n/a: só pra deixar claro: a primeira e a última parte são do presente, a do meio é lembrança (dos três!). e o capítulo é enoooorme porque acho que vou levar um tempo pra atualizar, vão começar as provas e tem a Higway e agora a Sea... ok? assim vcs podem ler um pouquinho de cada vez e esperar mais tempo sem me xingar pelo atraso ^^


Capítulo 21. A Sangue e a Fogo

-- Só que dessa vez não vai ser na Sala Comunal. – Continuava sua explicação o garoto de bonitos e bastos cabelos castanhos, segurando a mão dela mesmo enquanto ajeitava a gola da capa para se aquecer melhor; nevava copiosamente.

Estavam margeando a Floresta Proibida – ele lhe dissera que a levaria para "ver uma coisa" com um sorriso absolutamente maroto no rosto. Conversavam agora sobre a festa que o sétimo ano daria como despedida de Hogwarts.

-- E vai ser na Floresta Proibida, por acaso? – Marlene perguntou irônica, já que não entendia o que estavam fazendo ali. Limpou alguns flocos de neve dos cabelos dela e depois do namorado.

Então Remus abriu um sorriso ladino que ninguém diria caber em seu rosto de mocinho de filme inglês, mas que ela já vira várias vezes.

-- Vai. – Ele respondeu e fez os olhos dela se arregalarem para ele.

Ela ainda o olhava assustada quando ele cessou o passo meio risonho.

-- Remus Lupin, você tem muito o que me exp-

Ela ia dizendo, antes de voltar o rosto para sua frente e se deparar com aquela cena.

Só agora ela percebeu que não via Sirius beijando uma garota há um tempo, porque seus instintos pareciam ter se desacostumado ao que ela se habituara e fizera seu corpo obrigatoriamente ignorar: cenas como aquela, a sua frente.

Sirius forçava o corpo de uma garota de cabelos pretos e sedosos contra o tronco de uma árvore, suas mãos pálidas destacavam-se sobre a capa preta em que apertava sua cintura.

-- Explicar. – Ela finalizou. A mistura da sensação do que não deveria sentir mas estava sentindo e não estava mais acostumada a sentir a fez ficar repentinamente nervosa e suas mãos gelaram.

Quando ela voltou os olhos para Remus, ele já lhe olhava com olhos de caçador cobrindo o mel naturalmente bondoso.

Ela o olhou fingindo não saber o porquê daquele olhar.

-- Acho que chegamos em má hora. – Cochichou para ele.

Ele entreabriu os lábios, mas não foi sua voz que se fez ouvir.

-- Ei. – O trovejar rouco de Sirius fez-se soar pela floresta sombria.

-- Vim mostrar pra Lene. – Explicou Remus, de um jeito frio que ela odiava ver entre os dois.

-- Oi. – Disse a garota que estava com Sirius bastante corada. Era Corvinal, Marlene lembrava. Forçou um sorriso para ela.

E não olhou nos olhos de Sirius e jurou a si mesma que não o faria até saírem dali, ou talvez até que ela reformulasse suas barreiras de proteção contra esse tipo de cena.

-- Você me mostra outra hora. – Marlene pediu, já puxando a mão de Remus para que voltassem atrás.

-- Não. A gente já 'tava indo. A Bess tem aula agora. – Sirius disse.

Marlene já estava de costas para eles puxando a mão de Remus com força. Remus a segurou pela cintura e a fez se voltar novamente para a clareira à sua frente. De uma maneira irônica e cruel, seus olhos depararam-se com a nebulosidade dos de Sirius, bem mais próximo agora e de mãos dadas com a morena.

Os olhos castanhos dela desviaram-se rápido dos seus, como se tivessem sido queimados. Sirius cerrou o maxilar e guiou Bess Smith para fora da floresta.

-- Mas como vocês vão fazer para ninguém perceber? – Marlene perguntou fazendo tanta força para se concentrar que sentiu um repentino calor.

-- Perceber o quê? – A voz de Remus ainda estava áspera, ele a olhou com um pouco de frieza e desconfiança.

-- A festa, oras! – Ela fez um gesto de obviedade. – Não acredito que você concordou em dar uma festa na Floresta Proibida, Rem.

Ela se consertara bastante rápido, Remus pensou. Rápido demais para alguém que se importa com o que viu. Ignorou qualquer coisa a mais e puxou o corpo dela de encontro ao seu, segurando sua cintura, na opinião dela, possessivamente.

