Lição de Sedução

Lição de Sedução

O amor supera o medo e o sofrimento!

Kagome não tinha a menor idéia de quanto tempo havia se passado, mais tarde, acordou nos braços de Sesshoumaru. Estava deitada de lado, com as costas apoiadas no corpo musculoso e quente.

- Eu amo você – ela murmurou, tão dominada pela forte emoção que as palavras brotaram de sua boca antes que pudesse se quer reconhecesse que elas existiam.

Um pânico súbito a tomou de assalto. Oh, Deus! O que acabara de fazer?

- Respire fundo, meu bem – ele sugeriu com tom doce, impedindo que ela escapasse de seu abraço.

- Solte-me. – Precisava de espaço. De ar. Depressa. – Não quero mais fazer isso.

Ele a segurou com mais força.

- Kagome, olhe para mim.

De jeito nenhum. Não era uma boa atriz. Se olhasse em seus olhos mesmo que só por um segundo, ele saberia que estava mentindo.

- Sei que isso a apavora - Sesshoumaru continuou, mantendo-a entre os braços apesar da luta desesperada de Kagome para libertar-se. – Estou aqui. Sempre estarei. E isso é uma promessa.

O afeto na voz dele a atingiu como uma lâmina afiada, ameaçando enfraquecer sua resolução, mas recusava-se a cair vitima de um truque tão antigo.

Graças ao encerado escorregadio, ele não teve nenhuma dificuldade para virá-la de costas e imobilizá-la com o próprio corpo, debruçando-se sobre ela. Kagome cometeu o engano de fitá-lo nos olhos. A emoção refletida naquele olhar fez triplicar a dor em seu peito.

- Não faça isso comigo – pediu aflita, lutando para levar ar aos pulmões. – Oh, Deus, não consigo respirar. Não consigo respirar!

- Eu amo você, Kagome!

Ela balançou a cabeça.

- Não.

- Por que não? – Sesshoumaru insistiu sério, a testa marcada por uma ruga profunda. – De que tem tanto medo? De mim?

Ela o empurrava com força apoiando as duas mãos em seu peito, e finalmente ele a soltou. Kagome afastou-se com um desespero impressionante. Fugia da verdade de seus sentimentos por ele.

- Essa conversa está encerrada.

- Não mesmo! – ele respondeu ríspido. Tentou segurá-la pelo braço, mas ela já estava fora da cama, e não havia nada que pudesse fazer para trazê-la de volta.

- Vá embora, Sesshoumaru. – O pânico fazia sua voz soar mais alta e estridente. Ela recuou até sentir o corpo pressionado contra a parede. – Saia, antes que isso fique muito feio.

- Não perca seu tempo esperando por algo que não vai acontecer. – Ele também se levantou, aproximando-se dela com ar ameaçador. – Não vou deixar você me expulsar. Não vai me mandar embora também.

Kagome virou-se, ansiosa para colocar a maior distância possível entre ele e sua vulnerabilidade. Na pressa, ela não viu a calça jeans de Sesshoumaru no chão e tropeçou, perdendo o equilíbrio. Estendendo uma das mãos, tentou impedir queda que parecia iminente e agarrou-se ao encosto da cadeira. Um dos espelhos apoiados nela caiu para frente e se estilhaçou no chão com um estrondo assustador.

Sem se quer olhar para os cacos de vidro espalhado pelo carpete do quarto, ela correu para o banheiro buscando segurança e solidão. Uma vez lá dentro, trancou a porta, encostou a testa na madeira fria e ficou esperando pelo som da batida da porta da frente. Só então poderia respirar aliviada.

Sesshoumaru forçou a maçaneta.

- Não pense que vou embora – disse em voz alta do outro lado da porta. Ele não soava nervoso ou zangado. Apenas determinado. – Vamos terminar esse assunto. Hoje.

- Que sorte a minha – Kagome resmungou, afastando-se da porta.

