Um verão inesquecível

Um verão inesquecível.

Lily, aos 7 anos, é adotada pelos Potter. Mas, num certo verão, anos depois, tudo muda em sua vida. Ela começa a questionar seus sentimentos pelo irmão adotivo James, e a chegada de uma nova moradora em sua rua muda a dinâmica de tudo, e revela sentimentos profundos e amargos entre seus melhores amigos. Universo Alternativo.

Prólogo

Londres, Inglaterra. Meados dos anos 60.

Um carro preto, grande, mas muito discreto percorria uma rua tranqüila. Ele passava lentamente pelas belas casas de jardim grandes. Parecia estar procurando por uma delas especificamente.

Finalmente, após percorrer boa parte da rua arborizada, o carro parou. Estava parado exatamente em frente a uma casa bonita, com jardim impecável, e algumas árvores antigas plantadas nas laterais.

Dentro do carro, o motorista apenas olhou para trás, e falou.

- Chegamos.

No banco de trás havia duas pessoas.

Uma mulher e uma criança.

- Lily, nós chegamos. Você quer saltar?

A mulher tinha cabelos loiros, presos num coque austero. E a criança era uma menina miudinha, de cabelos ruivos escuros. Ela tinha o olhar muito assustado.

A garota esticou o pescoço para observar pela janela. A casa era bem maior que sua casa antiga. Tinha uma fachada clara, janelas grandes e muito espaço. Bem diferente do que ela estava acostumada. Ela morava anteriormente numa rua de casa idênticas, cuja única forma de diferenciá-las era o número e a cor da porta.

A garota lentamente saltou do carro. A mulher a acompanhou, enquanto o motorista retirava a mala da menina do porta-malas.

- O que você acha? – a mulher perguntou.

A menina permaneceu muda. Observou a rua, com suas árvores altas, casas requintadas e sem muros. Ela ainda absorvia a mudança.

Um leve toque no ombro a fez acordar. E ela finalmente respondeu a mulher. Sua voz era baixa.

- Está ótimo.

A mulher a observou com pena estampada no rosto. Mas logo falou.

- Vamos entrar.

As duas caminharam até a porta da casa. Lily continuava achando tudo muito grande.

Ouviu a campainha sendo tocada pela mulher. Não demorou nem um instante para a porta se abrir.

Lily viu uma mulher meia idade, mas ainda aparentando muita vitalidade. Ela tinha cabelos escuros presos de forma elegante, e vestia uma roupa simples, mas de muito bom gosto. E ela tinha um sorriso muito simpático.

- Que bom que chegaram. Estávamos esperando.

A mulher loira que acompanhava Lily entrou, e Lily a seguiu. E ela pode ver como era a casa por dentro.

Uma ampla sala, com sofás claros e algumas poltronas foi a primeira coisa que ela viu. Neste cômodo tinha uma enorme lareira, algumas mesas de apoio, e, no canto, um piano de cauda.

As cortinas eram claras, e iam até o chão. Era muito bonito e bem decorado, mas Lily achou tão grande que pensou que poderia ser perder no meio de tanta coisa.

A dona da casa conduziu-as para um sofá perto da lareira. Era início do outono, e ainda não fazia muito frio. E lareira não estava acesa, mas a madeira estava disponível ao lado caso fosse necessário.

Lily sentou no sofá macio, e ajeitou o vestido amarelo que usava. Os sapatos tipo boneca envernizados estavam começando a incomodá-la, mas ela não falou nada. Permaneceu em silêncio enquanto as duas mulheres conversavam.

- Sra. Potter, eu trouxe todos os documentos para que assine. – começou a loira, estendendo vários papéis que tinha retirado da pasta.

A dona da casa, a Sra. Potter, pegou as folhas estendidas, e começou a observá-las. Logo concluiu que tudo estava em ordem, e pegou a caneta estendida pela loira e começou a assinar. Assim que terminou, ela falou.

- E quando meu marido deve assinar?

- Daqui um mês vocês devem comparecer perante o juiz. E devem levar Lily com vocês. Ele que vai dar os documentos definitivos da adoção. Esse período serve para sabermos se a criança habituou ao novo lar.

A Sra. Potter olhou para a loira com uma pequena ruga na testa. Mas logo ela falou, de forma simples, mas com convicção.

- Eu tenho certeza que Lily vai gostar de morar conosco. E ela não é a primeira criança que veio morar conosco.

A loira continuou com o tom formal.

- Eu sei. E, acredite, isso contou muito para o arranjo em relação a srta. Evans. O juiz sabe da boa vontade da senhora e de seu marido. Por isso Lily pode vir tão rápido para sua casa.

