Autor:DarkAngel
Título: A Soma de Todos os Medos
Capa: no profile
Sinopse: Quando o inferno é a sua alma, seu inimigo é a sua salvação. .slash. .HarryDraco. .RodolphusRabastan.
Ship: Harry Potter\Draco Malfoy
Orientação: Slash
Classificação: M
Gênero: Angst\Horror\Romance\Drama
Spoilers: 7 – mas SEM o Epílogo.
Formato: Longfic
Status: Incompleta
Idioma: Português

Disclaimer: nada me pertence e eu não ganho dinheiro com isso.

N.A: Meus mais sinceros agradecimentos à Ágata Ridlle e a todas as meninas que me aturaram falando sobre esta história.

Ela é uma UA do Epílogo do sétimo livro, e este início do Prólogo distorce taaaaaanto o fim de livro que chega a ser bonito.

Pode levar alguns capítulos, mas esta história será Slash. Não gosta, não leia e se ler, não reclame.

\o


A Soma de Todos os Medos

por Dark K.

"...'Harry Potter' ele disse, muito suavemente. Sua voz poderia ser parte do fogo crepitando. 'O garoto que sobreviveu'.

Nenhum dos Comensais se moveu. Eles estavam esperando: tudo estava esperando. Hagrid lutava contra as amarras, Bellatrix estava ofegando, e Harry inexplicavelmente pensou em Ginny, em seu olhar brilhante, e no toque de seus lábios sobre os dele... E então pensou nele mesmo, na sua juventude que jamais teria fim, na sua vida que jamais teria continuidade, seu fim, de sua vida, seus amores e seus amigos, que continuariam, sem ele. Pensou no sacrifício que fazia por todos eles e então sofreu.

Não por todo o resto do mundo, mas por ele, que era tão jovem, e sabia tão pouco, e morreria tão cedo...

Voldemort levantou sua varinha. Sua cabeça ainda estava curvada para o lado, como uma criança curiosa, se perguntando o que aconteceria se ele continuasse. Harry encarou os olhos vermelhos, e queria que acontecesse agora, rapidamente, enquanto ele ainda podia ficar de pé, antes que ele perdesse o controle, antes que ele traísse seu medo...

E então sentiu raiva. De tudo, de todos, dele mesmo e de Voldemort. Era parte dele, havia uma parte dele em si, um parasita, como uma doença, infiltrado tão fundo em sua alma que Harry percebeu, naquele momento, que já não havia mais Harry. Ele nunca seria 'apenas' Harry. Almas são complexas e não divididas, dezessete anos com uma doença dentro de si e já não havia mais divisão.

Os olhos vermelhos que lhe encaravam também lhe pertenciam. O ódio, a raiva, o poder: tudo também era dele, assim como a escuridão. Não havia mais porque lutar contra. Não havia mais porque repudiar uma parte dele mesmo que lhe permitiria sobreviver, viver e nunca mais ser usado. Ser dono de si, mesmo que isso custasse sua inocência.

Mas era tudo demais, era sufocante, ele não queria ser responsável por nada, não queria ter que derrotar mais ninguém, não sentia desejo de matar, ou destruir, ou possuir. Já não aguentava mais, sua cabeça latejava pela sua própria presença... Sua? Dele? De quem?

A dor tornou-se insuportável e ele não sabia mais o que fazer. Não queria aquela parte de si mesmo, não podia admiti-la, temia sua própria alma com mais força do que temia Voldemort.

Ele não era ruim, não era, não era... O pânico crescia e o olhar verde encontrou o vermelho e viu ali, refletido no espelho da sua alma, seu futuro. E então foi demais.

Mesmo antes do feitiço ser proferido, sentiu sua alma quebrar.

Harry Potter precisava ser protegido de si mesmo.

E foi assim que Shadow surgiu.

Ele viu a boca se mover e um flash de luz verde, e tudo se foi."

-x-

The Other Side of King's Cross

Ele estava deitado, escutando o silêncio. Estava completamente sozinho. Ou era o que ele pensava. Uma luz branca iluminava todo o lugar e havia algo se revolvendo a apenas alguns passos dali. Havia mais de uma forma naquele lugar estranho, mas algo lhe dizia que seguir em direção à luz lhe faria mal. Ele iria morrer e ele não queria, era jovem demais para isso. Parecia haver dois caminhos lhe chamando, a luz era atraente, mas trazia tanto sofrimento, tanto sacrifício...

Todos têm seus limites, e ele achava que havia chegado ao dele.

O que estaria lhe esperando naquela luz? A morte, talvez? Quem sabe Dumbledore, com suas explicações? Dumbledore, que sempre explicava tudo, mas jamais revelava a verdade toda. O homem que havia lhe deixado detestar a pessoa que ele deveria respeitar, que havia prendido um homem sofrido como Snape pelo seu amor por sua mãe, que o havia forçado a matar e destruir sua alma por "um bem maior". Não havia muita diferença entre o que o velho diretor havia feito a ele e a Snape, no fim das contas. Ambos usados, manipulados pelo respeito que tinham por ele, para serem bons instrumentos, serem cegamente fiéis, confiarem plenamente em alguém que jamais se mostrava como era, como se sentia.

