Os personagens desta fanfic não me pertencem. Mas eu não pretendo comercializá-los ou ganhar qualquer coisa por ter escrito esta fic além de comentários preciosos.
Desafio: III Chall Harry Potter do fórum 6v mestrado pela Nanda em 2011
Ship: Harry Potter/DracoMalfoy
Capa: por DarkAngel – link no meu perfil
Sinopse: Porque nem todos merecem redenção.
Spoiller: 7 – ignora o epílogo e entrevistas da JK
Beta: Twin! \o/
Finalização: 14 de setembro de 2008
Quantidade de capítulos: 8, e a frequência de postagem a gente combina depois, ok? XD
NA: Essa fic foi repostada em 24 de maio de 2011, após revisão gramatical para ser enviada para o chall. Não foram feitas grandes alterações no conteúdo e não mudei em nada as NAs que havia feito na época da postagem.
Sin
. ato imoral . ofensa .
. pecado .
Capítulo 1 - Luxúria
. libertinagem . cio . lascívia .
. corrupção . sensualidade .
O homem sentado no canto do quarto barato de motel acende mais um cigarro. Traga rápido e solta toda a fumaça de uma vez. E suspira.
A poltrona tem uma posição privilegiada: a visão desimpedida da porta. Ele pode ser bruxo, mas se quiser entrar em um motel trouxa vai ter que usar a porta. E ele o estará esperando.
Porque foi chamado ali.
Porque será pago por isso.
Ou não, considerando quem ele espera.
Draco Malfoy nunca foi uma pessoa previsível. Nunca foi alguém que ele pudesse controlar. Que ele pudesse fechar os olhos e dizer quais seriam suas reações, quais seriam suas ações. Não que ele o surpreendesse, ele somente era algo a ser observado.
Não que ele já tivesse observado Draco Malfoy. Afinal, não era Harry Potter sentado naquela poltrona.
Era Sin.
Sin. Simples, direto, concreto. Era Sin, e ser Sin era simples.
Um nome tão pequeno com tantos significados. Ele não o escolhera. Um dia, há muito tempo, ele fora sussurrado em seu ouvido, e ele gostou. Naquele tempo, não tinha outro nome ainda, era Harry, pois Harry era comum o bastante para existir em dois mundos, em duas realidades. Mas não o fazia duas pessoas.
Sin fazia.
Como Sin ele podia atender um celular. Podia ser andrógeno e dizer obscenidades. Podia vender o seu corpo. Podia ser livre e não prestar satisfações. Podia, pela primeira vez, sentir.
E sentir significava prazer, loucura, liberdade. Mas também significava dor e humilhação, como ele veio perceber cedo demais.
E agora significava insegurança.
Pois ele sabia. E o chamara ali não para ser Sin. Ele ligara para Sin e o chamara de Potter. E esse fato o fazia estar ali, ao lado do cinzeiro cheio, sentado na poltrona de couro marrom rachado de tão velho, entre uma cama de motel e uma porta a ser aberta.
Como fora parar ali?
Harry amassou a bituca no cinzeiro, fazendo a fumaça espiralar entre seus dedos. Sacou outro cigarro da caixa ao lado e o acendeu entre os lábios finos, deixando a cabeça cair contra o encosto da poltrona enquanto soltava a fumaça devagar.
Depois de tantos fatos que surgiram para separar Sin de Harry, encontrar um começo parecia algo complexo.
Quando Malfoy começava? Há onze anos, em uma loja de vestes no Beco Diagonal? Em algum ponto da guerra? Em um banheiro assombrado ou em uma sala em chamas?
Malfoy naquele motel começa em uma ligação para Sin. Uma ligação que não foi nenhum dos dois que deu.
E isso fora apenas há duas semanas.
o0o
Harry olhava os carros passando velozes pela avenida. Gostava daquele lugar. Lembrava-se de ter passado por ali em algum momento da sua infância, mas definitivamente não teve a chance de parar e observar os carros passando. Agora vinha ali quase todas as noites, as roupas muito diferentes daquelas que usava em sua infância.
As roupas de Sin.
Roupas que passou a comprar fazia pouco mais de um ano. Mais ou menos na mesma época em que começou a ficar parado, encostado na parede de um bar trouxa daquela avenida. Calças justas, blusas muito mais curtas e mais bem cortadas, sapatos elegantes. Nada vulgar como as prostitutas que ficavam na outra esquina exibindo os seios, mas vulgar o suficiente para atrair clientes.
