Os personagens desta história não me pertencem, mas a Kishimoto Masashi, criador da série Naruto. É uma fanfic e é destinada apenas ao entretenimento.
Aquela foi a melhor noite da minha vida! Voltei para casa feliz e amando o mundo inteiro ao meu redor. Parecia que a noite me sorria com seu sorriso de lua e gargalhadas de estrelas e eu estava, simplesmente, nas nuvens, hmm. Senti que queria beijar o mundo. Na verdade, senti que se eu visse uma criatura bípede na minha frente, eu beijaria, hmm. Caminhei por uns bons três quilômetros até minha casa, mas nem percebi. O calor dos lábios do Gaara ainda estavam impressos nos meus lábios e a pressão do corpo dele contra o meu, eu ainda podia senti-la.
A noite ao meu redor estava tranqüila. Os sons dos insetos e aves noturnas emprestavam ao meu devaneio um tom meio mágico. Uma vez Konan me disse que, quando beijamos a pessoa que amamos pela primeira vez, é como se sinos tocassem em nossas cabeças, mas para mim, foi uma verdadeira orquestra, a própria filarmônica de Berlim, hmm e me perguntei se a Interpol não estaria investigando o misterioso sumiço dos sinos de Notre Dame; pois eu, com certeza, tinha não só eles como o próprio corcunda, badalando-os dentro da minha cabeça, hmm.
Subi as escadas do edifício cantarolando a ,,Can't take my eyes off of you" na versão de Muse. Com toda certeza, aquela era a música que traduzia todos os acontecimentos dos últimos meses. Entrei em casa praticamente correndo hmm, eu TINHA que escutar esta música.
Procurei entre a bagunça da minha casa onde havia posto o porta-CDs e devo ter gastado, no mínimo, 2h procurando. Já estava quase desistindo – à contra-gosto – de minha busca quando resolvi tomar um copo com água. Peguei um copo no armário, abri displicentemente a geladeira e, quando vi, o porta-CDs estava dentro dela, hmm... Sem comentários.
Tirei da geladeira o compartimento arredondado verde-limão onde guardava meus CDs, abri-o e procurei o que queria. Fui até o som que ficava na sala, coloquei o CD no plot e apertei ,,play". A música começou suave e eu, ainda sonhando, me joguei no sofá da sala. Às vezes pensamentos como ,,você está apaixonado por um HOMEM!" ou ,,eu ajo feito uma menininha apaixonada" ou ,,Por que isso aconteceu comigo?" e ,,Tudo o que eu faço é extremamente errado" me passam pela cabeça. Mas... Por que estar amando alguém é errado, hmm?
Se o que dizem sobre o amor ser cego ser verdade, provavelmente eu ratificaria este ditado e ainda diria que o amor tem um nome: Gaara. Soa muito piegas e brega, eu sei, mas azar, hmm. Eu sou piegas e brega e SIM e estou amando um cara hmm!
Então, o meu celular tocou. Dei um salto de 2m do sofá e corri alucinado a procurar o bendito aparelho, infelizmente, sem sucesso hmm. O som histérico que eu usava como tom de chamada começou a ficar mais baixo; desesperei-me.
- É o Gaara, é o Gaara hmm!
Finalmente encontrei aquela porcaria dentro de um aquário vazio que ficava no meio da mesa da cozinha. Peguei o pequeno celular e atendi bem a tempo.
- Alô, Deidara?
Era a Konan. Ela nem me deixou dizer ,,alô" inicial.
Hã... Alô, Konan-chan. – respondi um pouco decepcionado.
Está tudo bem? Liguei para você mais de dez vezes e você não retornou. Viu minhas ligações?
Ahn... Sim, sim. Eu vi. Tinha acabado de pegar o telefone para ligar para você! Isso foi transmissão de pensamento, hmm! – menti.
Fiquei preocupada com você. Desde aquela nossa última conversa. Há dois dias, você está incomunicável! Aconteceu alguma coisa? Você descobriu algo sobre os irmãos de Gaara?
Hmm... Konan-chan venha aqui pra casa, pois tenho muita coisa para te contar...
