Lição de Sedução

Lição de Sedução

Capítulo 1

- Por que eles falam tanto em sopro, se não há nenhum sopro envolvido nisso?

Sesshoumaru Taisho, tossiu e cuspiu longe o café escaldante, espalhando a bebida escura e aromática por sobre o painel da viatura policial.

- Mas o quê...

- Na minha opinião, essa é uma atividade que envolve sucção. Concorda comigo? Quero dizer, acho que é isso que eu sempre faço. Ou fiz.

Ele se virou no assento do motorista para lançar um olhar penetrante para sua parceira, Kagome Higurashi. O movimento brusco fez com que mais café quente transbordasse pela borda do copo térmico, atingindo sua mão.

- Meu Deus kagome – ele reclamou, sacudindo os dedos e deixando pingar deles o líquido escuro. – Um homem precisa ser prevenido sobre certas coisas, sabe?

Mas a culpa não era dela. Não inteiramente. Kagome não podia saber que sua imaginação entraria em atividade frenética e convulsiva em conseqüências das visões invocadas pelos comentários que acabara de ouvir. Como não pensar naquela boca carnuda e sempre tão úmida em certas partes de seu corpo, reproduzindo a prática que ela se referia pouco antes? Normalmente, não se entregava a fantasias sexuais envolvendo uma parceira de trabalho... Isto é, não quando ela estava sentada tão perto dele, ao alcance de sua mão ávida.

Kagome levantou a cabeça e desviou os olhos da revista aberta em suas mãos. Uma ruga fina e suave marcava o centro de sua testa, entre as sobrancelhas, e ela abriu o porta-luvas para pegar um chumaço de guardanapos de papel que ofereceu ao colega. Era evidente que estava incomodada com toda aquela sujeira.

- Lamento – disse. Mas não havia nenhum sinal de contrição em seus olhos cor de chocolate. Pelo contrário, era como se ela se divertisse com o constrangimento que estava criando. – Agora será que pode responder, por favor?

- Responder a quê?

- A pergunta que fiz sobre trabalho de sopro e sucção... Você sabe.

Sesshoumaru não conseguia acreditar que ela havia provocado aquela conversa e insistia em sustentá-la. Durante todo o tempo em que a conhecia, sexo nunca havia sido assunto que ela costumava discutir abertamente. Na verdade, nem abertamente, nem de qualquer outra maneira.

Kagome era uma policial rígida que seguia todas as regras do livro, alguém que sempre se dava ao trabalho de pingar todos os is e cruzar ao tes com todo o cuidado que julgava ser necessário. O faro de agora, repentinamente, ela estar se aventurando em um dos temas considerados tabu em qualquer ambiente de trabalho era suficiente para deixá-lo intrigado.

- Por que está perguntando isso agora? Tem algum motivo especial para buscar esse tipo de informação?- ele perguntou, contrariando os conselhos oferecidos pela voz da razão.

- Não tente me convencer com esse ar de modéstia e virtude, porque não vai me convencer com essa encenação, Sesshoumaru. – Iluminados pelas luzes pálidas do painel, os olhos chocolates brilhavam. Havia nesse olhar uma mistura de expectativa e curiosidade, ingredientes que elevavam sua libido em alguns graus. Alguns? A quem estava tentando enganar? Em muitos graus! – Apenas responda a minha pergunta está bem? Não estou pedindo demais?

Modéstia? Virtude? Nenhuma mulher jamais utilizara tais palavras para descrevê-lo, não com relação ao sexo. Não havia muito que não houvesse experimentado, e eram poucas as coisas que não apreciava nos momentos de intimidade com uma mulher. E quanto mais freqüentes fossem esses momentos, melhor.

Kagoem deixou escapar um suspiro exasperado, impaciente.

- Muito bem – disse, interpretando a demora como uma recusa de Sessehoumaru em responder. Voltando a concentrar-se na revista feminina, ela resmungou alguma coisa incompreensível, algo que ele não conseguiu ouvir, mas que estava absolutamente certo, não havia sido um elogio.

Estavam a vinte minutos em código sete. Com mais dez minutos de intervalo antes de voltarem ao trabalho, ele refletia sobre a utilidade e ate mesmo a sabedoria de prolongar a discussão, depois decidiu que estava grato por ela ter abandonado o assunto, embora relutante e irritada. Abrindo a porta da viatura, Sesshoumaru despejou no asfalto o que restava do café quente.

- Você fica excitado quando uma mulher se masturba na sua frente?