-- O Prongs organizou quase tudo. – Ele explicou, sorrindo de perto.

Ela riu, sentiu-se mais leve com a confiança que voltou a iluminar os olhos dele.

-- Você sabe que vai ser impossível que alguém não pegue uma festa aqui, não sabe?

Ele sorriu outra vez ladino, selou os lábios nos dela e disse:

-- Até parece que você não cresceu com a gente, Lene. Ninguém vai descobrir essa festa, eu garanto. E vai ser pra poucas pessoas, fica mais fácil.

-- Mas Dumbledore com certeza tem um método de nos manter longe dessa floresta, Moony, é claro que tem.

O sorriso dele se ampliou, lembrou a ela o sorriso que Sirius e James davam, era raro no rosto de Remus, mas o deixava tão perfeitamente atraente que ela mordeu os lábios.

-- Exato. Prongs descobriu esse método. E agora podemos burlar esse método.

Marlene riu jogando os cabelos para trás.

-- Achei que vocês tivessem parado com essas coisas. Ou diminuído.

-- Não vai ter risco nenhum. Vem, vem ver onde vamos fazer a música tocar. – Ele a puxou pela mão grande, as cicatrizes da última lua cheia se fazendo sentir. – Ah, e você vai fazer o Abaffiato pra nós.

Ela sorriu contente. Uma noite de festa no estilo maroto de divertir as coisas. Algo que certamente faria tudo parecer de volta a seu lugar.

-- Ótimo. – Respondeu sentindo as mãos quentinhas outra vez. - Ei, Rem, - Ela lembrou-se num tom quase displicente. - a Lily não vai matar o Prongs?

Remus riu.

-- Talvez.

-- Pobre Jim…

O garoto parou e virou-se para ela.

-- Nunca vi a Lily como agora. – Ele ficou repentinamente sério, como se aquilo realmente o intrigasse. - Ela parece… mortalmente apaixonada.

-- Mortalmente? – Repetiu a garota com um riso fazendo o vapor sair branco sobre seus lábios vermelhos.

-- Mortalmente. – Ele repetiu mais sombrio; enquanto lembrava sem querer de um dia do sexto ano no qual, curiosamente, Sirius também pensava naquele momento. Em seguida, Marlene também lembrou-se daquilo.


A garota tinha batom nos lábios e um perfume forte e doce emanava de seu pescoço. Sirius sentia um leve orgulho lhe encher o peito enquanto admirava seu perfil feminino de uma beleza moderna e sedutora, e correspondia a seus olhares de um azul clarinho. Era certamente uma das garotas mais bonitas da escola, pensou. Falava de algum sábado na saca de algum parente… ou seria em Hogsmeade? Ele não prestava muita atenção, mantinha seu sorriso galante-porém-displicente para torturá-la até o fim da festa, e fazê-la ansiosa o suficiente para não demorar na hora de tirar a saia. O sorriso dela sumiu por um segundo e ele notou que uma outra garota aparecera ali - amiga dela, ele lembrou. Deu qualquer desculpa tola e foram as duas juntas ao banheiro.

Sirius contemplou por um segundo a repentina solidão e as cortinas magicamente brilhantes da "festa de começo de ano" do Clube do Slug. Girou nos calcanhares e seu olhar pousou a um dos cantos da Sala Comunal.

A menina, em seus 16 anos, tinha cabelos compridos e castanhos; o brilho dourado se fazia ver quando ela ria e as luzes da festa se refletiam neles. Não usava vestes de festa – como nunca fazia se não fosse obrigada – mas chamava a atenção pelo modo como as roupas lhe caiam bem, delineando de um jeito quase misterioso suas curvas marcantes. Remus gesticulava algo que o fez lembrar da peça que pregaram em Filch mais cedo e Marlene ria muito.

Seus braços se tocavam. Ela não entendeu por que de repente isso era sensível e notável a ponto de ela contar as vezes que acontecia. Uma, duas, três, agora quatro. Quatro vezes que durante as risadas seus braços se aproximavam e roçavam um no outro sobre – mas ela sentia sob – sua camiseta e a camisa de uniforme que ele não tivera tempo de trocar por causa da monitoria. E o jeito que ele sorria, quase um enigma em força de lábios e dentes (como ele conseguia ser tão misterioso?), também era notável, tão sensível para ela que a fazia querer tocar aquele sorriso.

