reclamações da dona.

Duas batidas na porta, e Sakura estava quase colada à madeira. Abriu a porta, ansiando ver alguém. No entanto, uma sombra desconhecida, que ela sabia que não era Suigetsu, lhe empurrou uma marmita. Quando já ia fechando a porta, ela pós o pé no caminho.

- Onde está Suigetsu? – perguntou, nervosa.

O vulto – que depois iria identificar como Juugo – voltou-se novamente para a fresta. As sobrancelhas franzidas num rosto macio não lhe davam uma boa sensação.

- Ele não é mais o seu encarregado.

Então ela tirou o pé, vendo que ele estava prestes a empurrar a porta, mesmo que a prensasse ali. Sentou-se na cama, abriu a marmita. Era o mesmo de sempre – exceto pelos tempos em que comeu maçãs. Abocanhou um bocado de arroz. A comida estava insossa. Continuou comendo, tentando não prestar atenção no gosto.

Então, concluiu: quando se está completamente isolada, você passa a se preocupar com qualquer coisa, mesmo que seja com um inimigo.

Quando devolveu a marmita vazia, sentiu um aperto no peito ao ser atingida pela dúvida. O que teria acontecido. Poderia ter sido de tudo. Provavelmente Suigetsu não estava mais a fim de ser sua "babá".

Encolheu-se na cama, desconfortável. E, quando dormiu, o pesadelo aconteceu de novo.

...0o0o0o0...

...0o0o0o0...

No corredor, Juugo ia embora. Só queria poder descansar. Não sabia por que, mais estava com mais sono do que o normal. Provavelmente andava roncando ou "sonambulizando" por aí. Olhou para frente. O corredor, cada vez mais longo, lhe dava arrepios. Aquele lugar todo, alías. Tudo apenas iluminando pela luz pouco confiável das velas, pressas à parede.

Mais ao longe avistou um vulto, caminhando lentamente na sua direção. O cenho enrugou mais fundo ao reconhecer Suigetsu, que, alias, deveria estar em outro lugar. Não parou de andar. Quando estava a poucos passos de Suigetsu, este parou. Já estava dando as costas para ele, de cabeça baixa.

- Você viu como ela está? – perguntou, murmurando baixo o suficiente para não ecoar no corredor e alto o suficiente para Juugo ouvir – A Sakura.

Juugo o olhou, perguntando-se quem se importava com aquela menina. As rugas na testa suavizaram, mas continuou sério.

- Ela está bem. – sussurrou no mesmo tanto de decibéis que Suigetsu – Agora vá logo para o sue quarto antes que alguém te veja!

Num piscar de olhos ele já se distanciara. Voltou-se novamente para o corredor, suspirando fundo. Não gostara da situação em que seu amigo tinha se metido. Ele não deveria ter ido alimentá-la quando ela estava proibida de comer. Não depois da tentativa de fuga dela. Sabia que Sasuke não ligava muito para entregar informações desse tipo para o sannin, mas não conseguia encarar aquilo bem.

Ao lembrar-se de Sasuke, um frio percorreu sua espinha, relembrando a explosão de mau humor que ele andava tendo. Desde pouco antes de aquela menina de Konoha chegar. Parecia menos previsível ainda, além uma irritação sem motivos.

To be continued...


Final do capítulo escrito à companhia da música Goodbye – sr-71. Eu não sabia que rock podia ajudar a escrever. Ajuda pra caramba! Pelo menos comigo. Demorei um pouco para me acostumar com a música, mas depois ela não saiu da minha cabeça! Esse capítulo fez algum sentido pra alguém? To fazendo ele há tanto tempo que até esqueci do que se trata. Diabos. Como vou dar um título pra esse capítulo!? Droga.

Pessoal, desculpem a demora pra fazer esse capítulo X.X. Estava num bloqueio a algum tempo e acabei lendo um yaoi sem querer (só fui saber que era yaoi no final mesmo) e o sentimento de culpa me deu uma sensação esquisita. Desculpe quem gosta de yaoi, mas, eu, sinceramente, não consigo gostar.

No próximo capítulo as lutas entre Sasuke e Sakura ficam mais freqüentes e ela também começa a se tornar mais próxima de Suigetsu. Ainda não faço a menor idéia de como vou fazer eles se apaixonarem (nunca escrevi algo assim antes X.X). Mas vou aos pouquinhos. Os próximos capítulos vão ter menos inchação de lingüiça!

Respondendo reviews(as únicas três que recebi até agora Ç.Ç)

: Que bom que está gostando (i´m so happy *.*). Não se preocupe, logo logo vou contar o que o tio purpurina quer com a Sakura XD.

Miuky Haruno: Desculpa a demora X.X. Minhas aulas começaram eu to quase sem tempo para escrever. Só espero não decepcionar ninguém com a demora X.X

FranHyuuga: Desculpa não ter respondido a review antes. Eu tava esperando ter mais para daí poder responder (não funcionou muito). Realmente, a Sakura estava super baka. Vou fazer ela um pouco diferente a partir daqui. Enjoy!


E lembrem-se: a cada review que você deixa de mandar, um ficwriterMORRE Ò.Ó!!!