Nos bolsos, nada de documentos, nada de dinheiro. A varinha bem escondida na costura da calça tinha a tendência de permanecer ali a noite toda. A única coisa que trazia realmente consigo era o aparelho celular. Trouxa. Para Sin. Pois os clientes precisavam voltar, e precisavam saber para quem ligar, e Grimmauld Place não tinha telefone.
Naquela noite, Sin não tinha o que esperar na avenida, foi pelo celular que seu trabalho veio, e ao ouvir a voz conhecida da cliente soube que teria ocupação a noite inteira.
- Sin? – a voz soou incerta por um único momento.
- Olá, querida. – Mel. E sedução. Coisas que Harry não sabia usar. Ele reservava para Sin.
- Está ocupado hoje?
Sorriu. Não, não estava. Isabelle foi o nome que ela lhe deu nas três noites que estiveram juntos antes daquele dia. Havia dito que um amigo gay o havia recomendado como sendo... carinhoso. Sin podia ou não dar carinho, dependia do que o cliente pedia. Ela pedia um pouco mais de força do que o amigo, e Sin soube dar, afinal, sua clientela era formada principalmente por homens, e homens são fortes.
Isabelle sorria e o beijava, coisas que poucos fazem. E ele gostava dela porque nunca era rápido e ela pagava bem. Tinha estilo. Bons lugares, boas bebidas, bons amigos. Na primeira noite, havia sido ela e uma garrafa de vinho merlot. Na segunda, ela e Priscila, uma ruiva. Na terceira, ela, Priscila e Edgar. Sabia que teria surpresas esta noite.
Mas nunca pensou que seria tão grande.
A chave deixada na recepção do hotel cinco estrelas junto com o aviso de que poderia subir ao quarto. O quarto escuro, o cheiro doce no ar, as duas taças sobre a mesa, a garrafa vazia virada sobre o tapete, o terno em cima do sofá. Deu as costas para a porta, a trancando.
- Isabelle?
- No quarto, Sin... – a voz agitada chegou abafada até ele e o fez sorrir.
Pensou em tirar as roupas, ou parte delas, antes de encontrá-la, já que pareciam ter começado sem ele, mas Isabelle gostava de despi-lo. Caminhou até o aposento de onde parecia vir a voz, o som de uma música qualquer ficando mais alto e o agitando conforme se aproximava. Entrando no clima.
Isabelle estava nua, deitada sobre os lençóis de seda, no meio da cama de casal. As pernas cruzadas escondendo parte do seu corpo, a taça de champanhe na mão, o sorriso em batom vermelho no rosto.
- Sin... – ela gemeu, estendendo a outra mão para ele, fazendo-o se aproximar para poder beijá-lo – Você demorou.
Não havia demorado, e a espera era lucrativa. Sorriu e voltou a beijá-la, tirando a taça de sua mão, a fazendo deitar sob ele.
- Já pensou no que vamos fazer? – perguntou, suave, de encontro ao seu ouvido. Precisava do roteiro da noite.
Ela riu e se desvencilhou dele.
- Calma... Eu tenho uma surpresa... Gostaria que você conhecesse o meu novo namorado... Ele vai ficar conosco esta noite.
Uma porta se abriu no aposento, revelando um banheiro em branco e dourado, de onde saiu um homem jovem, não muito alto, não muito forte. As feições angulares quase delicadas, os cabelos muito loiros, a pele muito branca contrastando com a boxer preta, única peça de roupa que usava.
Os olhos claros se estreitaram quando Sin ergueu o rosto, e ele parou imediatamente, em choque.
- Este é Sin, aquele garoto de programa de que lhe falei. – Isabelle comentou e, percebendo a tensão que se espalhou pelo quarto, emendou – Eu falei algo errado? Draco?
Draco estava lívido, fitando Harry de alto a baixo, da calça colada à cicatriz em sua testa, dos olhos verdes à boca tinta com o batom de Isabelle.
Mas Sin era profissional.
Levantou-se, deu a volta na cama, ficando de pé de frente ao loiro. E sorriu. Um sorriso que Harry era incapaz de dar, pois Harry era incapaz de olhar uma pessoa do jeito que Sin olhou Draco: devorando.
Clientes precisam se sentir desejados.