Mas seus braços se afastaram e ele teve de ir a qualquer lugar. "Já volto", ele confirmou num último sorriso misterioso.

Ela olhava para o próprio copo, pensando em mistérios. Mistérios lunares, mistérios cor de mel. Infelizmente, pegou-se pensando, mistérios são sempre cinzentos.

-- Ei. – Ela ouviu um tom rouco próximo a seu ouvido. Sobressaltou-se e se virou para ele. Sirius tentara assustá-la. Olhou bastante irritada, mas pelo que acontecera mais cedo, não pelo susto.

-- Cai fora, Black. – Disse empurrando-o pelo ombro de um jeito arredio.

-- Qual é, McKinnon.

Marlene suspirou nervosa, sentia o sangue ferver só de lembrar do que ele lhe fizera mais cedo.

-- Você me fez levar aquela detenção por causa de uma garota. – Deixou escapar num sibilar agudo. Já repetira isso cem vezes para ele, mas não conseguia se conformar.

-- Ela é legal. – Ele disse simplesmente.

Marlene o olhou fulminante.

-- Não vou perdoar você nunca por isso. – Ela ressaltou, não queria expressar tanta mágoa, mas estava mesmo decepcionada.

-- Ciúmes?

-- Falta de consideração, da sua parte.

-- Consideração?

-- Coisa que amigos têm um pelo outro.

-- Ah… - Ele fez entre brincadeira e indiferença. - Não diga que sou um amigo ruim, Lenny.

Ela o olhou e pôs uma das mãos na cintura; sem se conter – desistira de gastar energia com isso há algum tempo – ele passou os olhos pelo desenho que se fez de seu corpo.

-- Você é bom amigo, com James. Não comigo.

-- Ah, qual é… Eu 'tava louco por ela.

A garota respirou fundo e virou o rosto para um lado, mas não pôde se controlar e o empurrou no peito, de um jeito meio moleque.

Ele deu um passo para trás para se equilibrar e riu. Depois segurou os ombros dela ainda com tom de brincadeira.

-- Acho que você 'tá com ciúmes, isso sim.

Ela fixou os olhos nos dele. O peito dela subia e descia sob a camiseta, devagar e depois mais rápido. Não fez esforço para que Sirius a soltasse, somente o encarou com raiva, sem pestanejar. Achara tão injusto e humilhante o que Sirius fez naquele dia que o ódio lhe atingia em socos internos. Marlene queria bater nele, queria gritar com ele porque era revoltante o fato de ele tê-la deixado de lado, deixado que ela pegasse uma detenção, por causa de mais uma daquelas garotas. Não sabia explicar ao certo por que aquilo a revoltava tanto, não sabia dizer as palavras certas para expressar aquela injustiça – era pior que injustiça, e ela nem conhecia uma palavra para isso -, mas sabia que fazia seu peito doer e a raiva esquentar seu rosto e arranhar sua garganta. Ignorou a vontade de chorar (seria ainda mais humilhante) e se concentrou ainda mais no ódio.

Queria que Sirius sentisse pelo menos um pouco daquela raiva dolorida. E "dor" era uma palavra tão leve para o que sentia…

E subitamente, a essa altura de seus pensamentos, Sirius largou seus ombros e olhou assustado para o próprio peito esquerdo, com uma careta de dor. Não exprimiu som algum, mas segurou o lado esquerdo da camisa e a puxou, olhando o próprio corpo sob o tecido.

-- Foi você que fez isso?! – Ele perguntou atônito.

-- O quê? – Ela se esticou e tentou olhar. Sirius franzia o cenho e meneava o rosto para ela, assustado como quase nunca ficava.

-- Como…?

-- Que foi?!

-- Você…!

Ela puxou a camisa do amigo o suficiente para ver um corte vermelho e como que feito a fogo sobre seu peito esquerdo. Arregalou os olhões castanhos para ele.

Sirius a fez soltar a mão de sua camisa num gesto rude e a olhou intrigado.

-- O que 'tá acontecendo? – Remus perguntou assim que chegou.

-- Eu… - Marlene começou.

-- Sirius, vamos dançar? – A menina – dona da loucura de Sirius, Marlene fez-se registrar - também chegou.

-- Maluca. – Sirius sussurrou sombriamente nervoso antes de se virar e dar a mão à ruiva.

Marlene assistiu-o se afastar, uma expressão entre susto e mágoa pintava seu rosto. Ainda respirava de um modo pesado quando Remus tocou seu braço, dessa vez com a mão.

