Alguns anos depois...

Harry olha para sua cama naquele que outrora fora seu quarto, o mesmo quarto onde trocou confidências com seu melhor amigo, o mesmo quarto onde temeu que o seu melhor amigo descobrisse que ele havia se apaixonado pela irmã dele, o mesmo quarto onde teve pesadelos entrando na mente de Voldemort, o quarto onde algumas vezes se permitiu ser apenas um adolescente como outro qualquer

Tanto tempo... Ele pensa. Tanta coisa aconteceu. Ele ainda se lembra como se fosse ontem daquele sujeito estranho de tamanho descomunal dizendo que ele era um bruxo. Por um milésimo de segundo ele pensou que fosse alguma brincadeira de seus tios, apenas o milésimo de segundo necessário para que ele se lembrasse que os Dursleys não toleravam brincadeiras e que não seriam capazes de fazer uma

Hagrid... Ele pensa com um aperto no coração. O seu primeiro contato com o mundo bruxo, o melhor que alguém poderia ter. Harry se lembra das lágrimas escorrendo livremente em seu rosto quando soube que o meio gigante tivera seu fim de forma honrosa defendendo o local que mais amara. Talvez apenas Hagrid pudesse entender o quanto Hogwarts era importante em sua vida, isso foi uma das muitas coisas que o ligou a Hagrid, a certeza de que Hogwarts era o seu lar

Lar... Harry não se esquece do frio em seu estômago quando viu o castelo pela primeira vez. Ele teve vontade de se beliscar para ver se estava sonhando. Harry teve vontade, mas não o fez, ele não se beliscou por medo de acordar e várias vezes ele se pegou perguntando se tudo o que vivera não era apenas um sonho maluco.

Não... Não foi um sonho. Harry pensa com um sorriso, embora muitas coisas malucas tenham acontecido

Ele pensa na última vez que esteve neste quarto arrumando a sua bagagem para definitivamente deixar a escola. Harry não consegue conter um sorriso e a sua mente se volta há alguns anos atrás...

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Alguns anos atrás

Harry ainda não acredita que o ano letivo acabou e definitivamente não acredita que sobreviveu a tudo e conseguiu ser aprovado, ele termina de fechar seu malão com um suspiro sabendo que a partir de agora as coisas não serão mais as mesmas

- Eu também fiquei um bom tempo olhando para estas paredes no meu último dia – a voz de Sirius se faz ouvir – é complicado, não é mesmo?

Harry suspira, ele sabe exatamente o que o seu padrinho quer dizer, é uma mistura de alegria e alívio por ter mais uma etapa cumprida, com um certo receio de não saber o que o futuro trará

- Sim - ele diz - é difícil saber que ao final das férias eu não vou pegar mais o trem. É como se eu tivesse deixando algo muito importante pra trás

- E você está – seu padrinho bagunça seu cabelo de forma carinhosa – você está deixando algo importante para trás, mas também está se preparando para encontrar coisas igualmente importantes a sua frente. Quando começam os treinamentos?

Harry sorri orgulhoso. Seu pedido para começar os treinamentos para ser um auror foram aceitos, na verdade ele até recebeu uma proposta para pular os treinamentos, o que ele prontamente recusou, pois apesar de ter conseguido derrotar Voldemort, o menino que sobreviveu sabe que se não fizer exatamente o mesmo caminho que os outros nunca vão lhe dar o tratamento igual que ele quer

- Depois das férias – ele diz – aparentemente eles vão dar a nós recrutas uma última chance de aproveitar férias normais, mas eu já fui avisado que isso agora acabou – ele suspira – e eu tenho também que arrumar um lugar

- Você sabe que pode ficar comigo – Sirius o interrompe, seu padrinho ainda não engoliu o fato de Harry querer morar sozinho

- Eu vou ficar por enquanto – Harry diz sorrindo – mas eu quero um lugar pra mim. Além disso – ele encara o padrinho – algo me diz que você não estará sozinho por muito tempo

- Bobagem, garoto – Sirius diz e Harry sorri ao ver que ele está ficando ruborizado – você pode ficar o tempo que quiser. Além disso, eu sei que tenho que ir devagar com ela, tem esse lance dela ter sido apaixonada pelo meu irmão, ter morado naquele tal de convento onde só viviam mulheres, a gente só está se conhecendo por enquanto

- Sei – Harry diz lutando contra a vontade de rolar os olhos, ele conhece a fama de Sirius Black na escola e algo diz que ele não perdeu em absoluto o jeito com as garotas, mesmo uma com um passado complicado como Aletheia – eu sei que sou bem vindo, Sirius, e eu agradeço por isso, mas eu quero um lugar meu – ele para por um momento – e quem sabe eu também tenha companhia depois de um tempo

- Ah, os Potters e suas ruivas – Sirius sorri – eu até poderia dizer que você é muito jovem, mas hoje eu sei mais do que ninguém o que é tempo perdido. Siga o seu coração. Você já vai embarcar?

