Olá para todos!

Nem acredito que consegui terminar esse capítulo!

Faz muito tempo que comecei, tive bloqueio criativo, mas finalmente ele está aqui.

Estou tentando colocar todas as minhas histórias em dia, e já atualizai HHS. Essa é a segunda que atualizo. Vamos ver se consigo manter o bom ritmo!

Agora gostaria de pedir o feedback para vocês. Isso é muito importante para mim, e me ajuda a colocar a história nos eixos, depois de tanto tempo sem atualização. Então, por favor, façam uma autora feliz e deixem sua opinião/comentário/dúvida/pergunta. Isso realmente me ajuda e me anima a continuar!

Beijos a todos!

Priscila Black

UVI – cap. 8 – Feliz Aniversário

O sol da manhã veio morno, suave, como uma luz um tanto onírica dominando o quarto. A consciência foi voltando, pouco a pouco. Mas aquela iluminação em nada lembrava a realidade. Como um véu que separava o mundo real do mundo dos sonhos, aquele quarto parecia pairar em um lugar incomum, longe de tudo e de todos.

Foi assim que Ellie se sentiu, quando abriu os olhos naquela manhã.

Seu travesseiro era quente, e estranhamente, se movia em intervalos constantes. Algo bem quente cobria sua mão, e tinha uma textura muito diferente de um lençol. Ela demorou alguns segundos para entender o que acontecia a sua volta.

Então ela se lembrou onde estava.

E olhou para seu travesseiro. Apesar de ser branco, não era exatamente um travesseiro.

Era a camisa de Sirius. E, sob ela, estava o peito do rapaz.

Ellie levantou um pouco o rosto, e viu a mão dele sobre a dela. Levantando um pouco mais, viu o rosto dele. Seus olhos estavam abertos, e ele parecia relaxado como não parecera em dias. Talvez em anos, até.

- Bom dia. – ele falou, e sua voz era incrivelmente suave e acolhedora. Ela poderia se acostumar a ouvir isso todos os dias de sua vida.

Talvez tenha sido a voz suave dele, ou então sua mente tenha finalmente acordado, mas foi naquele instante que Ellie percebeu realmente o que estava acontecendo. Ela estava deitada sobre o peito de Sirius, com a cabeça apoiada nele, o braço o envolvendo, uma perna enlaçada na perna dele.

Nunca tinha dormido assim, tão enlaçada a outra pessoa, em toda a sua vida. E estava surpresa em como aquela posição era confortável.

Sem saber o que fazer, ela tentou se afastar. Mas Sirius, que segurava sua mão, não a permitiu. Delicadamente ele a manteve ali, colada a ele.

- Bom dia. – ela respondeu, sem saber o que dizer. Uma preocupação boba, de verificar se a saia de seu vestido estava mal ajeitada, tomou conta da garota. Ela suavemente desvencilhou a própria mão da do rapaz, e alisou o tecido preto de seu vestido.

Mas a mão de Sirius não ficou sem utilidade. Ela foi diretamente para a face da garota, percorreu-a com delicadeza, lentamente. Ellie não tirava os olhos do rosto de Sirius. Era como se fosse impossível quebrar o contato visual naquele instante. O silêncio imperou entre eles até ser quebrado por Sirius.

- Você é a pessoa mais linda que já pisou neste planeta.

Ellie perdeu o fôlego por um instante. A declaração, tão direta quanto inesperada, fez com que ela sentisse uma descarga de eletricidade, que percorria cada centímetro de seu corpo. Uma sensação bizarra de urgência e medo tomou conta da garota. Ela não sabia o que dizer.

Sem saber o que fazer, muito menos o que pensar, ela permaneceu parada, congelada na mesma posição. Com os olhos fixos em Sirius.

Ele apenas a puxou para mais perto, e a abraçou mais apertado. Isso fez com que o corpo de Ellie relaxasse no mesmo instante.

Aquele era Sirius. O mesmo Sirius que ela conhecia por toda a sua vida. Com quem brigara inúmeras vezes, rolando no chão aos tapas. Com quem dividira diversos momentos marcantes de sua vida. E, agora, por quem ela nutria sentimentos que mal sabia nomear, quanto mais compreender. Só conseguia entender que esses sentimentos eram fortes o suficiente para dominar todos os outros que ela poderia estar sentindo naquele momento.

E foi esse sentimento dominador que a fez reagir.

Com uma coragem que ela não pensou ser capaz naquele momento, Ellie esticou a mão que antes tinha afastado, e a levou de volta para perto do rapaz. Ela retribuiu o carinho que o rapaz tinha feito, tocando o rosto dele também. E encontrou coragem para falar.

- Como você se sente?

Sirius fechou momentaneamente os olhos ao receber o toque de Ellie, mas os abriu novamente para respondê-la.

Hesitou por um instante, não encontrando palavras para explicar o que sentia.

- Eu... acho que estou...

Ele parou de falar por algum tempo. Ellie esperou pacientemente, e ele recomeçou.

- Estou melhor que ontem. Estive pensando quando acordei.

A expressão de Ellie o encorajou a continuar.

- Bem, eu fico feliz de ter tido a oportunidade de... ficar com ela por mais um tempo. Dizer adeus, sabe. Como você tinha dito naquele dia.

Ellie engoliu em seco. Ela se lembrou do dia em que eles invadiram o hospital, para que Sirius visitasse sua mãe. Naquele dia, eles conversaram, mas Sirius nunca revelou o conteúdo da conversa. Por mais que ela imaginasse que seria saudável para ele falar sobre o assunto, ela não ousou questioná-lo naquele momento.

- Então... acho que estou bem. Não queria que ela continuasse sofrendo só para tê-la ao meu lado por mais tempo. Não seria justo. Ela... está melhor agora.

Ellie inspirou profundamente, e falou, numa voz baixinha, quase um sussurro.

- Ela está com seu pai agora.

Sirius apenas concordou, movendo a cabeça de leve. E voltou a encará-la.

Os olhares ficaram presos um no outro por longos segundos, até ele falar.

- Eu estaria miserável se você não estivesse ao meu lado.

Novamente Ellie se sentiu estranha. Estas declarações completamente diretas de Sirius a faziam se sentir desconcertada. E, ao mesmo tempo, eram de tirar o fôlego. Era estranho, mas irresistivelmente encantador. Sua cabeça era um pandemônio de lembranças, sentimentos e impulsos. Ela precisou de um instante para falar.

- Estamos todos aqui pra te ajudar. – ela tentou falar algo neutro por não ter idéia de como lidar com a situação.

Só que Sirius rebateu de imediato.

- Eu sei. Mas se você não estivesse aqui, eu nunca conseguiria me sentir bem agora.

Ellie não soube muito bem como tudo aconteceu, mas pareceu que num instante, ela tinha passado de confusa a completamente certa do que fazia. A sensação arrebatadora novamente a derrotou, e quando ela se deu conta, estava beijando os lábios de Sirius. Eles haviam se movido de posição, e agora ela estava deitada sob o rapaz, e ele se apoiava nos cotovelos, uma das mãos entre os cabelos dela, os lábios se tocando de forma lenta, mas intensa.

O longo beijo se estendeu por muito tempo, até Sirius se afastar, e abrir os olhos. Ellie lentamente abriu os próprios olhos, e o viu encarando-a. Ficaram em silêncio, apenas se olhando. Ela sentia como se tivesse algo agarrado, preso em sua garganta, mas que era incapaz de saber o que era. Ela moveu os lábios, mas não conseguiu falar absolutamente nada. Então ele falou.

- Obrigado. Por não me deixar sozinho esta noite.

Ellie imediatamente foi tomada pela emoção, e puxou Sirius novamente para ela, desta vez para apenas um abraço. Ele aconchegou o rosto no espaço entre o pescoço e o ombro dela, e a ouviu falar.

- Jamais te deixaria sozinho numa hora dessas. Eu simplesmente não conseguiria.

O rapaz ficou alguns momentos abraçado à jovem, mas depois ergueu a cabeça. E Ellie viu algo maravilhoso.

Sirius estava sorrindo. Era certo que o sorriso era comedido, mas ainda sim era um sorriso. E ela sorriu de volta.

Uma vontade louca de ficar agarrada a ele para sempre tomou conta da garota. Ela simplesmente não queria soltá-lo. Nunca mais.

E eles ficaram abraçados por longos minutos. Até que ele falou novamente. Sua voz estava leve, natural, e um tantinho divertida.

- Não acredito que você dormiu na minha cama comigo.

A garota sorriu, encorajada pelo humor mais positivo dele, e tentou deixar o ambiente o mais descontraído o possível.

- Eu pensei em dormir no chão, sabe. Aprendi com um cara por aí...

Uma pequena risada veio de Sirius. E ele falou, sendo honesto.

- Eu só estava tentando evitar cair em tentação.

A resposta a deixou sem reação por um instante, mas logo ela rebateu.

- Pois não precisava. Você se portou como um completo cavalheiro aquele dia.

- Sim. - ele respondeu. - Mas não foi por falta de vontade...

Ellie revirou os olhos. O rosto dele estava suave, tranquilo. Aquilo era uma bênção para a garota. Ela sorriu brevemente, e falou, num tom encorajador.

- Quer levantar, e comer alguma coisa?

Ele se aconchegou ainda mais nela, e respondeu.

- Não. Quero ficar aqui com você pra sempre. Deitado nessa cama.

Ela levantou uma das sobrancelhas, mesmo sentindo uma descarga de emoção ao ouvir o que ele disse. O rapaz entendeu o recado, e falou.

- Mas sei que você vai insistir, e vai me arrastar lá pra baixo.

Ela concordou com a cabeça. Então os dois se levantaram. E, como Sirius havia previsto, Ellie o arrastou até a cozinha.

E dentro de si, ele sentiu como se o peso diminuísse. Se ela se mantinha ao seu lado, a dor ia embora.

Ellie era tudo que ele precisava.


O teto do quarto de James era branco, liso, sem qualquer espécie de atrativo maior que não fosse o lustre que iluminava o cômodo. Mas ele foi encarado pelo rapaz por horas seguidas, como se fosse algo extremamente interessante.

Só que não era.

James estava completamente entregue ao destino. À total e completa inevitabilidade dos acontecimentos da noite anterior.

Não existia mais fuga. Nenhum subterfúgio. A realidade é o que é.

James sabia que não existia mais saída.

Ele e Lily haviam se agarrado na piscina da casa de seus pais. E isso era a mais pura verdade.

E agora não existiam desculpas, não existia bebida ou qualquer outra forma de driblar a realidade. Eles estavam conscientes do que faziam. E participaram ativamente de tudo que aconteceu.

E essa poderia ser a perdição de tudo.

James não sabia mais o que fazer. Nem como conseguiria encarar Lily novamente nos olhos.

E a culpa de tudo era totalmente dele.

Ele iniciara tudo. Ele tomara os lábios dela. Ele a puxou para si.

Ele era o ser desprezível que tomara a própria irmã para suprir seus desejos lascivos e mais obscuros.

Ele a queria. De uma forma arrebatadora, e impossível de se controlar.

Ele queria a própria irmã.

Ela não é minha irmã de verdade! - era o que gritava sua porção que mais ansiava por Lily.

Mas James fechou os olhos, e o que sentiu foi culpa.

Ele sentiu o desejo borbulhante dentro de si, como o sangue que percorria seu corpo, como se fosse impossível separar onde começava a vontade de tomar Lily nos braços, e onde terminava seu próprio eu.

Ela era tudo que ele pensava naquele momento. Cada centímetro de sua pele. O gosto de sua boca. Suas pernas enlaçadas à sua volta.

Ela é minha. - dizia a parte mais possessiva e desejosa de si.

Ela não é de ninguém. - respondia sua consciência, trabalhando como um superego repressor, que degolava cada desejo mais intenso.

James agarrou um de seus travesseiros, e enterrou sua cabeça nele. Queria esquecer o que aconteceu na noite anterior. Queria ter uma desculpa, uma razão para justificar sua conduta para Lily.

Mas não tinha. Não uma que não revelasse a verdade.

Porque a única justificativa que James tinha para seu comportamento era a cristalina verdade que aflorava cada vez mais forte e intensa: ele queria Lily. Mais que qualquer outra coisa no mundo.

Mas isso ele não podia revelar.

Não sem trair a confiança de seus pais, que inocentemente foram viajar de férias, e mal sabiam o caos em que seus filhos estavam enredados.

E ele não tinha coragem de contar os desejos secretos que ele vinha nutrindo, por tanto tempo, pela garota inocente que a família acolheu, e que ele deveria proteger acima de tudo.

Mas ele não protegeu. Ele, como um desgraçado que tinha certeza ser, profanou o que devia ser mais puro em sua vida. Sua irmãzinha mais nova.

Ela não é minha irmã! - novamente a voz interior protestou.

E não era. Mas ela foi criada como tal.

E James tinha certeza que deveria respeitar esse fato.

Ele retirou o travesseiro do rosto, e voltou a encarar o teto. Mas só o que ele via era Lily.

Lily, que deveria estar se martirizando por ter beijado o próprio irmão. Que sempre foi a válvula moral da casa. Que sempre agia de forma correta.

Ah, Lily...

Lily e seus cabelos ruivos. Lily e sua pele perfeita. Lily e suas curvas...

James levou as mãos ao rosto. Fechou os olhos com força. Agora ele estava torturando a si mesmo.

Ele percebeu que não conseguiria sair tão cedo daquele quarto, e encarar a realidade.

Não conseguiria encarar Lily.


Lily acordou de um sonho estranho, que se desfez em sua mente no instante que ela abriu os olhos. Imagens sem sentido iam esmaecendo na sua memória, e por um segundo ela se perguntou onde estava.

Até que se lembrou de que dormiu em sua cama, e todos os acontecimentos do dia anterior a invadiram, como um maremoto incontrolável.

A tristeza de Sirius, o funeral, tudo. E, principalmente, James.

A boca de James na dela. As mãos dele percorrendo seu corpo. O ardor de seu toque, que parecia queimar a pele dela.

Tudo.

Lily perdeu o fôlego por um instante.

Aquilo tudo tinha acontecido mesmo, não é? Ela não estava ficando louca, e tomando sonho por realidade. Certo?

A garota sentou imediatamente na cama. Sua cabeça agora estava entrando nos eixos, e ela percebeu que nada daquilo tinha origem em um sonho qualquer.

Era real. Tão real quanto os sentimentos confusos que agora tomavam conta da garota.

Uma incontrolável sensação de ter cometido um enorme erro se apossou de Lily. Como ela poderia ter feito aquilo tudo? Como poderia ser tão inconsequente?

Sirius estava lá, sofrendo em seu quarto, e ela, como a pior irmã do mundo, estava se agarrando dentro de uma piscina com James. Seu outro suposto irmão.

Poderia existir no mundo alguém tão vil e terrível quanto ela?

Tão capaz de deixar de lado o que era importante para dar vazão a sentimentos que... ela sequer podia nomear.

O que tinha acontecido com ela? Justo ela, que sempre agia de maneira correta! Que sempre se preocupava com a família.

Lily engoliu saliva, e ela tinha gosto de culpa.

Uma lágrima inoportuna escapou de seus olhos. Mas ela não podia chorar. Ela tinha que recolher essa vergonha estúpida, e fazer o que era certo.

Precisava compensar seu erro.

Sirius precisava dela. Seu irmão. Alguém que já enfrentava problemas sérios, e agora encarava algo tão terrível quanto a perda de alguém que amava.

Lily inspirou fundo. Precisava ser a Lily de sempre. A Lily com quem todos podiam contar. Era isso que importava.

E não mais as mãos de James. A boca de James. Seu corpo colado ao dele.

Ela era mais forte que isso. Sempre foi. Não seria agora que ela deixaria alguém de sua família necessitando de ajuda porque ela resolveu ter uma crise de hormônios em fúria e...

E beijou seu irmão.

Ela beijou James.

Na boca.

E não fez só isso. Num pandemônio de luxúria, ela arrancou a camisa dele, percorreu seu corpo com as mãos, e se não tivesse sido impedida por seu bom senso (ativado pelo barulho não identificado que a acordou do transe), sabe-se lá o que mais teria acontecido.

Num segundo, imagens desconexas de James em cima dela, no deck da piscina, movendo-se de forma ritmada tomou conta de sua mente.

Ela afastou a imagem sacudindo a cabeça.

Tinha uma missão a cumprir. Iria compensar Sirius por sua ausência na noite anterior. Iria ajudar o irmão que tanto precisava dela.

Lembrou-se de Ellie, sua melhor amiga, que agora estava servindo de apoio a Sirius. Lembrou-se de como a amiga não se dava bem com seu irmão, e novamente sentiu culpa. Ellie estava fazendo aquilo por amizade a ela. Estava cobrindo o lugar que ela deveria ocupar.

E Lily sentiu um novo aperto de garganta. Teria que se desculpar com a amiga. Teria que compensá-la de alguma forma por sua lealdade.

Decidida, Lily correu para o banheiro, e tomou uma ducha rápida. Trocou de roupa o mais rápido que pode, e abriu a porta de seu quarto.

Ela decidiu ignorar ao máximo a porta fechada do quarto de James, focada em seu objetivo. Foi diretamente até o quarto de Sirius. A porta estava aberta, então ela entrou sem hesitar.

E o quarto estava vazio.

A garota entrou em pânico.

E se Sirius tivesse fugido no meio da noite, sabe-se lá para onde?

Como um furacão, Lily desceu as escadas. Estava pronta para se dirigir para a porta, para verificar se a moto de Sirius estava na garagem, quando um barulho de algo caindo atraiu sua atenção para a cozinha. Num pulo ela estava lá.

E ela jamais esperaria aquela cena.

Sirius estava de bermuda, com um avental de cozinha, e uma frigideira numa mão. A outra estava cheia de farinha.

E ele ria.

De frente para o rapaz, Ellie estava com uma vasilha de inox nas mãos, tentando se defender do rapaz. Seus cabelos estavam cheios de farinha, e ela correspondia a risada.

- Seu idiota! Vou te pegar! - ela retrucou, com um sorriso nos lábios.

Lily observava congelada a cena. Nunca poderia acreditar em seus olhos.

Sirius se encolheu quando recebeu o ataque de massa de panquecas de Ellie, que derrubou parte do conteúdo da vasilha no peito do rapaz. Sem se fazer de rogado, Sirius puxou a parte de trás da blusa que ela vestia, e jogou a mão de farinha que estava segurando.

Lily apenas falou, num tom incerto.

- Ahn... bom dia?

Sirius olhou para a porta, e viu a irmã parada ali. E ele sorriu para ela.

- Bom dia, Lily.

- Ei, Lils! - Ellie falou, animada. - Olha o que o seu irmão fez comigo! Estou um terror! - ela apontou para a camiseta toda suja de farinha, e o short com respingos de massa de panqueca.

Lily balançou a cabeça por um instante. Não imaginava aquele cenário. Imaginava encontrar Sirius bêbado, largado em algum canto da casa, e Ellie tentando, em vão, fazer com que ele se sentisse melhor. Mas não imaginava que ele poderia estar assim, num humor tão melhor que o do dia anterior.

- Quer panquecas? - ele ofereceu.

Lily entrou na cozinha com passos incertos, e confirmou com a cabeça. Ela apenas assistiu o irmão colocando massa na frigideira, e fazendo uma de suas famosas panquecas. Fazia tanto tempo desde a última vez que ela vira Sirius fazendo panquecas que ela mal lembrava o gosto. Mas o choque de vê-lo tão melhor a impedia de fazer qualquer comentário.

Quando ele terminou a panqueca de Lily, Ellie imediatamente resmungou, mas sorrindo.

- Ei, espertinho, cadê a panqueca que você me prometeu? Estou com fome.

Lily arregalou os olhos. Ellie falava como se... como se eles fossem novamente amigos. Aquilo era tão inesperado.

E a resposta de Sirius foi ainda mais inesperada.

- Tá bom, tá bom... Como sua majestade desejar! - ele fez uma reverência de brincadeira, e a garota riu.

Eles pareciam tão bem. Tão... próximos. Lily ficou um pouco desconcertada com aquela atitude.

Logo ele tinha feito a panqueca de Ellie, e falou para as duas garotas, que agora estavam sentadas na pequena mesa que ficava na cozinha.

- Agora que as duas estão servidas, vou tomar um banho. - ele virou para Ellie, e falou - Já que a senhorita fez o favor de me deixar completamente emporcalhado.

Ellie riu, e respondeu.