Ele quase mordeu a língua.

- O quê? – disparou com a voz estrangulada.

- Escute só isso. Vou repetir as palavras que acabei de ler aqui: "Quase todos os homens alimentam fantasias sobre um dia presenciarem uma mulher chegando ao orgasmo através da masturbação." - O olhar que ela lançou em sua direção foi perfeitamente inocente e altamente erótico. – Eles chamam essa prática de método de sedução número três.

Sesshoumaru não acreditava que fosse sobreviver ao relato do método número um.

- Pensei que estivesse estudando para o exame de promoção a sargento. – disse, lançando mão de todos os artifícios para conduzir a conversa de volta a um território mais seguro, ao menos para sua sanidade.

- E estou, mas não agora. Mais tarde terei tempo para isso. – Kagome fechou a revista e deixou sobre os joelhos. – Esse assunto é muito importante.

- Tenho o pressentimento que vou me arrepender disso. – ele resmungou, fechando a porta do carro com violência desnecessária. – Mesmo assim... Por quê?

- Fui chutada. – Ela respirou fundo duas vezes, soltando o ar lentamente e de maneira irregular, tensa. – De novo.

Ninguém passa oito ou mais horas todos os dias com uma pessoa sem tomar conhecimento de alguns aspectos da vida pessoal dessa pessoa, inclusive aqueles que se referem aos relacionamentos e suas dificuldades. Há cinco anos, Kagome Higurashi ingressara no Departamento de policia de Tóquio recém saída da academia. Há um ano e meio, o parceiro de Sesshoumaru , um novato, fora alvejado por um tiro durante o patrulhamento rotineiro de tráfego, e ele fora informado de que teria uma nova parceira, Kagome Higurashi. No inicio não havia ficado extremamente feliz com o fato de ter de trabalhar com uma oficial, mulher, mas não levara muito tempo para perceber que aquela não era como a maioria das mulheres do departamento de policia. Ela nunca se expunha a riscos desnecessários para provar que era tão competente ou corajosa quantos os companheiros homens, e devia se mais equilibrada e controlada do que a metade dos rapazes com quem ele havia trabalhado nos últimos oitos anos.

E também não levara muito tempo para compreender que ela não era como a maioria das mulheres.

- Acha que se sentiria melhor se eu lhe dissesse que esse sujeito foi um canalha estúpido?

Um sorriso doce distendeu seus lábios.

- Você acha que todos são canalhas estúpidos.

Ela tinha razão nesse ponto.

- Porque normalmente são – Sesshoumaru respondeu com tom seco.

Com relação ao sexo oposto, Kagome possuía um talento único para escolher o homem errado. Não que todos fossem fracassados ou perdedores. Não era isso. O executivo de banco com quem ela saíra alguns meses atrás parecia ter potencial, o que o incomodara mais do que gostaria de admitir. No entanto, para uma mulher tão inteligente e forte, Kagome não tinha juízo para escolher seus namorados. Não sabia lidar com os homens. Em vez de escolher um rapaz que apreciasse suas qualidades, ela era atraída por aqueles que, ou eram muito cheios de si, ou não passavam de covardes e fracos que ela conseguia intimidar com facilidade. E esses eram sempre chutados em poucas semanas. E quanto aos outros? Bem, também era uma questão de semanas.

. Antes que a relação completasse um mês, o sujeito percebia que ela não era o tipo de mulher que acabaria idolatrando o chão em que ele pisava, e era essa constatação que levava ao fim da relação. Mas algumas semanas e outro imprestável aparecia para chamar sua atenção e enchê-la de esperanças.

Idiotas. Todos, todos eles. Essa era a opinião de Sesshoumaru. Se ela não fosse sua parceira, certamente seria a amante perfeita. Não era uma mulher pegajosa, pois valorizava sua liberdade independência tanto quanto ele. Ela também não era umas dessas mulheres sensíveis e emotivas. De fato, só a vira reduzida a lágrimas uma vez durante todo o tempo que a conhecera.

Dois dias antes do natal haviam sido chamados para reforçar uma equipe envolvida em um caso particularmente grave de colisão no transito. Um motorista embriagado havia ultrapassado o farol vermelho, atingindo em cheio um veiculo que transportava uma jovem família. A mulher e dois dos três filhos morreram na cena do acidente, e o jovem pai ficara sozinho com a responsabilidade de criar uma filha ainda pequena. Lembrava-se de ter sido igualmente afetado pelo episódio, mas as lágrimas de Kagome o deixaram muito nervoso.