Ele queria continuar a ser o instrumento de alguém?

O pequeno embrulho que parecia pairar no ar lhe atraiu a atenção, mais do que a luz com formas difusas, e ele seguiu para lá, sem se preocupar com o que estava vestindo, ou o que devia fazer. Agia pelo simples desejo de satisfazer sua curiosidade, e nada mais.

Aproximando-se lentamente, percebeu que conseguia quase sentir o que aquele pequeno embrulho sentia. Porque era ele ali. Indefeso e quase destruído, era ele ali. Suas entranhas ferveram com raiva e ódio. Ninguém deveria tratá-lo assim, ele estava lutando aquela guerra por eles afinal. Por que jogá-lo de cabeça contra todas as dificuldades, abandoná-lo sempre que ele tomava uma única decisão errada, colocar o peso da paz de todo o mundo sobre suas costas, quando ele nem ao menos sabia o que queria fazer de sua própria vida? Quem era mesmo o inimigo a ser derrotado? Qual era mesmo a grande diferença entre ele e Voldemort? O amor?

E ele ainda era capaz de amar?

Pensou em seus pais, e Sirius, e Remus, e Ron, e Mione. Sim, ele amava, mas a que preço eles lhe amavam de volta? A vida de seus pais e seu padrinho? A juventude de seus amigos? Era um preço alto demais até mesmo para existir, quanto mais continuar existindo por uma causa que jamais lhe traria recompensa. Tão poucos que arriscavam tudo por ele, e tantos que exigiam que ele desse mais do que ele conseguia suportar.

O que ele queria fazer? Sentia uma vontade crescente de se aproximar daquelas brumas envoltas em luz, mas o embrulho chamava mais sua atenção, apesar de não parecer ser o certo a fazer.

Não importava. Admirou o movimento do embrulho por mais alguns instantes. Se aquele era ele, e o embrulho também era, algum deles precisaria morrer, não? Era a sua sobrevivência que importava, como poderia uma essência coexistir em dois corpos diferentes?

Aproximou-se mais alguns passos e notou que uma figura alta e sombria o encarava, não muito longe. Uma lágrima solitária escorria pelo rosto velho, caída de olhos que já não tinham mais brilho, e sumiu entre a longa barba branca. Ele devolveu o olhar penetrante e encarou o embrulho mais uma vez. Fraco, contaminado, impuro. Era aquela parte dele mesmo que deveria partir.

"Você não pode ajudá-lo, Harry."

Virou-se com um olhar frio ao ouvir aquele nome. Harry precisava ser protegido, Harry não estava ali para se defender, cabia a ele defender a ambos, agora. Encarou Dumbledore, que agora já não estava mais envolto em brumas e luz, mas estava ao seu lado, o rosto contraído em derrota.

"Nós precisamos conversar, Harry.", o olhar verde jamais abandonava o azul. O que ele iria falar agora? Mais desculpas, mais meias-verdades, mais conselhos que o levariam para onde o diretor quisesse e não onde ele desejava estar?

"Conversar, diretor? Mais uma vez conversar? Eu acho que não quero conversar desta vez, eu quero explicações. Apenas simples e claras explicações. O que aconteceu lá? O que está acontecendo aqui?"

Dumbledore assumiu seu ar cansado mais uma vez, e o rapaz não desviava o olhar do seu.

"Eu... Eu não sei, Harry. Na noite em que Voldemort matou seus pais, ele acabou fazendo uma Horcrux que ele não desejava, Harry. Você. Você é a sétima Horcrux, algo com que Voldemort não contava. Ao se deixar matar, ao se sacrificar, era a parte de Voldemort que morava em você que deveria ter partido. Mas, talvez, eu tenha estado errado..."

Dumbledore lhe encarou de maneira mais penetrante e Shadow manteve o olhar.

"Como errado, diretor?"

"Talvez, Harry, não haja uma separação tão grande entre a sua alma e a de Voldemort. Talvez, a essência dele tenha se infiltrado em parte de sua própria alma e, por isso, o que ele matou lá, foi apenas uma outra parte de você mesmo e ele ainda viva... Em você.", Shadow o encarou e sorriu. De alguma forma, não parecia o sorriso aberto que aquele rosto jovem sempre expressara, parecia... Frio.

"Nós sabíamos desde o quinto ano, diretor, que ele era uma parte de mim."

O homem parecia desconsolado, como se mais nenhuma esperança restasse.

"Então, Harry, nós estamos condenados."

"Não, não estamos. Eu não vou me deixar dominar, diretor, eu ainda quero vencer esta guerra. Eu ainda quero destruir Voldemort. A minha vida ainda vai ser apenas minha."

"Então você lutará ainda por nós todos, Harry?", Dumbledore indagou com um quase sorriso.

"Não, diretor, eu vou lutar esta guerra por mim.", encarou a forma que se revolvia a frente deles e pensou no que deveria fazer.

Compreensão o atingiu como um raio, e ele sabia o que deveria ser feito. Foi apenas um piscar de olhos, em que o olhar azul jamais lhe abandonou, e tudo sumiu mais uma vez.


Revisado em 31/10/2010

Sejam amores e

R E V I E W !