- Estou às ordens. Sempre que precisar de massa de panqueca pra te sujar, pode contar comigo!

Sirius a olhou por um instante, e sorriu de forma breve. E saiu em direção ao quarto.

Lily acompanhou o irmão com os olhos, e voltou o rosto para a melhor amiga. Ela tinha uma espécie estranha de sorriso nos lábios, um sorriso que Lily nunca antes tinha visto no rosto de Ellie. Sem compreender o que ele significava, ela apenas falou.

- Ellie... o que aconteceu?

Ellie franziu a testa muito brevemente, e respondeu.

- Como assim?

Lily arregalou os olhos, e fez uma expressão exasperada.

- Ellie! O Sirius está... bem! Ele parece tão tranquilo. Isso não é possível.

Ellie inspirou profundamente. E respondeu.

- Ele disse que... bem, que pensou bastante quando acordou, e que estava se sentindo melhor. Falou que era melhor ter curtido esses últimos momentos com a mãe, e que era melhor para ela... deixar de sofrer. Foi bem maduro da parte dele.

Lily raciocinou por um instante, e uma corrente de medo percorreu seu corpo. Ellie estava vestida com uma roupa diferente da que usava no dia anterior. E se ela tivesse ido embora no dia anterior, para dormir em casa? E se ela... tivesse ouvido uma barulho vindo da piscina, e resolveu investigar? E se... ela tivesse visto ela e James juntos?

- Você... - Lily hesitou - dormiu em casa?

Ellie balançava os longos cabelos, tentando tirar a farinha que Sirius tinha jogado.

- Não, dormi aqui. Eu fui lá em casa trocar de roupa hoje de manhã. Mas vou ter que ir de novo, né?

- E o Sirius? - perguntou Lily, aflita por pensar no irmão sozinho. Apesar disso, ela sentiu alívio também, ao pensar que a amiga não devia ter visto nada.

- Ah, ele foi comigo. Enquanto eu tomava banho e me trocava, ele ficou lá embaixo com meu avô e minha avó. Não sei o que espécie de magia os Dumbledore têm, mas quando eu desci ele estava num humor muito melhor. Acho que eles falaram alguma coisa com ele, só sei que ele estava bem mais animado, como se quisesse aproveitar a vida, sabe? E eu não vou questionar isso, não é? Acho que ele está certo. Ficar preso na tristeza não pode fazer bem a uma pessoa.

Lily observou a amiga, e, pela primeira vez, percebeu o quanto ela amadurecera. Parecia muito mais mulher naquele momento, mas não perdera a doçura infantil. Lily sentiu muito orgulho de ser amiga de Ellie Dumbledore naquele instante.

Lily se recostou na cadeira, e olhou nos olhos da amiga. Não tinha palavras para a gratidão que sentia por ela naquele instante, mas se esforçou para tentar dizer algo.

- Ellie... obrigada por tudo. Não sei o que faria sem você... É incrível. Olha como ele está melhor. Eu realmente...

Mas Ellie cortou delicadamente o discurso de Lily, e falou.

- Não precisa agradecer, Lils. Nós todos somos... meio que uma família, não é? Só fiz minha parte. Eles... - ela desviou os olhos por um instante, visivelmente emocionada - quando foi a minha vez, quando era eu... nesta situação... passando por isso... eles estavam ao meu lado. E você estaria também se já nos conhecêssemos. Tudo se resume na mesma coisa, Lily. Estamos todos no mesmo barco.

Lily nada pode fazer a não ser concordar com a cabeça. Viu a amiga sorrir um pouco embaraçada, e não resistiu. Levantou e foi até ela, e a abraçou como se abraça a uma irmã. Ellie a acolheu, e por um instante Lily deixou o peso da culpa que sentia de lado. Ela tinha pessoas que a amavam à sua volta. Ela ia arranjar uma forma de se redimir do que tinha feito. Tinha que arranjar.

Mas Ellie, alheia ao que se passava com a amiga, apenas falou.

- Vai lá ver como ele está, enquanto tomo outro banho e me troco. Daqui a pouco volto para ficar com vocês.

Lily soltou o abraço, apesar de relutante. Quando estava encolhida nos braços da amiga ela sentia como se estivesse protegida, e a grande besteira que fizera na noite anterior se esmaecia. Eles todos eram apenas crianças novamente, e nada de ruim tinha acontecido...

Mas a realidade ia lhe alcançar mais cedo ou mais tarde. Ela sabia que era inevitável, mas tentava ao máximo resistir ao impulso de fraquejar. Precisava dominar suas estranhas emoções. James simbolizava seu momento de fraqueza, e ela pretendia não sucumbir novamente.

Só que ver a amiga se afastar e sair porta afora só a fez ficar mais consciente do que se passava em sua cabeça. E a única coisa que dominava seu pensamento era James Potter.

Ela fechou os olhos por um instante. Ela tinha que ser forte. Iria dominar sua mente.

Mas novamente a imagem de James estava ali. Como uma infecção, lentamente tomando conta de tudo. Se espalhando sem dó.


Os olhos de Remus se apertaram um instante antes de se abrirem. Sua cabeça estava girando, como se ele tivesse bebido demais na noite anterior. Mas não havia ingerido nenhuma espécie de álcool. Na verdade, a única coisa que poderia tê-lo deixado inebriado na noite anterior era Emmeline.

Ela ainda sentia o cheiro dela no ar. Buscou-a com os olhos, esquadrinhando o quarto, mas não havia sinal da garota. As roupas dela também tinham sumido do chão. Ele inspirou profundamente, e resignou-se com o que tinha quase certeza que aconteceria: ela tinha ido embora.

Ainda despido, ele levantou-se, e sentou na beirada da cama. Apoiou o rosto nas mãos, e imagens da noite anterior tomaram conta de sua mente.

A longa noite de paixão, as diversas vezes em que se amaram, tudo o atingiu como um raio. A pele de Emmeline, seu corpo, seus sussurros. Tudo misturado num turbilhão.

Pensou em imediatamente ir atrás dela, mas hesitou por um instante. E percebeu que não tinha ideia do que iria falar.

Tudo era tão recente, tão intenso, que ele percebeu estar confuso.

Sabia que a queria, e sabia que a queria mais do que quis qualquer mulher anteriormente em sua vida. Ela era tudo que ele desejava.

Mas havia algo. Algo estranho. Um sentimento que o perturbava, que remexia bem no seu interior, incômodo e sem nome.

Ele sabia o que queria. Mas... ela sabia?

Confuso, Remus levantou, e foi até o banheiro. Entrou no banho, e deixou a água quente do chuveiro percorrer sua pele.

Ele se lembrou das mãos de Emmy percorrendo seu corpo. Fechou momentaneamente seus olhos, lembrando-se da sensação. E recordou da boca dela na dele. E desejou no mesmo instante estar com ela novamente.

Decidido a ignorar a sensação estranha que lhe afligia, resolveu ir procurar a garota. Ele iria encontrar o que falar. Mesmo que não dissesse uma palavra.

Na noite anterior, eles não precisaram de palavras para expressar o que sentiam. Ele pensou que, depois de passarem aquela noite maravilhosa juntos, poderiam se entender. Poderiam ficar juntos e...

Até que a realidade lhe deu um tapa. Quase literalmente.

Ele viu claramente a cena em sua mente.

Ellie com lágrimas nos olhos, e uma expressão de incredulidade. Lily segurando a mão da amiga, e com o rosto estampado de repreensão, como só a ruiva era capaz de expressar. James do outro lado, visivelmente recriminando-o. E até Sirius o olhava com uma expressão de desaprovação. Logo Sirius... logo ele que...

Remus interrompeu esse pensamento.

Não. As coisas não poderiam acontecer desta forma. Ele tinha prometido a si mesmo. Tinha prometido sempre ser amigo de Ellie, e sempre cuidar da garota. Quando a viu encarando as lápides dos pais, na época em que eles faleceram, ele jurou para si mesmo que sempre estaria ao lado dela.

Ele precisava conversar com ela. Tentar mostrar o que estava acontecendo, antes que ela pudesse descobrir da pior forma possível.

Precisava explicar tudo.

Decidido a resolver tudo da melhor forma possível, ele saiu do banho. E tentou organizar o pensamento, decidindo o que faria primeiro.

Emmy ou Ellie.

Com a testa franzida, o rapaz se vestiu, e desceu as escadas. Ao chegar à sala de casa, deu de cara com seus pais chegando.

Sua mãe o abraçou, carinhosa com sempre. O pai o observou, e perguntou.

- Aonde vai, Remus?

Remus não queria dizer que ia à casa de Emmy, e também não queria admitir que também iria ver Ellie, uma vez que isso daria a impressão errada ao pai. Tinha certeza que ele iria falar algo, incentivando o filho a reatar o namoro. Então a única saída que ele encontrou foi.

- Vou nos Potter.

Sua mãe concordou imediatamente.

- Claro, meu filho. Sirius precisa de muito apoio agora. Vai lá ficar com seus amigos.

Sem perder uma oportunidade, o pai falou.

- Vá na casa da Ellie e a chame para ir junto. Vocês devem ficar todos juntos neste momento.

Remus controlou a respiração, e falou.

- Tenho certeza que ela já está lá. Deve estar com a Lily desde cedo.

- Ótimo. - ele ouviu o pai falar - Então vá lá ficar com seus amigos.

Ele viu a mãe abrindo a porta de casa, e percebeu que não tinha saída. Eles o acompanharam com os olhos, e ele seguiu em direção à casa do Potter.

Foi neste momento, caminhando pela rua, que ele percebeu que estava, na verdade, indo exatamente para onde deveria ir. Sirius era sim seu melhor amigo. E ele sim precisava de apoio.

Envergonhou-se por ter deixado a dor do amigo de lado, e por ter pensando de forma tão egoísta. Precisava ajudar Sirius. E depois poderia conversar calmamente com Ellie. Certamente não faltariam oportunidades para que a conversa acontecesse.

E mesmo considerando o gênio um tanto explosivo de Ellie, ele achava que conseguiria mostrar seu ponto de vista para ela, e explicar o que sentia.

Mesmo que ele ainda não conseguisse explicar plenamente para si mesmo.


Emmy não conseguia se concentrar. Estava tentando ensaiar, mas nenhum passo saía correto. Nenhum movimento estava fluido, como deveria ser.

Sua cabeça estava em outro lugar, e não no treino.

Sua cabeça estava em Remus.

Ela revivia mentalmente cada segundo da noite anterior. Cada toque, cada sensação. Cada beijo, e cada movimento.

E aquilo estava sendo uma tortura.

Por mais que tivesse sido maravilhoso, como nenhuma vez antes tinha sido, ela precisava se focar. E precisava deixar de pensar em Remus, e na noite de amor que tiveram.

Tentou apagar da memória o rosto dele.

Tentou recomeçar o treino. Consertou a postura, inspirou fundo.

Fechou os olhos para se concentrar.

Mas só o que conseguia era pensar em Remus.

Parou. Estava ficando frustrada.

Então sentou no chão durante alguns segundos, para tentar (novamente) esvaziar a mente.

Desta vez conseguiu evitar a memória de Remus. Mas não adiantou muito, já que o que lembrou foi ainda pior.

Ela recordou de ter visto Ellie e Sirius juntos. Se beijando.

Aquilo criou um nó em sua garganta. Ela não sabia o que fazer.

Ellie e Sirius estavam traindo Remus? Ou eles começaram a ficar recentemente?

Ela queria poder contar para Remus. Mas e se... ele não acreditasse? Ou se ele achasse que ela só estava falando aquilo para tentar afastar Remus de Ellie?

As dúvidas permeavam tanto sua cabeça que ela desistiu do ensaio. Não iria conseguir se concentrar de forma alguma.

De pernas cruzadas, ficou encarando o chão. Por que tudo tinha que ser sempre tão complicado para ela? Por que ela não podia se apaixonar por alguém sem que isso causasse uma grande confusão em sua vida?


Quando Remus chegou à porta da casa dos Potter, e tocou a campainha, pode ouvir uma voz lá dentro, dizendo:

- Ellie, atende a porta!

Em alguns segundos a porta se abriu, e ele deu de cara com a ex-namorada. Ellie usava roupas simples, e tinha um sorriso no rosto.

Só que esse sorriso se abalou por um instante, assim que ela fitou o rosto de Remus.

- Ah... oi Remus. – ela falou, e por algum motivo corou de leve.

- Quem é? – ele conseguiu distinguir a voz de Sirius perguntando.

Ellie ficou alguns segundos calada, sem saber como agir. Até que respondeu.

- É o Remus.

Nenhuma resposta veio de dentro da casa.

Então Remus decidiu que não deixaria o clima ficar estranho, ainda mais que Sirius precisava de apoio de todos eles. Mesmo achando a voz do amigo bastante normal, o que era surpreendente; Remus estava determinado em ser o melhor amigo possível, e dar suporte ao amigo em necessidade.

- Como... estão as coisas aqui? – ele perguntou, e ficou satisfeito de como sua voz soou normal.

Ellie pareceu aliviada com o tom corriqueiro, e respondeu, bem mais normal.

- Acho que indo bem. – ela falou – Ele está lidando bem com a situação, sabe?

Remus ficou genuinamente aliviado. E foi entrando na casa dos amigos.

- Que bom, Ellie.

A garota sorriu, e falou.

- É reconfortante, não é?

Remus franziu a testa por um segundo, e concordou com a cabeça.

Os dois foram entrando pela casa dos Potter, mas não precisaram percorrer muito caminho; Sirius apareceu, descendo rapidamente as escadas.

Ellie tinha razão. Ele parecia bem.

Sirius estava com a aparência de ter dormido bem, e seu semblante era tranquilo. Ele apenas olhou um tanto ansioso para Ellie e para Remus, mas sorriu brevemente, e falou.

- Oi Remus.

Remus caminhou decididamente até o amigo, e deu um tapinha em seu ombro. Ellie sorria ao ver a cena.

Logo Lily se juntou ao grupo, e falou.

- Oi Remus. Estamos planejando o que fazer hoje. Tem alguma sugestão?

O rapaz levantou os ombros, e falou.

- O que quiserem.

Ellie então falou.

- Podemos todos ir comer algo fora. Que tal?

Sirius concordou com a cabeça, e falou.

- Cinema depois?

Ellie sorriu.

- Boa ideia!

Ellie parecia animada.

- Vou pra casa trocar de roupa então.

Lily concordou com a cabeça, e falou.

- Vou ligar para a Emmy e chama-la pra nos acompanhar.

Remus desviou o olhar, e ficou calado. Mas ninguém notou nada de estranho, já que Ellie foi caminhando porta afora, em direção à própria casa, e Lily foi até o telefone.

Sirius então disse.

- Vamos lá tirar o James daquele quarto, Remus. Ele está enfiado lá desde ontem...

Remus acompanhou o amigo, em direção ao quarto de James. E não puderam ver o olhar de medo de Lily, que segurava o telefone com força em suas mãos.

Um arrepio gelado percorreu seu corpo. Mas não tinha muito que fazer. Morava na mesma casa que James. Era inevitável encontrá-lo, mais cedo ou mais tarde...


James não tinha ideia de como tinha se enfiado nessa roubada.

Certamente era porque ele não podia negar nada ao irmão, que tinha acabado de perder a mãe biológica de forma muito triste. Mesmo assim, ele achava que poderia fazer companhia ao irmão sem precisar passar por isso tudo.

Ele fora arrastado de dentro de seu quarto, obrigado a tomar banho e se vestir. E conduzido à sala da casa deles, dando de cara com os amigos o esperando.

Remus, Emmy, Ellie, Sirius e... Lily. Todos arrumados, prontos para sair de casa. Foi comunicado por Ellie que ele seria o motorista do dia, e iria conduzir o grupo no carro de seu pai. Mas Sirius falou que queria dirigir um pouco sua moto, e imediatamente convidou Ellie para acompanhar na garupa. James evitava o olhar de Lily, mas percebeu que seria impossível ignorá-la por muito tempo. Até porque, quando chegaram à garagem, Remus e Emmy imediatamente entraram e sentaram no banco de trás do carro. Deixando o assento do passageiro para Lily.

A irmã estava muito mais calada que o normal. Aliás, todos os integrantes do carro estavam calados. Os únicos que pareciam genuinamente estar se divertindo eram Sirius e Ellie, que seguiam na moto do irmão, sorrindo e conversando muito.

Lily parecia muito interessada em olhar para a janela, e não fazer nenhum tipo de contato visual com James. E Emmy estava muito distraída com as próprias unhas, o que Remus tinha certeza que era uma forma de evitar os olhares que ele constantemente lançava para a garota.

O grupo logo chegou ao restaurante que escolheram. Ao sentarem à mesa indicada pelo garçom, um estranho fenômeno tomou conta do ambiente.

Ellie e Sirius seguiam a conversa animada, falando de música, filmes, e qualquer outro assunto animado. Lily percebeu que a amiga estava bem humorada, e não deixava de propor um assunto interessante após o outro. Lily ficou agradecida pelo empenho de Ellie em manter Sirius de bom humor. Até porque ela, James, Remus e Emmy estavam falhando miseravelmente na tarefa.

Mas a dupla parecia até alheia a isso, de tão animados com a conversa que estavam. James até participou um pouco quando o assunto era música. Lily arriscou algumas palavras sobre filmes, mas sem nada de muito interessante a acrescentar. Então quem conduziu a conversa na mesa, durante toda a refeição, foram Sirius e Ellie mesmo.

Quando terminaram o almoço, Ellie passou a discutir opções de filmes para assistirem. Ela, sabiamente, queria assistir algo animado, alguma comédia ou filme de aventura. Sirius logo selecionou um filme para assistirem e Ellie parecia satisfeita com a escolha.

Pagaram a conta, e foram até o cinema mais próximo.

Ao chegarem na bilheteria, perceberam que a sessão estava prestes a começar. Então o grupo se dividiu, alguns indo comprar os ingressos, e outros o refrigerante e doces.

Logo todos se reuniram novamente. E entraram na sala que exibia o filme que iriam assistir.

Ao entrar na sala, perceberam que a sessão já estava começando. E viram que o cinema estava muito cheio.

Não havia lugar para os 6 amigos sentarem juntos, numa fileira só. Apenas locais espalhados pela sala, mas não mais que 2 poltronas vazias em cada parte.

Sirius foi o que pensou mais rápido. Pegou a mão de Ellie, sem se importar o que os amigos pensariam, e foi direto para um lugar com duas poltronas vazias, na parte de trás da sala. Remus também aproveitou a oportunidade, e puxou Emmy para lugares um pouco mais pra frente. Ele pretendia tentar conversar discretamente com a garota, para que eles pudessem se entender em relação à noite que dormiram juntos. Ele queria muito que ela, assim como ele desejava, quisesse ficar com ele.

Isso acabou resultando em James e Lily, parados, sozinhos, perto da porta de entrada da sala. Sem saber muito como agir.

Quando se deu conta que estavam ali por tempo demais, e temendo que alguém achasse estranho o comportamento dos dois, James pegou a mão de Lily, e se encaminhou para a primeira fileira que viu com dois lugares vazios.

Então as duplas acabaram por ser: Sirius e Ellie, sentados na parte de trás do cinema, Remus e Emmy mais para o meio, e Lily e James, sentados mais para perto da tela.

Lily inspirou fundo. Aquela seria uma longa sessão de cinema...


Assim que acomodaram nas poltronas, e viram seus amigos se encaminhando para os outros lugares, Sirius e Ellie se acomodaram mais perto um do outro. O rapaz esticou a mão, e puxou o rosto de Ellie para perto do seu. E sorriu para ela, falando.

- Me dá um beijo.

A garota olhou ansiosamente para os lados, mas ele a puxou novamente para perto.

- Ninguém está vendo. – ele falou.

Ellie entreabriu os lábios, e falou.

- Sirius...

Mas ele não deu tempo para ela protestar. Capturou os lábios dela com os seus, e apoiou sua mão na nuca dela, para trazê-la para perto. Ellie não se afastou, e o beijou de volta.

Sirius não podia estar mais satisfeito. Eles estavam se beijando numa sessão de cinema. Como um casal de namorados faria.

Ele sabia que eles não eram namorados, mas estava feliz com o que tinha. No inicio do verão ele era mais um fantasma de si mesmo, se arrastando entre porres gigantescos e sem sentido, dormindo em locais desconhecidos, com pessoas desconhecidas. Tudo porque não estava conseguindo lidar com os acontecimentos de sua vida. E principalmente com o fato de Ellie, a garota que ele amava perdidamente, estar namorando seu melhor amigo.