Concluído o plantão, ele a convencera de que, depois de um dia difícil e traumático como o que tiveram, ambos mereciam e precisavam relaxar e extravasar a tensão. Kagome havia concordado e aceitara seu convite para ir a sua casa, onde buscaram consolo em algumas doses de tequila.

Depois de algum tempo, o sal e o limão foram esquecidos. Esparramados no sofá de couro da aconchegante sala de estar, continuaram bebendo tequila diretamente no gargalo. E havia sido a partir desse ponto que o problema realmente começara.

Ele a beijara... Ou tinha certeza que a havia beijado. Ou melhor, tanta certeza quanto um homem pode ter naquelas condições. Com toda honestidade, os dois estavam bêbados, que jamais poderia afirmar com certeza e segurança se a experiência havia sido real, ou apenas um marco, o inicio das loucas e ardentes fantasias que passara a ter desde então envolvendo Kagome, sua parceira de trabalho. Havia considerado a hipótese de conversar com ela, de perguntar se o beijo havia acontecido mesmo, mas como não houvera a menor diferença no comportamento de Kagome depois daquela noite, ele acabara decidindo que o melhor era manter a boca fechada.

- Sei que vou acabar me arrependendo disso – ele comentou -, mas o que um retorno à condição de mulher sozinha e livre tem haver com toda essa história sobre... Bem, sobre sopro e sucção?

Ela o encarou com firmeza e seriedade.

- Ele disse que sou horrível.

- Kagome, basta olhar para um espelho e...

- Não, ele não estava criticando minha aparência. Falávamos de... cama.

- Cama?

- Sesshoumaru, o homem disse que sou uma nulidade entre os lençóis.

Felizmente havia jogado fora o que restara do café quente. Caso contrário, agora estaria ensopado e sujo.

- Não pode estar falando sério.

O movimento afirmativo que ela fez com a cabeça sugeria solenidade.

- Sou uma pedra de gelo. Palavras dele, não minhas.

- Já parou para pensar que o problema seja dele?

Ela desviou o olhar, voltando os olhos para as pessoas que conversavam e riam sentadas diante da janela de um desses cafés que ficam abertos a noite toda.

- Não é a primeira vez que escuto essa reclamação especifica – contou com voz baixa.

Impossível. De jeito nenhum. Uma mulher que beijava tão apaixonadamente quanto Kagome não podia ser considerada uma nulidade entre os lençóis. Pedra de gelo? Absurdo!

Sim, reconhecia nela uma certa tendência ao conservadorismo e à rigidez de costumes e hábitos, mas se aquele beijo havia sido real como seu corpo lembrava constantemente sempre que pensava nela, em vez de ser apenas um produto da fantasia de um homem embriagado, o problema não era dela. Definitivamente não.

- Por favor, Kagome, não devia estar preocupada com essa tolice. É... Absurdo! – ele opinou, balançando a cabeça de forma enfática.

- Pelo menos uma vez, Sesshoumaru, gostaria de ter um relacionamento que ultrapassasse a data de validade de uma embalagem de leite. – Ela retirou uma folha dobrada de papel do bolso da camisa do uniforme e entregou-o ao parceiro. – Estive pensando muito nisso, e a única conclusão a que chego sempre que considero o assunto é de que preciso aprender mais sobre como ser uma boa amante. No meu caso, uma amante melhor.

Ele aproximou o papel da luz para poder enxergá-lo melhor. O kama Sutra encabeçava a lista de títulos que ela havia redigido com sua impecável caligrafia. Sesshoumaru respirou fundo diante das inúmeras e sensuais possibilidades que percorriam sua mente disputando supremacia. Os olhos focalizaram um par de títulos particularmente interessantes.

- Maravilhoso Prazer Vespertino, o Tempo Todo – ele leu, contendo um sorriso. – Todas as Fantasias de Um Homem Reveladas.

- Assim que o comércio abrir, vou entrar na primeira livraria que eu encontrar – ela anunciou com tom firme e um, enfático movimento de cabeça. – E então, o que você acha? Há mais algum livro que possa recomendar?

Kagome parecia tão séria, que ele não ousou sorrir.

- Odeio desapontá-la, mocinha – ele respondeu, devolvendo a folha de papel com a lista de títulos -, mas nem todas as coisas podem ser aprendidas nas páginas de um livro. – Sesshouimaru olhou para a revista feminina fechada sobre as pernas da parceira. – Ou em artigos denominados de auto-ajuda.