- Olá, Draco. – sua voz era um sussurro macio, mas foi o que bastou para romper o torpor do loiro.
Malfoy o empurrou contra a parede, e, se não fosse o espanto que ainda o tomava, Harry tinha certeza de que veria em seus olhos prata a mesma raiva de quando eram crianças. Por um momento, achou que o loiro o iria agredir. Não seria o primeiro cliente a fazer isso. Mas não, Draco somente se afastou, sem conseguir parar de olhá-lo, e recolheu as peças de roupas do chão.
- Eu não vou fazer parte disso. – sua voz não tinha o nojo a que Sin havia se habituado. Tinha a raiva que Harry esperava.
- Draco! – Isabelle se enrolou no lençol e saiu atrás do "namorado". Quando ela abriu a porta que o loiro havia acabado de bater, porém, o corredor já estava vazio – Sin, me desculpe, eu... Eu não sei o que deu nele, ele havia concordado...
- Tudo bem. – ele a abraçou – Eu ainda posso ficar, se quiser.
- Não, acho que não... Eu... Perdi a vontade... – ela caminhou até a mesa no outro lado da sala e pegou na bolsa o conjunto de notas que faziam os olhos verdes de Sin brilharem – Obrigada. – ela sorriu, lhe entregando o dinheiro – Quando eu precisar, eu ligo, ok?
Ela não ligou. Mas dias depois seu celular tocou, e Sin reconheceu a voz: Draco.
E agora ele estava ali.
o0o
Harry fechou os olhos, sentindo o gosto do cigarro que pendia entre seus dedos, a mão apoiada no braço da poltrona. Quase podia ouvir a voz de Draco novamente.
- Potter.
- Malfoy.
Silêncio. Um local miserável como aquele motel. Aquele dia. Aquela hora. Sussurrados na voz fria familiar, com pressa.
Era só mais um encontro dos muitos que Sin já tivera. Ele não deveria temer.
Mas era o primeiro cliente que conhecia Harry. Era o primeiro bruxo que Sin encarava.
E esse fato não era algo que pudesse ignorar. Esperava que Draco fosse direto para a imprensa. Ele não foi. Esperava, então, que ele ignorasse, que se convencesse que era coincidência, semelhança, assombração. Mas ele então ligara para Sin, e o chamara de Potter de uma forma que não fez com que ele o odiasse, como fazia quando eram rivais, mas ainda o deixou paralisado. E ele permitiu que Draco desse o primeiro passo. Para Malfoy, Potter, Harry e Sin eram a mesma pessoa, e isso era uma ameaça, pois Sin nunca observou Draco, e não sabia o que esperar.
No fundo, Sin, como Harry, não sabia lidar com o previsível. Ele improvisava, ele lidava com desconhecidos. Ele respondia a chamados urgentes de pessoas que precisavam dele. A vida de Harry havia se tornado algo muito diferente do que era antes da guerra acabar, e ele ainda não havia decidido se isso era bom ou... sufocante. E foi disso que Sin surgiu. E agora, Sin era seu problema.
E se Sin era o motivo de estar naquele quarto, comendo cigarros, então o começo estava muito antes de Draco Malfoy.
o0o
Era uma tarde cinzenta do outono em Londres, sem nada fora do comum. Harry tinha dezenove anos, uma casa reformada em Grimmauld Place, um estágio como auror no Ministério da Magia e uma namorada.
E tinha vontades que nunca tivera antes. Vontade de comer pipoca e tomar refrigerante. Vontade de ir a parques de diversões e ao cinema. Vontade de vagar durante dias pela Londres trouxa, descobrindo tudo aquilo que não pode fazer durante a sua adolescência.
E naquela tarde, ele decidiu ir ao cinema. Pela primeira vez na vida. Foi sozinho, pois Hermione estava estudando para um estágio, Ron estava tentando fazê-la parar de estudar para namorarem um pouco, Ginny estava terminando o colégio e ele não se sentia à vontade o suficiente para chamar mais ninguém para ir com ele ao cinema trouxa.
Não que não houvesse voluntários. Aonde Harry fosse desde o fim da guerra, sempre havia pessoas dispostas a ajudá-lo, a segui-lo, a pagar-lhe coisas e pedir autógrafos. E ele não gostava disso. Por isso não se importava de jogar um feitiço de disfarce sobre si mesmo e ir ao cinema sozinho.