Agora tudo parecia se encaminhar bem. Ele conseguiu resolver as questões sobre a herança de seu pai, as cartas que recebeu e não tinha coragem de ler, descobriu um irmão que não conhecia, e, o melhor de tudo, Ellie estava solteira e mais do que disposta em colar sua boca na dele sempre que tinham oportunidade. Ele realmente tinha sofrido uma enorme virada na sua vida. Mesmo a perda de sua mãe, que o deixou arrasado, acabou sendo amenizada, e vista de uma forma menos negativa com a presença da garota ao lado dele. Sirius ainda estava chateado com a perda da mãe, claro, mas conseguia ver a vida de forma mais otimista. Pensou o quanto a mãe poderia ter sofrido nesse processo, e como a presença dele ao lado dela foi boa para ela. Como ele ter dado a oportunidade para a mãe de ter contato com ele, e se despedir foi bom para ambos. E como ela mesma pediu, ele agora tentava aproveitar cada minuto de sua vida, tentava viver ao máximo o sentimento que tinha por Ellie. E o fato dela estar ao lado dele, e deslizando os dedos macios no cabelo dele, estavam contribuindo cada vez mais para a sensação de que tudo daria certo no fim.

Eles se afastaram um pouco, e olharam um nos olhos do outro. Ellie tinha um sorriso delicado nos lábios, e falou.

- Não quer ver o filme? – ela perguntou.

Sirius sorriu de lado, e respondeu.

- Filme? Que filme?

A garota então riu, e voltou a beijá-lo.

Sirius fechou os olhos, e sentiu os lábios dela nos seus. E imaginou como seria maravilhoso poder fazer isso pelo resto de sua vida.


- Emmy...

Emmeline sentou um calafrio percorrendo suas costas. Remus estava muito próximo a ela, e, na sala escura de cinema, ninguém poderia ver que ele alcançou uma de suas mãos. O rapaz virou o rosto na direção dela, e continuou.

- Eu acho que... seria bom se conversássemos sobre ontem.

Emmy inspirou profundamente. Um flash da noite anterior percorreu em sua mente, a expressão de prazer no rosto de Remus, o toque de suas mãos...

Ela não sabia o que fazer. Queria falar muitas coisas. Queria dizer que estava completamente envolvida por ele, que o desejava. Queria contar para ele sobre ter visto Ellie e Siris juntos. Mas, sendo realista, ela sabia que não falaria nada. Porque sabia que se falasse algo, poderia gerar consequências catastróficas.

- Remus... – foi só o que ela conseguiu dizer.

O rapaz inspirou, e falou.

- Sobre o que aconteceu ontem...

Mas Emmeline o interrompeu.

- Remus, eu acho que... não é hora nem lugar para falarmos sobre isso.

O rapaz franziu a testa, e falou, assertivo.

- Você... se arrependeu do que fizemos?

Emmy sentia seu coração batendo na garganta. Queria apenas se jogar novamente nos braços dele. Por que as coisas não poderiam ser mais simples? Por que ela não conseguia falar a verdade toda para ele logo, e lidar com as consequências?

- Eu...

Ela percebeu que ele olhava atentamente para o rosto dela, e isso a fez queimar por dentro. Não controlou os lábios, que tomaram vida própria, e falou.

- Não.

Remus ficou com uma expressão enigmática, que ela não conseguiu ler. Mas no instante seguinte, ele se aproximou muito rápido, e a beijou.

Emmy não conseguiu reagir, a não ser entreabrir os lábios para permitir o beijo agarrado que ele deu. Sentia a mão dele puxando sua nuca de encontro a ele, e, naquele instante, esqueceu tudo que estava acontecendo. Só se focando nos lábios de Remus.

Quando ele se afastou do beijo, longos minutos depois, ele apenas falou.

- Bom. Muito bom.


Lily estava congelada. Ela não conseguia se mover.

James estava sentado ao lado dela. E parecia desesperado.

Ela estava sentada de forma muito ereta, com as costas duras. E tentava segurar a imensa vontade de virar o rosto para olhar James.

Ela se obrigava a olhar fixamente para a tela de cinema. Tinha que se distrair. Mas... sobre o que mesmo era aquele filme? Ela não tinha ideia.

Tentou se concentrar. Tentou acompanhar os diálogos do filme, prestar atenção na interpretação dos atores. Mas era impossível. Principalmente quando ela notou que James a olhava sem desviar os olhos.

Lily sentia o corpo gelado. E voltou a recordar os acontecimentos da noite anterior. A boca de James na sua... suas mãos percorrendo seu corpo...

Era uma tortura.

Ela achou que ficaria assim durante a sessão inteira. Mas isso não aconteceu.

Porque James logo a tirou de seu transe, e falou.

- Lily...

Ela não conseguiu manter a pose. Recostou-se na poltrona, e virou o rosto para o rapaz, mesmo que estivesse completamente tomada pelo terror.

Mas James não parecia saber o que falar. Era como se o nome dela tivesse escapado dos lábios dele sem querer, e ele não tinha nada para falar com ela.

Ele ficou alguns segundos com aquela expressão no rosto, atônito. Mas logo conseguiu formar palavras coerentes.

- O Sirius... parece bem, não é? – ele sussurrou, para não incomodar as pessoas que assistiam o filme ao lado deles.

Lily inspirou fundo, aliviada. Aquele era um assunto normal. Um assunto que poderiam falar.

- Sim. É muito bom.

Ela viu James concordando com a cabeça. E ele prosseguiu.

- É um alívio.

Lily estava aliviada pelo comportamento positivo do irmão. Mas também em poder conversar com James, sem precisarem tocar no assunto de terem se agarrado na piscina de casa, no dia anterior.

Ela viu que o rapaz parecia mais seguro quando prosseguiu sua fala.

- Ainda mais depois de ontem.

Lily congelou novamente. Ele ia falar sobre o que tinha acontecido?

Ela percebeu que ele arregalou os olhos muito rapidamente, e completou.

- É que ontem foi um dia muito atípico... – ele falava rápido, como se quisesse ter certeza que ela não entenderia errado – Todos nós estávamos muito perturbados. Muito... fora da realidade.

Lily então percebeu o que ele intencionava. Ele queria chegar a um argumento para o ocorrido na piscina.

Era uma saída. Uma saída fraca, ela sabia, mas era a única possível naquele momento. Então ela se agarrou a chance de fingir que tudo não passou de loucura da cabeça deles, proporcionada por um evento inesperado. Todos estavam abalados. Todos estavam sem dormir direito. Isso obviamente tinha contribuído para as ações impensadas da noite anterior.

- Sim. – ela completou rapidamente – Estávamos sem dormir. Sem comer direito. Não tinha como ninguém agir normalmente.

James parecia muito mais aliviado. E continuou.

- E nós bebemos ainda, não é? Fora que, toda aquela loucura de velório, funeral, tristeza...

Lily concordou com a cabeça.

- Sim, estava tudo muito confuso.

- Muito confuso. – ele repetiu.

O casal ficou em silêncio por algum tempo. Ambos sabiam que as desculpas que inventaram eram fracas, e não justificava em nada o fato de terem ido parar nos braços um do outro no dia anterior. Mas aquilo era o melhor que eles conseguiram arranjar, uma tentativa desesperada de recuperar o equilíbrio que foi despedaçado no dia anterior.

Lily percebeu que James deslizou um pouco na poltrona que sentava, e parecia muito mais relaxado. Ele respirava normalmente. Um peso parecia ter saído dos ombros do rapaz.

- Então... – ela falou – Melhor nos concentrarmos em ajudar o Sirius. Dar uma força para ele.

James concordou com a cabeça.

- Sim, claro. Cuidar do Sirius. É o mais importante agora.

Lily concordou com ele. E eles voltaram a observar a tela do cinema.

Tudo parecia mais calmo depois da conversa. Ela sentia um alívio indescritível. Eles poderiam voltar para sua vida normal, de sempre.

Então porque, no fundo, ela sentia uma angústia que crescia? Que parecia querer tomar conta de si mesma?


A volta para casa foi consideravelmente menos tensa para os amigos. Ellie e Sirius voltaram na moto do rapaz, e pareciam estar extremamente felizes. O que o resto do grupo ignorava era que os dois passaram a maior parte do tempo no cinema se beijando, e agindo como um casal de namorados felizes. Então o bom humor da dupla era realmente esperado.

Remus e Emmy trocaram alguns beijos durante a sessão. Mas não alongaram a conversa sobre a noite anterior. Emmy se sentia ainda insegura sobre como agir, e Remus ignorando o que afligia a garota, apenas aproveitou a oportunidade de ficar ao lado dela.

Já James e Lily tentavam manter o frágil equilíbrio que estabeleceram ao conversar durante a sessão de cinema. Eles evitavam conversas longas, falando apenas assuntos banais, e que pudessem ser seguros. Nenhum dos dois estava disposto a arriscar alguma gafe. Então a maior parte do tempo passavam em silêncio.

Na volta para casa, Sirius acelerou a moto, deixando o grupo de carro para trás. Ele queria ter a oportunidade de ficar mais alguns minutos sozinho com Ellie, sem que os amigos vissem. Então eles rapidamente chegaram a casa dos Potter, bem antes que James pudesse alcançá-los.

Ellie saltou da moto, e tirou o capacete. Ela tinha tido uma ideia durante o trajeto, e queria falar logo com Sirius, antes que todos chegassem.

Ela viu o rapaz tirando o capacete, balançando os cabelos, e indo diretamente até ela. Ela sabia que ele iria beijá-la, e com isso perderia a linha de raciocínio. E não conseguiria falar o que tinha planejado para aquela noite.

Acertadamente, Sirius veio na direção dela, buscando os lábios da garota. Mas Ellie, mesmo aceitando o abraço, desviou os lábios, falando.

- Sirius, espera um instante. Quero falar com você.

O rapaz franziu a testa, mas sacudiu a cabeça.

Ellie sorriu, e falou.

- Tenho um plano para hoje à noite.

Ele deu um pequeno sorriso.

- O que planejou?

O sorriso dela aumentou, e ela explicou.

- Vai pra casa com seus irmãos. Fala que está cansado e quer dormir. Mas se assegure que a Lily entenda que está tudo bem, senão ela vai se preocupar...

O rapaz estreitou os olhos, e percebeu o que ela estava planejando.

- E depois... – ele falou, sorrindo de lado.

- Depois sai sem silêncio, e vai até minha casa. Sobe pela treliça e...

Sirius não deixou com que ela terminasse. Ele a beijou.

Ellie enlaçou o pescoço dele com as mãos. Sabia que estavam arriscando, mas não desejava outra coisa senão o abraço de Sirius e seus lábios...

O casal logo se afastou, temendo que os amigos chegassem. Já tinha anoitecido, mas ainda assim era possível que algum vizinho os visse. Era um risco ficarem ali, expostos.

Não demorou muito para eles verem o carro dos Potter chegando pela rua. Eles já estavam afastados, e estavam lado a lado. Apenas conversando tranquilamente. Realmente era difícil imaginar que alguns minutos antes estavam agarrados um ao outro.

James estacionou o carro, e todos saltaram. Emmy foi a primeira a falar que precisava ir embora.

- Não treinei nada hoje... – ela se desculpou. Na verdade ela tinha percebido o enorme clima que Sirius e Ellie estavam, cheios de sorrisos e olhares. Ela não queria assistir aquilo. Nem queria dar a oportunidade que o casal descobrisse que ela sabia.

Remus aproveitou a oportunidade para ir embora também. Tentou alcançar Emmy para conversar com ela, mas a menina foi mais rápida, e logo sumiu porta adentro de casa.

Sobraram apenas James, Lily, Sirius e Ellie. Lily chamou a amiga para entrar, mas Ellie logo se desculpou, e falou.

- Ah, Lily, eu acho que vou logo para casa. Estou cansada... Amanhã venho pra cá quando acordar.

Lily estranhou um pouco, já que Ellie gostava de ir dormir tarde. Mas concordou com a cabeça, e falou.

- Vem sim, assim que acordar.

A amiga sorriu, e falou.

- Pode deixar.

Sirius controlou a vontade de sorrir. E apenas se despediu de forma simples.

- Tchau Ellie.

Ela sorriu para os irmãos, e falou.

- Boa noite, pessoal.

James acenou para a amiga, e a viu se afastando, em direção a casa em frente a deles.

Lily se resignou, e entrou em casa, seguindo os irmãos. Viu James indo até a cozinha, e pegando a garrafa de água na geladeira. Sirius hesitou um pouco antes de subir as escadas. Ele virou para trás, e falou com Lily.

- Eu... acho que vou ir dormir também. Estou cansado.

Lily franziu a testa. Sirius nunca ia dormir tão cedo.

- Sirius... você não quer ver um filme antes de dormir? Ou podemos conversar um pouco...

Sirius sabia que Lily ficaria preocupada. Mas ela não tinha ideia de como ele estava desesperado para ir logo para a casa de Ellie. Poder ficar com a garota dos seus sonhos no quarto dela, sem que ninguém pudesse flagrá-los, era a única coisa que dominava a cabeça do rapaz naquele momento. Então ele precisava ser convincente.

- Lily, não se preocupa. – ele falou – Só estou cansado mesmo. Não durmo bem há dias...

Lily viu James vindo em direção a eles, e parando ao lado do irmão.

- Tem certeza? Podemos ficar te fazendo companhia. – ele falou.

Sirius sacudiu a cabeça, e falou.

- Sim, tenho. – ele sorriu para os irmãos. Estava feliz em perceber o cuidado que tinham com ele.

James e Lily evitaram o olhar um do outro. Mas logo concordavam com a cabeça para o que Sirius tinha dito. E o rapaz completou.

- Vocês deviam ir dormir cedo também. Todos nós ficamos com o sono atrasado por causa dos últimos dias.

Lily apenas acenou com a cabeça. E viu Sirius subindo em direção ao quarto dele.

Num instante, ela percebeu que estava sozinha com James na sala de casa. E quase deu um pulo quando ouviu James falando.

- Acho que ele está ok.

Lily se arrepiou ao ouvir a voz dele. E isso a fez reagir de imediato.

- Ele tem razão. Vou dormir também.

Ela subiu como uma flecha as escadas. Sem dar chance para que fraquejasse, e se atirasse nos braços de James como uma louca.

Lily entrou em seu quarto, e fechou a porta atrás de si. Ficou ali parada, a cabeça encostada na porta, sem saber o que fazer. Sua vontade era ir até James. Mas não podia fraquejar. Até porque não tinha a menor ideia do que fazer se ficasse frente a frente com ele naquele momento.

E, naquele momento, ela não queria se arriscar a descobrir o que faria.


Assim que notou o silêncio em sua casa, Sirius começou a se preparar para sua fuga. Ele trocou de roupa, escovou os dentes e cabelos, e se olhou no espelho. Suprimiu um riso, pensando em porque estava preocupado com a própria aparência. Mas ele estava enganando a si mesmo. Sabia que era por causa dela.

Ellie.

Ele, de uma forma boba, queria que ela o achasse bonito. Algo que nunca tinha se preocupado antes na vida.

Mas ela era a única garota que importava no mundo, e a única que ele queria. E ele agora se importava se ela iria gostar ou não de sua aparência.

Sem ouvir mais ruído algum dos quartos dos irmãos, Sirius suavemente abriu a porta do seu quarto. Teve o cuidado de fechar a porta novamente quando saiu. Observou que as portas dos quartos tanto de James quanto de Lily estavam fechadas.

O mais silenciosamente que pode, ele caminhou pelo corredor, e desceu as escadas. Logo abriu a porta da frente, e saiu em direção à casa grande e branca que ficava em frente a sua: a casa dos Dumbledore.

Ele atravessou a rua, e caminhou pela lateral da casa. Alcançou o local que pretendia: a treliça cheia de flores que ficava logo abaixo da varanda de Ellie. Um sorriso chegou ao rosto do rapaz, quando ele percebeu que a porta da varanda estava aberta, e uma iluminação suave saía de dentro da passagem.

Ele começou a subir pela treliça, e não conseguiu evitar um pensamento que invadiu sua mente: ele lembrava a cena do balcão, de Romeu e Julieta.

E, como Romeu, ele escalava em direção à sua Julieta, que o aguardava no quarto. O sorriso em seu rosto aumentou. Como na peça de Shakespeare, os amantes proibidos se encontravam na calada da noite, escondidos dos olhos de todos.

No instante seguinte, Sirius viu Ellie debruçando sobre o parapeito da varanda. E sorrindo.

Como Julieta, ela era linda como uma visão. Ele terminou de escalar a treliça, e entrou no quarto dela. A garota sorria, parada em sua frente. Ela usava um penhoar longo, de seda. Ele não se conteve, e a abraçou, levantando-a do chão ao suspendê-la. Ellie deu uma risadinha, mas falou.

- Não podemos fazer barulho.

Ele, sussurrando respondeu.

- O quarto dos seus avos é longe do seu.

Ela se desvencilhou do abraço, e respondeu.

- Eu sei. É que ainda não me despedi para dormir.

Sirius olhou para ela, diretamente nos olhos.

- Então vai lá.

A garota sorriu para ele, e falou, baixinho.

- É melhor... você ficar no meu banheiro.

Ele entendeu o que ela quis dizer, e se escondeu no banheiro. Se a avó de Ellie entrasse no quarto, não o veria ali.

A garota sumiu porta afora, mas sem demora retornou. E Sirius saiu do banheiro a tempo de vê-la trancar a porta do quarto.

Ele não conseguiu evitar engolir seco. Agora eles estavam totalmente sozinhos. E sem possibilidade de serem flagrados juntos. A noite inteira pela frente.

Sirius viu Ellie lentamente despindo o penhoar, ficando apenas com uma camisola de tecido fino, que seguia o desenho do corpo dela.

Isso o fez respirar fundo. Sua garganta ficou seca.

Mas Ellie ignorou estes sinais, apagou a luz, deixando o quarto iluminado somente pelo abajur que ficava ao lado da cama, e seguiu direto até ele.

- Foi tranquilo de sair da sua casa? – ela perguntou.

Sirius, ainda tomado pela visão dela ali, vestindo apenas um pedaço (não muito comprido) de seda que era um tanto revelador, apenas confirmou com a cabeça.

Ellie se aproximou ainda mais, e falou, numa voz suave e baixa.

- Quer deitar?

Ela ofereceu a mão, e ele a alcançou, enlaçando seus dedos nos dela. Ellie sorriu, e eles foram até a cama dela. Sirius tirou os sapatos, e subiu, ficando ao lado dela.

Os dois se entreolharam, e Sirius não conseguia evitar se sentir inebriado naquele momento. Tudo parecia perfeito. Tudo da forma como ele sempre sonhou.

Ellie se aproximou dele, e sentou-se sobre as próprias pernas, ficando de frente para ele. E ela levou as mãos ao rosto do rapaz, puxando-o para um beijo delicado.

Tudo era envolvente e mágico naquele momento. E tranquilo. Tudo era como deveria ser.

Esse pensamento tomou conta da mente de Sirius, enquanto ele sentia a mão delicada de Ellie puxando-o para perto dela, para que deitassem juntos, e se aconchegassem na enorme cama da garota.

Era isso que sempre deveria ter acontecido. Sempre deveria ter sido assim. Eles tinham que ser assim, um casal feliz de namorados, deitados juntos numa cama confortável, se beijando com calma, sem receio de ninguém aparecer, sem receios do que as outras pessoas pudessem pensar.

Mesmo que nada disso fosse verdade, afinal eles não eram namorados, eles tinham receio de alguém vê-los juntos, e temiam o que as pessoas pudessem pensar de estarem juntos naquele momento. Mas Sirius sentia aquilo tudo como certo. Como o que deveria ter acontecido desde o início. Como se, anos atrás, ele pudesse ter engolido o orgulho idiota e o medo da rejeição, e falado para Ellie como se sentia de verdade.

Se ele tivesse tido coragem naquela época, seria ele o namorado dela. Seria com ele que ela desfilaria de mãos dadas em Hogwarts, seria ele o alvo da inveja dos outros caras que a cobiçavam, mas nunca poderiam tê-la.

Alheia a tudo que passava na cabeça dele, Ellie apenas se afastou um pouco dele, para poder falar.

- Você... não quer ficar mais confortável?

O olhar dela oferecia tantos significados, que ele num segundo tirou a camiseta que usava, e a jogou longe. E imediatamente voltou aos lábios dela, desta vez exigente, quente, apaixonado.