Cerca de uma hora mais tarde, Kagome ainda não emergia do lugar que, Sesshoumaru suspeitava, ela julgava ser seu santuário. Desde que fora se esconder no banheiro da suíte, ele havia tomado banho no banheiro social, limpando toda a confusão que ela havia criado no quarto, e já esvaziara a primeira xícara de café quente e forte.

Ela estava morta de medo. Apavorada. Sabia disso. Mas não havia a menor chance de atender aos pedidos silenciosos de Kagome. Não permitiria que sabotasse seu relacionamento, não depois de ter admitido amá-lo. Especialmente depois disso.

Não desistiria dela. Ou deles.

A água deixou de escorrer no banheiro da suíte, e por isso ele saiu do quarto e foi para a cozinha servir-se demais uma xícara de café. Sabia que Kagome gostaria de ter privacidade para vestir-se. O banho já era um progresso. Ela nem havia ligado o chuveiro quando, algum tempo antes, sesshoumaru deixara a suíte para ir preparar o café.

Ele levou a xícara de café para a sala de star com a firme intenção de esperá-la, imaginando que tipo de reação provocaria quando anunciasse sua decisão de deixar a força. Sabia que não seria nada tão dramático quanto a reação que seguira sua confissão de amor por ele, mas esperava que ela tivesse uma ou duas coisas a dizer sobre o assunto.

Ele estava bebendo um gole de café quando Kagome entrou na sala de estar. Um jeans desbotado e macio envolvia suas curvas tentadoras. O top minúsculo exibia os braços esguios e os ombros bem torneados. Kagome parecia jovem, vulnerável, e muito, muito zangada.

- Por que ainda não foi embora? – ela perguntou sem rodeios.

Ele acrescentou a descrição mais uma qualificação: "defensiva demais para ouvir quaisquer argumentos". Melhor inserir também: "Emocionalmente carregada e incapaz de uma discussão racional". Deixando a xícara na mesa de café ao lado do sofá, ele emitiu um suspiro resignado e se reclinou contra o encosto. Depois apoiou o pé sobre um joelho e encarou-a.

- Porque precisamos conversar.

Ela cruzou os braços e assumiu uma expressão ameaçadora que teria sido mais eficiente, caso ela houvesse se dado ao trabalho de disfarçar o medo estampado em seus olhos.

- Já disse que a conversa foi encerrada. As palavras não foram claras o bastante para a sua compreensão? Ou está se fazendo de idiota deliberadamente?

Ele rangeu os dentes para conter a frustração. Em seu esforço contínuo para afastá-lo, kagome tentava provocar uma briga. Recusava-se a dar a ela essa satisfação.

Controlado, fingiu não notar como ela ergueu as duas sobrancelhas enquanto o fitava.

- E então? – Kagome insistiu diante do silêncio prolongado. – Qual é a alternativa correta?

- Não vai conseguir me expulsar daqui com essa encenação fraca de mulher revoltada, meu bem. Estou preparado para tudo. Faça o jogo, e garanto que posso bancá-lo.

- Ah, é mesmo? Pois os jogos também terminam – ela decretou com tom gelado. – Seus serviços não são mais necessários por aqui. – De cabeça erguida , Kagome virou-se e caminhou para a cozinha.

Durante longos cincos segundos, ele considerou a possibilidade de seguir o conselho de Kagome e partir, pelo menos até ela se acalmar. Sua paciência estava chegando ao limite, e não queria perdê-la num momento tão precioso. Mas, se saísse do apartamento agora, estaria fazendo exatamente o jogo que ela esperava fazer.

Ou não?

A mulher queria brigar, muito bem, ela seria atendida em pelo menos uma de suas vontades. Teriam uma boa briga. Depois, talvez ela acreditasse que não havia a menor possibilidade de ele a ferir, por mais que fosse sua vontade de apertar e torcer aquele delicioso pescoço.

- Temos assuntos inacabados.