E por isso mesmo estranhou quando o homem que sentara ao seu lado lhe ofereceu o refrigerante. Havia outros lugares, o cinema estava quase vazio, e ele não havia demonstrado interesse algum no refrigerante alheio. Quando, porém, no meio do filme, a mão do homem escorregou na divisa de poltronas para a sua coxa, ele parou de prestar atenção em qualquer outra coisa e agarrou a varinha na manga do moletom largo que utilizava.
- Gostando do filme? – a voz bateu contra o seu pescoço, fazendo-o se arrepiar e se encolher, assustado.
- Um pouco. – respondeu, inseguro.
- Você... – a mão se movia sobre sua perna em uma carícia nada inocente que fez a respiração de Harry acelerar – não quer dar uma volta? Acho que a gente pode achar coisa mais interessante para fazer...
A voz do homem, a postura, a carícia, as palavras. Harry podia não ter muito tato com garotas, mas não era inocente o suficiente para não saber o que aquele homem consideraria mais interessante. Se, em um primeiro momento, sua mão apertou a varinha com mais força, cogitando a hipótese de estuporar o trouxa ali mesmo, por outro lado toda aquela proximidade o estava desnorteando.
- Não sei... – as palavras saíram de sua boca de forma quase inconsciente.
Harry viu os olhos do estranho examinarem à volta, e o próprio Harry fez o mesmo, verificando se alguém os observava. A luz de uma cena mais clara do filme bateu nos dois, e Harry pode ver que o homem era jovem, a barba por fazer e o rosto quadrado dando um ar muito másculo às suas feições, os olhos negros o examinando sem pudor.
Desejo.
Harry nunca havia se sentido desejado. Sabia que Ginny gostava dele, mas ela nunca o olhou daquela forma, que o fez estremecer. Ele estava se sentindo acuado com aquela abordagem, mas não completamente inseguro. A forma como o estranho o encurralava contra a poltrona, a forma como a mão segurava com força a sua perna eram... novas.
E Harry fechou os olhos, e desejou poder beijar outras bocas, experimentar outros sentimentos, outras sensações, antes de assumir um compromisso, antes de se casar com a mulher da sua vida e ter filhos e ser feliz para sempre.
E ele quis que a mão subisse e o tocasse por cima da calça, e quis que o homem voltasse a abraçá-lo e sussurrasse em seu ouvido.
- Olhe... Eu não te conheço, você não me conhece... Aqui em frente tem um hotel, é só atravessar a rua. É bom, não é luxuoso, mas é seguro. Eu não vou te fazer mal, não é isso que eu quero... – e o movimento da mão dele sobre sua calça mostrou para Harry exatamente o que ele queria.
E Harry tinha sua varinha.
E foi.
E fez.
E foi sua primeira vez.
E ele não sabia, mas quando aquele homem se acomodou entre suas pernas, invadindo seu corpo sem nem ao menos saber seu nome, nascia Sin.
o0o
Harry sorriu com a lembrança de sua inocência, e tragou mais uma vez, e seu riso se tornou sonoro em meio à fumaça.
Ele tinha dezenove anos e sua experiência sexual era mínima quando esteve na cama de um homem pela primeira vez. Foi quando tudo acabou e Harry caiu exausto na cama, que as primeiras preocupações começaram a surgir.
Ele não devia ter feito aquilo. Metade de sua vida ele ouvira que aquilo era errado, vulgar e pecaminoso. Na outra metade aquilo não parecia tão errado, mas não conseguia ver a Senhora Weasley lhe dando parabéns por estar nu na mesma cama que um estranho. Mas ele sempre agira antes de pensar, e só naquele momento é que aquele tipo de detalhe o acometia.
E seu corpo doía, e ele se sentia bem, mas inseguro, pois parecia que todo o seu mundo acabara de sumir em meio àqueles lençóis, e ele estava dolorosamente consciente disso. E, no entanto, ele conseguiu dormir quando o estranho se virou, resmungando algo, e o abraçou. E isso era novo. E era bom.
E quando Harry acordou havia uma nota sobre a cama, e ele não entendeu.
E agora Sin sorria sentado na poltrona, pois aquela ingenuidade se perdeu em menos de um ano.
Harry, por alguns dias, preferiu não pensar no que aconteceu. Preferiu se sentar em sua casa e permanecer lá. Preferiu remoer aquela noite como um erro e escrever para Ginny dizendo que a amava enquanto sonhava com o estranho.
