Com o braço, Kiba limpou a testa molhada de suor. Estava um dia bem quente, e ele começava a perceber que vestir roupas pretas para ir para o trabalho, por mais legais que fossem, não tinha sido uma boa idéia.

"Espero que não tenhamos muitos clientes hoje." Falou para ninguém em particular.

Uma risada alta. "Do que está falando? Nós ganhamos por comissão."

"Bem, não adianta aparecerem clientes aos montes, se todos vão estar suando. Isso dificulta para caramba."

"É por isso que a gente limpa a pele antes, un!" Uma piscadela marota e uma acotovelada masculina fizeram Kiba grunhir.

"Pervertido... Só está querendo ver garotas de biquíni implorando 'Por favor, no quadril!', não é?"

"Desde que não sejam ideogramas, un." O outro estremeceu, sacudindo a cabeça loura. "Não me importo se a garota estiver usando fio-dental, ideogramas me fazem querer vomitar." Apontou discretamente para o rapaz curvado sobre uma mesa de madeira, os longos cabelos negros presos balançando ao vento artificial produzido pelo ventilador. "De qualquer forma, o Neji adora fazer ideogramas, não é? Deixemos para ele."

"Vamos parar com o papo e trabalhar?" Neji sugeriu sarcasticamente, levantando os olhos ao ouvir seu nome.

"Trabalhar? Acabamos de abrir, nem todo mundo chegou ainda, un!"

"Isso lá é problema meu, Deidara? Desenhem um pouco para treinar, então. Aquele filho-da-mãe do Sasori acabou de me ligar dizendo que não vem. Vamos ter o trabalho dele para fazer hoje."

"É, Dei. Vai treinar um pouco, a última garota não gostou de você."

"Ela queria um vulcão sem lava saindo! Qual era a graça? Só ia ficar legal se estivesse em erupção e cuspindo magma para tudo quanto é lado, un!" Deidara protestou, aborrecido com a lembrança.

"Ela queria daquele jeito, Deidara! Quem liga se ia ficar estranho? Devia ter um bom motivo para ela querer aquilo, senão ela não ia querer tatuar!" Kiba resolveu afastar-se lentamente, prevendo uma guerra de tintas e agulhas especiais para tatuagens.

"Neji, faz parte do dever de um tatuador avisar a pessoa se a tatuagem vai ficar borrada com o tempo ou coisas assim, não faz? Por que avisá-la de que o que ela quer vai ficar ridículo é condenável?"

"Só você para dizer uma coisa dessas! Se todo mundo pensasse assim, quantas pessoas você acha que já teriam dito que a sua tatuagem de passarinho explodindo é insana e horrorosa?"

"Ah, cala a boca! Nem você, nem o Danna e nem ninguém sabe o que é arte, un!" Ele apoiou-se em uma estante com fotos de referência, parecendo cansado. "Droga, agora até eu fiquei com calor."

Vendo Neji erguer as sobrancelhas e voltar a desenhar, Kiba experimentou dar um passo para mais perto, mas recuou de novo quase imediatamente.

"Ei, Neji! Por que é que o ventilador está virado para VOCÊ, apontando para a SUA cara, hein?!"

O pequeno sino na porta tocou no exato instante em que Deidara pulou na direção de Neji. Assim que olhou na direção da porta para verificar, esperançoso, se Sasori miraculosamente teria conseguido tirar a bunda da cadeira e ir trabalhar, o sol fortíssimo do meio-dia atravessou a vitrine e fez os olhos de Kiba doerem.

"Merda." Ele sussurrou, tanto pela momentânea cegueira quanto pelos dois companheiros que pareciam interessados apenas em acertar socos um no outro.

"B-Bom-dia..." É. Pela voz, definitivamente não era Sasori. Lentamente voltando a conseguir enxergar, exceto pela mancha verde-fluorescente impressa na sua retina, Kiba mirou a cliente.