Aquela seria uma longa noite.


A manhã seguinte chegou à velocidade da luz. Ou foi assim que Sirius achou que tinha acontecido.

Ele acordou na cama de Ellie, vestido apenas com sua calça jeans, com os cabelos muito bagunçados, e um imenso sorriso no rosto.

A noite anterior tinha sido algo completamente incrível. Ele e Ellie passaram algumas horas maravilhosas. As memórias dos beijos intensos e amassos bem safados não abandonavam sua cabeça. Ele jamais imaginaria que, após acordar com ela nos braços no dia anterior, iria dormir com ela nos braços novamente. Mas, antes de dormir, ela não estava consolando ele. Ela estava enlaçada a ele de uma forma agarrada, de uma forma com a qual ele apenas sonhava. Mas agora era realidade.

Ele se moveu delicadamente, e viu Ellie abrindo os olhos. Ela se espreguiçou, e sorriu para ele.

- Bom dia.

Sirius se aproximou, colou rapidamente os lábios nos dela, e respondeu.

- Bom dia.

Ellie riu, olhando para os cabelos dele.

- Você acordou mais descabelado que o James.

Sirius riu, e falou.

- Difícil acordar com o cabelo arrumado depois de ontem...

Ellie manteve o sorriso nos lábios, e deslizou a mão pelos cabelos sedosos dele. Sirius fechou os olhos um instante, pelo puro prazer do toque das mãos dela. Então ela falou, fazendo uma expressão falsa de contrariedade.

- Se não quiser não faço mais... o que fiz ontem.

Sirius imediatamente reagiu, colocando a garota por baixo dele, e apoiando os cotovelos na cama.

- Está louca? Nunca mais pare de fazer... todas as coisas que você fez ontem.

Uma memória de Ellie depositando beijos nem um pouco castos por todo seu pescoço e peito o fez inspirar mais fundo. A garota pareceu satisfeita com a resposta dele, uma vez que deu um breve sorriso, e levantou a cabeça para beijá-lo novamente.

Os dois ficaram por um bom tempo ali, juntos, até que Ellie falou.

- Sirius... acho que é melhor você ir pra casa.

Sirius franziu a testa, e ela explicou.

- Daqui a pouco a Lily vai acordar, e vai te procurar. E obviamente vai surtar se você não estiver em casa.

Sirius concordou com a cabeça, mas falou.

- Mas eu não quero ir embora.

Ela apenas olhou para ele. E respondeu.

- E eu não quero que você vá.

Sirius encostou de leve sua testa na dela, e fechou os olhos. Ficaram assim, parados, durante longos minutos. Até que se conformaram, e levantaram da cama.

Ellie ajeitou a alça da camisola que vestia, que teimava em descer pelos ombros dela. E o acompanhou o rapaz até a varanda. Ele vestiu a camiseta e calçou os sapatos. E foi descendo pela treliça devagar, como que para prolongar sua estada ali. Antes de ficar fora do alcance dela, Ellie segurou o rosto do rapaz, e o beijou.

- Daqui a pouco vou para sua casa.

Ele concordou com a cabeça, e falou.

- Não demora. Não quero ficar longe de você.

Ellie sorriu, e acenou para ele.

Enquanto se afastava, Sirius tentava se controlar para não sair gritando de felicidade pela rua. Tinha passado a noite na casa da garota dos seus sonhos, e dormido ao lado dela, após muitos beijos e amassos. Não conseguia imaginar que isso um dia seria possível. Mas era realidade.


Lily acordou sobressaltada. Tivera sonhos estranhos a noite inteira. Não conseguia se recordar do sonhara, mas certamente não foi agradável.

A garota se apressou para tomar banho, e se trocar. Queria ver como estava Sirius, e se o irmão passara bem a noite.

Ela saiu do seu quarto sem fazer barulho, imaginando que James ainda dormia. Não queria pensar em James, e em nada relacionado ao irmão adotivo. Queria se focar em Sirius, que precisava de sua ajuda e atenção. Ela chegou ao quarto do irmão, bateu de leve na porta, e não obteve resposta.

Lily insistiu uma vez, e então tentou a maçaneta. A porta estava destrancada. Então ela falou baixo, abrindo a porta.

- Sirius... está dormindo?

Mas não obteve resposta. E, quando viu a cama do irmão, ela se assustou: ele não estava ali, e a cama estava feita.

Lily imediatamente achou que Sirius escapara durante a noite, indo para algum bar decadente beber até cair. E a preocupação tomou conta da garota.

Ela não sabia o que fazer. Pensou em acordar James, mas... essa opção não era boa. Ela queria evitar a presença de James. Ainda sentia as pernas fraquejando quando estava perto dele. Ainda sentia a mão quente e persistente dele em sua pele. E isso não a ajudaria em nada.

Pensou na única saída que poderia: iria na casa de Ellie, pedir ajuda à amiga. Elas poderiam procurar Sirius pelos bares, ou qualquer outro lugar de Londres onde Sirius poderia ter se enfiado.

Pensar na busca por Sirius a fez recordar o dia em que ela e James procuraram o irmão, quando ele na verdade estava indo para Birmingham. Ela se lembrou de como James pareceu preocupado, e como ele sempre estava de olho em Sirius, por mais que ela não soubesse desse fato antes.

E em como ela ficou admirada com James naquele dia.

Lily afastou aqueles pensamentos de sua cabeça. Precisava decidir o que fazer.

Ellie era a melhor saída. Então ela começou a descer as escadas de casa, torcendo para que Ellie já estivesse acordada, quando viu a porta de casa abrindo.

Sirius estava entrando, tranquilamente.

Lily arregalou os olhos.

- Sirius! Onde você estava? Eu... acordei e não te achei em casa!

Mas Sirius calmamente trancou a porta, e foi se encaminhando para a cozinha. Sua resposta saiu num tom normal, sem nenhum sinal de estar alcoolizado.

- Calma, Lily. Fui só comprar pão.

Lily olhou para a sacola na mão do rapaz. Sim, ele trazia o pão para o café da manhã. Lily inspirou, aliviada.

- Eu achei... que você...

- Estivesse pela rua bebendo até cair. – ele completou.

Lily confirmou com a cabeça. E foi até o irmão, e o abraçou.

Sirius riu, e deu tapinhas nas costas de Lily, acalmando-a.

- Está tudo bem, Lily. Não precisa se preocupar tanto assim comigo. Eu estou bem.

Mas Lily não largou o irmão, e falou.

- Eu... estava tão preocupada!

Sirius se afastou um pouco dela, e falou.

- Não precisa ficar assim. Eu... vou ficar legal.

Lily sorriu para o irmão, e confirmou.

- Tenho certeza que sim.

Sirius então foi se encaminhando para a cozinha, e falou.

- Vamos tomar café então? Estou com fome.


A atividade daquele dia foi decidida por Ellie. A garota estava num humor radiante quando chegou à casa dos Potter.

- Vamos no roller disco. – ela decretou.

Sirius concordou na mesma hora, e como ele era o grande foco dos jovens naquela semana, Lily se viu novamente dentro do carro, ao lado de James. E novamente com Emmy e Remus no banco de trás.

Lily não gostava muito da ideia, mas aceitou ir para agradar o irmão. Ela não patinava há muitos anos, e achava que nem se lembraria de como fazer os patins se moverem. James também não parecia muito satisfeito, mas concordou em tentar, por Sirius.

Lily então teve a ideia de convidar o máximo de pessoas possível, para não ter muitas chances de ficar novamente sozinha com James. Só que seu plano não deu muito certo, uma vez que só Alice e Frank estavam disponíveis, e eles pareciam muito interessados em namorar, e não em ficar batendo papo com ela.

Então, frustrada, Lily amarrava os patins que tinha alugado nos pés, observando as luzes que piscavam sem parar na pista de patinação. Ela viu Ellie deslizar com a habilidade de uma patinadora profissional, acompanhada de Sirius, que também era muito bom. A dupla ria e se divertia, e Lily ficou imaginando porque eles dois agora sempre andavam risonhos, e qualquer coisa era motivo para se divertirem. Lily então se lembrou do que Ellie uma vez disse, de como James, Sirius e Remus a ajudaram quando ela perdeu os pais. Lily então suspirou, e imaginou que a amiga estava tentando retribuir o carinho que recebeu naquela época. E Sirius, que recebia atenção da amiga incondicionalmente, devia estar feliz com o apoio dela.

Logicamente ela nem imaginava que, na verdade, os dois passaram a noite anterior enroscados um no outro, entregues à paixão. Ninguém poderia imaginar isso.

Ninguém, além de Emmeline.

Ela observava o casal deslizando pela pista, dançando, e cantando, felizes.

Emmeline olhava a cena, abismada. Como ninguém percebeu ainda? - ela se questionava. Para ela, estava mais claro que água. Os olhares que Sirius e Ellie trocavam, a forma como ele observava a garota. O tempo inteiro era como se eles estivessem envolvidos numa aura de romantismo e sensualidade que era quase palpável. Mas nenhum dos amigos, à volta dos dois, parecia perceber o óbvio.

Ela tentou desviar o olhar, mas era impossível. Sirius pegou Ellie pela cintura, rodou a garota, e depois a empurrou, segurando apenas a mão dela. Ellie ria, e cantava junto com a música.

You can dance
You can jive
Having the time of your life
See that girl
Watch that scene
Dig in the Dancing Queen

Emmy então olhou para o lado. Remus estava ao seu lado. Ele não era um grande patinador, mas se equilibrava bem. Emmeline, com sua postura perfeita de bailarina, não teve problemas em se equilibrar tranquilamente sobre os patins.

Ela não queria que Remus notasse que ela observava Ellie com Sirius. Não queria que ele sofresse ao notar a ex com o melhor amigo. Porque, pelo menos para ela, era óbvio o envolvimento dos dois. Só faltavam se agarrar no meio da pista...

Mas Remus não prestava atenção ao show de Sirius e Ellie. Ele só tinha olhos para Emmeline.

- Você é boa nisso. – ele falou, se aproximando dela.

Ela sacudiu os ombros, desviando o olhar de Ellie.

- Não é difícil. – respondeu.

Mas o rapaz sorriu, e corrigiu.

- Não é difícil pra você.

Emmy então se esqueceu de Sirius e Ellie. Esqueceu-se de como deveria agir de maneira discreta, e deslizou até ele. Eles quase deram um encontrão, mas Remus segurou-a pelo braço.

O toque de pele com pele também o fez esquecer como deveria se portar. E o fez falar.

- Eu quero você.

Emmy sentiu todas as terminações nervosas de seu corpo responderem ao tom de voz que ele usou. E ele continuou falando, um pouco mais próximo, e num tom ainda mais intenso.

- Eu não consigo mais enganar a mim mesmo, Emmy. Não está dando.

A garota entre abriu os lábios. Ela também o queria. Muito desesperadamente. Mas, perdida entre o que devia fazer, e o que queria, ela se afastou um pouco.

- Remus... acho que devemos deixar essa conversa para depois...

Mas o rapaz não queria, ele queria apenas tê-la novamente, sentir sua pele, sua boca...

- Emmy... – ele falou, e sua voz soou baixa e rouca.

A garota desviou o olhar para não fazer uma besteira. E pediu.

- Por favor...

Remus não queria deixar com que ela se afastasse. Então Emmeline não viu alternativa a não ser deixa-lo ali, sozinho. Era o melhor a se fazer. Não queria cair em tentação no meio da pista de patinação.

You are the Dancing Queen
Young and sweet, only seventeen
Dancing Queen
Feel the beat from the tambourine Oh Yeah!

Lily havia terminado de brigar com o cadarço de seus patins, e começou a deslizar em direção à pista de patinação. As luzes que piscavam sem parar não estavam contribuindo muito, e o ambiente um pouco escuro atrapalhava também. Fora o fato de ela estar morrendo de medo de tomar um tombo no meio dos patinadores.

Então, tentando de segurar nas barras laterais da pista, ela foi lentamente deslizando. Aos poucos foi criando mais confiança. Viu Sirius e Ellie passarem como flechas por ela, de mãos dadas, como um casal de patinadores artísticos. Lily os seguiu com os olhos por um instante, mas logo desviou sua atenção.

Resolveu arriscar soltar a mão da barra. Começou lentamente a deslizar sozinha. Tudo ia muito bem até ela dar de cara com um obstáculo inesperado.

James, que vinha de seu lado esquerdo, a alcançou em alta velocidade. E segurou em seu braço, como que para frear.

O resultado foi ela se desequilibrando, e quase caindo no chão. Ela só não desabou porque James a agarrou com firmeza, envolvendo os dois braços nela.

Lily quase morreu de susto. E, sem pensar, reagiu.

- James!

Mas o rapaz não se moveu, ficando apenas com os braços em torno dela. E lentamente eles foram perdendo velocidade. Até que ela se viu parada, imprensada contra a barra lateral da pista, e o corpo de James Potter.

Ele não moveu os braços, mantendo-a presa. E o rosto dele estava muito próximo ao dela.

Lily podia sentir seu coração batendo descontrolado. Mas se era pelo susto, ou pela proximidade de James, ela não conseguia saber.

Ela ergueu os olhos. Encontrou os olhos de James, castanhos daquele tom especial, que só ele possuía. Ele também a olhava de volta, e parecia hipnotizado pelos olhos de Lily.

Os dois ficaram ali, parados, por tanto tempo, que pareciam congelados no lugar. Lily sentiu os dedos de James se moverem milimetricamente, apertando o abraço. Ela nem sentiu seus lábios se entreabrirem. Não conseguia distinguir mais nada. A música, as pessoas em volta. Somente James ocupava sua mente naquele momento.

Ela ouviu a voz de James falando, muito baixo.

- Lily.

Ela poderia ter desmontado naquele momento. Só não desabou porque ele a mantinha firmemente em seus braços. Mas a sensação que ela tinha era que não se aguentaria em pé por muito mais tempo.

Mas Lily foi salva pelo destino. No caso, ele atendia pelo nome de Sirius Black, que vinha patinando na direção dos irmãos, acompanhado por Ellie.

- Lily! – ele falou. – Tá tudo bem? Você quase caiu...

No mesmo instante, James soltou o abraço em Lily, e se afastou. Algo nela quase protestou com a distância dele.

Ela viu Ellie deslizando e parando ao seu lado. E falando.

- Tudo ok, Lily?

Lily só teve forças para confirmar com a cabeça.

Mas a amiga não pareceu notar a loucura que tomava conta de Lily, porque ela simplesmente sorriu, e falou.

- Vem, vamos patinar juntas. O James só vai te derrubar, ele não sabe nada de patins.

Lily sentiu a mão da amiga puxando-a, e se deixou levar. Até porque não tinha forças para fazer mais nada além disso.

Ela só conseguiu virar de relance para trás, e ver Sirius conversando com James. E ver o olhar que ele lhe lançou.

Um olhar tão intenso quanto o do dia da piscina.


Naquela noite, Lily não conseguia dormir. Ela se trancou em seu quarto, assim como os dois irmãos, que anunciaram que iriam dormir logo que chegaram em casa.

Lily não sabia, mas Sirius logo arrumou um jeito de escapar sem ser notado, e fugir para a casa de Ellie. Os dois novamente passariam a noite juntos, trocando beijos e carícias, alheios ao dilema que consumia os únicos moradores a dormirem na casa dos Potter naquela noite.

Lily desistiu de rolar de um lado para o outro da cama. Não conseguia dormir, mas também não arriscaria sair do quarto. Tinha medo de dar de cara com James no corredor, e alguma loucura acontecer.

Então, desistindo, ligou o rádio em volume muito baixo, e buscou uma música para ouvir.

Quando achou uma que a agradou, deixou na estação. Ela se largou novamente na cama, mas a música que ouvia acabou. E outra começou em sequencia. Ela ouvia a voz de Elton John, suave, cantando.

What have I got to do to make you love me?
What have I got to do to make you care?
What do I do when lightning strikes me?
And I wake to find that you're not there

Lily deitou de lado, e enterrou a cabeça no travesseiro. O que ela estava pensando? Por que não conseguia deixar de pensar em James, um segundo sequer?

Ela recordou o acontecimento do dia, em que ele a abraçou, e não largou, na pista de patinação. Sentia o calou do corpo dele junto ao seu. Ouviu a voz rouca dele falando seu nome.

Lily sentia como se estivesse enlouquecendo.

What have I got to do to make you want me?
What have I got to do to be heard?
What do I say when it's all over?
And sorry seems to be the hardest word

O que Lily não sabia era que no quarto dele, James estava vivendo um dilema bem parecido com o dela.

O rapaz, coincidentemente, também ouvia a música que tocava na radio. Não tinha conseguido dormir. Tinha tentado ler, tocar em seu violão, compor alguma música, mas nada funcionava. Então ligou o rádio para tentar se distrair.

O abraço em Lily ainda estava em sua mente. O corpo dela comprimido contra o seu. Aquela pele de veludo tocando a sua.

James estava enlouquecendo.

E quanto mais louco ele se sentia, mais desejava Lily.

Mais queria o corpo dela contra o seu.

Mais queria a boca dela na sua.

Mais queria tê-la só pra si.

It's sad, so sad,
It's a sad, sad situation,
And it's getting more and more absurd,
It's sad, so sad,
Why can't we talk it over?
Oh it seems to me
That sorry seems to be the hardest word,
What have I got to do to make you want me?
What have I got to do to be heard?
What do I say when it's all over?
And sorry seems to be the hardest word

James precisava dar um jeito naquela situação. Não podia ficar naquela loucura, naquele desejo absurdo. Não podia ficar cobiçando a própria irmã daquela forma.

Mas era inútil qualquer esforço. Porque o que James mais desejava, naquele momento, era Lily.

It's sad, so sad,
It's a sad situation,
And it's getting more and more absurd,
It's sad, so sad,
Why can't we talk it over?
Oh it seems to me
That sorry seems to be the hardest word

Então ele resolveu que iria se afastar o máximo possível dela. Não poderia mais ficar cometendo esses deslizes. Seria um risco.

James precisava se conformar com a situação que vivia. Lily era sua irmã. Mesmo que não partilhassem o mesmo sangue, ela era sua irmã em todos os outros aspectos sociais.

E ele duvidava que qualquer pessoa aprovasse um relacionamento amoroso entre eles. Seria... muito estranho. Viviam na mesma casa. Sob o mesmo teto. Como conseguiriam conciliar uma vida a dois, sendo que todo o resto do mundo os tratava como irmãos?

James não suportava mais isso.

Queria que houvesse uma formula mágica, uma solução que os tirasse daquele impasse.

Mas não havia. A única coisa que havia era ele e sua loucura, que o fez agarrar a própria irmã dentro da piscina.

What have I got to do to make you love me?
What have I got to do to be heard?
What do I do when lightning strikes me?
What have I got to do?
What have I got to do?
When sorry seems to be the hardest word?

James então virou-se de lado em sua cama. Fechou os olhos. Tentando inutilmente não pensar em Lily, que estava a poucos metros de distância. Deitada em sua cama. Vestindo uma camisola fina, e que ele desejava ardentemente retirar com as próprias mãos.

O rapaz suspirou.

Não havia nada que ele pudesse fazer.


O dia seguinte começou agitado para Ellie. Ela acordou cedo, se despediu de Sirius com muitos beijos, e logo percebeu uma agitação incomum em sua casa. Descendo as escadas, em direção à sala de jantar, ela viu pessoas estranhas transitando de um lado para o outro, carregando caixas, equipamentos e outras coisas estranhas. A garota franziu a testa, e encontrou a avó sentada na enorme mesa de jantar, bebericando um chá, e comendo torradas.

Com a testa franzida, ela falou.

- Bom dia, vó. O que está acontecendo por aqui?

A Sra. Dumbledore olhou para a neta, e riu.

- Querida. Você esqueceu?

Ellie fez uma expressão de dúvida, e ouviu a resposta de sua avó. Ela ainda sorria quando falou.

- Ellie, é seu aniversário no fim de semana! – ela levou a mão, apoiando-a no rosto – Realmente, está cada vez mais igual a seu pai. Ele também viva esquecendo esse tipo de coisa.

Ellie abriu a boca, espantada. Estava tão focada nos acontecimentos das ultimas semana que esqueceu completamente de seu aniversário. A garota ria, e sacudiu os ombros.

Ela viu a avó levantar da cadeira energicamente, e caminhar até a neta. Depositou um beijo suave no topo da cabeça dela, e falou.