Com essa minha última frase, e a confirmação dela, desligamos os telefones e esperei Konan que, se demorou muito, foram 3 min. O que as mulheres não fazem por uma boa fofoca, hmm?!
Quando ela apareceu na porta, ofegante – deve ter subido as escadas correndo hmm -, fí-la entrar e se sentar, pois o que tinha para contar era algo surpreendente. Não preciso contar as cara e bocas que minha amiga fez, e dispenso comentários dela do tipo ,,AH! Conte-me com de-ta-lhes". Seus olhos ávidos brilhavam de curiosidade e eu tinha o ,,dever legal" de relatar à minha mandatária cada passo meu, ou, neste caso, cada cena tórrida, hmm.
- E foi isso, Konan-chan. Eu acho que gosto dele, hmm.
- ACHA? – ela gritou – Você está total e completamente apaixonado! Nossa! Nunca pensei em ver VOCÊ apaixonado desta forma.
- O que você acha que eu devo fazer? Ligo para ele, hmm?
- Claro que não! Ele que tem que ligar para você.
- É?
- Sim. Afinal, ele disse que viria atrás de você, não disse? Então deixe que ele cumpra com a palavra.
- É hmm... Mas... Até agora ele não me ligou, hmm.
- Tenha calma. Faça disso um teste...
- Teste hmm?
Konan emudeceu repentinamente. Olhou para baixo como se estivesse se lembrando de alguma coisa ruim e percebi um lampejo de tristeza e continuou a frase que deixou suspensa:
- Saiba que talvez ele não ligue para você, Deidara, então, é bom você começar a treinar, para não sofrer no futuro.
- Treinar o que hmm?
- Treinar a possibilidade de ele não ligar para você nem hoje, nem amanhã e nem nunca mais!
- Mas ele disse que ia me procurar hmm.
- Eles sempre dizem.
Ela suspirou desanimada e continuou em seguida:
– Eu só não quero que você sofra.
Trocamos longos olhares e tentei ler na alma dela o motivo daquela melancolia, sem sucesso, hmm.
- Obrigado, Konan – abracei-a – Obrigado por se preocupar tanto comigo hmm.
Ficamos conversando por algumas horas e quando fomos dormir, já era manhã alta. O telefone tocou. Acordei no susto. Tateei as coisas meio acordado, meio dormindo à procura do aparelho. Passei a mão por uma coisa macia e arredondada, como eu ainda estava grogue de sono, por um instante, esqueci do telefone e detive minha mão nesta ,,almofada" esquisita, resolvi apertá-la.
- AHHHHHHH!
Morri de susto hmm.
- Deidara, o que você está fazendo, baka!
Aquele grito me acordou. Eu tinha dado o maior apertão no peito da Konan. A minha sorte foi que ela estava tão sonolenta que se virou no sofá e logo voltou a dormir; foi quando eu percebi que estávamos na sala. Ela havia dormido no sofá e eu no chão, provavelmente ela havia me chutado para fora do sofá, hmm.
Balancei a cabeça e voltei a buscar o telefone, que tinha dado seu último suspiro e parado de tocar.
- Merda hmm! Só para me acordar hmm!
Levantei-me do chão cambaleando e olhei para o relógio da cozinha, ele acusava 14h e nós tínhamos ido dormir às 10h.
- Droga, não vou mais conseguir dormir, hmm.
Sou do tipo que, não importa a hora que durma, uma vez que acordo, não consigo voltar a dormir, mesmo quando durmo por poucas horas. E, quando não durmo o suficiente, passo o dia inteiro de péssimo humor.
- Hoje vai ser um dia daqueles, hmm...
Olhei na direção de Konan, ela dormia o sono dos anjos, como eu tinha inveja disso, hmm!
Caminhei até ela e a carreguei nos braços, apesar de ela ser alta, Konan era leve, para mim. Coloquei-a em minha cama e fechei as cortinas. Só porque eu não voltaria dormir, não significava que eu não deixaria minha amiga em paz. Voltei para a sala e encontrei o celular num canto da parede, provavelmente chutei o aparelho enquanto dormia, hmm.
- Aqui está você, objeto semeador de discórdia hmm!