Lily continuava sentada, com as mãos sobre os joelhos, sem dizer uma palavra. A mulher loira, que era uma assistente social, olhou para a garota, e falou.

- Lily, você quer conhecer seu novo quarto?

A Sra. Potter sorriu. Lily gostou do sorriso da mulher. Era sincero. Ela levantou, e acompanhou as duas adultas até uma escada. Elas subiram, e logo chegaram a um corredor com várias portas. A Sra. Potter chegou até uma delas, e abriu, revelando um quarto.

Lily espiou de longe, e logo entrou, seguindo o pedido da dona da casa.

- Entre, Lily. Veja se você gosta.

Lily achou que nunca tinha visto um quarto tão bonito na vida. Era predominantemente branco, mas tinha toques de rosa suave. A cama tinha colchas fofas e cheias de detalhes. Um armário enorme, no mínimo três vezes maior que o que tinha em sua antiga casa. Num canto, uma penteadeira de aparência antiga, mas perfeitamente conservada. Prateleiras espalhadas continham bichos de pelúcia e algumas bonecas. As bonecas mais bonitas que ela já tinha visto na vida. E uma grande janela que dava para o jardim. O quarto era um sonho para uma garotinha de sete anos.

Lily observou tudo com muita atenção. A Sra. Potter viu que a garota aprovou, e abriu um sorriso. Ela queria muito que a garota gostasse do quarto.

- E então, Lily, você gostou? – ela perguntou.

A assistente social observou atentamente a resposta da menina.

- Eu... é lindo. Eu gostei sim.

A Sra. Potter sorriu, satisfeita. A assistente social também pareceu aprovar a resposta da menina. Ela logo começou a falar sobre detalhes do acordo com a Sra. Potter, e Lily parou de prestar atenção no que elas falavam. Ela se aproximou da janela, e começou a observar o jardim. Mas logo algo chamou a atenção da garota. Ela viu algumas crianças passarem correndo pela grama verde. Não conseguiu distinguir direito, mas percebeu que eram uma menina e três garotos. Ela estreitou os olhos para vê-los melhor, mas logo eles sumiram de vista. Lily franziu a testa.

- Lily, vamos descer. – falou a assistente social falou.

A garota seguiu as duas mulheres pelo corredor, e depois escada abaixo. Quando elas alcançaram a sala de estar, Lily viu a Sra. Evans se aproximando da janela. Algo na rua chamou a atenção dela.

- Ah, Lily, vamos lá fora. Eu quero que conheça algumas pessoas.

Lily franziu a testa, mas acompanhou as duas mulheres, que continuavam a tratar de detalhes da adoção.

Assim que elas alcançaram a rua, Lily viu que as crianças que ela tinha visto anteriormente estavam lá. Elas corriam, e Lily percebeu que estavam brincando. Então ela pode observar melhor as crianças.

A garota do grupo era uma menina baixinha e magra. Ela tinha cabelos castanhos muito claros, lisos e compridos, pele branca e um nariz arrebitado, cheio de sardas. Ela corria velozmente, fugindo da perseguição de um dos garotos.

Lily percebeu que a garota devia ter a mesma idade que ela. Mas os três meninos pareciam um pouco mais velhos, cerca de um ano. A menina tentava escapar da perseguição implacável de um garoto de cabelos escuros, lisos e sedosos, que era um bocado mais alto que ela. Ele não desistia de perseguir a menina.

Os outros dois garotos corriam um pouco mais ao longe, mas Lily viu que um deles tinha cabelos claros, num tom entre o mel e o castanho claríssimo. E o outro tinha cabelos pretos, bagunçados e espetados, e usava óculos.

- Sai do meu pé! Vai atrás de outro! – Lily ouviu a garota gritar. Ela tinha uma voz agradável, mesmo para alguém que gritava com raiva.

O garoto que a perseguia riu, e continuou a caçada. Lily viu que eles correram para o jardim da casa em frente. Ela viu a menina pulando uma cerca de arbustos, e o garoto a seguiu. Ela começou a subir numa árvore por perto, sempre com o garoto no seu encalço.

A Sra. Potter sorriu, e falou.

- Vamos lá falar com eles.

As três atravessaram a rua, e se aproximaram do jardim da casa em frente. A casa era enorme, um tanto maior que a casa em que Lily iria morar. A fachada era branca, com grandes colunas. Lily imediatamente percebeu que se tratava de uma casa antiga, e que pertencia a uma família tradicional.