Kagome fechou os olhos e agarrou a beirada do balcão da cozinha. O que tinha de fazer para Sesshoumaru parar de pressioná-la? Havia imaginado que a encenação de mulher fria e ressentida seria o suficiente para afastá-lo dali. Muitos homens haviam corrido assustados antes de concluir a primeira frase.

Não entendia por que o truque não havia funcionado com Sesshoumaru. Ele já devia estar saindo do estacionamento a essa altura, mas, em vez disso, continuava ali, relaxado e apoiado na porta da geladeira como se vivesse situações semelhantes todos os dias.

Ela se virou e olhou para Sesshoumaru com ar determinado, disposta a tentar outra tática diferente.

- Acho que concluímos nosso assunto de maneira bastante agradável. – Ela olhou para o zíper de sua calça jeans. – A menos que esteja interessado em repetir a performance.

- A oferta é bastante tentadora. – Ele se afastou do refrigerador, e rapidamente encurralou-a contra a pia. Não parecia furioso, mas a determinação que brilhava em seus olhos elevava o grau do nervosismo de Kagome levando-o a patamares recordes. Sentia o calor das mão plantadas sobre o balcão nas laterais de seu corpo. Ele a tinha imobilizado, o que, suspeitava, sempre havia sido sua intenção.

E o homem tinha um perfume...

- Tentadora... – ele repetiu. – Mas não estou interessado nessa oferta. Não nesse momento, pelo menos. – Sesshoumaru falava em tons modulados, o mesmo tom que usava quando lidava com um viciado ou drogas ou um alcoólatra paranóico. Calmo. Razoável. Odiava esse tom. – Diga outra vez que me ama – ele disparou. – Essa é uma performance que você pode repetir. Sempre.

Uma vez era mais do que suficiente para ela, obrigada.

- Lamento, mas o espetáculo foi cancelado. – Kagome encolheu os ombros de forma a demonstrar indiferença que estava longe de sentir. – De qualquer maneira, o que viu foi uma apresentação limitada. Não temos intenção de reprisá-la ou executá-la em público.

De perto, podia ver os círculos dourados e escuros cercando suas pupilas âmbares. O calor radiava de seu corpo em ondas envolventes. E sua determinação era palpável.

E, maldição, seu perfume era delicioso.

- Sei o que está tentando fazer, Kagome. E não vai dar certo comigo.

- Ah,não? Realmente?

O movimento afirmativo que ele com a cabeça e o sorriso sexy que distendia seus lábios eram muito confiantes.

- Pode tentar todos os truques que conhecer para atingir-me. Não vai mudar o que sentimos um pelo outro. Esse ridículo ato de não-dou-a-minima-para-você que está tentando agora também não vai levá-la a lugar nenhum. Conheço você – ele continuou – Se não estivesse apaixonada por mim, não teria fugido como um coelho assustado.

- Está se sentindo confiante e confortável só porque acabou de ter uma esplêndida experiência sexual. Mas eu sei que as coisas não são tão fáceis. Assim que os efeitos da satisfação desaparecerem, com eles irá também a generosidade.

- Impossível.

- Acredite em mim, porque sei do que estou falando! – ela exclamou, batendo uma mão contra a outra. – E bem quando menos esperamos.

Uma ruga sombria surgiu no meio de sua testa, substituindo a expressão arrogante de antes. Devagar, Sesshoumaru ergueu os ombros.

- Não está dizendo que acredita...

- Pode apostar seu traseiro nisso, parceiro. Eu acredito – ela o interrompeu com súbita segurança. – Vivi essa história, Sesshoumaru. E ainda a estou vivendo. Cada vez que somos chamados para atender uma ocorrência de uma mulher espancada, o agressor é sempre um cretino estúpido por quem ela se apaixonou.

- Então, é por isso que esta tentando provocar uma briga – ele deduziu balançando a cabeça.