Apanhei o celular do chão e verifiquei a chamada que me tirou do mundo dos sonhos e lançou, em queda-livre, para o mundo do mau- humor. Pasme, era uma chamada do Gaara hmm!
Fiquei exultante. Mais rápidos que meu pensamento foram meus dedos, eles apertaram no botão ,,discar" e, quando percebi, uma voz atendeu do outro lado:
- Alô?
- Hmm, alô, Gaara-san?
- Deidara-san, bom dia.
A voz dele, como sempre, soava como um zéfiro e me deixava entorpecido.
- Bom dia hmm.
Eu estava tão feliz de ele ter ligado – apesar de eu não ter atendido – que até esqueci meu mau- humor.
- Espero não o ter acordado.
- Hã? Não, não, hmm. Eu já estava acordado – menti -, só não atendi antes porque... Porque... Porque estava no banheiro hmm!
Maldição!! Baka eu hmm! TANTOS lugares para eu dizer e disse justo aquilo!
- Digo, no balcão da cozinha! – tentei, inutilmente, consertar.
- Hahaha... Tudo bem.
Ele riu de mim... Morte, hmm!
- É hmm...
- Você está muito ocupado, Deidara-san?
- Tenho apenas um trabalho para fazer, mas não é nada que me tome a semana inteira.
- Ah... – ele pareceu levemente desapontado.
- Por que hmm?
- Porque eu ia chamá-lo para irmos amanhã a um concerto que vai ter no centro de Konoha e...
- A que horas hmm? – interropi com a delicadeza de um hipopótamo.
- Às 20:00h – ele disse surpreso.
- Vou. Onde a gente se encontra, hmm?
- Passo na sua casa?
- Claro hmm. Mas... Você vai com mais quem?
Ele demorou alguns minutos para responder.
- Hidan,...
- Tá brincando, hmm?!
Gaara estava DOIDO, hmm?
- Não. Mas também vão meus irmãos e...
- Hidan vai?! COMASSIM, hmm?
Meu mau-humor estava voltando com força total e, uma vez que começava a contagem regressiva, não importava com quem fosse, eu iria explodir hmm.
- Gaara-san, deixe-me refrescar sua memória, seu amigo Hidan QUASE me matou e...
- Eu sei, Deidara-san, e ele também sabe e se arrepende muito. Ele me disse que queria te pedir desculpas pessoalmente.
Devo estar sonhando, hmm, devo estar sonhando, sonhando, sonhando...
- Deidara-san?
Enquanto ele falava meu nome do outro lado da linha, palavras ecoavam na minha mente: ,,por que ele está fazendo isso?", ,,Será que é mesmo o Gaara?", ,,Que palhaçada é esta?". Poxa, hmm! Gaara sabe que eu e Hidan nos odiamos. Aquele cara SÓ PODE estar de armação para cima de mim, hmm. Ou serão os dois?
Afastei o telefone e fiquei olhando a telinha. A voz de Gaara continuava.
- Deidara-san, está tudo bem? Alô?
Fiquei com ódio dele. Como ele poderia dizer essas coisas assim, na boa hmm?
Não tive dúvidas. Desliguei o telefone. Ele me ligou mais algumas vezes, mas não atendi. Se ele quisesse, fosse com seu amado Hidan para a pqp, hmm! Eu não iria a lugar nenhum hmm.
O telefone parou. ,,Acabou a tortura", pensei; então, um som de ,,chegou mensagem" soou. Abri. Era uma mensagem dele. Perguntei-me que tipo de cego ele era para conseguir me mandar um mensagem de texto e, depois, perguntei-me se a cegueira dele também afetava seu discernimento.
,, DEIDARA-SAN, POR FAVOR, ATENDA O TELEFONE."
Só isso. Esperei 3 minutos de relógio, o telefone toucou.
- A-lô hmm! – eu disse mau-humorado.
- Deidara-san, por favor, escute.
- Tô escutando, hmm.
- O Hidan mudou. Conversamos com ele...
- Gaara-san, não tenho a menor idéia do que se passa em sua cabeça e isso não me interessa nem um pouco, hmm. Não gosto do seu amigo, não quero ir a lugar nenhum com ele e, se você fez isso tudo só para me aborrecer, conseguiu, hmm. Agora, se me dá licença, tenho mais o que fazer hmm. Passar bem.