- Entendo. Então, o que está dizendo é que a experiência prática, digamos assim, seria uma alternativa mais produtiva.

De repente, ele se sentia muito desconfortável.

- É mais ou menos isso – confirmou com enorme cautela.

- Humm... – ela murmurou. Depois pegou o copo de refrigerante que deixara no piso do automóvel, perto de seus pés, e chupou o canudinho com determinação. – Talvez tenha razão nisso. Um instrutor de verdade poderia ser muito benéfico.

- Ah, é claro! Bem, vamos andando. Talvez ainda possamos encontrar aberto um desses acampamentos para adultos. Quem sabe eles não aceitam sua inscrição imediatamente? – Havia Uma enorme dose de sarcasmo em suas palavras. – Escute, isso não pode ser comparado a nenhum outro método de aprendizado. Não é como se matricular em um curso de jardinagem ou em aulas de dança.

Ela tamborilou com os dedos sobre o apoio do braço.

- É verdade – concordou, porém com um tom distante e contemplativo. – E também não é exatamente o tipo de curso que eu encontraria no catálogo do centro de extensão universitária da Universidade de Tóquio.

- Pode apostar nisso. Ponha o cinto, por favor – ele pediu, pegando o rádio para informar a central que estavam voltando ao serviço. Não gostava da direção que a conversa com sua parceira estava tomando, nem das fantasias que inundavam sua cabeça. Não estava em busca de relacionamentos, mas gostava de Kagome, e gostava dela de um jeito que não devia ser comum entre parceiros de trabalho, especialmente entre policiais.

Sesshoumaru saiu do estacionamento do café e, silencioso, dirigiu em baixa velocidade a caminho da rodovia.

- Sabe de uma coisa, Sesshoumaru? Kagome manifestou-se quando já estavam se aproximando da galeria. – Você bem que podia me ajudar.

Ele entrou no pequeno estacionamento do shopping para patrulhar a área e lançar um olhar na direção da intrigante parceira.

- Certamente - respondeu sarcástico. – Prometo que vou colocar um anuncio no quadro de avisos do vestiário masculino assim que terminarmos nosso plantão.

- Não seja ridículo. – Ela mantinha o olhar voltado para fora da viatura, para as sombras que cobriam boa parte da área do estacionamento. – Não estou pensando apenas em ir para a cama com qualquer um. Não é essa minha intenção.

A palavra apenas no meio da frase era o que o deixava preocupado.

- Bem, é bom saber que ainda podemos agradecer ao céu pelas pequenas bênçãos – Sesshoumaru resmungou, passando em velocidade ainda mais baixa por cima de uma lombada perto da entrada do estacionamento. – A mulher ainda tem algum juízo afinal.

- Você seria o instrutor perfeito.

Ele pisou no breque e encarou-a, esperando ver em seus lábios um sorriso debochado. Em vez disso, o que encontrou foi um olhar firme e determinado, cheio de propósito. Incerto de como reagir, refletiu sobre as ultimas palavras da parceira e teve certeza que ela havia perdido a razão.

- Esqueça – disse.

- Pó quê? Qual o problema, afinal? Ei, as mulheres também conversam quando estão no vestiário. Você tem uma reputação considerável.

Ele pisou no acelerador. Pisou fundo, como se quisesse fugir de alguma coisa. Na verdade queria, mas estava tentando uma fuga impossível, porque a ameaça estava bem ali, no carro, sentada ao lado.

- Não devia acreditar em tudo o que ouve.

- Muito bem. – Kagome suspirou com uma mistura de impaciência e resignação. – Se não quer me ajudar vou encontrar alguém que queira.

- Não estamos falando em ajudá-la a estudar para o exame de promoção - ele se queixou. Também não discutiam uma situação parecida com tantas outras já vividas, como quando a ajudara a se mudar para o novo apartamento, ou quando a acompanhara ao funeral da mãe alguns meses antes.

- Qual sua opinião sobre Houjo? Existem rumores sobre a performance dele, sabe? Dizem que o homem não é nada mal no departamento amoroso.

Sesshoumaru emitiu um som de desgosto.

- Houjo não saberia dar prazer a uma mulher nem que tivesse uma arma apontada para a própria cabeça.

- E quem saberia, levando em conta as condições? De qualquer maneira, o que acaba de dizer é mais um ponto a favor de Houjo. Ele estaria buscando apenas o próprio prazer, e estou justamente interessada em aprender em como satisfazer um homem. Não preciso descobrir como sentir prazer.

