Naruto não me pertence

Resposta ao desafio XVII do MRS


Castelo de Areia

Para Rô

A solidão o cercava... Como se fosse uma resposta, uma conseqüência à sua existência. Já chegara a perguntar o porquê, mas conforme foi crescendo e recebendo nada mais que ataques e desprezo, deixou os questionamentos para um lado escondido de sua mente. Afinal, o mundo era estranho e possuía suas próprias definições, e uma delas afirmava que Gaara deveria ficar sozinho... E assim ele ficava. Motivos eram desnecessários. Saídas eram impossíveis.

Segurou com mais força seu urso de pelúcia enquanto observava as crianças fugirem assustadas de si, como se fosse um monstro. O monstro que na verdade era, mas nunca tinha pedido para ser. E aí entrava uma nova definição. Gaara era um monstro. Ponto. Sem maiores razões ou explicações.

Sentou-se no chão e abraçou o urso, tentando ignorar o quão dolorosas eram aquelas verdades imutáveis, concentrando-se apenas nesse gesto. Não importava se não houvesse retribuição, sabia que sempre o teria e isso bastava. Deveria bastar. Fechando os olhos, imaginou por um instante como seria se tivesse sua mãe para abraçá-lo. Mas imaginar nunca o permitiria ter, então afastou depressa esses pensamentos, voltando-se para o único carinho que conhecia. Era um objeto, mas permitia que se aproximasse, porque definições não se aplicavam a ursos, não ao seu urso. Era seu e era como o deserto, o mesmo deserto que havia em seu nome... Quente, familiar...

Alguns anos atrás, até chegara a pensar que não trazia todo o conforto que precisava.

E então, outra vez, surgiram as definições. Gaara não possuía mais nada. Gaara deveria contentar-se e conformar-se com esses braços curtos demais, incapazes de envolverem suas costas.

Essa foi a parte mais difícil... Mas conseguiu entender e agora agradecia por tê-lo feito.

Sobressaltou-se naquele momento ao escutar um ruído próximo. Não foi com surpresa que viu um ataque cortando o ar em sua direção. E com menos surpresa, que reparou no tempo imensamente curto, necessário para a areia mover-se e eliminar brutalmente qualquer ameaça. Permanecendo assim, imóvel, como uma barreira à sua volta enquanto o sangue gotejava lentamente. Os corpos, cercando-o. E o monstro querendo despertar, sedento por mais.

Até quando seu pai pretendia continuar atacando-o?

Com algum esforço, controlou aquela vontade violenta que constantemente ameaçava tomar o controle. Respirou fundo. Encolheu-se mais e deixou sua vontade moldar a areia, paredes ergueram-se, tomando formas e terminando em um telhado pontudo. Ali era inatingível. E em sua mente infantil, até gostava de pensar que era como se ele fosse um soberano em seu próprio castelo.

Afinal, a areia era seu refúgio, sua proteção. Odiava-a, mas também a necessitava como ar e era jovem demais para entender o quanto isso era contraditório.

Ergueu o rosto, seus olhos dirigindo-se para uma pequena abertura, a janela, naquele seu castelo. A noite aproximava-se. Mais uma, entre as tantas que viriam sem que pudesse adormecer. Levantou-se e, nas pontas dos pés, observou melhor o espaço que o cercava.

Será que viria o dia em que alguém seria capaz de derrubar aquelas paredes e alcançá-lo?

Assustado com esse pensamento súbito, balançou a cabeça e tornou a enterrar o rosto na barriga fofa de seu urso. Quase havia se esquecido que isso não era permitido. Mas era noite e ele era apenas uma criança, então ninguém poderia culpá-lo por sonhar. Mesmo que fosse acordado.

Fim

N/A: A inpiração foi uma imagem com a frase: Ursinhos não abraçam de volta, mas, às vezes, é só o que se tem. O que me lembrou diretamente o Gaara, e aí pensei na Rô... Maninha, espero que não se assuste muito com os erros, mas como a fic é para você, ia estragar a surpresa se eu te mandasse para revisar hehe.

Beijo grande

Mar