-- O que 'tá acontecendo?

Marlene o olhou assombrada.

-- Acho que fiz o que você me ensinou.

-- O quê?!

-- Aquele troço sem varinha. – Ela fez um gesto vago com a mão, tentando parar de olhar para as costas de Sirius.

Ele se engasgou com a bebida.

-- Você é louca? Não ensinei a você, só contei que aconteceu. Você colocou fogo em alguma coisa?

Marlene o olhou intrigada. Talvez não fosse o mesmo feitiço, pensou.

-- Eu não sei.

-- Como assim? Alguma coisa pegou fogo?

-- O… o peito do… O Sirius.

-- Você colocou fogo no Sirius?! – Remus sussurrou alarmado, olhando para o lado para que o amigo fora.

-- Não! – Ela respondeu rápido, um pouco alto demais. – Não eu só… Fiz um… meio que um corte, mas parecia de fogo. – Completou assombrada e olhou as próprias mãos.

Remus entreabriu os lábios. Pensou em se preocupar, mas Sirius parecia bem, então concluiu que o corte fora superficial. Passou a olhar Marlene com surpresa e um certo brilho de admiração escapava de seus olhos. Era perigoso o que ela fizera, mas não conseguiu deixar de pensar que fora uma magia poderosa.

-- Maluca. – Ele repetiu o que Sirius dissera, mas com aquele sorriso misterioso.

Marlene riu nervosa. Foi se acalmando aos poucos. Eles ficaram de repente sem assunto, e o modo como Remus a olhava já a estava incomodando (ele parecia prestes a rir a todo momento), então ela pigarreou e o olhou num dramático tom de mistério, que era o assunto do qual conseguia se lembrar.

-- Então… Conte-me um segredo, misterioso Remus Lupin.

Ele riu, tentou parar de pensar no que ela acabara de fazer, mas não conseguia disfarçar um interesse admirado ao olhá-la.

-- Um segredo?

-- É. – Marlene pestanejou daquele jeito meio felino; talvez tivesse um pouco a mais de álcool naquele hidromel, que, aliás, não deveriam estar bebendo.

E então sentiu, e lembrava-se como associou à mágica dela, seu corpo se transformar pouco a pouco, fazendo uma alusão imprópria à "transformação" que sofria verdadeiramente, uma vez por mês. O ar escapou leve e o coração foi acelerando. De fato, era como se render à lua cheia, só que sem a dor no corpo, mas com uma pontada no peito.

Marlene se aproximou sem realmente ter motivo, e pensou que não deveria fazê-lo exatamente na mesma medida em que ele não deveria olhá-la daquela forma ou sorrir aquele sorriso.

É verdade… – Ela começou em tom falsamente misterioso, sentia algo estranho no ar e achava que vinha dele –… que você tem um grande segredo?

Ele fez o riso disfarçar a respiração um pouquinho mais rápida; tinha plena noção do modo como os dentes dela tocavam o lábio inferior quando sorria.

-- Bom, é… - Concordou charmoso.

-- E qual é ele? – Ela perguntou em tom impetuoso, uma sobrancelha erguida naquele ar um pouquinho esnobe que ela tinha.

Ele engoliu a seco seu segredo e a vontade de contar para ela. Fez doer sua garganta e seu peito.

-- É secreto demais. – Disse num sorriso conformado.

-- Lupino demais? – Ela brincou. Mas ele não riu. Não conseguiu tirar os olhos dela, não pôde evitar não olhar seus lábios, não controlou o mais um passo que deu e teve que morder o interior de sua boca para contentar seus dentes.

-- Não. – Sua voz estava mais rouca. - Meu maior segredo não tem nada a ver com lobos. – Ele olhou para o lado em que via Sirius e a nova namorada conversando. - Esse é o segundo maior.

Marlene meio que ofegou. Tentou manter o sorriso brincalhão, mas ele sumiu e a fez morder o lábio inferior com força. Sentia o coração acelerar a cada minuto, e uma ânsia por saber aquela verdade com que brincavam. Porque se fosse, se fosse o que ela queria que fosse…

-- E qual é o primeiro? – Perguntou num fôlego meio lento.

Remus a olhou e sorriu triste.

-- Não posso contar. Mesmo.

Ela controlou o tom de voz, para que não saísse agudo como parecia que ia sair:

-- Me conta, Rem.