- Daqui a pouco – Harry diz enquanto se levanta – eu vou me despedir do Dumbledore primeiro, eu sei que é apenas um quadro, mas enfim...

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De volta aos dias atuais

Dumbledore... Harry pensa com um suspiro, seu ex-diretor é talvez a lembrança mais forte do tempo em que passou em Hogwarts. Nem sempre a mais feliz, mas definitivamente a mais forte. Harry não se esquece da visão do homem de nariz torto e oclinhos meia lua, bem como seu jeito jovial e compreensivo, nem a dor que sentiu ao vê-lo caindo da torre de astronomia e do pensamento quase infantil de que ele iria flutuar até a janela como aconteceu com Neville Longbottom

Durante muito tempo Harry se sentiu culpado, mesmo que fosse algo insano e irracional. Foi preciso de uma última conversa com o quadro para que Harry finalmente alcançasse a paz de espírito que tanto necessitava. Um ciclo se fechou...

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Novamente há alguns anos atrás

Mais uma vez Harry Potter entra na sala de Dumbledore, a última vez como um aluno de Hogwarts, ele não pode deixar de pensar com um bolo no estômago. Ele sabe que vai começar uma nova fase da sua vida, num mundo melhor ele espera, mas mesmo assim ele não consegue deixar de sentir um frio em sua barriga, ele sabe que nada que vira será pior do que tudo que ele vivenciou, mesmo assim Harry não pode deixar de ficar um pouco apreensivo.

Ele praticamente sussurra a senha e entra, Harry encontra o quadro que o encara como se já o esperasse – olá Harry – ele diz – tudo pronto para dar as boas vindas ao mundo adulto?

- Estou tentando – ele diz encarando o quadro. Harry pensou que seria uma boa ideia se despedir de Dumbledore mesmo que seja a sua vaga impressão no mundo terreno. No entanto, ele não sabe direito o que dizer, em um mundo perfeito ele daria um abraço no diretor e o agradeceria por tudo, mas infelizmente isso não é possível. Então ele diz – estou tentando, mas é difícil

- Entendo – o quadro diz – mas agora é hora de você seguir a sua vida como um jovem normal que você deveria ter sido desde o início – ele fica em silêncio por um instante – eu quero que você saiba que eu sinto muito orgulho do homem que você se tornou

- Obrigado, isso significa muito para mim – Harry diz com a voz um pouco embargada – mas eu queria dizer uma coisa antes de partir. Ou melhor, eu queria perguntar uma coisa mesmo sabendo que nem tudo pode ser respondido – ele se apressa em concluir

- Tudo bem, Harry – o quadro diz com um meio sorriso – vejo que você já aprendeu muito sobre a minha pessoa, mas vamos lá, pergunte. Eu prometo a você responder se puder, da forma mais sincera possível

Harry respira fundo. Ele vem pensando nisso desde a última conversa e algo nele diz que isso tem que ser feito se ele quiser ser totalmente justo

- Eu sei que o senhor não gosta muito de falar sobre isso e eu entendo, mas eu gostaria de saber um pouco mais sobre o Snape

- Professor Snape, Harry – o quadro o corrige – eu vou falar um pouco sobre ele, mas antes disso eu gostaria de saber o motivo dessa curiosidade. Não é como você ou seus amigos se importassem com isso, exceto talvez para odiá-lo

Harry fica em silêncio por um momento, ele sabe que Dumbledore tem razão, tanto ele quanto seus amigos nutriam um ódio pelo professor de poções, perfeitamente compreensível a seu ver considerando que ele viu Snape pronunciar a maldição imperdoável e o corpo sem vida de Dumbledore ser lançado pela janela. No entanto, ele já percebeu que as coisas não são sempre tão preto no branco quanto ele pensava e a última coisa que Harry quer é cometer alguma espécie de injustiça mesmo contra o professor Snape e é por isso que ele diz:

- Não é preocupação propriamente – ele diz com sinceridade – mas eu já percebi que as coisas não são como todos nós pensávamos, eu percebi que ele fez muito por nossa causa e deve ser recompensado por isso, mesmo que de maneira póstuma

- Como eu disse, Harry – Dumbledore diz de modo sério – o professor Snape nunca almejou glória ou reconhecimento

- Eu sei – Harry interrompe – mas eu também sei que ele tomou um garotinho sob a sua proteção e que esta criança o chamava de pai e tinha orgulho disso. O senhor acha que seria justo quando essa criança crescer que ela ouça apenas o lado que diz que o professor Snape foi um comensal da morte que matou o diretor de Hogwarts?