- Depois que terminar seu café da manhã, venha até o escritório. Temos que conversar com a Srta. Morgan sobre os preparativos. Ela está com uma enorme lista de tarefas a serem cumpridas!

Ellie concordou com a cabeça, e a avó se afastou, indo em direção ao escritório.

Ellie terminou seu café da manhã, e foi ao encontro da avó e da Srta. Morgan. Mas nada a tinha preparado para aquele encontro.

Porque a Srta. Morgan era um furacão em forma de pessoa.

Ela havia sido contratada para organizar a festa de aniversário de Ellie. Ela ficou surpresa ao observar a mulher de meia idade, de cabelos pretos bem presos em um coque elegante, e que tinha mais vigor que muitas pessoas com a metade da idade dela.

A mulher distribuía ordens sem parar, andava com uma prancheta na mão, observando uma lista de afazeres imensa. Ela questionava Ellie a cada cinco minutos, e a garota já estava ficando tonta com tanta informação.

- Vamos, vamos, levem estas caixas para lá. – a mulher ordenava – Rapaz! Não é aí não, para o outro lado!

Ellie ia seguindo a mulher, tentando acompanhar o ritmo frenético dela.

- Certo. – ela falou, se voltando para Ellie. – Amanhã decidiremos as flores e o resto da decoração.

Ellie suspirou, aliviada. Já estava há algumas horas com a Srta. Morgan, e queria desesperadamente fugir dali. Queria ir à casa dos Potter. Queria poder ficar com Sirius.

- Então estou livre? – ela perguntou, esperançosa.

A mulher a olhou como se ela tivesse cometido uma heresia.

- Livre? Claro que não! Só ficará livre quando esta festa terminar, no fim de semana!

Ellie abriu a boca para argumentar, mas ouviu a campainha tocar. Viu nisso uma chance de escapar das ordens da Srta. Morgan. E voou até a porta.

Ao girar a maçaneta, ela se espantou com a pessoa que encontrou ali.

- Remus?

O rapaz estava com uma expressão de dúvida. E falou.

- Oi Ellie.

Ellie ia convidá-lo para entrar, mas a voz de da Srta. Morgan a interrompeu.

- Esse é Remus Lupin? Ótimo, entre logo, rapaz! Não temos tempo a perder.

Os dois se entreolharam, mas obedeceram a mulher. Ela os levou até o tablado que estava sendo montado no jardim da casa de Ellie, e falou.

- Você é o namorado, não é? Então vamos começar logo com esse ensaio.

Ellie imediatamente rebateu, tentando tanto explicar como entender o que acontecia.

- Na verdade nós não est...

Mas a Srta. Morgan a interrompeu.

- Não importa, não temos tempo para besteiras! Vou colocar a música e vão logo começar isso!

Remus levantou as mãos, fazendo uma expressão de quem não entendia, mas a mulher colocou uma fita cassete para tocar num aparelho de som portátil, e falou.

- Vocês vão dançar a valsa de abertura. Para que a orquestra comece a tocar.

Ellie franziu a testa, e falou.

- Valsa? Orquestra?

Mas a Srta. Morgan a ignorou, e colocou a musica para tocar.

- Vamos, comecem! Preciso ver se sabem dançar valsa corretamente.

O casal não teve alternativa nenhuma a não ser se aproximar e começar a dançar.

Ellie estava acostumada a dançar valsa, uma vez que sempre participava dos muitos eventos formais que sua avó organizava. Mas Remus não tinha muita intimidade com a dança, já que sua habilidade era em tocar piano. Mas, sem saída, o casal só podia dançar, e ouvir as instruções da Srta. Morgan.

- Um, dois, três, um, dois, três... Levante a cabeça, Sr. Lupin! – ela comandava.

Ellie olhou para o ex com uma expressão inquisitória, e ele falou.

- Eu... recebi um telefonema. Falando que era pra vira aqui urgentemente.

Ellie apenas sorriu de lado, e falou.

- É... acho que minha avó deu seu telefone pra ela.

Os dois continuaram a dança, tentando seguir as instruções da mulher. Ela tinha arranjado uma vareta, e ficava marcando o ritmo da valsa para que eles mantivessem a dança perfeita.

Remus olhou para Ellie. A menina estava com o pescoço muito ereto, tentando manter a postura o mais reta possível.

- Quem é essa lunática, mesmo? – Remus perguntou, com a testa levemente franzida de surpresa.

Ellie não agüentou, e riu. Ela olhou para o ex, e respondeu.

- A organizadora da festa. Minha avó contratou os serviços dela, mas acho que ela está confundindo um aniversário com um baile de debutantes...

Desta vez quem riu foi Remus. Os dois se olharam, e gargalharam juntos.

Os dois dançavam sem parar, sob a constante observação da Srta. Morgan. Ela sempre dava ordens, e corrigia um posicionamento, ou passo errado de um dos dois. E não dava descanso.

Então, a única coisa que eles poderiam fazer, era tentar se divertir naquela situação bizarra.

Remus contava piadas baixinho para Ellie, e ela fazia comentários divertidos a respeito da confusão que estava a casa dela ou da loucura da Srta. Morgan. E os dois riam, para logo em seguida receber uma pequena bronca da organizadora do casamento.

Mas isso não incomodava a dupla, que seguia rindo e se divertindo.

O que eles não tinham ideia era que estavam sendo observados. De longe, um arrasado Sirius Black olhava a interação divertida da dupla. Escondido pelos arbustos, ele não conseguia tirar os olhos do casal que rodopiava, e ria.


Sirius começou a sentir falta de Ellie logo no inicio da manhã. Ela estava indo todos os dias cedo para a casa dos Potter, e passava o tempo inteiro com eles. Mas, quando ela não apareceu cedo, o rapaz ficou curioso e sem saber o motivo da ausência.

Quando deu o horário de almoço, ele já estava ficando nervoso.

James e Lily estavam com uma postura estranha, desanimada. Eles não queriam sair de casa, e acabaram cada um trancado em seu respectivo quarto, após comerem todos juntos. Lily ficou um pouco com Sirius, mas logo voltou ao quarto, e ficou por lá mesmo durante a tarde.

Sirius então decidiu que não aguentava mais a ausência da vizinha. E foi até a casa dela.

Ele tinha reparado (quando estava espiando pela janela) que a casa de Ellie estava mais movimentada que o normal. Ele assumir que devia ser algum evento que a Sra. Dumbledore estava organizando naquele dia. Afinal, era pouco provável que já estivessem iniciando os preparativos do aniversário de Ellie, que aconteceria no fim de semana. A garota não comentou nada sobre uma grande festa, então ele assumiu que era algum outro evento que seria realizado naquele dia.

Ele entrou com facilidade na casa. Transitou pela lateral, e chegou ao jardim. Ouvia uma valsa tocando, e estranhou aquilo. Por que tocariam valsa no meio da tarde, durante a organização de um evento?

Curioso, ele foi observando o grande jardim dos Dumbledore. Um enorme tablado de madeira estava sendo montado sobre a grama verde. E, logo na parte que já estava montada, um casal rodopiava, dançando.

Remus e Ellie.

E não só isso, eles riam, felizes.

Pareciam realmente se divertir.

Sirius sentiu uma pontada no estômago. Ver Ellie nos braços de Remus o fez se sentir mal fisicamente.

Depois de duas noites dormindo na casa da garota, beijando-a até adormecerem, ele jamais podia imaginar ver aquilo.

À distância, Sirius observava a cena, escondido por arbustos e várias cadeiras que seriam arrumadas para a festa. Mas ele não conseguia tirar os olhos do casal que dançava.

Aquilo doía como brasa incandescente em seu peito.

Ellie estava rindo. Feliz. Nos braços do ex-namorado.

Os dois pareciam um casal perfeito. Dançando em sincronia. Um casal que se conhecia profundamente, que sabia exatamente o que o outro iria fazer. Pelo menos era assim que ele via.

Eles pareciam genuinamente felizes. Quase como na sua festa de aniversário, no ano anterior.

Quando ele viu Remus beijando a garota que ele amava. Bem na sua frente. Em sua festa.

Aquele foi o pior dia de sua vida. Até aquele momento.

Agora, Sirius tinha certeza que estava vivendo o pior momento de sua existência.

Ellie o tinha beijado. Ela tinha dormido ao seu lado, e tinha dito que ficaria sempre ao lado dele.

Mas agora ela dançava feliz com Remus.

Sirius teve então uma revelação. Algo que se apossou de sua cabeça, e seria impossível de retirar.

Eles iriam reatar o namoro. Sirius tinha certeza disso.

Ele era apenas um momento de dúvida da garota. Um momento de fraqueza.

E agora ela iria voltar para Remus. Quem ela realmente amava.

Era ainda pior do que antes. Agora ele tinha revelado o que sentia. Tinha beijado os lábios dela. Tocado sua pele. Tinha dito que a amava.

E, mesmo assim, ela ia acabar voltando para Remus.

Sirius não conseguia parar de pensar novamente em Romeu e Julieta.

Sim, agora ele entendia que ele era o Conde Páris. E Páris nunca teve realmente Julieta. Ele até achou que a tinha, mas ela sempre pertenceu a Romeu. E Romeu e Julieta, mesmo após um breve momento de separação, permaneceram juntos até o fim.

E era isso que aconteceria com Ellie e Remus. Eles eram os protagonistas da historia. E ele, Sirius, era só o coadjuvante que um dia sonhou ser mais do que era. Sonhou poder ter a garota que amava, mas na verdade ela sempre foi de seu melhor amigo.


O dia seguinte chegou veloz, e extremamente melancólico para os moradores da casa dos Potter. Lily, James e Sirius praticamente se arrastavam pela casa, sem ânimo nenhum para nada.

Sirius estava muito triste por ter visto Remus junto com Ellie. Na sua cabeça, ele criava diversas fantasias em que a garota o dispensava, e voltava para o ex-namorado. Ele imaginava as palavras dela: eu percebi que amo o Remus, e sempre amarei...

Sirius não conseguia evitar. Tinha certeza que, mais cedo ou mais tarde, Ellie entraria pela porta de sua casa, o chamaria para uma conversa, e diria que sempre seria sua amiga, que ele sempre poderia contar com ela, mas que o homem que ela amava, que ela queria para a vida dela, era Remus.

Ele tentava disfarçar a tristeza para James e Lily, mas era muito difícil. Dizia aos irmãos que estava cansado, que queria colocar o sono em dia. Ou que só gostaria de ficar em casa, sem fazer nada.

Para sua surpresa, James e Lily não o pressionaram para sair, ou fazer qualquer outra coisa. Ele percebeu que os irmãos estavam desanimados, mas achava que era consequência de seu próprio humor depressivo. Ele não tinha a menor ideia do que estava acontecendo na realidade.

Porque tanto James quanto Lily tinham seus próprios problemas. Ambos estavam relutando em aceitar que não conseguiam lidar com os sentimentos que nutriam um pelo outro. Então fingiam que nada estava acontecendo, por mais que fosse impossível negar que ambos estavam mais tristes e calados que o normal.

Já Remus e Ellie não tinham mais tempo para nada. A Srta. Morgan tomava praticamente todo o tempo disponível do casal, e mal restava qualquer possibilidade de outra atividade. Para Ellie era ainda pior, porque ela tinha que atender outras demandas da organização da festa de seu aniversário. Nesses momentos, Remus conseguia escapar, mas precisava continuar os ensaios para sua apresentação de piano, então tempo livre era o que ele menos tinha.

Ellie ficou surpresa quando Sirius não apareceu em seu quarto na noite anterior, mas pensou que ele poderia ter chegado mais tarde, e visto ela dormindo, exausta. A garota simplesmente desabou na cama, e dormiu em poucos minutos. Ela estava muito cansada, e pensou na possibilidade do rapaz ter visto a cena e ido embora, para que ela dormisse tranquila.

Ela queria ir à casa dos Potter, falar que estava bastante ocupada, mas a Srta. Morgan não deixava ela livre nem um minuto. Mas, como o final de semana estava muito próximo, Ellie decidiu fazer tudo o mais rápido possível, para poder se livrar logo da mulher louca que a seguia para todos os lados.

Emmeline estava aproveitando o dia para ensaiar, o que vinha negligenciando por muitos dias. Ela percebeu que, se ficasse em casa, acabaria sendo arrastada pelos Potter para mais um passeio, e para mais um dia de se torturar, estando ao lado de Remus, e sem saber o que fazer sobre a situação. Ela queria muito ficar com ele, mas as dúvidas sempre aumentavam em sua cabeça. Como conseguiriam ser um casal normal, se estavam envolvidos em um confuso arranjo amoroso, que envolvia a ex de Remus, Ellie, e também o melhor amigo do rapaz, Sirius. Remus não tinha ideia de que os dois estavam envolvidos, e Emmy não sabia se deveria, ou se queria contar. Aquilo tudo era muito confuso para ela. Então decidiu ir para o estúdio da sra. Clark, sabendo que lá poderia ter paz, e conseguiria se concentrar.

A ela conseguiu, durante muitas horas. A Sra. Clark a ajudou, e elas conseguiram estabelecer uma coreografia para Emmy. A antiga bailaria queria que ela se apresentasse junto com o resto das alunas do estúdio, e Emmy estava muito honrada com a ideia de participar de um evento tão especial. Ela nem lembrou que Remus iria se apresentar também, sendo o pianista principal do evento. A garota preferiu se dedicar aos ensaios, o que deixava sua cabeça mais vazia de tantas dúvidas.

Então, cansada mas orgulhosa de seu rendimento, ela voltou para casa no inicio da noite. Vinha caminhando calmamente pela rua de sua nova casa, até que algo chamou sua atenção. Ela parou, muito quieta, e observou.

Ela viu Remus e Ellie, em frente a casa da garota.

Eles conversavam animadamente, riam, e pareciam se divertir.

Emmy permaneceu parada. Não conseguia ouvir o que eles falavam, mas certamente era algo muito interessante, uma vez que nenhum dos dois percebeu a presença dela na rua.

Ela ficou olhando à distância. A conversa durou algum tempo, e então ela viu algo que a fez gelar.

Ellie enlaçou o rapaz com os braços, abraçando-o. E Remus retribuiu o abraço. Eles ficaram algum tempo assim, e Emmy desviou o olhar.

Não queria ver o desenrolar daquela cena.

Não queria ver se Remus iria beijar Ellie.

Não queria nada daquilo.

Ela abaixou a cabeça, e foi direto até sua casa. Com o coração batendo apressadamente.

Sem conseguir resistir, ela deu uma ultima olhada em direção ao casal. Pelo menos eles não estavam se beijando naquele momento. Tinham voltado a conversar, e Remus parecia estar se afastando, em direção a casa dele.

Emmeline rapidamente fechou a porta de casa, sem olhar novamente para fora.

Ela subiu as escadas velozmente. Não queria ter que lidar com sua mãe, não após ter visto Ellie e Remus juntos. Queria poder esquecer-se de tudo isso. Esquecer que estava cada vez mais envolvida por Remus. Esquecer que tinha visto Ellie e Sirius se beijando. E, principalmente, esquecer que tinha dormido com Remus Lupin algumas noites atrás.

Mas era impossível. Sua cabeça freneticamente repassava todos os detalhes dessa trama confusa que tinha virado sua vida.

E, o pior de tudo, o que ela mais lembrava era de Remus, e do calor da pele dele na sua.


O fim de semana logo chegou. E com ele, a festa de aniversário de Ellie.

Lily tinha entrado em isolamento total naqueles dias. Saiu de casa apenas para comprar o presente para a amiga, e um vestido novo para usar na festa. Ela não esperava que a festa fosse tão sofisticada que exigisse um vestido elegante, mas Ellie ligou para a amiga e falou que a avó planejou um evento muito luxuoso, e que a organizadora de festas que ela contratou era louca, e transformou o aniversário em um grande acontecimento para o calendário social da cidade. Ela avisou aos irmãos a novidade, e ambos ficaram surpresos. Ellie geralmente não era adepta a grandes eventos, e normalmente era arrastada contra vontade pela avó para ocasiões formais. Mas os Dumbledore eram uma família que frequentava a alta sociedade, então fazia sentido que comemorassem o aniversário de 17 anos da neta com uma grande festa. Lily avisou aos dois para conferirem se seus smokings estavam em ordem, já que o traje da festa era formal.

James pareceu um pouco mais animado com a ideia de ir a uma festa. Já Sirius manteve o mesmo ar de desânimo dos últimos dias.

Os três irmãos praticamente não viram seus vizinhos até o dia da festa. Remus passou os dias treinando a valsa com Ellie, ou ensaiando no piano, em casa. Emmy passou todo o tempo disponível no estúdio de dança, então não viu ninguém. E Ellie não tinha tempo para mais nada que não fosse a organização da festa de aniversário.

Então, no sábado à noite, todos se reuniram pela primeira vez, desde o dia da roller disco. Lily se arrumou elegantemente para a festa, com os cabelos presos num coque simples, mas bonito, e colocou seu vestido nude rosado, que complementava muito bem sua pele clara. Calçou uma elegante sandália de salto alto, e desceu as escadas à espera dos irmãos, para irem à festa.

Sirius já estava pronto, e como sempre parecia lindo sem qualquer tipo de esforço. Ele estava jogado no sofá da sala, e sua expressão era de tédio.

Lily se aproximou, e sentou ao seu lado.

- Sirius... está tudo bem com você?

Sirius só passou a mão pelo cabelo, e suspirou. Era a milésima vez que Lily perguntava como ele estava naquela semana. Mas, para não irritar a irmã, ele apenas falou.

- Sim.

Mas Lily via que ele não estava bem. Parecia estar deprimido. Ela queria fazer algo, queria ajudar, mas ela mesma se encontrava num estado de desânimo deplorável. Aliás, todos na casa dos Potter se encontravam desta forma.

Mas Lily queria ser otimista, e então falou.

- Vamos lá, ânimo! A festa vai ser legal.

Sirius apenas sacudiu a cabeça, e nada falou. Ela ia continuar a conversa quando viu que James descia as escadas. Ele logo apareceu na sala, e estava tão lindo que Lily inspirou mais fundo quando o viu chegar.

James estava muito elegante de smoking, e seus cabelos que viviam bagunçados agora estavam bem arrumados. E ele sorria de lado, como que soubesse como estava bonito.

Lily deu um pulo do sofá, sem conseguir ficar encarando tão diretamente o rapaz. E falou, imediatamente.

- Vamos?

Sirius também levantou do sofá, e os irmãos foram em direção à casa dos Dumbledore. Sem qualquer ideia de que aquela noite mudaria completamente a vida dos três.


A festa de Ellie realmente era o reflexo total dos vários dias de trabalho duro e esforço da parte de todos que participaram de sua organização.

O enorme jardim da parte de trás da casa de Ellie estava totalmente tomado por um tablado, com as mesas e cadeiras para os convidados ao fundo, e uma orquestra elegante tocando música para os convidados. Garçons passavam de um lado para o outro, servindo os convidados com muita champagne e refinadas porções de comida. Um bolo de aniversário de vários andares encontrava-se numa mesa grande, e muitas flores decoravam o ambiente de forma elegante e sofisticada.

Lily, assim que chegou, identificou vários amigos de Hogwarts já sentados em mesas. Ela correu os olhos pelo enorme jardim, e viu Ellie educadamente cumprimentado alguns dos convidados de seu avô, provavelmente membros do parlamento inglês ou algum nobre pomposo.

Assim que a viu, a amiga pediu licença, e veio direto em sua direção. Lily viu que Ellie estava linda, usando um vestido vermelho de tom fechado, com os cabelos semi presos, e equilibrava-se elegantemente sobre saltos muito altos.

Lily abraçou a amiga, lhe desejou feliz aniversário. Ellie sorriu, e logo foi tomada pelos braços de James, com sua tradicional tentativa de esmagar suas costelas quando a abraçava. Ele deu um beijo em seu rosto, e então ela ergueu os olhos, e o viu.

Sirius vinha andando, com as mãos no bolso da calça do smoking, seguindo atrás de James e Lily. Ela sentiu um aperto no coração. Ele estava de cabeça baixa, seus cabelos longos caiam sobre seus olhos.

Ele parecia triste. Ellie sentiu sua garganta travando.

Mas ele logo levantou a cabeça, e olhou para frente. E diretamente na direção da garota. Ela deixou de respirar por um pequeno instante. Sirius estava tão bonito, mas tão bonito, que ela poderia jurar que jamais vira homem tão belo em toda sua vida.