-- Não posso. – Ele a olhou intrigado, havia um brilho intenso de interesse nos olhos castanho-esverdeados e isso alimentou seu coração de uma força que não poderia alimentar.

-- Por que não?

-- Não… não devo. – Ele olhou para os lados e passou a mão pelos cabelos, ficando ainda mais charmoso.

Ela cravou as unhas nas mãos e tentou se concentrar para dizer brincando:

-- Monitorzinho covarde.

Ele riu. Passou as duas mãos pelos cabelos outra vez; precisava ocupá-las para não capturar Marlene e fugir com ela dali. Mas seus pés o traíram e o levaram mais próximo dela, mais um passo, mais centímetros. O cheiro dela só piorava as coisas.

Ela engoliu uma porção exagerada de saliva que se formara em sua boca. Suas unhas já machucavam a pele das palmas de suas mãos e ela era incapaz de lembrar como é que se respirava normalmente.

Até que um grito agudo fez-se soar sobre a música da festa.

Os dois olharam assustados em redor, Remus olhou Marlene lívido, como se surpreendesse a si mesmo prestes a fazer algo de ruim a ela. Olhavam-se aturdidos até Slughorn dizer alto:

-- O que foi isso?

-- O Si-… O Sirius Black! – Gritou novamente aquela voz aguda.

Uma roda abriu-se em meio à festa, tão repentinamente que parecia irreal, e o corpo de Sirius jazia no centro, uma mancha vermelha em seu peito esquerdo. Vermelha como… sangue. Marlene sufocou um grito com as mãos. Num segundo ela, James, Remus e Peter estavam ao lado de Sirius, sentados no chão e chamando por seu nome.

O professor os afastou, analisou ele mesmo o jovem desmaiado; rapidamente ergueu o rosto pálido de susto.

-- Parece… - Ele começou, havia um temor profundo em sua voz. - Evans! Chame o diretor!

-- O que aconteceu, professor? – James perguntou aturdido enquanto segurava Marlene.

-- Vou levá-lo à enfermaria, isso é caso de arte das trevas, isso é… terrível!

James e Remus se entreolharam sombrios e preocupados, Marlene apertou forte o braço de James e o puxou para irem atrás de Slughorn e do corpo que ele fazia flutuar a seu lado. Ela estava pálida e parecia incapaz de falar. Remus franzia a testa tenso.


O professor Slughorn os olhava quase enfadonhamente. Mandara-os ficar após a aula depois de um tumulto que provocaram ao tentarem jogar suas respectivas Poções do Esquecimento um no outro, depois de uma discussão demasiado barulhenta. Habituado, acostumado, fatigado pelos castigos e repreensões que sempre dera aos amigos daqueles dois e àqueles dois, olhava-os nesse momento sem demonstrar sinal de decepção ou raiva. Seus bigodes balançavam-se no rosto um pouco incomodados, e se não fosse isso, poder-se-ia dar o professor por entediado.

-- Limpem. – Rosnou simplesmente. Dumbledore estava certo, pensou, não adiantava dizer muito mais àqueles garotos.

Sirius e Marlene se entreolharam ainda com raiva e pegaram suas varinhas num suspiro uníssono.

-- Ora, ora. – Rosnou Slghorn outra vez. – Vocês são mais práticos nisso que eu, absolutamente. Será mesmo preciso dizer que é sem uso de mágica?

Marlene gemeu de um jeito mimado e Sirius encarou Slughorn em um tédio quase desrespeitoso, enquanto o homem a sua frente exigia as varinhas num gesto de mãos gordas estendidas.

O professor virou-se e andou até a saída, mas virou-se novamente sob o portal e os olhou como quem tem uma idéia.

-- Depois de limparem, destruam o bicho-papão que entrou no meu armário, sim? As varinhas – ele andou até a mesa novamente e as colocou sobre o móvel – estarão aqui. Não preciso dizer também que saberei se vocês as usarem para outros fins. – Completou fechando a porta em seguida.

-- Ótimo! – Ironizou Sirius assim que a porta bateu. – Tenho um encontro e vou me atrasar por sua culpa. Você tem que aprender a não falar tão alto. – Completou num tom de quem ensinava algo realmente importante a um jovem teimoso.

Ela o olhou incrédula e irritada.

-- É você quem tem que parar de me encher o saco!

-- Qual é, você que foi bruta.

Ela o olhou por um instante, entreabriu os lábios revoltada, mas ele deu aquele sorriso charmosamente irritante e ela não disse nada. Decidiu-se por ignorá-lo e passou a limpar as poções com um pano.