Click.
Ele ainda tentou falar alguma coisa, mas desliguei bem na hora. Queme ele pensa que é, hmm? Será que esse tempo todo ele brincou com meus sentimentos? Merda! O telefone ainda tocou por mais umas 4 vezes até que ele desistiu.
- Melhor assim hmm. A merda é que, agora, todos deverão estar sabendo, hmm.
Senti as indesejáveis lágrimas escorrendo pelas minhas faces. Como ele poderia ter ido tão longe, hmm? Esse tempo todo ele brincou comigo, hmm?
Konan ainda dormia no meu quarto a sono solto. Fiz um almoço bem caprichado para quando ela acordasse e fui, realmente, fazer o trabalho de História da Arte que o professor havia pedido. Era uma pesquisa sobre o Renascimento europeu e como ele ditou as regras não só nas artes mas também na filosofia, medicina e outros segmentos da história do homem.
Já havia começado a pesquisa quando a capainha tocou. Deveria ser o cara que passava recolhendo o lixo. Peguei o enorme saco plástico preto, amarrei-o e abri a porta com tudo.
- Toma, hmm.
Assim que estirei o braço e entreguei o pacotão, vi que não era o cara do lixo, mas Gaara e seus irmãos.
Gelei. Minha primeira reação, no choque, foi fechar a porta.
- Olá Deidara-s...
BLAM!
POR-KAMI-SAMA! O quê eles três estavam fazendo reunidos à minha porta?! E MAIS: Eu gostava de estudar completamente à vontade, com a roupa mais confortável possível, e o meu ,,mais confortável possível" significa ,,mendigal". Então, tentando racionalizar:
Primeiro: Gaara me ligou e me chamou para sair, MAS, ele disse que o Hidan ia.
Segundo: Eu surtei e desliguei o telefone na cara dele.
Terceiro: Gaara e seus irmãos aparecem bem à minha porta no horário de recolhimento do lixo hmm.
Quarto: Os irmãos de Gaara vêem-me parecendo um mendigo e segurando um sacolão de lixo.
Ora, para que se estressar, Deidara, hmm. Aja naturalmente, hmm.
Abri a porta.
- Pois não? Hmm... – fiz cara de quem tinha a situação inteira sob controle – O que você quer?
- Falar com você. – a voz de Gaara estava calma.
- Diga hmm. – eu disse de má vontade.
- Podemos entrar?
Afastei-me da porta e lhes dei passagem. Primeiro entrou a irmã, depois o irmão e, quando Gaara deu um passo, abraçou-me bem forte. Ele pareceu maior, seus lábios colaram na minha orelha direita e ele me sussurrou:
- Desculpa.
À voz dele, estremeci. O cheiro bom de seu perfume subiu direto, pelos meus nervos olfativos e alojou-se em meu cérebro, grudando lá para sempre. Meus braços, meio que involuntariamente, começaram a subir na tentativa de abraçá-lo de volta, mas resisti à tentação e simplesmente o empurrei.
- Sái, hmm. – fui ríspido.
Fiz menção para que todos se sentassem e ofereci algo para beberem, ao que eles recusaram. Melhor para mim, que não teria trabalho em lavar mais louça depois, hmm. Eu deveria estar uma figura caricata mesmo, porque sempre que eu olhava para a irmã do Gaara, ele tentava abafar um riso. Usei a desculpa de ir pegar um copo com água na geladeira só para olhar meu reflexo nela, pois era revestida com alumínio. Dei uma checada geral; moletom cinza mais velho que a fome, calças xadrez de pijama, chinelo do vovô, cabelo –despenteado- em rabo de cavalo, minha franja presa com presilhas de cereja da Konan e meus óculos de grau de sempre; desses de armação meio grossa extremamente indies e extremamente ,,eu só os uso em casa", ou seja, estava mesmo mendigal E caricato, hmm.