Quando elas se aproximaram do jardim, Lily ouviu uma música tocando. Ela viu que um rádio tinha sido deslocado de dentro da casa para o jardim. Provavelmente as crianças gostavam de brincar ouvindo música. Lily prestou atenção na música, e a reconheceu.

Here's my story, sad but true
It's about a girl that I once knew
She took my love then ran around
With every single guy in town
Ah, I should have known it from the very start
This girl will leave me with a broken heart
Now listen people what I'm telling you
A-keep away from-a Runaround Sue

- Ahhh!! Me solta!

Lily olhou para a árvore que a garota tinha escalado. Lá em cima tinha uma casa de árvore que ela não tinha notado antes. E ela pode ver a menina e o menino se engalfinhando lá dentro. Eles brigavam, e a garota tentava morder o braço do menino, que, em vez de ficar com raiva, ria abertamente.

Logo os outros dois garotos correram até lá, e subiram na árvore também.

I miss her lips and the smile on her face
The touch of her hair and this girl's warm embrace
So if you don't wanna cry like I do
A-keep away from-a Runaround Sue

A confusão se instalou na casa da árvore. Lily ouviu alguns gritos, e logo viu a menina descendo da árvore. Ela estava acompanhada pelo garoto de cabelos claros, e colocou gentilmente a mão no ombro dela. A menina estava vermelha de raiva, com os braços cruzados, e parecia se controlar para não chorar. O menino falava baixinho com ela, e eles começaram a andar pelo jardim. Alguns minutos depois, o garoto briguento desceu, acompanhado do garoto de óculos.

Ah, she likes to travel around
She'll love you but she'll put you down
Now people let me put you wise
Sue goes out with other guys
Here's the moral and the story from the guy who knows
I fell in love and my love still grows
Ask any fool that she ever knew, they'll say
Keep away from-a Runaround Sue

Yes, keep away from this girl

I know what to do

Keep away from Sue

Lily observou todo o decorrer da briga. Logo o garoto de cabelos claros e o de óculos estavam tentando promover as pazes entre os outros dois. A menina não queria de forma alguma fazer as pazes com o garoto de cabelos escuros, mas, persuadida pelo calmo garoto de cabelos claros, ela acabou aceitando. Logo eles voltaram a correr.

She likes to travel around
She'll love you but she'll put you down
Now people let me put you wise
Sue goes out with other guys
Here's the moral and the story from the guy who knows
I fell in love and my love still grows
Ask any fool that she ever knew, they'll say
Keep away from-a Runaround Sue

A Sra. Potter ia gritar para chamá-los para perto, mas a menina de cabelos castanhos logo percebeu a presença delas ali, e parou de correr. Ela veio até as três, e Lily pode vê-la de perto. A menina era muito bonita mesmo, e seus olhos eram de um azul intenso. Ela parou na frente delas, e falou.

- Bom dia, Sra. Potter.

A Sra. Potter sorriu, e falou.

- Bom dia, Elladora. Eu quero te apresentar uma pessoa. – ela falou, e logo colocou as mãos nos ombros de Lily, e completou. – Esta é Lily Evans.

A garota sorriu, e esticou a mão para cumprimentar Lily.

- Oi, Lily! Eu sou Elladora Dumbledore. Mas, por favor, me chame de Ellie.

- Elladora mora nesta casa. – a Sra. Potter indicou a grande casa branca, exatamente em frente à casa dela.

Lily cumprimentou a menina, que logo correu, e puxou pela mão o garoto de cabelos claros, que tinha ficado a certa distância, apenas olhando. Ellie o trouxe para perto, e falou.

- Esse é Remus Lupin. Ele mora na casa ao lado da sua... da sua nova casa.

O garoto tinha olhos castanhos claros, e um sorriso tímido. Mas parecia ter simpatizado com Lily.

Logo os outros dois garotos perceberam que os amigos tinham parado de brincar, e se aproximaram das mulheres e da garota nova. Lily pode finalmente ver de perto os outros membros da turma.

O garoto brigão, que tinha cabelos escuros, também tinha olhos azuis como Ellie. Ela tinha um belo rosto, e um ar levemente aristocrático, mas ao mesmo tempo displicente.

Já o outro garoto, que usava óculos e tinha cabelo rebelde, tinha olhos castanhos acinzentados e uma expressão de quem vive aprontando.

A Sra. Potter recomeçou a falar.

- Lily, eu quero que conheça meu filho, James Potter. – ela apontou para o garoto de óculos. – E este é Sirius Black. – ela indicou o garoto que brigou com Ellie.