Ele a seguiu no gesto.

-- Não precisa ficar muda, é só não falar tão alto.

-- Cala a boca, Sirius.

O pulso fino dela empurrava o pano para um lado e para o outro, e ele não pôde deixar de se sentir um pouco satisfeito com aquilo. Era quase como se as coisas estivesses normais outra vez.

Logo terminaram de limpar as poções no silêncio que enfim foi interrompido por Sirius.

-- Se quiser eu destruo o bicho-papão, pode ir.

-- Você não disse que tem um encontro com a… Bess? Deixa comigo.

Eles se encararam por um momento, numa conversa taciturna que ressaltava o rancor nos olhos de Marlene. Por fim a garota deu as costas a ele e atravessou a sala; abriu o armário com a varinha em punho. E deveria ter-se preparado melhor para a velocidade com que as coisas aconteceram a partir daí.

Num átimo de segundo o vulto transformou-se numa seqüência de pessoas mortas: James, Remus, - Marlene deu um passo para trás, empalidecendo e tentando se preparar para o feitiço, mas a cada transformação sua postura ia caindo, como se perdesse forças -, primos e tios dela, sua avó e, entre elas, como era de se esperar, um Sirius morto, mas em seguida, um Sirius vivo, andando despreocupadamente em sua direção.

Marlene olhou o Sirius verdadeiro assustada. Ele franziu o cenho para ela. Ela entreabriu os lábios para dizer o feitiço, mas a voz não saiu e o Sirius bicho-papão se aproximou mais. A varinha caiu de sua mão enfraquecida e ela tropeçou ao tentar se afastar; deixou-se cair sentada no chão, cobrindo o rosto com as mãos.

Sirius entrou a sua frente e rapidamente destruiu o bicho-papão, sem que ela visse o que era. Depois aproximou-se e ergueu a amiga para que se sentasse numa cadeira. Sentou-se a seu lado, ela ainda cobria o rosto, parecia chorar.

Mais uma vez, odiou o mundo por fazê-la sofrer, odiou cada ser que a machucava… odiou a si mesmo por fazê-la temer e enfraquecer assim.

-- Talvez o Chapéu Seletor se aposente depois dessa. – Sirius apontou num tom bem menos indiferente e frio. – Um bicho-papão ganhando de uma Gryffindor…

-- Sou uma fraude. Sou a pessoa mais medrosa do mundo. – Ela respondeu com a voz embargada, descobriu o rosto e o olhou de um modo profundamente triste.

Ele sentiu o coração parar, como se dissesse a ele que não poderia continuar assim.

-- Tem medo do quê, McKinnon? – Era quase carinho o que se passava em sua voz.

Ela sentiu ainda mais raiva de Sirius, era tudo culpa dele, afinal.

-- De você. – Não adiantava fazer rodeios depois daquela cena. - E de tudo que se relaciona a você.

Ela se levantou, ele a segurou e se ergueu também. Olhou-a exigindo resposta.

-- O quê? – Ela disse irônica por trás do choro. - Não esperava por essa? Achava que eu tinha me afastado por capricho? Que me desfiz do meu melhor amigo por uma vontadezinha que veio com o vento?

Ele a olhou tão séria e fixamente que ela viu-se incapaz de se mover.

-- Explica. – Pediu grave.

Ela fechou e abriu os olhos antes de dizer:

-- É só prestar atenção. É só ver tudo o que você já fez comigo, repetidas vezes, sem se importar no quanto me machucava.

Ele entendeu do que ela falava, apesar de não ser algo específico.

-- Não faz sentido. Você nunca se importou.

-- Claro que me importava! Já disse que sempre tive medo. Sempre, Sirius. Foi sempre assim.

-- Por que só agora você… foi o… seu pai?

-- Não sei. Eu não sei. Talvez tenha sido o estopim, talvez a guerra, talvez meu pai. Ou tudo isso. Ou essa coisa ridícula de você dizer que me ama.

-- Lene…

-- Já mudou de idéia? – Ela parou para controlar o choro outra vez. - Caiu em si? Porque, sinceramente, Sirius você não passaria a namorar comigo ou a ser "só meu" se eu dissesse…

Ela parou outra vez, já não chorava, mas sua voz não saiu.

-- O quê?

-- Se eu concordasse com isso.

Ele virou o rosto e riu amargamente pelo nariz. Ela não era nem capaz de dizer.

