"... Ei... Neji..."

"Hum?"

Kiba franziu as sobrancelhas. "O motor."

"O que tem ele?"

"Está super-aquecendo."

"O QUÊ?!" Kiba não sabia quanto a Sasori, mas ao bater a cabeça quase no porta-luvas, prometeu a si mesmo que nunca mais ia deixar de colocar o cinto de segurança.

"Graças a Deus estamos em uma estrada deserta!" Ele exclamou, irritado e com a testa dolorida. "Quem foi que te ensinou a brecar desse jeito?!"

Sem se preocupar em retrucar, Neji saiu do carro e levantou o capô. Vários palavrões bateram na lataria azul.

"SASORI!"

"Que merda, não fui eu quem ferrou o carro." O ruivo resmungou, sem sair do lugar. Aparentemente, ele tinha sido esperto o suficiente para colocar o cinto.

"Acho que ele quer que você ajude." Kiba falou, hesitante.

"Ah, tá bom." Sasori respondeu sarcasticamente, mas foi juntar-se a Neji.

Após alguns segundos de silêncio, Kiba saltou do banco, sentindo-se insuportavelmente ocioso.

"De qualquer forma, não estamos longe do lago. Vou ver se encontro um mecânico." Anunciou.

"Não precisamos de um mecânico. Posso dar conta disso."

"Eu não recusaria. Mecânicos parecem ser mais espertos do que você." Sasori alfinetou calmamente, fazendo Neji ranger os dentes.

"Apoiado."

"Ora, eu sabia que não tinha nenhum problema com a porra dos cilindros, só mandei trocar para o cara me deixar sair daquela bosta de casebre mal-ajambrado que ele chamava de 'oficina'!"

"Sem estresse, Neji... Vou procurar alguém que saiba fazer uma massagem relaxante, também..."

Riu baixinho quando uma nova enxurrada de palavrões foi exclamada em voz alta e clara. Pelo menos, agora tinha uma desculpa para ficar zanzando sem destino pelo bosque.

Enquanto tentava decidir-se por qual lado da bifurcação da trilha tomaria, seu celular tocou. "Já vai, já vai." Disse, tateando os bolsos. "Ergh..." Fez uma careta ao ler os dois primeiros algarismos do número. Só havia uma pessoa cujo número de celular começava com 93 que ligaria para Kiba. "Fala, Deidara." Saudou sem muito entusiasmo.

"Kiba, o que infernos vocês estão fazendo, un? Se perderam, é?"

"Não, o carro quebrou. O Neji está tentando consertar..." Os dois riram simultaneamente. "Quando a gente olha, parece até que é uma garota tentando fazer os outros acreditarem que entende alguma coisa de carros. 'A porra dos cilindros...!'" Imitou jocosamente.

"Se eu soubesse onde vocês se meteram e não tivesse coisas melhores para fazer, ia até aí dar uma aulinha sobre isso, un. Estilo 'For dummies'."

"Eu me lembro mais ou menos desse lugar. Quando eu era moleque, vinha para o lago pescar e trazia o Akamaru junto. Enquanto essa maldita bifurcação existir, nunca vou esquecer do dia em que pisei num puta formigueiro."

"Ah, você conhece essa região?" Kiba hesitou. Pelo tom de voz, tinha certeza de que os olhos de Deidara estavam brilhando.

"Dá para o gasto."

"Ótimo! Sabe onde fica uma clareira com uma casa para pássaros toda ferrada?"

"Uma de madeira?"

"Ou algo que algum dia deve ter sido madeira."

"Ao leste do lago?"

"O leste é para a esquerda ou para a direita?"

"Conheço."

"Vai para lá, un." E desligou. Encarando a tela de cristal líquido do celular, Kiba preferiu pensar que os créditos de Deidara tinham apenas acabado.

"'Vai para lá', é? Filho-da-mãe, então estou indo." Mas continuou caminhando com um sorriso mole no rosto. Caminhar era um ótimo passatempo, mecânico o suficiente para permitir alguns momentos de filosofia e ativo o suficiente para fazer suas pernas formigarem após mais de duas horas.