Lily esticou a mão, e cumprimentou os dois. Ambos olhavam para ela com curiosidade. James tinha a testa franzida, e Sirius tinha um ar de leve desconfiança.

- Eu tenho que resolver os últimos detalhes com a senhorita Spencer. Vocês podem brincar no jardim, se quiserem. – a Sra. Potter completou.

Antes que Lily pudesse falar qualquer coisa, ela viu as duas mulheres se afastarem, em direção à casa. Um segundo de pânico tomou conta da menina, que temeu ser abandonada por todos. Mas logo a menina de cabelos castanhos, Ellie, se aproximou, e a pegou pela mão.

- Vem cá.

Lily seguiu Ellie, que foi andando pelo jardim de sua casa. Os garotos franziram a testa, e Lily pode ouvir pela primeira vez a voz do garoto de óculos.

- Ei, Ellie, vamos continuar! Está com você, agora.

Ellie olhou para o garoto, e falou.

- Eu estou fora nessa rodada. Podem continuar sem mim.

O garoto olhou para a menina, levemente contrariado, mas logo recomeçou a brincadeira com os amigos.

Ellie levou Lily para sentar num banco de madeira, que ficava perto da casa da árvore. E logo começou a falar.

- Você veio morar com os Potter, não é?

Lily confirmou com a cabeça. Ela ainda não tinha parado para pensar nos acontecimentos dos últimos dias. Tudo em sua vida mudou radicalmente em pouquíssimo tempo.

- Quer falar sobre isso? – Ellie perguntou.

Lily apenas abaixou a cabeça, e ficou muda. Mas Ellie não fez menção alguma de prosseguir com o assunto. Por um instante, Lily achou que ela sabia exatamente o que ela estava passando.

- Você vai gostar muito de morar com os Potter. Eles são ótimos. E você não é a primeira... quero dizer, o Sirius também mora com eles, e ele adora. Fora que morar na mesma casa que James é garantia de divertimento.

Lily franziu a testa, e falou.

- O Sirius mora com eles? Por quê?

Ellie inspirou, e falou.

- Ah, é uma história enorme... resumindo, ele veio morar aqui há uns 3 anos, eu acho. Mas ele não gosta de falar sobre isso. Já o James, eu e o Remus sempre moramos por aqui. Somos amigos desde pequenos. Eu moro aqui – ela apontou para a casa branca – com meus avós.

Lily então percebeu por que Ellie parecia saber o que ela sentia. Ela morava com os avós, e não com os pais.

As duas ficaram em silêncio por algum tempo. Lily ficou pensando em como sua vida mudou radicalmente em poucos dias. Na semana anterior, ela tinha uma vida normal, morava com os pais numa casa normal de um bairro de classe média de Londres. Agora, ela estava se mudando para uma casa enorme, num dos mais requintados bairros da cidade. Mas, infelizmente, ela tinha perdido seus pais.

- Quer brincar com a gente? – Ellie perguntou, quebrando o silêncio.

Lily deu o primeiro sorriso desde que chegou naquele lugar. Foi um sorriso pequeno, mas foi verdadeiro.

Ela concordou com a cabeça. Logo as duas levantaram, e Ellie gritou.

- Ei, nós queremos entrar!

Remus, o garoto de cabelos claros, sorriu para as duas. Mas Lily pode ver a troca de olhares entre Sirius e James. Ela não conseguia saber se eles tinham ou não aprovado a sua presença ali.

As duas meninas caminharam até os meninos. James olhou de Ellie para Lily, e falou, um pouco sério.

- Tudo bem. Mas está com ela, então. – ele falou, indicando Lily. Ela que deveria tentar pegar os garotos.

Desta vez Lily teve a nítida impressão que o garoto a estava testando. Mas ele não conhecia Lily, e não tinha idéia de que ela nunca desistia facilmente. Ela o encarou com firmeza, e respondeu.

- Por mim, tudo bem.

Então, num instante, os garotos começaram a correr. E Lily começou a correr atrás deles, tentando alcança-los.

--

Não passou nem uma hora, e a Sra. Potter e a srta. Spencer apareceram novamente no lado de fora da casa. Elas chamaram os garotos para perto. Logo eles se aproximaram, e a assistente social falou.

- Lily, eu já vou. Você sabe que pode me ligar se precisar.

Lily, que estava corada de tanto correr, apenas concordou com a cabeça, tentando recuperar o fôlego.

A assistente apertou a mão da garota, e em seguida a da Sra. Potter. Ela entrou no carro preto, e logo desapareceu pela rua.