- Ora, esqueça! – Kagome fez um gesto de desdém com a mão. – Você não é mesmo capaz de entender.

Por que gastar palavras e se esforçar tanto, se no final nada disso faria diferença? Sim, sabia que ele nunca a machucaria como estava insinuando, mas ele a dilaceraria emocionalmente, e essa não seria uma experiência menos dolorosa.

Kagome conseguiu se afastar de Sesshoumaru e voltou para a sala de estar.

- Tente me fazer entender.

Ela se assustou com o som inesperado do som da voz de Sesshoumaru, mas se manteve de costas para ele. Se o ignorasse, talvez ele desistisse e fosse embora.

As mãos pousaram suaves sobre seus ombros, e ele a fez encará-lo virando-a lentamente, porém com firmeza.

- Não acha que valemos o esforço de uma boa luta? Se quer brigar, então faça com que seja ao menos uma luta digna e válida.

- É isso que pensa que eu quero? – ela respirou fundo. – Sesshoumaru, não tenho a menor intenção de brigar com você.

- Mentira – ele a acusou com tom cortante. – Esta fazendo de tudo para causar uma briga por que quer descobrir até onde pode me provocar e pressionar antes de me fazer explodir. Faça tudo o que puder, meu bem. Esforce-se ao máximo. Reconheço que esta testando os limites da minha paciência com essa sua atitude ridícula, mas não pense nem por um minuto que eu seria capaz de agredi-la fisicamente, por mais zangado que esteja.

- Eu sei disso - ela respondeu com falsa tolerância.

- Posso até erguer a voz, mas jamais levantaria minha mão para você. Nunca!

- Eu sei, Sesshoumaru – repetiu cansada.

Ele passou uma das mãos pelos cabelos. Havia frustração e impaciência no gesto.

- Então, do que tem tanto medo?

Kagome fechou os olhos e balançou a cabeça. Deus, não podia acreditar no que estava prestes a dizer.

- Não é você. Sou eu.

Ele deixou a cabeça cair para frente e riu. Riu!

- Tente outra – disse ao encará-la novamente. Depois caminhou até o sofá e sentou-se. – E, por favor, ofusque-me com sua criatividade dessa vez.

KAgome sorriu ao lembrar o desafio que lançara para ele a pouco tempo atrás. Depois de um momento de hesitação, ela se dirigiu à cadeira e se acomodou sobre um braço. Em essência, estava pondo um ponto final no relacionamento. Por mais que detestasse a vulnerabilidade evocada pela constatação, Sesshoumaru merecia uma explicação.

- Nem sempre minha mãe me arrastava de um buraco fétido para outro. - começou. – As lembranças dos anos que ela esteve casada com meu pai, e depois, quando viveu com Kaoru, são muito boas. Mas os anos alheios a esses dois períodos...

- Sei que foi difícil – ele respondeu. – Não precisa tocar nesse assunto, se não quiser.

Se estivesse ao alcance das mão de Sesshoumaru, sabia que ele a teria tocado, oferecendo silenciosamente sua força por sentir que a dela estava chegando ao fim. Sua generosidade era uma das razões pelas quais o amava, e também aquela eterna para compartilhar um fardo que nem era dele. Mas sabia que isso era só dela. Apenas com ela, ele mostrava seu verdadeiro caráter, gentil e terno.

Mais uma vez, ela sentiu seus lábios se entreabrirem num sorriso, embora triste.

- Depois da morte de meu pai, minha mãe se transformou numa espécie de imã para vagabundos. Se havia um sujeito imprestável num raio de vinte quilômetros, Tsuki o atraía e era atraída por ele. Antes de começar a sofrer os efeitos do consumo de álcool, ela era uma mulher muito bonita. Então, não era que os bons moços não se sentissem atraídos por ela. Era ela que não os queria.

Sesshoumaru assentiu indicando que a estava acompanhando e entendia.

Kagome prosseguiu.