Voltei da cozinha e prostrei-me na frente deles – não havia mais lugar no sofá e as cadeiras estavam em algum cômodo da casa – esperando que começassem a falar o motivo daquela súbita visita. Pensei que quem iria se pronunciar primeiro fosse o Gaara, mas a irmã dele tomou a iniciativa.
- Bom, Deidara-san, antes de tudo, desculpe-nos invadir assim sua privacidade, mas acreditamos que os culpados nisto tudo somos nós. – disse a menina.
- Sim Deidara-san, - reiterou o garoto – eu e Temari que tivemos a idéia de levar todos ao concerto. Achamos que seria uma boa promover as pazes entre vocês dois. Sabemos que Hidan é truculento, mas, no fundo, não é má pessoa...
Aquele cara ficou falando um monte de bobagens e aquilo foi enchendo muito a minha curta paciência. Eu JAMAIS faria as pazes com alguém que não entende de artes, alguém obtuso e que só não me enviou direto para os sete palmos abaixo da terra porque a Konan intercedeu, mas eu estava tentando exercitar minha paciência, por isso, suportei calado as besteiras que ele falava, muito embora minha vontade fosse de explodi-lo.
- O Hidan cuida do Gaara desde que ele ficou cego, Deidara-san, – disse Temari- é por isso que ele se sente tão culpado e é por isso que ele está sempre com o oniichan.
- Hein hmm? - Acho que eu perdi alguma parte- Como assim se sente culpado, hmm?
- Aquilo foi um acidente, Temari. – era a voz tranqüila do Gaara.
- Eu sei, mas esse ,,acidente" custou sua visão, oniichan.
E ela continuou.
- O Hidan se sente culpado por aquilo de ter cegado o Gaara.
- O QUÊ, hmm? Ele CEGOU o Gaara-san? – indaguei chocado.
- Sim, Deidara-san. Er... Agente acabou de dizer algo tipo isso... – disse Temari sem graça.
Gaara sorriu daquela bela forma que ele fazia quando percebia que eu não tinha prestado atenção ao que ele falava.
- Deixe-me explicar, Deidara-san. Eu e o Hidan nos conhecemos desde pequenos, a mãe dele era a melhor amiga de nossa mãe e, desde sempre, o Hidan freqüentou nossa casa; ele é um ano mais velho que o Kankurou e os dois sempre brincavam juntos. Então, quando nasci, nossa mãe morreu e, nos meus primeiros anos de vida quem deu suporte ao meu pai e meu tio foi a mãe do Hidan; mas o suporte foi tanto, que a mãe dele e nosso pai acabaram se casando e isto pro Hidan foi inadmissível.
- Nos meus primeiros anos de vida, o Hidan não me tratava muito bem porque para ele, uma criança de 7 anos, eu havia sido o motivo de a mãe ter se separado do pai e ter ido morar conosco, então, ele sempre me maltratava, mas eu o tinha como a um irmão mais velho. Um dia, quando eu tinha 5 anos, eu e o Hidan estávamos brincando no parquinho da Vila da Areia enquanto meus irmãos tinham aulas. Então, ele me disse que havia um lugar mais afastado do vilarejo onde havia coisas muito interessantes e que se um dia eu quisesse ser tão forte quanto ele, eu deveria treinar lá.
- Ele levou o Gaara para a Garganta do Diabo, – completou Temari – um dos vales mais inóspitos da Vila da Areia.
- Isso. – disse o Gaara – Fomos até a Garganta do Diabo e, quando já estávamos muito afastados, começou uma tempestade areia e eu me perdi do Hidan. Quando a tempestado passou, vi-me completamente sozinho e perdido e, como eu era criança, comecei a chorar e a chamar por Hidan, mas ele não me escutou.
- Quem escutou foi uma matilha de lobos! – completou Kankurou.
Gaara suspirou e continuou.
- Essa matilha me atacou e eu teria morrido se o Hidan não tivesse chegado a tempo e me resgatado, mas, infelizmente, as garras de um dos lobos arranharam meu rosto e perdi a visão nos dois olhos.
- Mas se esse lobo arranhou seu rosto, como você não possui cicatriz nenhuma, hmm? – perguntei admirado, uma vez que a pele dele era uma das coisas mais perfeitas e uniformes que eu já vira.