- Você é um jovem incrível, Harry – o quadro diz depois de um momento – e creio que você tem toda razão, talvez a memória do único pai que aquele garoto conheceu valha a pena que eu quebre essa promessa, mas eu não vou falar mais do que o necessário – o quadro para e vê que Harry assente com a cabeça – suponho que a sua maior dúvida seja a respeito dos acontecimentos da sala de astronomia

- Sim – Harry sussurra – eu consigo entender muito do que ele fez já que ele era um espião duplo, mas quando chega nesta parte...

- Eu não posso na verdade falar sobre o que aconteceu naquele dia especificamente – o quadro o interrompe – eu fui pintado alguns dias antes e todas as minhas memórias vão apenas até esta data como você deve ter conhecimento, mas de maneira vaga posso dizer que tudo se compara a um jogo de xadrez algo que você deve ter um pouco de conhecimento

Harry escuta em silêncio, embora ele não seja um jogador tão bom quanto Rony, ele sabe alguma coisa a respeito do jogo. Dumbledore continua:

- Como você sabe, para se vencer um jogo de xadrez às vezes é necessário o sacrifício de algumas peças por mais importante que elas sejam e foi isso o que aconteceu. Eu sei que a minha morte estava sendo tramada e caso isso não acontecesse, o disfarce do professor Snape cairia por terra

- Mas o senhor era imprescindível – Harry o interrompe – deveria haver outro jeito!

- Eu não nego que eu era uma peça importante no jogo – Dumbledore diz – talvez a rainha, mas definitivamente eu não era o rei. Uma rainha pode ser sacrificada se isso significar colocar o rei adversário em xeque, você está entendendo? Não vou dizer que foi fácil, mas foi necessário e posso dizer que o professor Snape foi muito corajoso para dar este passo tão importante e se você puder de alguma forma fazer com que a colaboração dele para a nossa vitória seja reconhecida você estará mostrando ser um jovem excepcional

Harry olha para o quadro e assente com a cabeça. Ele vai fazer o que for possível para que o professor Snape tenha o reconhecimento que merece. Divergências a parte, Harry sabe que talvez não estivesse vivo se não fosse por sua intervenção. Não vai ser fácil pra ninguém, mesmo pra ele, mas Harry quer ser justo e se isso for justiça, ele o fará

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De volta aos dias atuais

- Eu sabia que você iria acabar vindo aqui – a voz suave de Gina o tira do devaneio – saudades do seu antigo quarto?

- Você não deveria subir estas escadas – Harry diz – onde estão os garotos?

- Eu estou grávida, não doente – Gina sorri – eles estão com Rony, ele levou as crianças para ver o campo de quadribol – a ruiva faz uma careta – só espero que eles não voltem imundos, eu detestaria que eles estivessem sujos na hora da cerimônia

- É pra isso que feitiços de limpeza servem, sabia? – Harry sorri – mas em todo caso vamos pegar os meninos – ele olha para o relógio – já está quase na hora

- Eu vou ajudar você a descer – Harry diz e vê a esposa rolar os olhos – e antes que você diga que está grávida e não doente, eu digo que você é minha esposa e eu adoro cuidar de você, aguente isso, senhora Potter

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Mais tarde

Harry se senta no salão principal como aconteceu muitas vezes. Ele poderia estar na mesa com os professores como um homenageado, mas ele delicadamente recusou. Harry disse que muitas pessoas colaboraram para que o mal fosse derrotado e que não seria justo que toda a glória fosse destinada a uma só pessoa

Ele vê Draco Malfoy sentado na mesa da sonserina sorrindo largamente ao ver que Adrian foi nomeado monitor da lufa-lufa. Nunca em seus sonhos Harry imaginou que alguém criado na família Malfoy não iria para a casa da serpente, mas definitivamente a personalidade afável do jovem não estaria apta para pertencer à casa de Salazar. O orgulho do sonserino mostra que ele realmente mudou assim como o seu trabalho como medibruxo

Um pouco mais a frente estão Sirius e Remo juntamente com as suas esposas e seus garotos que nasceram na mesma época e devem começar Hogwarts em alguns anos. Harry sorri se lembrando de Sirius dizendo que se Harry se apressasse eles poderiam reviver os marotos e fazer Hogwarts estremecer, o que rendeu a ele uma bronca das mulheres presentes inclusive da senhora Weasley que deu a Harry um olhar que dizia para que ele não se atrevesse a pensar nisso em um futuro próximo