Quanto mais ele se aproximava, mais belo ele parecia. Era quase como se ele estivesse fazendo aquilo de propósito; estava maravilhoso assim só porque ela não poderia tê-lo naquele instante.

Ellie ouvia muito pouco do que Lily falava com ela, naquele momento. Sentiu a amiga colocando um presente bem embrulhado em suas mãos. Mas era impossível tirar os olhos de Sirius. Ela nem estava se preocupando em ser discreta. Por sorte James e Lily não perceberam, e logo entraram para a festa, deixando Ellie sozinha frente a frente com Sirius.

Ele a olhava com aqueles olhos azuis lindos, e aquele olhar era tão intenso que ela desviou por um instante. Ela não conseguia falar. Estava congelada. Ele parecia tão triste...

Então foi ele que quebrou o silêncio.

- Parabéns. – o tom dele era levemente melancólico.

Ellie teve que se controlar para não se jogar nos braços dele ali mesmo. Mas se conteve, e respondeu.

- Obrigada.

Sirius entreabriu os lábios, como se fosse falar algo, mas logo os cerrou, e ficou calado.

Ela fez um gesto para que ele entrasse também, e ele a seguiu, em direção às mesas. E não falou uma palavra sequer.


Emmy chegou na festa de Ellie acompanhada dos pais. A mãe dela estava visivelmente muito satisfeita em ter sido convidada pelos novos vizinhos. Ela sorria mais que o normal, e logo que foram recebidos pelos Dumbledore, fez questão de sentar-se num local que pudesse ver todas as pessoas importantes e influentes que estavam presentes no local.

Mas Emmeline nem se importava com qualquer pessoa famosa ou muito rica que estava no mesmo local que ela. A garota, de forma quase inconsciente, buscava com os olhos apenas uma pessoa: Remus Lupin.

Não foi difícil localizá-lo. O rapaz estava elegantemente vestido, e conversava com uma mulher com cara de brava, de cabelos pretos presos num coque austero, e que visivelmente dava ordens ao rapaz. Emmy estranhou o fato, mas preferiu não se aproximar. Até porque, não tinha ideia do que dizer para ele.

Ela sentou-se à mesa com os pais, e ignorou a postura de sua mãe, que queria de qualquer forma conhecer o maior numero de pessoas influentes naquela noite. Ela ficou observando Remus de longe, e logo viu que Ellie se juntou ao rapaz. A mulher de cabelos pretos também parecia dar ordens à Ellie, e Emmy viu a vizinha franzindo a testa. Ela só podia imaginar o que eles falavam.

Não muito tempo depois, a mulher de cabelos pretos interrompeu a orquestra, que tocava musicas ambiente, e pegou um microfone. Ela tinha uma voz potente, e anunciou.

- Boa noite a todos. Agora a aniversariante, Elladora Dumbledore, irá dançar uma valsa comemorativa de seus 17 anos. Para conduzi-la, apresento seu namorado, Remus Lupin.

Emmy sentiu uma pontada no estômago. Então seu temor tinha se tornado realidade. Remus e Ellie haviam retomado o namoro. A garota apenas abaixou a cabeça, triste.

Ela não pode ver que Ellie abriu a boca para protestar, mas foi gentilmente empurrada para a pista de dança junto com Remus, que parecia também um pouco estranho com o que a mulher falou. Mas a orquestra começou a tocar, e o casal iniciou a dança.

Lily observava a cena, e se surpreendeu com a declaração da mulher. Imediatamente ela se voltou para os irmãos, com quem dividia a mesa, e também para os colegas de Hogwarts Alice, Frank, Marlene e Anthony, namorado da loira. E falou, num tom espantado.

- Ellie e Remus reataram o namoro?

Todos tinham expressão de desconhecimento. Todos menos Sirius, que continuava encarando o casal que rodopiava na pista de dança.

- Eu estou sabendo agora. – falou Alice.

- E eu nem sabia que eles tinham terminado! – falou Marlene.

Lily então olhou para James e Sirius, e perguntou.

- Vocês sabiam?

James sacudiu os ombros, demonstrando que ignorava a informação. Sirius, sem parar de olhar para o casal, falou num tom seco.

- Não.

Mas a ruiva seguia admirada. Mal podia acreditar que sua melhor amiga tinha reatado o namoro, e nem tinha contado para ela. Então ela pensou em como tinha ficado isolada nos dias anteriores, remoendo seus próprios problemas. E a amiga estava ocupada organizando a festa. Lily então imaginou que a retomada do relacionamento tivesse ocorrido há pouco, e não deu tempo para a amiga falar nada.

Só que ela olhou para a pista de dança, e olhou as expressões de Ellie e Remus. Lily não sabia dizer o motivo, mas parecia que algo não se encaixava entre os dois. Era como se... eles nunca tivessem sido um do outro.

E a ideia de que eles eram um casal perfeito foi se desfazendo na mente de Lily.


Assim que iniciaram a valsa, Ellie estava extremamente desconfortável. A louca da Srta. Morgan tinha anunciado para todos na festa que ela e Remus eram namorados. Por mais que ela tivesse tentado dizer para a mulher que Remus era seu ex, a organizadora de festas parecia sequer escutar o que ela dizia. Como se a mulher não conseguisse ouvir nada que não fosse relacionado com flores, arranjos, bolo e fitas de seda.

Então ela olhou para Remus, enquanto dançavam. O rapaz também parecia um tanto constrangido. Isso a deixou mais tranquila. Isso queria dizer que ele também não tinha gostado da ideia de anunciar pra todos os presentes que eles estavam num relacionamento que não mais existia.

Então ela falou, com uma expressão de quem se desculpa.

- Remus... desculpe. Tentei falar mil vezes para ela que nós... terminamos o namoro.

Remus deu um sorriso rápido, e respondeu.

- Bem, ela é doida mesmo. Duvido que você consiga convencê-la de qualquer coisa que queira.

Ellie então sorriu novamente, e falou.

- Verdade.

O rapaz então olhou para ela nos olhos, e falou.

- Não se preocupe, não é sua culpa. Está tudo bem.

Ellie se sentiu mais tranquila com o que ele falou. Agora podia simplesmente falar com os amigos, e explicar o mal entendido. E, principalmente, explicar para Sirius...

- Não vejo a hora de essa festa acabar e me livrar da Srta. Morgan... – ela falou, risonha.

O rapaz riu também, e concordou com a cabeça.

- Nem me fale!

Sem aguentar, eles riram juntos. Ellie estava muito satisfeita por perceber que a amizade deles continuava intacta.

Ela sorria, mas só até o momento que deu uma volta, e viu o olhar de Sirius, olhando diretamente para ela, sentado numa das mesas próximas.


Remus e Ellie dançavam bem no centro da pista de dança. A maioria dos convidados os observava, mas certamente nenhum deles os encarava de forma tão intensa quanto Sirius e Emmy.

Sirius tentava, mas não conseguia desviar seu olhar do casal que deslizava suavemente ao som da música ambiente. Aquilo era uma tortura para ele, mas era impossível abandonar o local. Ele tinha que ver. Tinha que acompanhar cada momento, cada gesto. Era uma atitude masoquista, e ele tinha completa consciência do fato. Mesmo assim, não conseguia evitar.

- Você está linda hoje. – Remus falou, baixinho, perto do ouvido de Ellie, enquanto dançavam.

Ela sorriu brevemente, e agradeceu.

- Obrigada, Remy.

Sirius sentia seu corpo sendo consumido em chamas. Mas não arredou o pé. Continuou encarando o casal.

- Sabe, eu fico muito feliz de estar aqui com você. E que está tudo bem entre nós – Remus completou.

Ellie ficou desconcertada por um instante, mas logo sorriu. Aquele era Remus. Era uma das pessoas mais importantes de sua vida. Ela sempre quisera a presença dele ao seu lado. Mas ela não conseguia evitar sentir sua nuca pegar fogo, enquanto dançava com o ex-namorado.

Ela mesma sabia o motivo. Era o inevitável e constante olhar de Sirius, à suas costas.

- Eu fico feliz de você ter aceitado participar dessa loucura de valsa.

Remus ficou quieto por um instante. O fato de estar dançando aquela valsa, e ter sido anunciado como namorado de Ellie agora o fez pensar em outra questão.

Na verdade, naquele momento, ele percebeu que estava muito confuso. Sentia a irresistível atração por Emmeline, mas agora estava tomado pelo enorme carinho e afeição que sentia por Ellie. Eram sentimentos contraditórios, e ao mesmo tempo presentes. Ellie fazia parte de sua vida, era impossível imaginar seu dia a dia sem ela. Era ela que ficava ao seu lado, era ela que ele sempre tinha em mente quando precisava conversar. Ela foi sua companheira por muito tempo, e ele estava habituado à sua presença sempre vibrante e impetuosa. Mas, desde que eles tinham terminado o namoro, a ausência dela foi muito menos dolorosa do que ele imaginava. Sentia, sim, muita falta dela. Mas a falta parecia diferente, como se ele sentisse mais falta do companheirismo do que do romance. Os beijos e o namoro sempre foram bons entre os dois, mas não era nisso que ele pensava quando sentia falta da garota. Era nas conversas, na diversão que eles sempre partilhavam juntos. E Remus parecia estar compreendendo melhor naquele momento. Ellie estava ali, na sua frente, deslumbrante como sempre fora, e ele não estava pensando em beijá-la. Não tinha a mínima vontade de beijá-la. Na verdade, a única pessoa que ele queria beijar, naquele momento, era Emmeline.

Esse pensamento era tão bizarro que ele riu. Estar dançando com Ellie, e querer Emmeline. As coisas estavam ficando totalmente claras em sua mente.

Ellie franziu a testa, e falou.

- O que foi?

Remus fez uma pequena careta, e respondeu.

- Nada, só um pensamento que me ocorreu.

Ellie sorriu brevemente, e falou.

- Qual pensamento?

Remus inspirou, e respondeu.

- É que às vezes nós demoramos um pouco a enxergar o que está bem diante dos nossos olhos.

Ellie estremeceu levemente com esse comentário. A imagem de Sirius veio imediatamente em sua mente. Mas, pelo sorriso divertido de Remus, ela sabia que o ex nem desconfiava do que estava acontecendo entre ela e o melhor amigo.

Do outro lado da pista, Sirius se remoia de ciúmes. Ele via os sorrisos nos lábios de Remus e Ellie. Ele sempre vira o casal sorrindo, ou se beijando, mas agora era absurdamente pior. Ele estava alimentando esperanças desde que eles tinham se beijado. E essa esperança só aumentava toda vez que isso se repetia. E atingiu níveis estratosféricos quando ela se deitou na cama dele, e dormiu ao seu lado, abraçada a ele. Sirius sabia que ela estava tentando consolá-lo pela morte de sua mãe, mas o carinho que ele sentiu foi genuíno. Não era uma preocupação simples, de amiga. Ele viu que ela sofria junto com ele. Que ela estava ali, e nada a faria se afastar. Quando ela abriu seus braços, e o recebeu em seu colo, foi como se ela estivesse recebendo-o plenamente, sem restrições.

Aí, nos dois dias seguintes, ela o convidou para dormir com ela em sua casa. Sirius estava se permitindo sonhar, imaginar que ela queria ele tanto quanto ele queria ela.

Mas seus sonhos estavam desmoronando naquele momento.


Assim que a valsa acabou, a orquestra começou a tocar musicas mais animadas, o que levou várias pessoas à pista de dança. Ellie agradeceu a Remus pela valsa, e foi como uma flecha até a mesa que estavam seus amigos.

Lily levantou imediatamente, com um olhar questionador. Mas a pessoa que Ellie procurava era Sirius.

Só que o rapaz tinha desaparecido da mesa. E Lily imediatamente a bombardeou com perguntas.

- Ellie! Você e o Remus...

Mas Ellie cortou a amiga no mesmo instante, respondendo.

- Nós não voltamos. A organizadora é louca, ela não entendeu quando eu disse que eu e o Remus terminamos o namoro.

Lily então fez uma expressão de entendimento, e pareceu mais tranquila. Ellie abriu a boca para perguntar por Sirius, mas não conseguiu. Foi atacada com novas perguntas sobre seu relacionamento com Remus, desta vez por Alice e Marlene. Demorou alguns instantes para conseguir responder tudo que elas questionavam.

Quando finalmente elas pareceram satisfeitas, Ellie ia se desculpar e sair dali, em busca de Sirius, mas foi interrompida com a chegada de uma pessoa, às suas costas.

- Oi. Boa noite.

Ellie virou para trás, e viu a pessoa que a cumprimentava.

Kyle Wilshire.

A garota sorriu, e falou.

- Oi Kyle, seja bem vindo de volta a Londres!

O rapaz lhe felicitou pelo aniversário, e logo olhou para as outras pessoas que estavam na mesa. Seu olhar parou em Lily.

A ruiva conseguiu apenas entreabrir os lábios, chocada.


Lily não conseguiu reagir imediatamente. Ela viu Kyle se aproximando, depois de dizer oi para os colegas na mesa. Ellie imediatamente chegou em seu ouvido, e falou.

- Chamei o Kyle por sua causa. Agora vai lá falar com ele!

Com um empurrão delicado, Ellie a tirou do transe. E a fez ir de encontro a Kyle.

Ela não tinha ideia do que falar. Ele sorria, estava mais bronzeado que o normal, e lindo como sempre.

A única coisa que escapou de seus lábios foi:

- Oi Kyle.

O rapaz sorria para ela, e respondeu.

- Oi Lily. Senti saudades...

Lily sentiu um arrepio gelado. Sem pensar, ela viu James se levantando de sua cadeira, e lançando um olhar mortal para Kyle. Ela queria impedi-lo de se afastar, queria falar alguma coisa, mas não tinha ideia do que poderia dizer. Então Kyle a puxou para perto, e falou.

- Vamos dançar?

O belo rapaz a conduziu para a pista de dança, e Lily apenas se deixou levar. Ele pegou sua mão, e iniciaram a dança.

Mas Lily não conseguia nem respirar direito. Ela nervosamente buscava James com os olhos, sem se importar com mais nada.

Kyle, obviamente, notou o comportamento estranho da garota.

- Lily – ele falou – Está tudo bem?

Lily então voltou a encara-lo, e inspirou fundo.

- Sim, claro.

O rapaz sorriu para ela. Ele era ainda mais bonito quando sorria.

- Que bom.

Lily, sem saber o que falar, apenas perguntou.

- Como foi a viagem?

E Kyle, animado, começou um longo relato sobre suas aventuras na África. Lily estaria muito interessada no que ele falava, não fosse o fato de que ela não conseguia parar de pensar em James, e o que ele pensaria por ela estar dançando com Kyle Wilshire.


James Potter queria socar alguém. Ou alguma coisa.

O ódio consumia sua mente. Ele não conseguia pensar em mais nada além daquele imbecil doWilshire tocando as mãos de Lily, e segurando-a pela cintura, enquanto dançavam.

A raiva dele era tão visível que os garçons o evitavam, ao perceber a expressão assassina no rosto do rapaz.

James estava planejando em sua cabeça mil formas de se vingar de Wilshire. Mesmo sabendo que o rapaz não tinha culpa nenhuma no que estava acontecendo.

Na verdade, ele sabia de quem era a culpa.

Dela.

Lily.

Se ela não tivesse ficado de namorico com o loiro, nada disso estaria acontecendo.

Era culpa de Lily.

Lily que estava lá, toda feliz, dançando com Kyle.

James teve nova onda de raiva.

Desta vez, raiva de Lily.

Então, resolveu fazer a única coisa que lhe ocorreu naquele instante. Ele caminhou diretamente até um dos garçons, e falou, grosseiramente.

- Dá um copo aí.

O rapaz arregalou os olhos brevemente, mas entregou o copo de whiskey para James. James bebeu o conteúdo num gole só, e exigiu.

- Outro!


Assim que terminou a dança com Ellie, Remus se afastou, e buscou com os olhos Emmeline. Viu a garota sentada numa mesa, ao lado dos pais. Ele queria ir diretamente até ela, e falar que a organizadora do aniversário de Ellie era louca, e que ele não tinha reatado o namoro com a garota.

Mas sabia que iria causar um grande mal-estar para Emmy, já que a mãe dela não aprovava sua proximidade com a jovem, e sabia que ela iria pegar no pé da filha se ele se aproximasse.

Ele então ficou de longe, buscando uma forma de surpreender a garota quando ela se afastasse dos pais, para que pudesse explicar a situação para ela.

Ele decidiu então sentar-se junto com seus amigos de escola, uma vez que viu eles reunidos numa mesa próxima à pista.

Quando se aproximou, notou que Ellie tinha se afastado, Lily tinha ido dançar com Kyle Wilshire, Sirius não estava em nenhum local por perto, e James tinha levantado raivoso, e ido buscar bebidas para si mesmo.

Então sentou numa cadeira vaga, e logo começou a conversar com Frank e Alice. Os dois não falaram nada sobre o anúncio da organizadora, e concluiu que Ellie tinha explicado para eles o engano da Srta. Morgan.

Ele mantinha os olhos sempre atentos, em busca de uma oportunidade de falar com Emmy, e explicar que ele não tinha reatado o namoro com Ellie, e não tinha a menor intenção de fazer isso.


Lily seguia dançando com Kyle. O rapaz ficou um longo tempo contando diversas histórias interessantes sobre sua viagem, como foi bom poder ajudar as pessoas que precisavam, na vila africana que ele foi designado, e como esta experiência tinha sido fantástica e tinha aumentado seu desejo de se tornar um médico.

Tudo isso seria realmente muito interessante, se Lily não tivesse sua mente totalmente ocupada com James, e sua cara de ódio, observando-a de longe.

Kyle logo percebeu que ela estava incomodada, e perguntou, com seu tom de voz suave de sempre.

- Lily... tem algo te incomodando? Você está tão... aérea.

Lily deixou de olhar para James, que seguia bebendo um copo de whiskey atrás do outro, e olhou para o rapaz a sua frente.

- Não. – ela mentiu.

Mas Kyle era mais perceptivo que isso, e falou.

- Não está sendo muito convincente.

Então Lily suspirou, e falou.

- Ok. Mas... vamos sentar ali afastados... cansei de dançar.

Lily foi puxando Kyle pela mão, se afastando dos olhos de todos, em busca de um local mais discreto para que pudessem conversar.

Quando encontraram um banco, longe da confusão da festa, eles se sentaram, e Kyle iniciou a conversa.

- Eu fiz algo que te deixou chateada?

Lily levou uma das mãos ao rosto. Por que ela não podia estar apaixonada por Kyle? Seria tão mais fácil... Ele sempre era gentil e carinhoso. Ele sempre ajudava a todos. Mas não. Ela não estava apaixonada por Kyle. E isso era realmente triste.

- Claro que não, Kyle. Você... é sempre tão legal.

O rapaz olhou ansioso para Lily, e questionou.

- Então o que está acontecendo com você? É algum problema? Eu posso te ajudar se você quiser.

Novamente Kyle sendo o cara maravilhoso que era. Lily apenas suspirou, e nem percebeu o que falava.

- Você não pode me ajudar, Kyle. Ninguém pode...

Kyle passou a mão pelos cabelos loiros, e falou.

- É... um cara? Tipo, um cara que você gosta?

Lily nem percebeu o que falou antes da palavra escapar de seus lábios.

- Sim.

Ela levou a mão à boca no mesmo instante que terminou de falar. Kyle pareceu decepcionado, mas não deixou de ser gentil.

- Se puder ajudar de alguma forma... algum conselho.

Lily sentia seu estômago contrair. Mesmo assim ele era gentil e prestativo.

- Olha... é uma situação meio estranha. E... bem, acho que não vai dar em nada.

Kyle inspirou fundo, e falou.

- De uma forma ou de outra. Se precisar de alguma coisa, estou aqui.

Lily queria socar a si mesma. Queria poder beijar Kyle e esquecer-se de James. Queria controlar seus sentimentos bizarros e se apaixonar pelo belo loiro a sua frente.

Mas as coisas não funcionavam assim. Então ela apenas falou.

- Obrigada, Kyle.

O rapaz sacudiu a cabeça. Lily podia ver que ele ainda tinha alguma esperança, mas que jamais faria nada que ela não quisesse. Kyle seria um namorado perfeito.

Mas se Lily tinha aprendido algo naquele verão, era que não existiam namoros perfeitos.