- Os médicos da Vila da Areia conseguem reconstituir tecido epitelial, mas conjuntivo... Infelizmente ainda não. – disse Temari com pesar.
- Mas eu sei que a minha médica aqui vai conseguir descobrir isso. – disse Gaara bem-humorado e abraçando a irmã.
Àquela visão, de um Gaara sorridente e, apesar de suas enormes limitações, ser capaz de sorrir daquela linda forma, tudo aquilo me tomou completamente, afinal, eu o amava, e agora, mais do que nunca.
- Então, – Gaara continuou depois de soltar a irmã – desde este dia, Hidan se sente culpado de eu ter ficado cego e se tornou extremamente superprotetor ao ponto de ser inconveniente e agressivo.
Gaara levantou-se e ficou a alguns passos de mim.
- Por isso, Deidara-san, eu peço. – ele começou a se abaixar com alguma dificuldade – Perdoe o Hidan. – ele se curvou na minha frente. – Onegai.
Assim que o vi curvado ante meus pés, joguei-me no chão e levantei seu rosto perfeito e seus ombros.
- Pare com isso, Gaara-san! Não precisa se curvar, hmm.
E, quando percebi, os irmãos de Gaara também se curvaram.
- AHHH! Parem com isso, parem, parem, hmm! Levantem-se!
- Hummmmmmm que barulheira toda é esta?
Konan-chan, ainda sonolenta e esfregando um olho com as costas da mão, estava encostada no vão do corredor que ligava o meu quarto à sala. Usava apenas um camisão meu bem velho e um shortinho mínimo. Seus lindos e longos cabelos azuis escorriam pelos seus ombros e estavam encantadoramente desalinhados. Ela bocejou.
- O que você tanto grita, Deida.... AHHHHHHHHHH!
Ela havia, finalmente, acordado hmm. Escondida atrás da parede da sala, ela gritou:
- Você tem visitas e nem me avisa!
Todos pararam, especialmente Kankurou, que pareceu embasbacado.
- Saia daí, Konan, com certeza você está mais bem vestida do que eu, hmm.
Ela colocou apena a cabeça para fora e deu um sorriso lindo.
- Ohio.
Ela olhou para mim e viu que eu estava MESMO parecendo um mendigo. Abafou um sorriso e disse:
- Desculpem-me os trajes pouco propícios para recebê-los, mas a isso dá-se um jeitinho. Com licença - ela disse amigável e sumiu no corredor.
Em 3 minutos de relógio, apareceu Konan linda e pronta. Ela teve a decência de pegar um kimono meu, ajeitou os cabelos e ainda escovou os dentes.
- Agora melhorou. – ela disse simpática.
Todos já estavam de volta no sofá e eu percebi que o irmão de Gaara não tirava os olhos da minha amiga.
- Olá! Eu sou Konan, amiga – e só amiga! – do Deidara. – ela disse cumprimentando os irmãos de Gaara.
- Tudo bem, Gaara-san? Suponho que os dois sejam seus irmãos, estou certa?
- Olá, Konan-san, sim, sim, estes são meus irmãos mais velhos Temari e Kankurou.
- Muito prazer em conhecê-la, Konan-san. – disse Temari polidamente.
- Muito prazer, Konan- san – disse Kankurou fazendo uma mesura e se levantando para que Konan sentasse no lugar dele.
- Ah não, não, não, Kankurou-san, pode ficar onde está. Estou bem em pé. – ela sorriu. – Mas a que devemos a honra de sua visita? – ela disse em tom de brincadeira.
Gaara abriu a boca para falar, mas Kankurou foi mais rápido.
- Permita-me. Nós viemos aqui para convidar o Deidara-san para ir conosco a um concerto, amanhã à noite, no centro de Konoha. Não sabíamos que a senhorita estaria aqui, mas agora sabendo, a senhorita nos daria a honra de ir conosco também?
- Oh! – ela exclamou – Nossa! Quanta formalidade!
O rapaz enrubesceu.
- É claro que vou! – disse alegremente – Vamos, Deidara!
- Não sei, hmm.
- Hã? – fizeram os quatro em uníssono.