Não, ele não pensava em um futuro próximo. Mas com certeza filhos estavam nos seus planos, bem como uma vida ao lado da sua ruiva e o futuro lhe foi generoso e agora dez anos depois ele tem duas crianças maravilhosas e está à espera do seu terceiro. Se dependesse de Harry, ele e Gina teriam um time de quadribol, mas a ruiva categoricamente declinou, três é um número ótimo, ela disse e ponto final

Ele olha para Rony e Hermione na mesma fileira, os melhores amigos de sempre e sorri ao pensar que as suas crianças seguem os mesmos caminhos com os filhos do casal. É bom ter uma família pra chamar de sua, ele não pode deixar de pensar

Mas seus pensamentos vão embora no momento em que ele ouve Minerva McGonnagall pigarrear:

- Caros estudantes e caros visitantes, é uma honra recebermos todos aqui para a comemoração do aniversário de dez anos da derrota de Você-sabe-quem, é hora de nos alegrarmos pela liberdade que temos hoje e de recordarmos aqueles que partiram dando a sua vida para garantir que agora neste momento possamos nos sentar juntos, independente da nossa linhagem de sangue e unidos por laços mais fortes

Harry olha para a sua amada e vê que ela tem os olhos marejados, provavelmente ela vai culpar os hormônios da gravidez, ele pensa enquanto vê que várias pessoas se encontram da mesma forma. Pra ele mesmo está difícil segurar a emoção. Minerva continua:

- Sim, laços mais fortes, mais forte do que os laços de linhagem são os laços da amizade e da lealdade e foram estes laços que nos uniram após todos estes anos e é por isso que mesmo que esta pessoa não queira glória ou fama, eu gostaria muito que dissesse algumas palavras – ela olha para Harry – por favor, Potter

Harry olha para a diretora, isso não estava nos planos, a última coisa que ele queria era as atenções apenas para a sua pessoa. Ele olha para a esposa que assente com a cabeça, então se levanta e se dirige a mesa principal

Ele anda ao som dos aplausos. Harry sabe que deve estar tão vermelho quanto os cabelos da sua esposa, ele vê seu filho mais velho batendo palmas vigorosamente e não pode deixar de sorrir

Obviamente ele não preparou nada já que havia pedido para não ter nenhum papel de destaque nesta cerimônia, mas ao ver os semblantes daqueles que o assistem, pessoas que também participaram, pessoas que deram a sua contribuição de todas as formas, lutando, cuidando dos feridos, ou simplesmente sobrevivendo, ele percebe que deve isso a eles e é por isso que ele pigarreia e começa:

- Eu realmente não queria ter nenhuma forma de destaque nesta cerimônia, não por timidez ou falsa modéstia. Mas o que eu realmente penso é que todos nós fomos importantes, cada um de nós deve se orgulhar de ter feito parte de algo muito maior do que a queda de Voldemort, nós devemos nos orgulhar de podermos andar de cabeça erguida, livres. Estas paredes foram meu lar durante anos muito conturbados, mesmo assim eu sempre me senti em casa e eu espero que elas possam ser o lar dos meus filhos daqui a alguns anos. No mais, eu só tenho que agradecer a cada um de vocês por acreditarem na liberdade e dizer que se for preciso, lutaremos por ela novamente com nossa força e nossos corações

Ele respira fundo e continua – eu quero que todos nós elevemos o pensamento aos que pereceram lutando e dizer que as suas memórias serão sempre lembradas pela sua coragem e quero mais do que nunca agradecer a todos vocês, pois eu não teria a vida maravilhosa que eu tenho... Obrigado...

Os aplausos ecoam pelo salão e Harry sorri. Ele fez um bom trabalho...

Fim


NOTA DA AUTORA

Pois é, gente, agora acabou mesmo. Muita gente deve ter pensado que eu não terminaria a fic, mas eu sempre disse, posso demorar (muito) mas nunca deixo uma fic inacabada, e essa finalmente chegou ao fim.

Muito obrigada a todos aqueles que me acompanharam e também aqueles que chegaram agora. Espero encontrar vocês nas fics que estou escrevendo e nas que ainda pretendo escrever (tenho projetos na cabeça, mas só vou começar a colocar no papel quando finalizar pelo menos mais uma das que já comecei).

Espero que tenham gostado e se puderem deixar uma palavrinha eu ficaria muito feliz

Bjos e até as próximas fics