Lily sentiu um frio na barriga. Agora ela estava sozinha. Num lugar completamente diferente. Com pessoas que ela tinha acabado de conhecer.

Mas a Sra. Potter sorriu para as crianças, e falou.

- Vamos entrar, crianças. O almoço já está sendo servido.

Lily fez menção de seguir a mulher, mas a voz de Ellie a interrompeu.

- Sra. Potter, a Lily pode ir lá em casa depois do almoço para brincar de boneca comigo?

Antes que a Sra. Potter pudesse responder, Sirius franziu a testa e fez cara de nojo.

- Boneca? Credo!

Ellie fechou a cara, e retrucou.

- Boneca, sim! Eu sou uma garota, lembra?

Sirius deu um sorrisinho, e respondeu.

- Sabe que eu vivo me esquecendo disso?

Ellie apertou os olhos na direção do menino, e o ignorou. James olhou para Sirius, e os dois riram baixinho. Remus, ao contrário dos outros dois, ficou sério, e deu um passo na direção da menina.

A Sra. Potter sorriu para Ellie, e respondeu.

- Se a Lily quiser, ela pode ir sim, Elladora.

Lily olhou para a menina de cabelos castanhos, e concordou com a cabeça. Ellie sorriu, satisfeita. Ela começou a se afastar, e acenou para Lily. E prontamente ignorou Sirius e James.

Lily seguiu a Sra. Potter, que caminhava para dentro da própria casa. Antes de entrar, ela viu Ellie caminhando para a casa, e falando com Remus.

- Vem, Remus, vamos lá em casa um pouco.

O garoto de cabelos claros sorriu, e acompanhou a menina.

--

Assim que Lily entrou em casa a Sra. Potter falou.

- Vocês estão muito suados! Vão tomar banho antes do almoço.

James e Sirius olharam um para o outro, e começaram a correr, em direção à escada. Estavam disputando quem chegaria primeiro no segundo andar. Eles eram tão barulhentos quanto uma cavalaria. Lily ficou parada, e a Sra. Potter a conduziu para o segundo andar, calmamente.

- Você tem um banheiro só seu, Lily, no seu quarto. Achei que seria melhor você ter privacidade. Os meninos gostam de... digamos, pregar peças em todo mundo. Assim é melhor para você.

Lily franziu a testa, um pouco assustada com o que a mulher tinha acabado de dizer. Mas ela percebeu, e logo se explicou.

- Ah, não se preocupe, eles não fazem nada de mais. São apenas brincadeiras. Mas é melhor se você se acostumar aos poucos.

Lily, ainda assim, ficou um pouco receosa. Ela entrou em seu novo quarto, e tomou o cuidado de fechar a porta. Viu lá dentro a porta do banheiro, e foi até ela, girando a maçaneta. Viu que o banheiro era tão bonito quanto o quarto. Não era muito grande, mas tinha um grande espelho, uma enorme bancada de pia, e um box espaçoso. E viu que a Sra. Potter foi cuidadosa o suficiente em colocar a disposição todos os produtos que ela precisaria.

Lily despiu o vestido amarelo, tirou os sapatos e meias, e logo entrou debaixo da ducha. A água morna descia pelo corpo da menina, e ela sentiu como se deixasse para trás sua vida anterior. Agora tudo seria diferente.

Após alguns minutos debaixo da água, ela terminou seu banho. Enrolou-se numa grande toalha branca e felpuda, e foi até o quarto. Lá, ela abriu sua mala, que parecia muito pequena em comparação ao enorme armário que estava no quarto, e retirou uma roupa limpa para vestir. Rapidamente ela se vestiu, penteou os cabelos e calçou sapatos. Mas desta vez ela escolheu uma sandália, bem mais confortável que os sapatos envernizados que ela estava usando.

Lily caminhou até a porta, e a abriu silenciosamente. Ia saindo do quarto, em direção à escada, quando ouviu vozes. As vozes dos dois garotos da casa, James e Sirius. Isso não a faria parar, não fosse pelo fato dela perceber que eles estavam falando sobre ela. Ela então ficou parada, muito quieta.

- E o que você achou dela? – foi a frase de Sirius que a fez parar.

James ficou em silêncio por alguns segundos, e depois respondeu.

- Ah... não sei.

Sirius continuou falando.

- Pois eu preferia que ela fosse um garoto. Fora que ela parece muito fresca, com aquela roupinha e aqueles sapatos. De garota, já basta a Ellie.

- Mas a Ellie usa vestidos muito mais frescos que ela.

Sirius riu, e respondeu.