-- Se eu desisti foi por sua culpa. – Disse mais grosso.

-- Não, Sirius. Não foi por mim, nunca foi. Presta atenção, por que você me quer agora? Por que você insistiu tanto? Por que quer tanto?

Ele encarou os olhos mais esverdeados pelo choro; sentiu a força abandonar seu corpo, como se parasse de circular junto com seu sangue. Sentiu a incapacidade de dar uma resposta que não soasse egoísta e sem sentido.

-- Viu, você não quer. – Ela concluiu na vitória mais fracassada que já tivera.

-- E se eu te convencesse? – Ele perguntou num sussurro grave.

-- Você não convenceu nem a você mesmo, Sirius.

Ele engoliu em seco. Talvez não quisesse mesmo continuar.

-- Você 'tá certa! – Ele explodiu tornando-se mais rouco pela vontade de gritar - Foi sempre assim e você sempre foi medrosa desse jeito e eu sempre fui egoísta desse jeito. E você sempre veio com esse papo de parar com isso, parar com…

-- Qual é, Sirius! É ridículo que amigos saiam se agarrando pelos corredores às escondidas! Sempre foi ridículo e agora a gente não tem mais idade pra ignorar isso!

Ele cerrou o maxilar antes de continuar.

-- Sempre foi ridículo, sempre foi… - Pareceu procurar uma palavra melhor e ela entendeu "inexplicável" nos olhos dele – Mas nunca deu pra evitar. Ao menos antes você também não conseguia evitar, por que agora você quer se afastar e evitar tudo, Marlene? Explica! É isso, é essa parte que… - Ele cerrou os próprios punhos e exigiu respostas com um olhar cinzento e desesperado.

Marlene suspirou cansada.

-- Eu preciso aprender a ser sozinha. E preciso… me libertar pra isso, Sirius. Preciso crescer. Sozinha.

-- Sozinha com o Remus? – Ele sorriu sem sombra de alegria e a olhou com ironia amarga.

Ela abriu bem os olhos e o olhou por uns minutos.

-- O Remus… - Hesitou.

Sirius riu sem sombra de felicidade outra vez, um riso fraco e amargurado.

-- Com ele você não consegue evitar, é isso? Dele você não consegue ficar longe?

Ela abriu e fechou os lábios, tentou falar.

Ele se virou rápido em direção à porta, empurrando com brutalidade uma carteira do caminho.

E ia atravessar o portal, estava prestes a sair… ela tinha que fazer sua voz sair.

-- O Rem…

Sirius parou, permaneceu de costas, seu corpo todo parecia protestar pela dor que achava que ia aumentar com as palavras dela.

-- O Remus… Ele… Ele é uma pessoa, eu sou outra. Eu… sei… diferenciar.

Sirius se virou novamente para ela, a ver se assim suas palavras faziam sentido. Ela ainda tentava formular alguma frase, ele se aproximou.

-- Com ele, tudo bem, sou só eu… Quero dizer, somos nós juntos, mas eu sei o que…

Ela fechou os olhos, ele notou que ela tremia ao passar as mãos pelo rosto.

-- Eu sei onde é ele, onde sou eu… - Ela o olhou. Ele estava novamente bem a sua frente. – Você entende?

-- Não. – Disse sincero.

Ela virou o rosto.

-- É claro que você não entende, nunca deve ter sentido isso. – Sussurrou amargurada, como que para si mesma.

-- O quê?!

Marlene o olhou desesperada.

-- O quê? Sai, Sirius. – Por um momento ele achou que ela estivesse mandando-o embora. – Eu quero tirar você de mim, saber quem eu sou sem você. O que eu sou além de você?! Não sei o que tem em você, mas você fica em mim, e não sai! Na minha cabeça… você… 'ta-'tava – Ela forçou-se a usar o passado. – o tempo todo, me sufocando, me prendendo. Eu sabia que era errado, que eu ia me ferrar uma hora, e não conseguia parar! – Ela o olhou corada mas sem o habitual viço, estava transtornada. – Você não vê, Sirius?! É terrível! É… quase… é opressor… Era… masoquismo

-- Lene… - Ele sentiu raiva de si mesmo por nunca saber traduzir o que queria dizer.

-- Mas agora. Agora eu 'tô tentando. Agora eu sei que eu consigo ser uma pessoa sem você, e que sou boa assim. Mesmo que… eu… Eu 'tô conseguindo. Eu preciso conseguir, Sirius.