- Como assim ,,não sei"? – disse Konan.
- O Hidan vai, hmm.
- COMO?! – ela exclamou.
Os três tiveram que explicar toda a história a Konan, que fazia caras e bocas a cada frase da narrativa. Entre os ,,OH meu Deus!" e os ,,Tadiiiinho!!", ao final, Konan disse:
- Ah! Agora eu entendo. Agora entendemos, não é, Deidara?
- Não, hmm. Eu não entendo coisa nenhu...
Ela me deu uma cotovelada nas costelas enquanto ria para os convidados.
- Por favor, Deidara-san, vamos ao concerto. – era a voz de Gaara.
- Não, hmm.
- Ah gente, deixa pra lá. Deixa o Deidara e vamos! Ou esse convite que vocês me fizeram só é válido se o Deidara também for? – disse Konan sorrindo.
- Claro que não! – praticamente gritou Kankurou – Digo! Se o Deidara-san for, será muito bom, mas a senhori...
- ,,Você." – ela corrigiu.
- Ah! Está bem. – ele se consertou – mas se você quiser ir, será muitíssimo bem-vinda. – ele disse ruborizando.
- Ah, então eu vou! Aliás, onde se compra o bilhete?
- Ah, é verdade! – exclamou Temari – Estávamos mesmo indo comprá-los no centro. Só estávamos esperando a resposta do Deidara-san, se iria ou não.
- Ah! Então eu vou com vocês. – disse Konan.
- Sim, vamos! – disse Temari. – Deidara-san, se importa se o onii-chan ficar aqui? Viemos num carro em que só cabem quatro pessoas e ainda vamos pegar o Hidan. Prometo que voltamos logo.
Eu não sou idiota, hmm. E tampouco convivo 24h com uma mulher à toa. Eu sei quando as mulheres tramam coisas e, em 5 minutos percebi que Konan e Temari trocaram confidências entre elas e bolaram um ,,plano" para me deixarem à sós com Gaara. Não sei o que Temari tinha na cabeça, mas resolvi me fazer de desentendido, hmm.
- Tudo bem, hmm.
- Bom, Deidara, estou levando meu celular. Se mudar de idéia, ligue. - disse Konan com seu tom de ,,eu vou comprar o seu bilhete de qualquer forma".
- Ta hmm.
Fechei a porta assim que os três saíram. Ainda pude ouvir as risadinhas de Konan e Temari. Senti que as duas virariam boas amigas. Aiai... TIVE que revirar os olhos e sorrir. Desisto, hmm.
Voltei-me na direção do Gaara. Ele estava sentado com o queixo apoiado nas mãos, pensativo e tristonho. Passei pela frente dele e, quando percebi, ele havia se levantado do sofá e me abraçado, como eu estava perpendicular a ele, seus braços prenderam os meus e meu ombro ficou na altura de suas clavículas.
- Parece que você cresceu, hmm – eu disse um pouco seco.
Ele sorriu amável.
- Acho que não. Você que é chibi, Deidara.
Ele beijou minha têmpora.
- Solte-me, hmm.
- Não, hmm. – ele me imitou
- Não diga ,,hmm", hmm!
- Então vá comigo ao concerto, HMM!
- Não quero! – tentei soltar-me, mas ele me apertava forte.
Aos poucos, ele me liberou e eu fiquei um pouco chateado porque, no fundo, queria que ele continuasse me envolvendo.
- Está bem, Deidara. Não posso forçá-lo. – ele sentou-se de volta no sofá. – Queria muito que você fosse, mas tudo bem.
Parei e olhei para ele. Seu olhar perdido se fixava num ponto imaginário qualquer. Aproximei-me dele. Não sei por que me senti tão atraído, como se ele em si fosse um campo magnético poderoso e eu, apenas uma pobre limalha de ferro.
- Resista, Deidara, resista. Hmm – eu repetia para mim mesmo, mas era inevitável.
Larguei-me pesadamente no sofá ao seu lado. Olhos fixos na parede.
- O que você disse ao Hidan naquele dia do seqüestro, hmm?
Gaara pareceu surpreso com minha pergunta brusca, olhou na minha direção e sorriu.