"E aí?" Ele respondeu, perguntando-se apenas depois de ter falado se era mesmo o melhor jeito de saudar uma garota de aparência tão educada e rigorosa. Em uma tentativa de salvar a situação, estendeu a mão do jeito mais formal que pôde. "Meu nome é Kiba, sou um dos tatuadores deste estúdio."

A garota pareceu receosa em apertar a mão à sua frente, sem parar de relancear a bagunça de lápis, papel-vegetal, tubos de tinta e sabe-se lá mais o quê que Deidara e Neji estavam fazendo. "D-Desculpe, acho que n-não escolhi o melhor horário..."

"Ahn, não ligue para esses dois." Kiba murmurou, incerto. "Hum, eles estão, hã, tendo uma briga de artistas. Sabe como é, um gosta de imagens em escala de cinza e o outro de coloridas, e, hum, começaram a querer realmente, er, defender seus ideais." A garota parecia cada vez mais chocada. "Porque, sabe, a gente leva isso realmente muito a sério."

"Ah." Ela fez, os olhos claríssimos indicando que não acreditava que a questão era motivo suficiente para os dois se xingarem tão animadamente.

"Então, senhorita!" Kiba exclamou em desespero, tentando mascarar a imensa tempestade de palavrões com sua voz. Desistindo de esperar um aperto de mão, resolveu passar o braço pelos ombros (minúsculos, ele notou) da garota e puxá-la para longe dos dois. "O que gostaria de tatuar?"

"B-Bom, na verdade, eu queria m-me informar sobre tatuagens... Antes de f-fazer uma..." Ela gaguejou baixinho, o vestido florido farfalhando a cada passo.

"Ah, sim, claro! O que acha de ver alguns dos nossos books, com fotos de tatuagens feitas pelos nossos profissionais?" Respondeu prontamente, sentindo vontade de tapar os ouvidos da garota por causa da baixaria da briga ("Pelo menos EU não pareço uma mulher!; "NÃO PARECE UMA MULHER?! Na primeira vez que eu te vi eu quase te convidei para ir para um motel, seu andrógeno!"; "E você acha que o pau de QUEM ficou duro quando o Kiba te apresentou para a galera, hein?!"; "SEU PERVERTIDO!"; "VOCÊ TAMBÉM QUIS DORMIR COMIGO!"). "Venha, vou lhe mostrar um dos meus."

Fazendo o maior barulho possível, Kiba desarrumou a estante inteira, à procura do álbum mais barulhento que encontrasse. Por fim, arrancou um de capa retangular em tons de um rico castanho e preto e entregou-o para a garota.

"O-obrigada." Para o constrangimento do rapaz, a primeira tatuagem era a de uma mulher provocantemente vestida de enfermeira.

"Beeeem, acho que você não gostaria de tatuar algo assim, não?" Ele tentou rir, envergonhado, enquanto virava a página. Felizmente, as outras tatuagens eram bem mais... aceitáveis.

"Que bonito." Ela sorriu para as imagens de libélulas, grandes flores rodeadas de dragões, carpas coloridas.

"Todo mundo sempre tatua o que é importante na própria vida. Algumas tatuagens não são suficientes para deduzir a história, mas é muito normal homenagear os entes queridos e todas as pessoas próximas." Kiba explicou, um pouco mais aliviado ao sentir que a briga esfriara e os dois conversavam mais calmamente. "Eu só não acho uma boa idéia tatuar coisas efêmeras ou sem garantia, como o nome do namorado ou namorada. Meu amigo riscou a tatuagem inteira com uma faca depois que terminou com a namorada, e hoje tem uma cicatriz enorme nas costas. Não é aconselhável." E também não era aconselhável falar uma coisa daquelas, como Kiba notou ao vê-la estremecer ligeiramente. "Mas tem gente que faz e está junto até hoje." Acrescentou rapidamente.