- Kaoru acabou me dando a explicação pouco depois de eles se divorciarem. Ele disse que Tsuki tinha medo da felicidade. Não me dei conta disso até a noite em que ela morreu.

Ela parou e respirou fundo, como se as recordações fossem fonte de intensa dor. Depois fortalecida, continuou seu relato.

- Ela estava lúcida, o que não era comum, e acho que pressenti que aquele seria o final para minha mãe. Pensei que estava tentando me conforta quando disse que não tinha medo de morrer, porque iria se encontrar com meu pai. Falava como ele ficaria orgulhoso de mim, como havia sido seu único amor verdadeiro. Lembro-me de ter ficado ali sentada, ao lado da cama, pensando em como uma vida inteira de loucuras repentinamente passava a fazer sentido.

- Como assim? – Sesshoumaru perguntou confuso.

- A verdade, Sesshoumaru, é que ela morreu muito antes de sucumbir à AIDS. Ela morreu quando meu pai deixou esse mundo. Ela o amava muito, tanto que, quando o perdeu, deixou-se destruir pela vida. Passei todos os anos da minha vida adulta tentando não ser parecida com ela, mas hoje eu sei que sou exatamente como minha mãe.

Ele passou a mão pelo rosto.

- Kagome, não...

- Não – ela o interrompeu com firmeza surpreendente. Apesar da profunda tristeza que ameaçava esmagá-la, precisava fazê-lo entender porque não podia se deixar amá-lo. As lágrimas tornavam sua visão embaçada, e de repente o rosto de Sesshoumaru era apenas um contorno de borrões imprecisos. Sua garganta doía pelo esforço de conter o pranto, e a respiração era difícil e entrecortada. – Não vou seguir esse caminho Sesshoumaru. Tenho que ser mais forte do que ela foi, ou tudo a que sobrevivi não terá significado nada.

Kagome perdeu a batalha, mas ele estava ao seu lado, abraçando-a e oferecendo seu amparo antes de a primeira lágrima correr por seu rosto. Não queria se apoiar nele, não queria necessitar da força daqueles braços em torno do seu corpo.

Ele se manteve em silêncio enquanto ela chorava. Apenas a abraçava e oferecia sua força. Já que a dela deixara de existir.

Como ele havia feito... Na última vez?

Uma lembrança aflorou na consciência. Como ele havia feito... Na primeira vez?

A familiaridade que estivera flertando com sua consciência desde a noite em que se tornaram amantes cristalizou-se subitamente. Ele a segurava, abraçava, confortava... Tudo que ele fazia agora como na primeira vez em que se beijaram.

Kagome afastou o rosto do peito de Sesshoumaru, levantou a cabeça e secou as faces com o dorso de uma das mãos.

- Na noite do acidente em dezembro... Nós nos encharcamos de tequila... Eu e você... E você me beijou, não foi?

Ele se encolheu, mas a verdade estava estampada sem eu olhos.

- Por que não disse nada?

Sesshoumaru encolheu os ombros.

- Você nunca tocou no assunto, e eu não tinha certeza... Não sabia nem se havia acontecido. – As mãos deslizaram pelos ombros de Sesshoumaru até os dedos se encontrarem e entrelaçarem como se tivessem vida própria. – Se tivesse fingido que nada havia acontecido e eu abordasse o assunto, certamente teria lhe causado um grande desconforto. Se havia sido só mais uma fantasia e eu dissesse alguma coisa, então você saberia o que... – ele parou e balançou a cabeça. – Era uma situação sem saída.

Só mais uma fantasia?

- Espere um minuto. – Ela estava séria. Muito séria. – Eu saberia o quê?

- Saberia... que eu estava obcecado por você havia meses. – Seu tom se tornara defensivo.

E ela o chamara de idiota? Jamais suspeitara que os sentimentos de Sesshoumaru por ela fossem menos do que platônicos. Sua insistência para que se tornassem amantes de repente fazia sentido.