E guardou aquela nota. Guardou o dinheiro, pois ele não precisava de dinheiro. Ele tinha seu dinheiro limpo para gastar, e não precisava ser pago por receber carinho de um homem sem nome.
Carinho.
Carinho fazia Sin voltar a fumar, encarando, sério, a porta do motel barato.
Harry não admitiu isso no momento em que aceitou ir para aquele hotel, mas era com aquele abraço que ele sonhou nos dias seguintes. Sexo era uma forma de carinho que nunca, ninguém, o havia oferecido. E com o passar dos dias, ele sentia falta. E acabou gastando o dinheiro do estranho, pois era um dinheiro que ninguém conhecia, e era uma forma de ir ao cinema sem ter que explicar para Hermione porque assistia ao mesmo filme tantas vezes seguidas.
Logo, Harry observou e aprendeu que estranhos não abordavam estranhos naquele cinema normalmente, mas, se ele ficasse parado, encostado no muro ao lado do hotel, logo alguém o ofereceria um cigarro.
E Harry começou a fumar. Mas somente nessas noites. Era Sin quem fumava, mas ele ainda não sabia.
O primeiro homem que o chamou de Sin foi também o primeiro que o pediu para fazer coisas. Coisas que deixavam Harry nervoso. Ele ainda não estava habituado a ser tocado quando lhe pediram para tocar. E chupar. E, se em um primeiro momento Harry quis gritar, em seguida ele recebia a atenção de que precisava, e seu pudor era só mais um dragão a ser vencido.
E Sin aprendeu as coisas. E Harry deixou de conviver mais com os amigos, a fim de deixá-los namorar em paz, e passou a se divertir com Sin com menos reservas, mesmo que ainda tivesse algo contra receber o dinheiro que tantos homens o ofereciam.
No começo, se sentiu ofendido. Não estava se vendendo. Mas o primeiro homem para quem tentou devolver as notas se mostrou muito mais ofendido que ele. E depois, o dinheiro que ninguém sabia da existência tinha a vantagem de ninguém precisar saber que foi gasto. E assim, Sin ganhou suas roupas, diferentes das roupas de Harry, e comprava seus cigarros, que Harry não fumava.
A sensação de precisar de recompensa pelo que fazia só veio com a primeira surra.
Harry sempre se sentiu seguro nas noites em que saía: tinha sua varinha, era maior de idade e só ficava com trouxas. Era uma garantia mais do que suficiente para que nada de mal acontecesse, mesmo que em geral fosse abordado por pessoas maiores fisicamente que ele, mesmo que estivesse com mais de uma pessoa ao mesmo tempo, se sentia seguro.
Até que, inebriado pelas sensações, permitiu que o algemassem. E, quando se está algemado e a varinha caída dentro do bolso da calça em algum ponto do chão do quarto, é difícil evitar que um homem pelo menos dez anos mais velho e muito maior te bata e te foda de todas as formas, não importa o quanto você grite.
Naquele dia, Harry sentiu mais dor do que prazer. E teve que lembrar que já sentira mais dor que aquilo na sua vida e que, se aquele homem ainda deixava uma quantidade razoável de dinheiro sobre a sua cama, era porque ainda tinha mais consideração por ele do que seus tios, por exemplo, que sempre o maltrataram sem lhe dar nada. E a dor sobrepondo a dor o fez jurar que nunca faria aquilo novamente.
Sin voltou a sorrir, acendendo novo cigarro. Soltou a fumaça e riu novamente, a observando subir em direção ao teto mofado do quarto. Lembrou-se de que aquilo aconteceu perto do Natal, e que ele ficou feliz que o suéter Weasley escondesse todas as marcas do seu corpo. E se lembrou do quanto os beijos de Ginny pareceram frios. E foi quando ele percebeu que ela só tinha dezoito anos, e ele havia envelhecido muito mais que isso desde a última vez que a vira.
Pois Ginny chegara aos dezessete anos tendo enfrentado um basilisco, um diretor ditador e a morte do irmão. Harry chegou aos dezoito tendo enfrentado a responsabilidade de uma guerra desde que nascera e sua própria finitude.
E agora enfrentava a si mesmo, pois se Harry nasceu de uma guerra, e Sin de uma trepada, os dois tiveram o mesmo começo.
E Sin comprou o celular com o dinheiro do estranho, e voltou para o ponto.