Porém, mesmo que tivesse andado vinte quilômetros sem pausa, não sentiria as pernas formigando ao chegar até a clareira, cerca de quinze minutos depois.

O que sentia não podia ser descrito de outro modo que não "surpresa". Talvez por Hinata estar ali de pé, a três metros de distância, olhando para o chão como se meditasse. Talvez por ela estar usando uma camiseta de mangas compridas, calças jeans e ter tido coragem de pôr um vestido rendado por cima do conjunto, e ainda assim estar bonita. Talvez por seus cabelos serem agonizantemente longos. Ou talvez por ela subitamente ter olhado para ele e sorrido.

"Olá, Kiba-kun." Cumprimentou casual e confiantemente.

"H-Hinata!" Ele gaguejou, os papéis trocados. "O que você está fazendo aqui? O Neji veio para cá hoje, você não sabia?"

"Sim, eu sabia que o Neji-nii-san viria." Foi a resposta estupidificante, impossivelmente corajosa. "Mas eu também sabia que você viria, Kiba-kun."

Kiba encarou-a por mais tempo do que seria considerado educado, indeciso entre estreitar ou arregalar os olhos. "Como?" Conseguiu perguntar.

Hinata sorriu. "O Deidara-kun me contou. Algo como 'pesca para acalmar os ânimos', não é?"

Ele crispou os lábios, incrédulo. "Está de brincadeira."

"De forma alguma."

"Então foi por isso que ele forçou eu e o Sasori a irmos no mesmo carro que o Neji?"

"Suponho que sim."

"Porque você e o Neji ainda não estão se encarando muito?"

"De certa forma."

"Então ele foi correndo até sua casa te buscar logo depois de dizer que ia fechar o estúdio?"

"Acho que deve ter dito isso."

"E... O carro... Não me diga que..."

"Ele morreu de rir quando me contou. Mencionou algo sobre um mecânico que era seu amigo e trabalhava pelas redondezas..." De um jeito particularmente doce e assustador, ela riu. Kiba olhou para o lado, como se temesse que Neji estivesse bem atrás de si e ouvindo tudo.

"E... Você... Quer falar comigo, então?"

Ela corou instantaneamente, desviando os olhos para a grama. Qualquer que tivesse sido o seu erro na escolha de palavras, Kiba repreendeu-se por fazer com que a aura de confiança ao redor dela se dissipasse.

"E-Eu... Eu só q-queria que... Só queria m-mostrar q-que..."

"Queria me mostrar que...?" Ele sussurrou gentilmente, tentando ajudar. Hinata respirou fundo, erguendo os olhos claros um tantinho.

"D-Da primeira vez em que nos falamos... Quando n-nos conhecemos..." Ela respirou fundo. "L-Lembra do conselho que vo-você me deu?" A voz dela baixou ainda mais, obrigando-o a se aproximar para poder ouvir. "Sobre t-tatuar a nuca. Por s-ser mais fácil d-de esconder." Instintivamente, Hinata deu um passo para trás. As sobrancelhas dela tinham agora um formato de arco, os braços entraram na frente do corpo.

"Cla... Não me diga que está pensando em fazer outra tatuagem." A sua surpresa foi tomada como reprovação, o que a fez desviar o olhar. "Simplesmente não dá para prever como o Neji reagiria a uma segunda."

"Não... E-Eu não..." Hinata titubeou. Ela pareceu dar de ombros, mas Kiba entendeu que queria apenas fazer com que os cabelos escondessem melhor os ombros.

"Se bem que..." Subitamente humilde, ele coçou a cabeça. "O corpo é seu. Foi mal, estou me intrometendo." Tentando sorrir do jeito menos idiota possível, colocou as mãos nos bolsos. "Sem problemas, eu tatuo para você." Disse simpaticamente, mas Hinata balançou levemente a cabeça.

"N-Não. Não é isso..." Repentinamente, ela estremeceu e arrepiou-se como se tivesse levado um choque, assustando-o também. "Ah, hum! E-Eu não quero te prender a mim p-por muito mais tempo!" Falou velozmente, tropeçando nas palavras.

Aparvalhado, Kiba observou-a virar-se de costas, puxar delicadamente os cabelos longos por cima dos ombros e pedir-lhe para chegar mais perto.