- Gostaria que houvesse me contado.

Ele riu, mas não havia nenhum humor na gargalhada fria.

- Muito bem, só para que conheça a diferença – ele disparou com tom cortante -, agora estou furioso.

Kagome encarou-o sem saber o que dizer. Se é que devia dizer alguma coisa. De uma coisa estava certa: Sesshoumaru estava realmente furioso com ela.

- Que diferença teria feito? – ele disparou, soltando-a para levar as duas mãos ao rosto e massageá-lo por um segundo. – Está pensando em todo tempo que perdemos? Ou se esta se sentindo frustrada e privada por não ter tido a chance de me sofrer ainda mais?

Kagome pôs as mãos na cintura.

- Como foi que de repente me tornei culpada de tudo?

- Não teria feito a menor diferença. Você ainda teria me repelido, só que teria acontecido antes. – Ele fez um ruído com a garganta que traduzia desgosto, aborrecimento, e se virou de costas para ela, só para virar-se novamente e encará-la com um olhar letal. – Se não quer ser mesmo como Tsuki, então pare de se comportar como ela.

- Ei, espere aí...

- Meu Deus, Kagome, acorde! – A explosão foi inevitável e assustadora. – Ela não caiu naquele padrão de comportamento por causa de um coração partido. A autodestruição foi intencional porque era um caminho mais fácil do que aceitar as responsabilidades inerentes a amar outra pessoa. Ela fez as escolhas que fez por saber que nunca se apaixonaria pelos perdedores que levava para casa.

- Não. Está enganado – Kagome argumentou. – Minha mãe esteve casada com Kaoru por mais de cinco anos.

- Ah, agora temos um exemplar brilhante – ele opinou sarcástico. – Você mesma disse que era só ela começar um relacionamento para o padrão se repetir. Sua mãe jogou com Kaoru, também, ele mesmo lhe disse. Sua mãe não sabia ser feliz. Você é parecida com ela, porque não tem a menor noção do que é sentir felicidade e preservá-la.

Uma onda de náusea a surpreendeu. Choque? Sem dúvida, considerando que ele acabara de aniquilar vinte e cinco anos de sistema de crenças com um único e fatal golpe. Em sua determinação de não repeti os mesmos erros da mãe, não se detivera por tempo suficiente para enxergar a verdade. Talvez não houvesse feito as mesmas escolhas desastrosas, e nunca se submetera aos mesmos abusos físicos sofridos por Tsuki, mas, em todos os outros aspectos da vida, Sesshoumaru tinha razão. E era duro reconhecer que ele estava certo.

Kagome cambaleou para trás, mas ele a amparou antes que cometesse alguma estupidez... como quebrar mais um ou dois espelhos e ampliar seu período de azar.

- Vai fugir ou vai lutar, Kagome? – ele lançou o desafio.

Kagome balançou a cabeça, incapaz de compreender o que ele queria dela, mas certa de que o preço emocional seria maior do que podia pagar. Não podia fazer isso. Não agora. Não quando não tinha mais conhecimento de sua própria identidade. Por mais de duas décadas, cercara-se por um véu de ilusão, acreditando erroneamente que ele proporcionaria proteção contra a dor e o sofrimento. Sesshoumaru estava apenas meio certo. Afastava realmente as pessoas de sua vida, mas porque era mais fácil viver sozinha a aceitar sua parte de responsabilidade pelo próprio sofrimento.

- Vamos, meu bem, se não pode fugir, vai ter de lutar – ele continuou implacável. – O problema é que não consegue ver a diferença, não é?

- Não gosto disso.

- Porque não pode fugir – ele a provocou. – Sempre fugiu porque nunca teve ninguém com a coragem necessária para encurralá-la em um canto e fazê-la encarar seus temores. Até agora.

- Não.

- Vai ter que lidar com isso. Comigo.

Ela o encarou furiosa.