Sirius não sabia o que dizer. De repente não tinha mais tanta certeza se a queria assim, totalmente dele. Achou-se, pela primeira vez, altruísta a pensar assim. Afinal, por que ele a queria tanto? Para fazê-la sentir a dor que ele lia nesse momento nos olhos dela? Para satisfazer seu impulso egoísta daquilo que ardia em seu peito e dizia que Marlene era só dele? Que direito ele tinha de fazer aquilo e prendê-la assim? Afinal, achou que entendia do que ela estava falando. Masoquismo

Ele engoliu em seco. Ela deu um suspiro falho e se virou num gesto que ele achou fraquinho. Olhando seu perfil guardar os materiais e começar a se afastar, ele viu que ela estava mais magra. Tocou as próprias costelas num impulso lento; ele também emagrecera, enfraquecera, enlouquecia a cada dia…

Pensou em algo que dizer, outra vez ia tentar se afastar – ela estava certa -, dessa vez tinha que dar certo:

-- Então me ensina. – A voz dele ecoou grave e rouca pela sala quase vazia. Ela estava à frente e se virou novamente, estava chorando outra vez. Outra vez. Quantas vezes ele já a vira chorando nesse ano?

-- Ensina o quê? – Ela perguntou, não havia, neste momento, sombra daquela garota vigorosa e de rosto sempre colorido.

-- A… tirar. Sair disso.

Ela entreabriu os lábios, limpou as lágrimas com uma das mãos. Por fim não foi capaz de mais nada a não ser encarar seu amigo com expressão de soldado sobrepujado. Era uma guerra. Mais uma guerra, só deles dois… Como era a expressão? No amor e na guerra… Pareciam-lhe a mesma coisa agora. A postura dela sempre altiva contrastava com o olhar mais triste que ele já vira naquele rosto.

-- Vai me ignorar? – Ele perguntou, sem sentido algum nas palavras. Não sabia o que queria aprender, nem sabia se esperava alguma resposta dela. Só queria que ela soubesse, por culpa do ódio que aquele vício incompreensível que seu corpo tinha por Marlene, que ele estava marcado a sangue e fogo, e que isso doía mais do que ele, o combatente impetuoso, achava poder suportar.

-- Não 'tô ignorando você.

-- Então me responde.

-- Para, Sirius. Para de me torturar…

-- Torturar? Você acha que isso é tortura? – Ele riu fraco e amargo. – Você não faz idéia… Você realmente… você realmente não acredita em mim, não é?

Ela baixou os olhos. Ele continuou:

-- Eu só quero saber como é que faz, então. É a única solução, o único jeito é esquecer, você 'tá certa. Então, Marlene… como se faz? – Ele parou de falar um momento. Como? Como ela conseguia? Como era possível? Não parecia ser, não com a imagem dela sufocando cada pensamento, gesto, lembrança. Não com o cheiro dela impregnando maravilhosamente todo o ar que ele respirava. Não com o gosto dela invadindo sua própria saliva sem razão. Ele alteou o tom de voz, incapaz de ser altruísta o suficiente para conter o que queria que ela soubesse: - Eu só quero saber por que a desgraça do seu cheiro não sai!

Ela ofegou num choro e cobriu o rosto; sentiu pelo cheiro que emanou dele e pelo som que seus sapatos fizeram no ritmo do andar de Sirius, que ele se fora.

"Nesta história só eu morro
E morrerei de amor porque te quero,
Porque te quero, amor, a sangue e a fogo."
(Pablo Neruda)



N/A:siiimmm me inspirei no medo da Molly Weasley, q creio ser o medo mais comum em tempos de guerra... mas o último terrível medo é coisa da Lene mesmo, que é atormentada horrivelmente pela existência do Sirius... hauahauhaua quem dera, heim!

e a lembrança é inspirada num troço q li e dizia q na versão inglesa do livro, o Remus faz uma magia sem uso de varinha, superpoderosa, com fogo no meio. fiquei tão empolgada q deu essa lembrança aí :) sim, ela machuca o Sirius de verdade, tem a continuação dessa lembrança, logo ela aparece aqui!

*agradeço com todo meu carinho à zizi blue e à Just Gabi [to maaais q lisonjeada e emocionada com tudo o q vc achou! tô esperando as dicas de música dos Beatles ;)]!

espero q gostem!! e espero q me digam se gostaram!!!! REVIEW!! bjos