Quando Lily voltou para a mesa de seus amigos, viu que Remus estava sentado no local que James ocupara antes. Ele conversava tranquilamente com Frank e Alice, mas volta e meia lançava olhares por cima do ombro esquerdo, e parecia buscar alguém com os olhos. Sirius não tinha desaparecido, e James também não se encontrava por perto.

A ruiva fez uma busca visual por todo o jardim. Viu Ellie sendo uma anfitriã dedicada, e dando atenção aos muitos convidados da festa. Continuou sua observação ampla, quando algo chamou sua atenção.

James estava encostado numa cadeira, um tanto longe dali. Levava um copo de whiskey à boca, e conversava com uma garota que Lily não conhecia.

Bem, conversar não descrevia direito o que estava acontecendo ali.

Porque a garota estava literalmente pendurada no ombro de James, e sorria, cheia de más intenções, para o rapaz.

James parecia dividido entre seu drink, e entre a garota que se debruçava toda pra sussurrar no seu ouvido.

Lily sentiu uma onda de ódio tomando conta de si mesma. Queria ir até James, e dar um soco na cara do imbecil de cabelo espetado.

Ela contraiu os dedos, raivosa. Nenhum de seus amigos percebeu, mas ela tinha certeza que estava praticamente soltando fumaça pelos ouvidos.

Então um garçom se aproximou, e ofereceu uma taça de champagne para ela. A garota aceitou, e voltou a encarar James.

O imbecil agora ria de algo que a garota oferecida falou. Isso fez Lily morder os lábios de raiva.

Então ela virou para o garçom, e falou.

- Rapaz, continua trazendo dessas, ok? – ela apontou para a taça de bebida em sua mão.

O rapaz concordou com a cabeça. Lily virou o conteúdo da taça quase em um gole só.

E a raiva que ela sentia só fazia aumentar.


Remus via as horas passando, mas nenhuma oportunidade de falar com Emmeline acontecia. Ele ficou a maior parte da festa sentado com seus amigos, conversando amenidades, Viu Lily tomando taça após taça de champagne (o que era extremamente incomum para a garota) e pedindo sempre mais uma a cada garçom que passava. Marlene até perguntou para Lily se estava tudo bem, mas a ruiva apenas disse que queria beber, e a amiga acabou se convencendo que não havia nada demais em ela querer tomar uns drinks a mais numa festa.

James apenas passou pela mesa uma vez, com uma garota desconhecida a tiracolo, e visivelmente bêbado. Ela falou algumas coisas estranhas, olhou para Lily com cara fechada, e desapareceu novamente com a garota ao seu lado. E desaparecido também estava Sirius, que nenhum dos amigos viu ao longo do tempo que passaram ali. Ellie ficou alguns minutos com eles no início da festa, mas com tantos convidados, ela não tinha como parar em algum lugar por muito tempo.

Após um longo tempo, Remus viu Emmy levantando da mesa de seus pais, falando algo com a mãe, e indo em direção à saída, parecendo querer ir embora da festa. A Sra. Vance apenas deu um beijo de leve na filha, e não a acompanhou com os olhos quando ela se afastou.

Era a chance que Remus precisava.

Ele levantou de sua cadeira, e foi acompanhando a loira em seu trajeto, seguindo-a com os olhos. Quando ela passou pela sala dos Dumbledore, e atingiu o jardim da frente da casa, o rapaz se apressou, e a alcançou.

- Emmy! – ele chamou.

A loira virou-se para ele, e seu rosto parecia triste.

Ele ficou de frente para ela, e falou, quase sem fôlego.

- Eu e a Ellie não voltamos.

A loira franziu a testa, e rebateu.

- Então por que aquela mulher...

Remus pegou as mãos da garota, e respondeu.

- Ela é louca. E se confundiu. Eu e a Ellie somos amigos, e foi por esse motivo que dancei com ela. Não foi nada demais.

Emmeline abaixou os olhos. Estava confusa. Queria acreditar em Remus, mas tudo aquilo era tão estranho, e tão visivelmente problemático que ela hesitou.

- Olha Remus... se você ainda gosta da Ellie...

Mas ele a interrompeu.

- Eu não gosto da Ellie. Apenas como amigo. Não estou apaixonado por ela. Estou...

Ele inspirou fundo, e ia falar. Ia dizer que estava se apaixonando por ela. Queria que ela soubesse. Queria que ela tivesse certeza que a noite que passaram juntos não era apenas uma noite de sexo, e sim era algo mais. Era muito mais significativo e importante que isso.

Mas Remus não pode completar sua frase. Porque ouviu seu nome sendo falado às suas costas.

- Remus.

John Lupin estava parado na porta da casa dos Dumbledore. E observava o filho com uma expressão dura.

O rapaz observou o pai. Um instante de silêncio se passou até que ele dissesse.

- Sim, pai?

John caminhou até o casal e falou, mantendo a postura séria.

- Não vai voltar para a festa de aniversário de sua namorada?

Remus inspirou profundamente. E falou.

- Pai, eu e a Ellie não est...

Mas John Lupin não deixou ele terminar.

- Filho, entendo que você queira uma aventura passageira com essa menina, mas você precisa se portar como um homem. Precisa ficar junto de sua namorada, ser o anfitrião da festa com ela.

Emmy imediatamente desviou o olhar. E sua garganta apertou.

Remus franziu a testa. Não gostou nem um pouco do tom de voz de seu pai, e menos ainda de suas palavras. Ele rebateu de forma agressiva.

- Não fale assim de Emmeline!

Mas John Lupin não estava brincando. E rebateu raivosamente.

- Rapaz! Pense em seu futuro! Não jogue tudo para o alto por conta de uma paixãozinha de adolescente!

Desta vez foi Emmeline que reagiu. Ela se desvencilhou de Remus, e falou, num sussurro.

- Eu vou... embora.

Remus ainda tentou ir atrás da garota, mas ela, muito magoada, apenas rebateu.

- Me deixa em paz, Remus!

O rapaz parou de segui-la, e o pai se aproximou. Sua voz estava mais calma e controlada quando ele disse.

- Meu filho, você precisa parar de sonhar e voltar à realidade. Precisa pensar em sua vida.

Mas Remus apenas voltou o rosto para seu pai, e falou, num tom controlado, mas muito sério.

- Eu não vou fazer o que você quer. Não vou ser essa pessoa.

John levantou a mão para segurar o ombro do filho, mas Remus se desvencilhou, e apenas olhou firme para o pai. Ele começou a atravessar a rua, em direção à sua casa. Não olhou para trás nem quando ouviu a voz de seu pai chamando.

- Remus!

Mas o rapaz não queria ouvir. Não queria fazer parte de nenhum dos planos escusos do pai. Só queria esquecer o que tinha acabado de acontecer.


Sirius ficou pelos cantos durante toda a festa. Achou um local mais ou menos escondido no jardim, e puxou uma cadeira para sentar. Queria curtir sua fossa sozinho, sem ninguém por perto. Um ou outro garçom conseguia encontra-lo, então ele acabou tomando duas taças de champagne. Mas nem para bebida ele tinha disposição. Só queria ficar sozinho e amargar a perda da garota que amava.

Depois de muito tempo, ele decidiu ir embora. Percebeu que muitas pessoas já tinham ido para casa. A mesa que ocupara antes, com seus colegas de escola, agora só tinha Lily, que virava uma taça de champagne sozinha. Mas ao longe ele viu James, que tinha uma garota ao lado, mas ele sequer prestava atenção ao que ela falava. Apenas encarava o chão, com um copo de whiskey na mão.

E então ele viu Ellie. Ela se despedia de alguns jovens. A garota mantinha a postura elegante mesmo depois de tanto tempo de festa. Continuava perfeita, como ele sempre a considerou. O vestido vermelho a deixava ainda mais linda. Os cabelos caindo pelas costas.

Sirius suspirou. Tão linda. Mas tão longe de ser sua.

Ele colocou a mão no bolso. Sentiu ali a caixinha de veludo. O presente que tinha comprado para ela. Ficou um instante pensando no que fazer, mas decidiu ser um adulto, e entregar o presente para ela. Ele podia não ter possibilidade de ficar com ela, mas não conseguiria ficar longe. Não mais.

Então decidiu tentar engolir a tristeza, e ir falar com ela.

Sirius se aproximou, e falou baixo, quando as pessoas com quem ela conversava se afastaram.

- Ellie.

Ela se virou. E viu o semblante triste dele.

Entre abriu os lábios, mas não conseguiu falar nada. Então o rapaz falou.

- Eu queria... falar com você. Tem algum lugar mais reservado que possamos conversar?

Ellie inspirou fundo, e falou.

- Claro. Vamos.

Ela os conduziu de volta para a casa, e até uma porta grande de madeira. Girou a maçaneta.

Sirius e Ellie entraram no escritório de Albus Dumbledore. O local estava vazio, previsivelmente, já que a festa estava concentrada no jardim da casa. Então ali eles poderiam conversar sem serem interrompidos. Ellie fechou a porta ao passar, e ficou parada no meio da sala, esperando que Sirius falasse algo. Mas ele ficou calado por um longo tempo, e a garota só sentia seu nervosismo aumentar.

Ele parecia arrasado. E Ellie não sabia o que fazer. Após o silêncio, ele finalmente disse.

- Eu só queria... te desejar um feliz aniversário.

Ellie franziu a testa muito de leve. Depois de tudo que tinha acontecido, de tudo que eles tinham passado, era apenas isso que ele queria falar? Mas ela apenas acenou a cabeça, concordando.

Sirius entendeu aquele gesto dela como uma tentativa de esquecer tudo. Tudo que eles haviam feito. Tudo que ele tinha falado, tudo que ela tinha respondido. A noite que ela dormiu abraçada a ele, quando sua mãe tinha morrido. Parecia que nada disso tinha acontecido. E que ela queria esquecer para poder voltar a sua vida normal. Sua vida com Remus.

A idéia de que tudo poderia simplesmente voltar ao que era o deixou devastado. Antes ele conseguia esconder. Antes ele podia fingir que não a suportava. Mas agora ela sabia de tudo. Ele tinha deixado tudo claro. E, de certa forma, ela o correspondeu. Ela devia sentir alguma coisa. Mas será que era suficiente? Para essa pergunta, Sirius não tinha uma resposta.

Ele inspirou profundamente. Não podia simplesmente esquecê-la. Não conseguiria. A única coisa que ele queria, em sua vida, era que ela o correspondesse. Mas, se isso não fosse possível, ele pelo menos teria que ser capaz de falar toda a verdade para ela. Dizer exatamente o que sentia.

Então ele enfiou a mão no bolso, e retirou de lá uma pequena caixinha preta. E falou, numa voz baixa.

- Seu presente.

Ellie queria dizer alguma coisa. Queria achar algo que fosse adequado. Algo que fosse correto. Queria poder simplesmente falar que não estava com Remus, mas a expressão de tristeza no rosto dele a fez ficar muda.

Não existia nada correto a respeito do relacionamento deles, então ela simplesmente estendeu a mão, e pegou o presente.

Era uma caixinha pequena, de veludo preto. Ela ficou com a caixa na mão durante um instante, hesitando em abrir. Então Sirius começou a falar, como se explicando pelo objeto que estava nas mãos dela.

- Eu queria algo que fosse... bem, que tivesse algum significado.

Instantaneamente ela abriu a caixa. Encontrou lá um anel. Um anel diferente, que ela não conhecia. Era prateado, e mostrava um desenho de duas mãos, uma coroa, e um coração. Ellie franziu a testa, e Sirius imediatamente começou a explicar.

- É um anel Claddagh. Você sabe que minha família é de origem irlandesa, não é? Esse é um anel tradicional na Irlanda.

Ellie apenas acenou com a cabeça. Ela retirou o anel da caixa, largando-a numa mesinha ao lado. E ficou olhando para o anel em sua mão. Sirius arranjou coragem, e falou.

- Existe uma forma de usar o anel. – ela levantou os olhos, e ficou prestando atenção no que ele falava – Se você usar na mão esquerda, com o coração voltado para fora, quer dizer que você é noiva. Com o coração para dentro, quer dizer que você é casada.

Ellie novamente franziu a testa, sem entender porque Sirius lhe daria um anel que simbolizava algo que eles não eram. Mas ele inspirou profundamente, e prosseguiu. Sua voz estava um pouco mais vacilante agora.

- Se você usar na mão direita, com o coração voltado para fora, quer dizer que você está em busca de amor, está disponível. Mas se usar com o coração voltado para dentro... quer dizer que seu coração está tomado. Que ele pertence a alguém.

Ellie prendeu a respiração. No mesmo instante, ela abaixou o olhar. Buscou a mão direita de Sirius, e confirmou o que já imaginava. Ele usava um anel. Um anel igual ao que ele tinha lhe dado. Ela nunca tinha parado para prestar atenção ao anel dele, mas sabia que ele já o usava há muito tempo. Muitos anos.

A garota demorou apenas um segundo para ver o que já previa. O coração do anel dele estava voltado para dentro.

O coração dele pertencia a alguém.

Sirius viu que ela percebeu o anel que ele usava, e tomou fôlego para dizer o que sempre quis falar para Ellie. Ser completamente sincero sobre como se sentia. De forma aberta. Sem que essa declaração estivesse envolvida com algum momento íntimo, uma tentativa dele de mantê-la perto, ou uma necessidade de dizer como se sentia por medo de nunca conseguir se declarar.

- Ele sempre pertenceu a você. Meu coração sempre foi seu, Ellie. E, pode ter certeza, ele vai pertencer para sempre a você. Porque eu te amo, e vou continuar amando até o dia em que eu morrer.

Ellie buscou ar com voracidade. Mas parecia que o ar não entrava em seus pulmões. E ela não conseguiu reagir. Ficou parada, ali, no meio do escritório de seu avô.

Sirius ficou esperando alguma reação da garota. Mas a única coisa que ela conseguiu fazer foi ir caminhando até uma das janelas, e abrir a tranca que a mantinha fechada. Ela precisava de ar, e o escritório fechado não ajudava em nada.

Eles puderam ouvir, com a janela agora aberta, o som vindo da festa. Uma música começava a tocar, lenta e bela. Mas Ellie não conseguia pensar na música. Só no pequeno objeto em sua mão.

Sirius entendeu a falta de reação dela como uma negativa. Ele então abaixou a cabeça, e falou.

- Eu... espero que você seja feliz, Ellie. Espero que ele te faça muito feliz.

O rapaz começou a caminhar lentamente em direção à porta. Ellie demorou um instante para entender o que ele queria dizer. Então, sem nem pensar, ela saiu correndo. O alcançou antes que ele colocasse a mão na maçaneta. Ela se enfiou entre ele e a porta, e falou, num tom urgente.

- Sirius!

Nobody does it better
Makes me feel sad for the rest
Nobody does it half as good as you
Baby you're the best

Sirius ficou surpreso com a reação dela. Apenas olhou para a garota ofegante em sua frente.

Ellie o observava intensamente. E inspirou fundo ao falar.

- Eu não reatei o namoro com o Remus.

Logo em seguida ela abaixou o olhar, e ele seguiu o olhar dela. Ela encarava o anel na própria mão. Lentamente, ela colocou o anel no dedo anelar da mão direita. Assim que terminou, ela levantou os olhos, e mostrou para o rapaz sua mão.

Ela tinha colocado o anel com o coração voltado para dentro. O coração dela também pertencia a alguém.

Aquela era a escolha dela.

Sirius inspirou profundamente. Ela manteve seus olhos pregados nele. Mas isso durou apenas um segundo. No instante seguinte, Sirius tinha pegado o rosto dela entre as mãos, e a puxou para um beijo.

Ellie jogou seus braços em volta dele, e correspondeu ao beijo. Os dois se grudaram um ao outro, completamente tomados pela paixão do momento. Logo Ellie sentiu suas costas encostando-se à porta, e agiu imediatamente. Ela levou uma das mãos até a maçaneta, sem interromper o beijo. Buscou a chave, e a encontrou. Girou-a na fechadura, trancando a porta. Sirius ouviu o barulho da chave, e se afastou do beijo por um instante. Ele não conseguiu formular nada melhor naquele momento, senão falar o nome dela.

- Ellie...

Mas a jovem olhou nos olhos do rapaz, e falou, numa voz entrecortada.

- Sirius... me beija.

Ele a atendeu no mesmo instante. Mas agora os beijos deles ficaram mais intensos, e muito mais agarrados. Não existia nenhum espaço entre eles. Eles foram caminhando febrilmente pelo cômodo, até pararem em frente à mesa de Albus. Imediatamente Sirius empurrou os objetos mais próximos, e pegou Ellie pela cintura, colocando-a sentada na mesa. E se encaixou entre as pernas dela.

I wasn't looking
but somehow you found me
I tried to hide from your lovelight
but like heaven above me
the spy who loved me
is keeping all my secrets safe tonight

As coisas evoluíam num ritmo frenético. Eles se beijavam, se tocavam, puxavam um para mais perto do outro. Ela começou a puxar o paletó do smoking dele, e o rapaz entendeu o recado. Puxou a peça sem muito cuidado, e a largou no chão. Enquanto isso, Ellie começou a desabotoar a camisa dele. Suas mãos estavam ligeiramente trêmulas. Ela mal conseguia respirar.

Sirius levou uma das mãos até a nuca dela, e começou a beijar o pescoço da garota. Ellie fechou os olhos, sua pele se arrepiava.

And nobody does it better
Though sometimes I wish someone would
Nobody does it quite the way you do
Why d'you have to be so good?

Logo uma das mãos de Sirius estava avidamente buscando seu caminho, por debaixo do vestido dela. Lentamente subindo, acariciando muito suavemente a pele da coxa de Ellie. Isso a fez ter uma reação ainda mais intensa; Ellie o fez se aproximar mais ainda, puxando-o com uma das pernas. E suas mãos buscavam o cinto dele. Começou a desabotoá-lo num ritmo frenético.

Os beijos continuavam, cada vez mais agarrados. Ellie já tinha conseguido abrir o cinto, e buscava o botão da calça do rapaz. Quando desabotoou, e foi em direção ao zíper, Sirius fez um pequeno som, e, com muito esforço, se afastou um pouco dela.

Ellie olhou para o rapaz. Ele ainda tinha uma das mãos por dentro do vestido dela, agora tocando a calcinha que ela usava. Mas os olhos dele estavam fechados com força, e ele tinha uma expressão quase de dor no rosto.

- Sirius... – ela falou, ofegante – O que foi?

Sirius abriu os olhos, e olhou diretamente nos olhos dela.

- Ellie... é melhor nós... pararmos por aqui.

Ellie franziu a testa, sem compreender o que acontecia. E de seus lábios escapou uma frase, muito baixinho.

- Você... não quer?

Ele lentamente tirou a mão de dentro de vestido dela, e segurou o rosto dela com as duas mãos. Com a testa quase encostada na dela, ele falou.

- Está louca? É o que eu mais quero. – sua voz era doce e amorosa.

Ellie não conseguia compreender.

- Mas então por que...

Só que Sirius a interrompeu, falando.

- Eu só acho que nós devemos deixar isso para um local mais apropriado... o escritório do seu avô não me parece adequado. Eu quero que seja... perfeito.

Ellie então ficou olhando para ele, em silêncio. E Sirius continuou.

- Eu quero que tenhamos o tempo que quisermos. Que você fique mais confortável que sentada numa mesa de madeira. – Ellie sorriu brevemente ao ouvir – Quero que seja perfeito para você. Para nós dois.

- Para mim estava sendo perfeito... – ela falou, com um sorriso levado nos lábios.

Sirius inspirou profundamente, e falou.

- Ah, mas agora você também já está testando minha força de vontade. Não fica me tentando, já está difícil o suficiente resistir...

Ellie começou a rir, e Sirius segurou-a pela cintura, e a desceu da mesa. E ela falou.

- Não está parecendo, você conseguiu parar numa boa.

O olhar desafiador dela o deixou ainda mais desesperado. Ele colou-se novamente nela, e falou, olhando-a diretamente nos olhos.

- É só você dizer que quer continuar. Estou tentando resistir aqui só porque acho que merecemos algo mais íntimo. Um lugar que ninguém vá bater na porta daqui dez minutos.

O tom de voz que ele usou fez Ellie se arrepiar toda. Mas ela concordava com Sirius, o escritório de seu avô não era o local mais indicado. Eles só estavam naquela situação por estarem completamente tomados pela paixão.

- Eu sei. – ela respondeu, enlaçando a nuca dele com as mãos. – Você tem razão.