"Espero que não seja o que eu estou pensando." Era o que ele planejava dizer, antes de relancear a imagem gravada na pele pálida. Abrindo e fechando os lábios, Kiba praticamente cambaleou ao enxergar orelhas peludas, pérolas, um cenário épico.

"Ah, não. Minha Nossa." Articulou com dificuldade ao entender a gravura como um todo.

"K-Kiba-kun?" Ele piscou duas vezes antes de olhar para a expressão sem-graça no rosto ruborizado de Hinata. "Eu n-não sei ainda o que está tatuado aí. O D-Deidara-kun não m-me mostrou." E isso fez Kiba boquiabrir-se por alguns momentos, até resolver gargalhar.

"Aquele corno não te mostrou?!" Ele riu idiotamente, sua visão turvando-se de lágrimas. Sem parar para pensar no que estava fazendo, agarrou a garota pelos ombros e a puxou em sua direção. "Como é que você deixa, hein? Vou descer umas porradas naquele travesti invertido depois."

"M-Mas, Kiba-kun!" Hinata tentou. Apesar de atordoada com a proximidade dele, nem mesmo cogitou a idéia de empurrá-lo, cheia de decoro.

"Quer saber o que é?" Kiba parou de rir, mas manteve um sorriso largo no rosto. "Você sabe, lobos costumam uivar para a lua." Ele murmurou sem esperar resposta, encostando a testa na dela risonhamente. "Mas esse lobo é diferente. Ele uiva para o sol. E o sol..." Kiba parou no meio da frase, pensativo. "Hinata."

"S-Sim!" Ela exclamou prontamente, com a voz fina.

"'O lugar ensolarado'." Kiba ergueu as sobrancelhas, satisfeito. "Esse lobo uiva para uma personificação do sol, Hinata." A expressão dela podia ser descrita como "horrorizada", mas mesmo assim ele riu. "Uma garota. Adivinha em quem o Deidara se inspirou."

Ela franziu as sobrancelhas, como se estivesse tendo muita dificuldade em processar as informações. "D-Deidara-kun... Então..."

"Esse lobo uiva para o sol, e esse sol preserva a lua nos olhos." Para evitar bufar diretamente no rosto dela, Kiba virou o rosto e gargalhou de novo. "Minha Nossa. Aquele maconhado."

Hinata permaneceu em um silêncio suave, olhando sem ver para algum ponto no peito de Kiba. "O lobo..." Sussurrou.

"Bem, acho que descobrimos o que ele queria que descobríssemos." Ele concluiu, divertido.

Rápido demais para que Hinata tivesse tempo sequer para corar, Kiba pressionou seus lábios contra os dela.

Ignorando o rubor enfático no rosto abobalhado dela assim que se separaram, ele sorriu.

"Hinata?"

Como resposta, ela bateu os cílios algumas vezes.

"Vamos indo? Temos algumas explicações para dar para o Neji e socos para descer no Deidara."

Hinata desatou a rir, apertando a mão que ele lhe oferecera. "Você é o único que vai bater no Deidara-kun, Kiba-kun."

"Ah, é? Bem, então prepare-se. Vai ter que provar sua paixão para o Neji sem se preparar descontando antes no Deidara."

"Bem, não estou com medo dele." Ela disse, enquanto seguiam de volta pela trilha. O fato de não estar gaguejando surpreendeu Kiba, fazendo-o rir levemente. "Não importa o quanto ele me bronqueie, nunca vou me esquecer das coisas que são importantes para mim. Agora eu as tenho marcadas na pele."


Desculpem se ficou meia-boca. Eu estava em desespero para terminar essa fic, não agüentava mais tê-la como um assunto pendente. Acabou ficando grande demais para um capítulo, e pequeno demais se eu dividisse em duas partes.

Eu, particularmente, não fiquei muito satisfeita com esse final, mas não conseguia pensar em nada melhor. Bem, que seja. Se eu tiver uma outra idéia, edito isso aqui.

Bom, é isso. Estou em o mínimo saco para fazer N/A. Valeu pelo apoio, gente. E espero que tenha gostado, Mr. Montagh.

YKT.