- São duas coisas inseparáveis. Duas partes de um mesmo todo. – Ele balançou a cabeça. A mulher tinha vinte e sete anos de idade. Devia saber que quanto mais quente, mais fogosa a parceira, maior a excitação para o homem que a incendiava. Ela não podia ser ingênua a ponto de ignorar fatos tão óbvios. Podia?

- Sabe se Houjo está de plantão esta noite? – Ela pegou o rádio de comunicação. – Reduza a velocidade, Sesshoumaru.

- O que pensa que está fazendo?

Ela lançou em sua direção um olhar tolerante.

- Vou dar aos colegas do despacho algo que vai apimentar o plantão. Oficial solicitando um Código seis nove imediato – ela disse. Depois riu. Apontando para a entrada escura do shopping, indicou uma silhueta escura encolhida em um canto. – Ilumine aquela área com os faróis do carro.

Ele atendeu ao pedido, e a luminosidade revelou um vaso de plantas.

Kagome devolveu o microfone do rádio ao suporte no painel do veiculo.

- Felizmente não acionei a central para relatar a presença de um vaso – comentou com um riso rouco, quase sufocado. – Por outro lado, talvez você esteja certo. Um homem com experiência, alguém que realmente saiba como satisfazer uma mulher, pode ser uma escolha mais sensata.

- Eu nunca disse isso. Nunca disse nada sequer parecido com isso!

- Pensando bem – ela continuou como se nem o escutasse -, agora que estou me concentrando mais no assunto, lembro-me de que as garotas da central estavam discutindo Naraku, esta noite. Sabe quem ele é. O oficial da vice...

Por Deus, esperava que ela não estivesse falando sério. Com a inteligência aguda e seca de Kagome, com seu espírito perspicaz e mordaz, algumas vezes tinha dificuldade para decidir se ela brincando ou falando sério.

- Fique longe de Naraku - Sesshoumaru a preveniu. – Conheço aquele sujeito há muito mais tempo que você. Ele é um caso perdido. Um maluco perigoso.

- Sim, eu sei. A insanidade mental é um pré-requisito para a Vice. Todos por lá são um pouco... tensos.

Uma afirmação sutil demais para descrever os membros daquele departamento, na opinião de Sesshoumaru.

A viatura foi acionada foi acionada pelo rádio antes que ele pudesse formular uma resposta.

Um colega precisando de ajuda. Droga. E pensar que havia imaginado um final tranqüilo para o plantão daquela noite. Ele agarrou o microfone.

- Quatro-quatro respondendo – disse. – Dois minutos até o destino anunciado.

- Afirmativo, quatro-quatro. Código dois - respondeu a voz metálica do outro lado.

Sesshoumaru praguejou em voz baixa, acendeu o farol alto e saiu do estacionamento em alta velocidade.

- Deve ser apenas umas dessas brigas ridículas entre dois bêbados – Kagome opinou.

Menos de dois minutos depois, a viatura entrou no estacionamento, e Kagome usou o rádio a localização da dupla. Um dos oficiais uniformizados da unidade já em cena deu um grito e aviso no mesmo momento em que o inferno eclodiu naquele pequeno espaço. Kagome pediu mais reforços. O suspeito surgiu da escuridão, correndo para eles como um alucinado, um suicida. Sesshoumaru esperou, até que, no momento preciso, abriu a porta do carro.

- Estúpido filho da mãe – ele praguejou quando o homem caiu no chão. O sujeito foi jogado para trás, e seu corpo aterrissou com um baque surdo no asfalto do estacionamento.

Kagome encolheu-se e fechou os olhos por um ou dois segundos.

Depois se esticou para espiar o desconhecido pela janela do lado do motorista da viatura.

- Suspeito aparentemente inconsciente - ela disse ao microfone. – Envie uma ambulância para o local.

Kagome encarou o parceiro e balançou a cabeça.

- Tem noção da quantidade de relatórios que vamos ter de preencher por sua causa? – Ela suspirou cansada. – De novo?

Sesshoumaru ignorou a queixa e desceu do automóvel. Em sua maneira de ver a situação, o tempo extra dedicado ao preenchimento de toda aquela papelada oficial seria proveitoso. Ela estaria ocupada e, com sorte, acabaria esquecendo aquela idéia maluca sobre buscar educação superior na área amorosa. Infelizmente, não podia dizer o mesmo a respeito dele. Tinha a horrível impressão de que não conseguiria pensar em outra coisa nos próximos... Ah, por um bom tempo.