Os dois recomeçaram a se beijar, só que com suavidade desta vez. Os lábios se tocavam delicadamente, as respirações voltavam a um compasso tranqüilo. Ficaram ali durante alguns minutos, apenas sentindo a presença um do outro. Até que Sirius abaixou um pouco a cabeça, deslizando seus lábios pelo pescoço dela, seguindo suavemente até o ombro direito. Depositou um beijo suave ali, e sussurrou, baixinho.

- Eu te quero tanto... tanto...

Após um arrepio que percorreu toda a extensão de sua coluna, Ellie abriu os olhos que estavam cerrados, e buscou o rosto de Sirius. O rapaz levantou a cabeça, e a encarou, vendo no rosto dela uma expressão de iluminação, como se ela tivesse tido uma idéia brilhante.

- Não precisamos esperar. – ela falou.

Sirius franziu a testa brevemente, e ela prosseguiu.

- Nós não precisamos esperar nada, Sirius. Eu só preciso de uns 15 minutos, mais nada.

Ele ainda parecia não entender o que ela dizia, então ela finalmente esclareceu tudo.

- Meus convidados da festa já foram quase todos embora. Posso dar uma desculpa para minha avó, falar que estou com dor de cabeça e que vou para meu quarto dormir. Você avisa ao James e a Lily que vai sair, e vai dormir fora de casa. Então discretamente você sobe pela treliça do meu quarto...

- E te espero lá. – ele completou.

Os dois ficaram se encarando, ambos obviamente pensando no que tinham acabado de decidir. Mas Sirius ainda falou, de forma séria.

- Você tem certeza? Não precisa ser hoje, se você não quiser.

Mas Ellie apenas sorriu de lado, e falou, num tom levemente sarcástico, mas divertido.

- Falou o cara que estava tirando minha calcinha cinco minutos atrás.

Sirius também sorriu, mas quando falou seu tom era novamente sério.

- Responde, Ellie. Você tem certeza?

Ellie apenas se aproximou do rapaz, e respondeu, encarando-o diretamente nos olhos.

- Tenho certeza absoluta, Sirius.

Sirius teve que se segurar para não puxá-la novamente para um beijo. Aquela garota tinha que parar de dizer coisas como esta, e lançando esses olhares para ele. O rapaz tinha certeza que ficaria doido se ela continuasse assim.

Mas ela, alheia ao que se passava na mente dele, apenas suavizou a expressão, e falou.

- Vamos?

Ela tinha a mão estendida, para que ele a pegasse. Mas Sirius a puxou para perto dele, colou seus lábios nos dela rapidamente, e quando se afastou, disse.

- Vamos.


Ellie se despediu de Sirius, e ambos saíram rumo aos próprios objetivos.

Ela foi diretamente até a avó. Fez uma expressão de cansada muito convincente, e falou que estava com dor de cabeça, e que queria ir dormir. A avó concordou, mas falou para a neta se despedir dos amigos que ainda estavam na festa. Ela disse que iria se despedir, e iria dormir logo depois. A avó lhe desejou boa noite, e deu um beijo no rosto da garota.

Sirius foi diretamente até a mesa onde Lily se encontrava. Percebeu imediatamente que a irmã estava bêbada, e estranhou muito esse fato.

- Lily. – ele falou, se aproximando – Você está bem?

A ruiva levantou a cabeça, e viu o irmão. E deu uma pequena bronca nele.

- Sirius! Você sumiu a festa toda! Onde se enfiou?

Mas Sirius apenas riu, e falou.

- Tava por aí.

Lily franziu a testa. Ela estava bêbada, mas não o suficiente para não perceber como Sirius aparentava um ótimo humor.

Ele então abaixou, e falou coma irmã.

- Olha, eu vou sair, tá. Não precisa me esperar pra dormir.

Lily arregalou os olhos, e falou.

- Sirius! Aonde você vai?

Mas o rapaz previra essa resposta da irmã, e falou.

- Não se preocupa, vou só sair com um pessoal que conheci aqui na festa. Nada de mais, só vamos num barzinho legal. Não vou fazer nenhuma besteira.

Sirius sorriu de lado pensando em todas as besteiras que iria realizar aquela noite. Mas Lily, alheia ao que se passava na cabeça dele, apenas falou.

- Tem certeza?

Ele sacudiu a cabeça, mas logo percebeu uma pessoa se aproximando às suas costas.

- Vai sair, Sirius?

Era James. Ele estava sozinho, com um copo de whiskey vazio nas mãos. Sirius olhou para o irmão, e falou, com segurança.

- Vou. Não se preocupe. Está tudo bem.

James o observou por um instante. Sirius percebeu que James bambeava um pouco, e seu olhar estava um pouco perdido demais. Outro que estava bêbado.

Sirius então reafirmou.

- Volto bem tarde. Mas está tudo bem. Não vou dirigir, e vou estar com pessoas normais.

Ele percebeu a aproximação de Ellie, que vinha deslizando com seu vestido vermelho. Teve que segurar a respiração para não ficar encarando a garota com uma expressão embasbacada.

Ellie trocou um olhar com ele que não durou mais que um segundo. Então ele sabia que era a deixa dele.

- Vou indo. Tchau!

Os irmãos acenaram para ele, e Ellie lhe enviou apenas um olhar. Ele fugiu o mais rápido que pode, e mais que discretamente, foi em direção a treliça que conduzia até o quarto de Ellie.

Nesse meio tempo, Ellie se despedia dos amigos, e garantia que Sirius teria tempo suficiente para escapar sem ser visto. Então ela olhou para Lily.

James tinha uma expressão estranha no rosto. Como se tivesse com raiva. E Lily, estranhamente, parecia bêbada.

- Lily... eu vou ir dormir. Estou com dor de cabeça.

A ruiva sacudiu a cabeça, meia mole. Ellie antão olhou para James. Ficou um pouco preocupada com a amiga naquele estado. James também estava bêbado, mas pelo menos estava habituado a fazer isso. Lily quase nunca bebia, então isso era realmente incomum.

- Jay. – Ellie falou, chamando a atenção do amigo – Acho melhor você levar a Lily pra casa. Ela não parece muito sóbria.

Mas Lily reagiu imediatamente. E como os bêbados costumam fazer.

- Não estou bêbada!

Mas Ellie a colocou em pé, e falou, para os dois.

- Vocês dois estão bêbados! É melhor irem pra casa, antes que a situação fique ainda pior.

James ainda estava com a expressão emburrada, mas Ellie não deu chance para nenhum dos dois reclamarem. Foi empurrando a dupla pela sua casa, até a porta. E os obrigou a ir para casa.

- Boa noite para vocês dois. – ela falou. E, sem a mínima ideia da realidade entre os dois irmãos adotivos, recomendou – Juízo!

James então olhou para Lily. Ela o olhava com raiva. Ele também retribuiu o olhar, e foi caminhando com ela em direção a casa dos dois.


Após se despedir de Lily (que estava surpreendentemente bêbada, algo muito incomum para a ruiva), Ellie se encaminhou para seu quarto. Tentou controlar o impulso de correr durante o percurso. Estava ansiosa demais para manter a postura elegante que a festa exigia. Andou calmamente quando ainda estava sob o alcance dos olhares dos convidados. Mas assim que se afastou, percorreu a distância até seu quarto num pulo.

Assim que avistou a porta fechada, a garota hesitou por um segundo. Uma corrente elétrica percorreu sua coluna. Sua vida inteira estava a um passo de mudar drasticamente. Mas um sorriso lhe aflorou quando ela pensou na pessoa que estava do outro lado daquela porta. E ela sabia que aquela era a única decisão que ela poderia tomar.

Ellie girou a maçaneta, e entrou em seu quarto. Tomou o cuidado de trancar a porta, e depois se virou de frente para o cômodo. Mas franziu a testa ao percebê-lo vazio.

Ela demorou um segundo para reagir. Sua voz saiu baixa.

- Sirius?

Uma cabeça apareceu de dentro do banheiro. E um sorriso chegou aos lábios da garota.

Sirius saiu do banheiro, e foi até ela. Antes que ela perguntasse qualquer coisa, ele falou.

- Fiquei com medo de alguma pessoa aparecer.

Mas Ellie já não se importava com mais nada naquele momento. Apenas com a pessoa à sua frente. Eles se olhavam quase sem piscar.

Sirius então se aproximou um pouco mais dela, e a garota notou que ele tinha tirado o paletó do smoking. De maneira quase tímida, Sirius levou seus braços para perto de Ellie, e a envolveu com eles. Os rostos dos dois ficaram bem próximos.

Os dois ficaram em silêncio por longos instantes, apenas um olhando para o outro.

De forma surpreendente para Ellie, Sirius quebrou o silêncio.

- Eu estou nervoso. – ele confessou.

Ela sorriu. Aquela afirmação era ao mesmo tempo algo adorável, e difícil de acreditar.

- Nervoso? Se alguém deveria estar nervoso, seria eu. Eu é que nunca...

Sirius a interrompeu, falando.

- Eu sei.

Ellie franziu a testa, e perguntou.

- Sabe?

Ele confirmou com a cabeça, e explicou.

- Ouvi você contando para Lily, lá em casa.

Ellie ficou calada um instante, mas depois falou.

- Não que eu nunca tenha feito nada, é claro... mas eu nunca fiz tudo.

Sirius levou a mão dele ao rosto dela, e a acariciou delicadamente.

- É novidade para mim também. – ele falou.

Ellie olhou para ele, e riu, incrédula.

- Sirius, eu sei sobre as várias garotas... acredito que não existam muitas novidades para você neste aspecto.

Mas ele a encarou de forma séria, e explicou.

- É tudo novo para mim. Talvez você não me entenda direito, mas... você tem idéia do que é desejar algo por tanto tempo, tantos anos? E agora, ver que é possível. Estar exatamente no momento certo. É assustador. E incrível.

Ellie quase se sentiu envergonhada por ouvir tão claramente dele que fora objeto de seu desejo por tanto tempo. Mas voltou a encará-lo, e ele continuou falando.

- Tudo agora é novidade para mim. Provar o seu beijo. Sentir sua pele. Seu toque.

Inconscientemente, Ellie se aproximou mais dele. Os corpos se tocaram delicadamente.

Sirius pegou uma das mãos dela, e falou.

- E agora... ter você. Entende o que eu digo?

Ela confirmou com a cabeça.

- É diferente de qualquer outra coisa que tenhamos feito antes. – ela concordou.

Ele apenas confirmou com a cabeça. Lentamente, os lábios deles se tocaram. Um beijo longo, delicado. Ele se afastou, e enterrou a cabeça entre o ombro e o pescoço da garota. Sua voz saiu num sussurro, um tanto amargurado.

- Eu não quero te machucar.

Mas Ellie se afastou um pouco, e segurou a cabeça dele de frente para ela, para que pudesse falar olhando diretamente nos olhos dele.

E falou com uma certeza inabalável.

- Eu te amo.

Ele a observou por alguns segundos, incapaz de qualquer reação maior que gravar aquelas palavras e aquela expressão dela em sua memória.

Um beijo intenso foi sua resposta.

Não havia mais dúvidas, ou medo. Nenhum tipo de receio.

Eles pertenciam um ao outro. E foi como se sempre tivessem pertencido, desde o dia que nasceram até aquele momento.

Eles se beijavam, e deixaram-se tomar plenamente pela paixão. Ela se virou de costas, e ele puxou lentamente o zíper do vestido de Ellie, deixando-o cair aos pés dela. Sirius tocou as costas dela delicadamente, acariciando a pele da garota. E beijou cada centímetro de pele exposta. Desfrutando cada segundo.

Depois de um longo tempo, eles se viram deitados, despidos, na cama de Ellie.

Ela não estava nervosa. Estava cheia de expectativa. De sentimentos de paixão e desejo. Assim como Sirius. Os dois se completavam.

Um instante antes de iniciar tudo, ele acariciou o cabelo dela, e beijou delicadamente os lábios de Ellie. Ela fechou os olhos, e suspirou.

Ela sabia que aquela seria a melhor noite de sua vida. Tinha certeza que tudo seria perfeito e maravilhoso.

E foi.


No momento em que entraram em casa, James e Lily pareciam ter sido tomados por um furacão. Um furacão de raiva e muita agressividade.

Nenhum dos dois percebeu quem iniciou a discussão. Mas ela se incendiou em um segundo. Os dois gritavam um com o outro a plenos pulmões, sem se importar com mais nada no mundo.

As palavras eram agressivas. E as expressões raivosas.

- Cala a boca, seu idiota! – Lily berrou, de forma agressiva.

- Idiota? E o que você diz do seu comportamento?

Lily espumava de raiva. E rebateu imediatamente.

- O que tem de mais meu comportamento? Não fui eu que fiquei com uma vagabunda pendurada no pescoço a festa inteira!

Mas James parecia cego de ódio, e rebateu violentamente.

- Não, mas ficou se oferecendo para o Wilshire o tempo todo!

Lily estava ensandecida. Ela apenas encontrou forças para dizer.

- O que?

James, transtornado, apenas cuspiu de volta.

- Você estava se oferecendo para o Wilshire!

A visão de Lily se turvou. O ódio atingiu um pico, e ela levantou a mão para esbofetear James. Mirava exatamente o rosto do irmão, mas percebeu que James notou seu movimento, e segurou seu braço. E ele não o fez delicadamente.

James apertava com força o braço de Lily. Ela respirava superficialmente, bufando de ódio.

Os olhos dos dois estavam pregados um no outro.

Ambos se encaravam cheios de raiva.

Ambos mal conseguiam respirar direito.

O resto do mundo que se explodisse. Porque não havia nada no mundo que pudesse ser mais importante que o que acontecia naquele momento.

James ainda apertava o braço de Lily, mas a garota nem notava. Ela estava tão mergulhada em sua raiva que não conseguiria perceber nada além do rosto contraído de James.

Os segundos que se passaram pareceram eternos. Mas foram apenas dois segundos.

Porque, no terceiro segundo, James puxou violentamente o braço de Lily para mais perto, e atacou a boca dela com tamanha raiva que era impossível para a garota resistir.

O beijo foi violento. Passional. Quase selvagem.

Algo que nunca tinha sido antes. Não tão dominado por sentimentos primitivos como aqueles.

James ainda a segurava pelo braço. Mas usou a mão livre para puxá-la para perto, grudá-la em si. Como se não pudesse ficar mais um segundo longe do corpo dela.

Lily não protestou. Ela aceitou a boca rude de James na dela. E o correspondeu da mesma forma.

Era insano. Mas também era tão inevitável quanto respirar.

Até o momento que Lily o empurrou.

Ela não estava retomando a consciência. Era mais como um reflexo. Os dois se olharam por um segundo, mas este segundo não foi suficiente para perceberem o que faziam. Não de forma responsável. Não de forma racional.

Porque Lily, no instante seguinte, atacou James. E o beijo dela foi ainda mais intenso do que o dele.

Eles se colaram um ao outro. Era impossível se separar. Logo estavam se escorando na parede do corredor. E daí foi só um passo.

O quarto de James foi invadido de forma violenta, com a porta se escancarando com uma batida. O beijo se manteve. As bocas coladas uma a outra.

Era completamente insano. E era neste estado que os dois se encontravam.

Nenhum dos dois percebeu quem foi que começou com tudo. Mas logo as primeiras peças de roupas estavam sendo jogadas pelo chão do quarto.

James logo colocou Lily sentada em sua cama, liberando os lábios da garota por um instante.

Não havia palavras para aquele momento. O silêncio só era perturbado pela respiração ofegante dos dois.

James retirou os sapatos de Lily. E se ajoelhou, e começou a beijar os pés da garota. E subiu beijando as pernas. Lily jogou o corpo para trás, caindo deitada na cama dele.

Logo ele se livrou dos próprios sapatos, e da camisa que vestia. E voltou a se aproximar da garota. Sem constrangimento algum, ele puxou a saia do vestido dela para cima. Suas mãos percorreram a pele clara de suas pernas, e ela gemeu.

James não se conteve, e cravou seus dedos na pele fina das coxas de Lily. Desta vez, o gemido dela foi bem mais alto.

Este foi o sinal que James precisava. Ele começou a retirar o vestido dela, sem muito cuidado. Lily o ajudou, e logo ela estava apenas de lingerie, deitada na cama dele.

O resto das roupas de James desapareceu rapidamente. E ele se deitou por cima da garota.

Não havia delicadeza entre os dois. Lily logo estava beijando James violentamente, e cravando suas unhas nas costas do rapaz. Ele não era mais delicado que ela, e retirou a calcinha que ela vestia rasgando-a em dois pedaços.

Não havia mais volta.

Iria acontecer. Naquele dia. Naquele instante.

Se os dois estivessem sóbrios, certamente tudo seria diferente. Mas eles estavam completamente embriagados, e o resultado de tudo não poderia ser outro.

As bocas famintas uma pela outra apenas buscavam mais e mais.

Algo, em algum lugar profundo da mente de James, dizia que ele deveria tentar ser delicado. Mas este lugar estava muito longe, e ele mal podia ouvir o comando. Então qualquer tentativa de delicadeza desapareceu quando Lily o puxou para mais perto.

E ele não pensou em mais nada.

Ela o estava puxando, cada vez mais. Lily. E ele não poderia resistir.

Lily não conseguia respirar direito. Todas as sensações misturadas. Tanto acontecendo ao mesmo tempo.

Sentia James dentro de si. Mas não tinha a capacidade de processar o que acontecia.

Ele se movia de forma vigorosa, e aquilo tudo era tanto, tantas sensações, que ela acharia, se estivesse sóbria, que era mais do que poderia lidar no momento.

Mas ela era, assim como ele, apenas instinto e paixão naquele momento.

Então ela acompanhava o movimento dele, entorpecida pelo momento, entregue de forma completa para aquele que ela deveria considerar seu irmão.

Mas ele não era. Naquele momento, James Potter era seu amante.

Lily envolveu James com as próprias pernas, e ouviu dele um gemido. E num instante de lucidez, percebeu que ela mesma gemia.

As bocas se encontravam o tempo todo. Nos momentos em que estavam separadas, elas eram apenas sussurros, lamúrias e gemidos.

Ela sentia as mãos de James, em diversos momentos, acariciando, agarrando, segurando seu corpo. E aquilo só fazia aumentar a sensação inexplicável que ele a fazia sentir.

Ela olhou para James, e pode ver o prazer impresso no rosto dele. E mesmo sem raciocinar, sabia que o prazer também estava impresso no seu próprio rosto.

Os movimentos dele se intensificavam. E ela o acompanhava, movendo-se também.

Era uma intensa loucura. Nada, e ao mesmo tempo tudo, fazia sentido.

Ela sentiu James se erguer um tanto, mantendo o movimento. E no instante seguinte ele passou a tocá-la, e ela agarrou o lençol da cama, sem conseguir se conter.

Tudo perdeu o sentido naquele momento. Só havia James, e as sensações que ele lhe proporcionava.

E as sensações só aumentavam. De forma descontrolada, desordenada.

Ela nem percebeu direito o que aconteceu a sua volta.

Até que a sensação acabou, de forma abrupta, intensa, e indescritível.

Não havia ar suficiente para seus pulmões naquele momento.

Não havia definição nas formas e objetos que a cercavam.

Sua cabeça rodava. E podia ser por conta da bebida, ou do sexo que acabara de acontecer. Ou, provavelmente dos dois.

Ela só retomou parcialmente a consciência do que acontecia quando percebeu que James estava saindo de cima dela. Ele também estava quase desfalecido. E parecia tão sem fôlego quanto ela.

O tempo era algo relativo. Eles poderiam ter passado meses naquela cama que ela não saberia. Ou anos.

Depois retomar parcialmente o fôlego, James se aproximou dela, e mesmo deitado ao lado dela, puxou-a para um beijo.

Os lábios foram delicados desta vez. Lily se sentiu sonolenta como nunca se sentira antes. Seus olhos se fechavam contra sua vontade, mas ela logo se aconchegou de forma confortável. Um instante antes de perder a consciência, ela pareceu notar algo que lembrava uma voz, bem ao fundo, falar de forma sonolenta.

- Eu te amo.

Músicas do capítulo:

Dancing Queen – Abba

Sorry seems to be the hardest Word – Elton John

Nobody does it better – Carly Simon

Bem, depois da enorme maldade que fiz para Sirius no capitulo passado, neste eu tinha que ser boazinha com ele e deixá-lo feliz, né? Espero que tenham gostado!

E não deixem de comentar, ok?

Beijos!

Pri