E agora se sentaram juntos naquela poltrona para encarar a si mesmos.
o0o
Harry Potter nascera como uma criança comum, com pais que o amavam e um futuro incerto pela frente. Com um ano, Harry Potter se tornou um nada. E como nada foi tratado por dez anos. Submisso, ignorado, reprimido, independente das respostas que desse para isso.
Aos onze anos, teve que provar não só que não era um nada, mas que era um herói. O heroísmo que seu nome carregava, atrelado a títulos e signos que não falavam sobre ele. E, negando tudo o que ele significava, Harry Potter passou sete anos se afirmando pelo que ele não era.
E, quando pensou que, a partir do momento que cumprisse tudo aquilo que o mundo lhe designou, poderia finalmente traçar sua vida, Harry Potter se viu imerso em novas obrigações.
Como mocinho em uma história que caminha para o fim feliz, Harry Potter deveria se unir a sua mocinha, reforçando o quanto era fiel. Deveria se manter nobre de caráter e aceitar todas as homenagens e agradecimentos. Deveria manter suas opiniões e objetivos e seguir em linha reta o caminho que lhe era traçado.
Mas depois de morrer, é difícil manter a mesma forma de ver seu caminho.
A verdade é que, ao fim da guerra, Harry Potter se deixou levar, e, em um primeiro momento, se sentiu feliz por não ter que decidir o que fazer. Aos poucos, descobriu que nem tudo que fazia era o que precisava. E não soube como dizer isso sem machucar as pessoas que o haviam atendido durante toda a sua vida.
Então se machucou.
Não era ser ingrato. Era ser infeliz. Mas ele se sentia ingrato. E se mantinha infeliz para que os outros não se incomodassem com ele. E se manteve assim até perceber que havia pessoas que não se importavam com ele de verdade, mas que mesmo assim o faziam mais feliz.
E Sin surgiu. E ele descobriu na pele que ser garoto de programa não era só gozar, mas algo nele lhe dizia que valia a pena. Mesmo que ele apanhasse. Mesmo que tivesse que se submeter e se humilhar. Mesmo que boa parte do dinheiro que ganhava fosse para poções contra as doenças que pegava.
O problema era que depois que se morre, a necessidade de se sentir vivo é maior.
E ele precisava mais do que felicidade e paz para viver. Se se sentia melhor com uma pessoa que o chamava de Sin do que com uma que o chamava de Salvador, talvez ele tivesse necessidade de saber qual era seu verdadeiro nome, e o que ele significava. Se ele se sentia melhor com alguém que o puxava pelos cabelos, dava tapas em seu rosto e o fodia de quatro do que com alguém que ruborizava por lhe dar um selinho na frente dos pais, talvez precisasse de alguém que o valorizasse de uma forma diferente. E se ele se sentia culpado ao chegar dolorido todas as noites, mas saía novamente no dia seguinte, talvez ele precisasse parar de mentir para si mesmo e assumir que Sin fazia algo que podia não ser certo, mas de que ele precisava.
E isso exigia um novo começo.
Que exigia respostas que talvez a pessoa parada no portal daquele quarto de motel pudesse lhe dar.
-:=:-
NA: Assim, sábado, dia 06, eu estava quietinha em casa, tentando descansar um pouco, quando pensei comigo: "Nossa, faz tempo que eu não escrevo" ._.
Dei uma olhada nos meus plots em desenvolvimento e nada me deu aquele "tchan", sabe? Aí eu comentei com a Fla: "Cara, queria escrever... mas preciso de um plot descente que eu enjoei das minhas fics." E, relendo a lista de desafios do Fest PSF, que acabou já, vi algo como o Harry prostituto. E fez-se a luz xD
E a fic se fez em uma semana.
E foi estranho, porque pela primeira vez eu sentei e escrevi e escrevi e escrevi e o Sin ficava me mandando escrever mais e mais e mais e eu simplesmente não sabia onde tudo aquilo ia parar. Até que acabou. E eu fiquei: "Mas isso é o fim?" E, sim, era, e agora eu estou postando, e, sim, ela já está completa, e eu preciso MUITO saber o que vocês acharam, porque essa fic é definitivamente estranha, mas eu realmente gosto dela. O.õ
Enfim... Sejam pessoas legais XD
Beijos e... não sei quando eu volto, vou ver a resposta de vocês pra decidir, ok?