- É, mas a Ellie também sobe em árvore e briga que nem um garoto.

James riu, e Lily continuou ouvindo. Logo ele falou, e sua voz estava muito mais séria que antes.

- Eu... eu não gostei que meus pais trouxeram ela para cá. Ela nem é da família.

Novo silêncio entre os dois. Sirius falou, e sua voz parecia ainda mais séria que a de James.

- Eu... também não sou...

James rebateu imediatamente.

- Lógico que é! Você é meu irmão! Fora que tecnicamente você é da família, também. Mamãe é prima da sua mãe, não é?

Sirius pareceu ter ficado muito satisfeito com a resposta de James, já que a voz dele estava bem mais animada quando ele falou.

- Bem, olhando por esse lado...

- Você é meu irmão e ponto final. – decretou James – Mas essa garota... a gente nem conhecia ela. Ela não tem ligação nenhuma com a gente.

- É, mas seu pai falou...

Mas Sirius não terminou a frase, foi interrompido por James.

- Sirius, se você é meu irmão, pode chamar o meu pai de pai também... mesmo que ele não seja, na verdade, ele te considera tão filho dele quanto eu.

Sirius então corrigiu a frase.

- Tá bom. O papai falou que ela não tinha mais ninguém. Que todo o resto da família dela já morreu ou são afastados demais. Ela ia para um orfanato.

- Eu sei, eu sei... – James falou, meio impaciente.

- Você não sabe o que é perder um dos pais, Jay... – Sirius falou, novamente com uma voz mais séria. Mais séria e um pouco triste – Eu sei o que é isso. E ela ainda perdeu os dois...

James inspirou profundamente, tanto que Lily pode ouvir do corredor. Logo ele falou, encerrando a conversa.

- Tá bom, eu dou uma chance para a garota. Mas é bom ela ser legal tipo a Ellie, senão...

Os dois riram. E Lily imediatamente começou a andar, em direção à escada. Não queria se flagrada ouvindo a conversa dos meninos.

Ela logo alcançou o primeiro andar da casa. Chegando lá, viu a Sra. Potter lendo um livro, e uma empregada usando um impecável uniforme arrumando a mesa. Assim que a Sra. Potter a viu, ela levantou, e falou.

- Venha, Lily, vamos sentar à mesa de uma vez. Os meninos já devem estar descendo.

Lily sentou no lugar indicado pela senhora, mas nada a fazia esquecer a conversa que acabara de ouvir. James, o filho verdadeiro do casal não estava nem um pouco satisfeito com a presença dela ali. Pelo menos Sirius parecia entender o que ela estava passando.

Logo os garotos desceram, e eles sentaram em seus respectivos lugares. Mas ambos observavam constantemente, e ela sentia que seu rosto estava queimando.

A Sra. Potter fez o melhor que pode para tornar o almoço agradável. Ela perguntava coisas sobre Lily, mas delicadamente evitava falar abertamente sobre seus pais. Perguntou muitas coisas sobre a escola, e de forma suave, perguntou se ela não gostaria de se transferir para a mesma escola que os filhos freqüentavam. Quando ela falou o nome da escola, Hogwarts, Lily arregalou ligeiramente os olhos. Ela sabia que era uma das melhores escolas de todo o Reino Unido, se não fosse a melhor. Como ela estava no início do período letivo, a Sra. Potter sugeriu que uma transferência não iria prejudicá-la. Lily ficou um pouco insegura, mas ela logo completou.

- A Elladora e o Remus também estudam lá. Aí já são quatro pessoas que você já conhece na escola. Fora que, pela sua idade, você vai ser do mesmo ano que a Elladora. Os meninos estão no ano logo acima.

Lily ficou um pouco mais animada com essa perspectiva. Pelo menos conhecia alguém do mesmo ano, e poderia estudar numa escola excelente. Então, ela finalmente concordou com a Sra. Potter.

- É... eu acho que seria bom estudar lá.

A Sra. Potter sorriu, satisfeita. Ela falou.

- Vou acertar os detalhes mais tarde. Mas pode ficar tranqüila, vamos conseguir uma vaga para você.

Lily olhou rapidamente para os garotos. Sirius estava distraído, alcançando uma travessa com batatas assadas. Mas James olhava diretamente para ela. E ele a olhava com se ela fosse uma usurpadora, ou algo do tipo. Aquilo deixou Lily extremamente desconfortável.

--

Depois do almoço, como ela tinha combinado, Lily foi brincar na casa de Ellie. Ela ficou ainda mais impressionada quando viu o interior da casa da nova vizinha. Era muito bonito, com objetos antigos e decoração discreta. E o quarto de Ellie parecia um sonho.

