Behind those eyes

Capítulo I - A intusa em Farthen Dûr

Aquele dia, a noite caia mais rapidamente que o costume; pouco a pouco as pessoas iam se recolhendo, indo rumo ao fogo aconche A intrusa em Farthen Dûr

Naquele dia, a noite caia mais rapidamente que o costume; pouco a pouco as pessoas iam se recolhendo, indo rumo ao fogo aconchegante de suas lareiras recém-acesas. Antes, o frio nunca os incomodara; tinham suplementos de sobra para passarem o resto dos dias de inverno atrás das Beor. Mas agora, o inverno os castigava. Como se não bastasse a guerra que ocorrera há apenas um mês, vinha também o inverno, tirando-lhes o pouco que conseguiram salvar. Alimentos, roupas, medicamentos. Tudo fora usado durante e após a grande batalha, tudo em prol de ajudar àqueles que resistiam bravamente aos ferimentos, à fome, ao medo. Agora, quanto menos de expusessem ao vento congelante que soprava lá fora, melhor.

Apesar disso tudo, dois jovens que andavam calmamente pelo pátio não pareciam se importar com isso. Vinham tranqüilamente pelo extenso pátio de Tronjheim, parecendo um pouco indecisos sobre seu destino, com uma vontade oculta de sair dali. As pálpebras pesavam-lhe os olhos, mas parecia que não os estavam sentindo.

Murtagh mexeu as mãos desconfortavelmente, escondidas sob a manga de seu manto. Suas tentativas de esquentá-las não pareciam ter dado certo, e elas esfriaram a tal ponto que ficaram dormentes.

- Afinal, o que ainda estamos fazendo aqui? – enfim falou, percebendo que agora o frio começava a lhe incomodar.

Eragon fez um movimento nervoso com a mão pedindo para que Murtagh se calasse. Olhou para os lados e apurou os ouvidos, como se algo fosse manifestar-se a qualquer momento. Por fim, respondeu:

- Orik me disse que alguém conseguiu achar o nosso esconderijo. Falou para que eu o esperasse aqui...

Murtagh bufou.

- Você realmente acha que alguém iria se dar ao trabalho de invadir isso aqui nesse estado?

- Bem... acho. – apontou para um grupo de homens que vinham ao seu encontro, e viu seguravam firmemente alguma coisa ou alguém.

Murtagh não conteve sua surpresa. Sempre há um idiota achando que vai se dar bem vindo pra cá, pensou. Mas reconsiderou, ao ver o que se aproximava deles.

Ela se debatia, furiosa, tentando afastar as mãos enormes e cheias de calos dos soldados de seu corpo.

- Me solta, seu gorila – ela vociferou, e por uns segundos Murtagh pensou ter ouvido a voz da mulher ecoar em sua mente. Olhou de esguelha para Eragon, e esse pareceu igualmente atordoado.

- Solte-a – Eragon falou baixo, olhando firme para os homens – Tenham pelo menos o mínimo de respeito com uma mulher, não ajam como animais.

Surpresos com o pedido, soltaram-na. Ela lançou-lhes um olhar fulminante, e esfregou os pulsos, vermelhos, onde antes as mãos dos homens a apertavam.

Eragon e Murtagh examinaram-na com igual interesse. Pela clara, pernas bem torneadas, nuas devido ao vestido negro rasgado que usava; seus cabelos cor de mel ocultavam-lhe metade do rosto, uns poucos fios esparramados em suas costas. Os pés descalços e delicados estavam manchados com a sujeira acumulada no chão. Eragon fitou bem seus olhos. Não eram claros como os seus, muito menos negros como os de Murtagh; eram violetas, e tinham um brilho que Eragon nunca vira antes.

- Vim até aqui para juntar-me a vocês, Matador de Espectros – ela voltou os olhos coloridos para Eragon.

- Como chegou até aqui? Quem lhe falou sobre os Varden?

- Será que não podemos conversar a sós? – olhou em volta, nitidamente incomodada, e Eragon concordou.


- Magia? – Eragon quase deu um pulo de onde estava sentado.

- É. – falou Liv – Eu sou uma fada.

Ah, que ótimo. Agora fadas também existem, Eragon falou a si mesmo. Como se não bastassem dragões, espectros, elfos, e agora fadas.

Ela olhou para o jovem, e pareceu entender perfeitamente bem o que ele estava pensando.

Não se preocupe, somos apenas um povo um pouco mais difícil de se encontrar que os elfos.

Ele deu um sorriso nervoso para ela, mas no fundo a idéia de ter uma fada com eles era apavorante.

Galbatorix destruiu o último esconderijo que conseguimos, e achamos que seria realmente impossível ele nos encontrar lá... Mas agora que tudo está perdido, queria que você ajudasse a mim e a meu povo, Eragon. Podem sofrer muito nas mãos de Galbatorix, por sermos uma raça tão procurada.

- Então vocês são assim... Importantes para ele?

Ela apenas balançou a cabeça afirmativamente, deixando Eragon na expectativa de que falasse mais alguma coisa. Mas ela calou-se, e logo o silêncio tornou-se sufocante para ele. Nesse momento, Eragon não conteve sua curiosidade perante ela. Não era muito alta, era pequena e esguia; suas orelhas eram pontudas como as de Arya, mas algo nela o fazia ter calafrios... Alguma coisa nela o assustava, mas ele não sabia se era bom ou ruim. Era um sentimento que ele nunca havia experimentado antes.

E os minutos de silêncio foram se prolongando, até chegar a um ponto que o desconforto era visível no rosto do jovem. A mania de silêncio da fada estava ficando um pouco irritante.

- Só isso? – ele falou com a cabeça apoiada nas mãos, olhando para a sombra da montanha no horizonte escuro.

- Deveria ter mais alguma coisa? – ela riu baixinho – Já te falei o necessário, e pelo visto você não tem mais perguntas a fazer... Não, eu já sei tudo a seu respeito, Eragon – ela completou, quando o Cavaleiro fez menção de falar.

E na mesma hora, ele se calou, intimidando-se com o tom da mulher. Parecia decidida se seus atos, de suas palavras. As palavras que soavam doces, mas perigosas.

- Pode me levar até Nasuada?

O susto de Eragon foi grande. Agora, ela falara como qualquer outro ser humano faria. Olhou em seus olhos e havia um brilho diferente neles, e ele apenas pôde ver uma menina ansiosa por alguma coisa.

Não restou-lhe nada a não ser assentir. Aquele olhar sincero e puro o cativava de tal forma que era quase impossível negar-lhe alguma coisa.