- Eu disse a verdade.
- A verdade? Como assim, hmm?
Ele inclinou a cabeça e a apoiou numa mão.
- A verdade, ora! – ele disse isso como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. – A verdade de eu estar irrevogável e perdidamente apaixonado por você.
Gelei. Como ele conseguia dizer ISSO assim?! Dessa forma tão desprendida, hmm!
- C-como hmm?
Ele passo um dedo em meu rosto, e àquele toque, sempre frio e arrepiante, continuou:
- Eu expliquei a verdade. Que há muitos meses eu vinha seguindo você, Deidara, e isso, claro, sem você saber. Preferi me manter na escuridão e me revelar no momento certo.
- Você já me conhecia, hmm?! – AGORA eu estava surpreso.
- Sim. – ele sorriu daquela forma que me fazia derreter por dentro. – Sempre escutei histórias suas que o Itachi-san contava lá pro pessoal da banda. Também escutava comentários dos professores. Alguns bons, outros nem tanto, e isso tudo começou a povoar meus pensamentos, então, um dia, vi-me apaixonado por você. Não só eu, mas minha irmã também.
- Temari-chan, hmm?
- Sim. Mas, para minha sorte, fui mais rápido e o encontrei primeiro. - ele riu.
- Então... Você foi ao meu stand sabendo que era eu? – eu disse um pouco triste.
Ele suspirou.
- Humm... Não. Na verdade, eu fui por causa da entropia mesmo. Como eu já lhe falei, posso ,,sentir" a aura das coisas, e sua arte me chamou a atenção. Fosse você ou não, eu teria parado do mesmo jeito. Apenas tive MUITA sorte. – ele sorriu.
- E você disse isso tudo para o Hidan hmm?
- Disse. E, como o Hidan, apesar da ignorância e brutalidade dele, só quer o meu melhor, ele disse que fazia questão de lhe pedir pessoalmente desculpas, então, ele mesmo deu a idéia do concerto, uma vez que, infelizmente, é o único espetáculo cultural que eu posso apreciar na cidade. – ele sorriu um pouco triste. – Desculpa, Deidara-san. Não vou mais insistir. Se você não quiser ir, tudo bem. Só peço que, por favor, não me evite.
Fiquei sem palavras. Senti meu coração pesando toneladas e um nó se formou na minha garganta. As lágrimas começaram a escorrer. Julguei mal o Gaara; como sempre, minha impetuosidade o agredia, e senti-me um monstro por magoar aquele coração romântico.
- Deidara-san, se você não falar nada, infelizmente eu não poderei saber se você me descul...
Puxei o Gaara para mim e o beijei. Minhas lágrimas molharam-lhe o rosto. Afastamo-nos.
- Está chorando, Deidara? Por quê? – perguntou preocupado.
- Nada, hmm. – minha voz estava embargada – Desculpa, Gaara. Eu vou com você ao concerto, eu vou com você aonde você quiser que eu vá. – minha voz saiu entrecortada de soluços.
Ele sorriu para mim.
- Não chore, chibi-tan. – e enxugou minhas lágrimas com os polegares – Assim você vai me fazer sentir um vilão.
- Por quê hmm? – solucei.
- Porque sempre que eu o beijo, você chora.
Ele riu. Eu ri.
- Desculpa, hmm. Elas vêm sem serem chamadas.
- Então diga a elas que isso não é lá muito educado.
Ele sorriu em meus lábios. Beijamo-nos longamente e ele me envolveu em seus braços e senti que cabia direitinho dentro deles. Senti que aquele era meu lugar e de lá eu não sairia.
Konan não voltou para minha casa; tampouco os irmãos de Gaara vieram buscá-lo. Ele dormiu na minha casa, na minha cama, mas apenas dormimos. Eu e ele, lado a lado, de mãos dadas. Um de frente para o outro, no escuro.
- Gaara hmm.
- Sim?
- Eu estou muito feliz, hmm. É como um sonho.
Ele levou a mão livre até o meu rosto e passeou os dedos em meus cabelos.
- Eu amo você, chibi-tan.
Dorminos e, pela primeira vez, senti-me pleno.