Elas passaram um bom tempo brincando com belas bonecas. Lily pode perceber claramente que a menina não costumava ter a companhia de outras garotas. Ela estava muito sorridente, e feliz por poder brincar com outra garota, e não sozinha, como devia fazer com freqüência. Certamente os meninos não aceitavam brincar com ela as brincadeiras típicas de meninas.

Elas também conversaram muito, e Ellie contou bastante sobre como as coisas eram naquela rua.

Basicamente ela falou que, da faixa etária deles, os quatro eram os únicos pelas redondezas. A maioria dos moradores daquele bairro já tinha filhos crescidos, ou adolescentes. Eles eram as únicas crianças.

Então isso fez com que os quatro ficassem muito unidos. Ellie contou, rindo, que eles se referiam a si mesmos como o "quarteto fantástico", como na revista em quadrinhos.

- Agora vamos precisar de um novo nome! Com você, vamos ser cinco. – ela falou, animada.

Ellie contou também um pouco sobre cada um dos meninos. James sempre morou naquela casa, e Ellie o conhecia desde que ela nasceu. Os meninos eram cerca de um ano mais velhos que ela, mas essa diferença nunca atrapalhou a amizade deles. Mesmo quando eles entraram na escola, eles continuaram andando com ela, e, assim que ela atingiu idade escolar, passou a freqüentar Hogwarts também, e lá os quatro continuaram inseparáveis.

Ela também explicou melhor porque Sirius morava na casa de James. O pai de Sirius tinha falecido, e a mãe dele tinha ficado muito perturbada com o ocorrido. Então a Sra. Potter, que era prima da mãe de Sirius, se ofereceu para cuidar do garoto, pelo tempo que fosse necessário para a recuperação da Sra. Black. Mas, como a mulher nunca se recuperou realmente, os Potter passaram a ser guardiões legais do menino.

E, por fim, ela falou sobre Remus. Ele também era vizinho dela desde sempre, e ela simplesmente o adorava. Eles sempre se deram bem, e nunca brigavam. Remus morava com os pais, assim como James. E como todos os outros, ele também era filho único. O que provavelmente serviu para uni-los ainda mais.

Lily percebeu que Ellie parou de falar quando chegou na parte de contar sobre si mesma. Ela então perguntou, delicadamente.

- E você, Ellie... Por que você mora com seus avós?

Ellie suspirou, e falou, com uma voz bem mais baixa.

- Eu... sempre morei aqui, sabe. Mas meus pais... eles faleceram alguns anos atrás. Eles moravam aqui, também. – ela então fez uma tentativa de melhorar o astral, brincando. – Afinal, você viu como essa casa é grande? Cabem umas quatro famílias aqui...

- Eu sinto muito... – Lily falou, também baixo.

- Eu também, Lily...

Lily sabia que Ellie sabia de sua história. Provavelmente os meninos contaram tudo para ela, antes de Lily chegar.

As duas ficaram caladas. As duas na mesma situação. Mas Ellie pelo menos tinha os avós. E Lily não tinha mais ninguém.

Então Ellie olhou para Lily, e falou.

- Quer brincar na casa da árvore?

Lily abriu um pequeno sorriso, e concordou. E as duas saíram em direção ao jardim.

--

Lily passou uma tarde muito agradável brincando com Ellie. A menina era muito divertida, e parecia uma boa amiga. No meio da tarde Remus apareceu por lá, e se reuniu às garotas na casa da árvore. O garoto era definitivamente diferente de James e Sirius. Ele era muito bem educado, e não era de falar muito. Mas era simpático, e uma companhia muito agradável.

Lily também percebeu que a turminha adorava música. Um dos passatempos preferidos deles era ficar ouvindo o rádio, ou então discos. Ellie e Remus ficaram um bom tempo falando sobre música. Eles eram fãs dos Beatles, e falaram sobre uma nova música que a banda tinha acabado de lançar.

Quando começou a anoitecer, a garota se despediu dos novos amigos, e foi embora para a casa dos Potter. Sua nova casa. Mas ela não conseguia se acostumar com isso.

Quando Lily entrou na casa, ela deu de cara com James e Sirius.

Sirius tentou fazer uma expressão simpática, mas James logo fechou a cara. Pelo visto ele ainda não tinha decidido dar uma chance para Lily.

O clima entre os três estava totalmente estranho, até a Sra. Potter aparecer, e chamar Lily.