"Alguém importante para mim...?" Ela repetiu, olhando para o nada enquanto refletia.

"Pois é. Tipo um irmão ou um amigo." Sorrindo, Kiba mostrou-lhe a tatuagem de um simpático cachorro com a língua de fora no lado de dentro do pulso. "Esse é o Akamaru. Desde que eu me entendo por gente, somos amigos. Sabe, crescemos juntos."

"Ele é uma gracinha!" Ela exclamou, maravilhada a ponto de tocá-lo suavemente no braço, admirando os detalhes da tatuagem.

"Aquele cara ali..." Kiba apontou para um Deidara com as mãos atrás na cabeça e uma expressão levemente mal-humorada. "Tatuou isso para mim. Eu pedi para ele porque ele é forte para caramba e ficou segurando meu braço enquanto tatuava, porque essa é uma região sensível e que dói bastante. Eu ficava puxando o tempo inteiro." Ele riu com a lembrança, e nesse momento, a garota corou e afastou pudicamente as mãos, como se tivesse feito algo indecente e estivesse envergonhada.

"Não tenho n-nenhuma experiência para f-falar, mas... Vocês dois parecem tatuar m-muito bem."

"Obrigado." Ele alargou o sorriso. "Ah, me esqueci de falar: não costuma dar problema com homens, mas há preconceito para com mulheres com tatuagens. Se você tivesse que aparecer em uma ocasião muito formal e a tatuagem fosse na nuca, seria fácil escondê-la colocando o cabelo por cima, por exemplo."

"E-Enten..."

"HINATA-SAMA?!" Os dois se sobressaltaram.

"N-Neji-nii-san?" Neji encarava a garota incrédulo, como se ela tivesse acabado de dizer que gostava de torturar animais cortando suas patas ou coisa assim.

"Hinata-sama, o que está fazendo em um estúdio de tatuagem?" Ele indagou autoritariamente.

"Eeeei, cara, ela entrou há um tempão e só agora você a reconhece?" Deidara ralhou ("Ah, então vocês PERCEBERAM que tínhamos uma cliente, seus cornos filhos-da-mãe?", pensou Kiba, arreganhando os dentes), sendo solenemente ignorado.

"Ah... Bem..."

"Hinata-sama, está pensando em fazer uma tatuagem?"

"Não pronuncie a palavra como se fosse 'aborto', é disso que consiste sua profissão, un!" Insistiu Deidara, parecendo ofendido.

"Peraí, Neji..." Kiba ergueu a mão. "E daí que ela quer fazer uma tatuagem? Apesar de tudo, o corpo ainda é dela."

"Vou pedir para que não se intrometa." O outro cortou, ainda encarando a garota.

"D-Desculpe... Nii-san..." Ela abaixou humildemente a cabeça.

"Peraí, peraí! Como assim, 'desculpe'?" Kiba interrompeu, fazendo-a erguer os olhos, surpresa. "Não sei que relação vocês dois têm, mas o Neji definitivamente não pode ser seu pai! Ele não tem a mínima autoridade para te impedir de fazer isso!"

"Não se intrometa, Kiba!" Neji repetiu em tom de aviso.

"Faz assim..." Virando-se para a garota, Kiba tentou suavizar a expressão. "Pensa mais um pouco, tá? Se realmente quiser fazer a tatuagem e conseguir autorização para isso..." Frisou com sarcasmo, olhando de soslaio para Neji. "Volte e a gente faz. Além de mim, do Neji e do Deidara, esse cara que fez a tatuagem que eu te mostrei, tem um outro que não veio hoje chamado Sasori."

"Ah... Hum, hã... O-Obrigada..." Ela disse rapidamente, inquieta, e correu porta afora como se perseguida por mil demônios.


Hum, bem. É. Acho que ando assistindo Miami/Los Angeles Ink demais.

Sem comentários sobre o título.

Espero que tenha gostado, Mr. Montagh XD

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Bye,

YKT \o\