- Já disse não.

- Que pena.

- Pare com isso, Sesshoumaru. Não vou fazer esse seu jogo estúpido – Kagome protestou.

Um brilho absolutamente predador invadiu os olhos dele, deixando-a ainda mais nervosa.

- Estou aqui para ficar. Por mais que eu tenha de lutar, eu estou disposto a ficar.

Não, não estava nervosa, ela decidiu. Estava zangada. Furiosa. Com ele. Seu corpo todo tremia sacudido pela raiva. Como ele ousava pressioná-la quando estava tão vulnerável, quando não tinha nenhum lugar onde pudesse se esconder das emoções caóticas e assustadoras que ameaçavam dominá-la?

Ela se livrou dos braços de Sesshoumaru com um movimento brusco, mas não correu. Em vez disso, avançou um passo e tentou empurrá-lo com força. Ele não se moveu. Nem um milímetro sequer.

- O que você quer de mim? – gritou, os olhos brilhando como se pudesse lançar raios mortais. E ele continuava ali, olhando para ela, absolutamente inabalável diante de sua explosão irada.

Sesshoumaru a pressionara, forçara a lutar com ele, e agora não reagia? Não luatava?

- O que é, Sesshoumaru? O que mais pode estar querendo de mim?

- Tudo.

- Não sei como lhe dar tudo – ela confessou descontrolada. – Se soubesse, seria demais, e não sei como dosar tudo isso. Mantenho as pessoas afastadas de mim porque, se elas se aproximassem demais, poderão ver mais do que considero apropriado. Depois de uma boa olhada para os defeitos, os medos, as cicatrizes, elas decidirão que não me encaixo no perfil que elas traçaram como ideal, e então me jogarão fora. Tem idéia de quanto é doloroso perceber que não se é bom o bastante? Que não se é importante o suficiente? Você fica sozinho para tratar das feridas recentes, fazendo o possível para esconder suas falhas e sufocar o medo para poder sobreviver ao próximo round de desaparecimento.

Depois de respirar fundo, Kagome continuou:

- Que você não merece o esforço...? – ela conteve um soluço e olhou para Sesshoumaru, sua compreensão ganhando clareza na mesma medida em que ela via nitidamente o que ele a forçara a encarar. Como o calor de sol evaporando a névoa da manhã, o entendimento lentamente dissolva a fúria, deixando-a exposta com suas emoções e vulnerável à intensidade escaldante do sol. Ela o abraçou com força. – Não quero desistir de nós - disse. Porque não se encaixava m o perfil que ela considerava ideal, um perfil que a livraria de experimentar sentimentos muito intensos, não pensara duas vezes antes de tentar jogar fora um relacionamento repleto de responsabilidade. Não estava ferindo apenas a si mesma, mas, mais importante, feria Sesshoumaru, porque tivera medo demais para lutar por eles. – Mas vamos precisar de uma casa maior...

Ele riu, enlaçando-a com os braços.

- É melhor começarmos a procurar – disse.

- Estou horrível, não estou?

Sesshoumaru fitou-a. Um sorriso sexy distendeu seus lábios.

- Não – respondeu em voa baixa. – Está apenas humana. A mais linda de todas.

Ele disse as palavras, mas nem precisava. Kagome sabia que ele a amava, como também tinha certeza de que nunca se cansaria de ver o amor que sentia por ele refletido naqueles maravilhosos e profundos olhos âmbares sempre que ele a fitasse.

Erguendo os lábios, ela o beijou. Não podia oferecer garantias de que viver diariamente esse amor seria fácil, mas, com absoluta certeza, sabia que se havia apaixonado pelo homem certo. Um homem forte o bastante para ultrapassar suas barreiras, corajoso o suficiente para fazê-la enxergar a verdade, e maluco na dose certa para amá-la como ela o amava.

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Obrigada a todos que acompanharam a historia.

Espero que tenham gostado.

Ja ne.