- Lily! Venha aqui, por favor.

Lily seguiu a voz da mulher, e foi andando por um corredor. Ela chegou a uma sala que nunca tinha entrado antes. Era um escritório, mas tinha prateleiras tão cheias de livros que mais parecia uma biblioteca. A garota olhou para os livros, fascinada. Mas logo foi tirada do transe pela voz da Sra. Potter.

- Lily, eu não sei se você lembra, mas esse é Charlus Potter, meu marido.

Lily lembrava do Sr. Potter. Ele era o dono da empresa que seu pai trabalhava. E ela sempre ouvia o pai falar como o Sr. Potter era uma pessoa boa, honesta e caridosa. Bem, agora ela era prova viva de como ele podia ser bondoso com outras pessoas.

- Olá, Lily. – ele falou, de forma simpática.

- Boa noite, senhor Potter. – Lily falou, um pouco sem jeito.

Ele se levantou da cadeira que ocupava, atrás de uma mesa grande, e foi até a menina.

- Espero que você tenha gostado de seu novo quarto. E saiba que você é muito bem vinda nesta casa.

Lily sorriu muito de leve, e concordou com a cabeça. Mas pensou que, para pelo menos uma pessoa daquela casa, Lily não era nem um pouco bem vinda.

Ela olhou novamente para o casal à sua frente. Estava muito agradecida por eles a terem acolhido. Ela teria ido para um orfanato se não fosse por eles. Mas também não conseguia sentir-se à vontade na casa deles. Em parte, por ainda ser muito cedo, e o choque da mudança em sua vida a estava deixando insegura. Mas também não ficava confortável em saber que o único filho do casal não aprovava sua presença ali.

Ela logo arranjou uma desculpa, e falou que iria para seu quarto. Eles apenas sorriram, e se despediram. Lily ficou feliz por nenhum dos dois ter mencionado seus pais recém falecidos. Ela não tinha a mínima vontade de falar sobre o assunto.

Lily subiu as escadas quase correndo. Queria entrar no quarto, fechar a porta, e deitar na cama. Queria esvaziar a mente.

Mas, quando terminou de subir as escadas, ela, que vinha andando de cabeça baixa, deu um encontrão em algo, no meio do caminho.

Mas não era algo. Era alguém.

James Potter.

Ela levantou a cabeça, e deu de cara com o garoto.

Pela primeira vez ela viu James de perto. Ele tinha olhos castanhos acinzentados. A pele dele era clara, e ele tinha sardas quase invisíveis no nariz. Eram tão discretas que ela só notou com a proximidade. Os cabelos dele eram brilhantes, e muito lisos. E, como ele era um tanto mais alto que ela, a garota olhou para cima para encontrar os olhos dele.

Mas James olhou para ela, e fechou a cara. Ele resmungou.

- Não olha por onde anda, não?

Lily não esperava por algo tão ríspido. Ela ficou muda, e apenas viu James se afastando, em direção ao quarto de Sirius. Lily caminhou até seu quarto, mas, antes de entrar, ela olhou na direção que o garoto tinha ido, e falou.

- Desculpe.

James, que estava com a mão na maçaneta do quarto de Sirius, virou para o lado dela novamente, e a olhou. Ele não disse nada, mas Lily notou que o lábio dele se contraiu de uma forma estranha, como se ele tivesse suprimido um sorriso.

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A noite já tinha avançado. Mas Lily ainda estava com os olhos abertos. Deitada na cama, totalmente coberta, olhando para o teto. Lembrou do teto de seu quarto antigo, que ela tinha colado várias estrelinhas fosforescentes. No quarto novo não tinha absolutamente nada.

Lily inspirou profundamente. A falta dos pais era ainda maior à noite, no escuro. Mas ela precisava seguir sua vida. Precisava continuar o seu caminho. Prometeu a si mesma que se adaptaria à nova vida, e que iria tentar ser feliz.

E pensou que, onde quer que seus pais estivessem, ela os deixaria orgulhosos.

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Música:

Runaround Sue – Dion

Aí está, prólogo entregue. Os próximos capítulos já vão ser ambientados muitos anos depois, quando Lily e os outros já forem adolescentes. O prólogo era só para mostrar como Lily foi morar com os Potter, e indicar como os relacionamentos entre todos vão se desenvolver. Quem tiver alguma dúvida, pode mandar que eu respondo, se não for spoiler de nenhum capítulo futuro.

E então, vocês gostaram? Odiaram? Mandem reviews com suas opiniões, eu quero saber o que vocês acharam!

Beijos para todos!!

Pri.